Embrapa Mandioca e Fruticultura
Sistema de Produção, 16
ISSN 1678-8796 Versão eletrônica
Dez/2003

Sistema de Produção de Citros para o Nordeste

Claudio Luiz Leone Azevêdo

Início

Importância econômica
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Adubação
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Colheita e pós-colheita

Processamento
Mercado e comercialização
Coeficientes técnicos
Referências bibliográficas
Glossário


Expediente

Tratos Culturais

Podas

As podas empregadas em pomares cítricos são de três tipos: poda de formação, de limpeza e de rejuvenescimento.

As podas, de um modo geral, devem supervisionadas por um técnico e programados com antecedência os aspectos técnicos, tais como intensidade, época de execução e tratamento de proteção dos locais cortados.

A poda de formação tem como objetivo formar a estrutura de sustentação, evitar a quebra de ramos e tornar a planta mais equilibrada. A poda de formação é realizada na muda logo após a implantação do pomar, sendo muito importante para as mudas do tipo palito ou vareta. Deve-se formar três pernadas básicas, a partir de 45 cm até uma altura de 60 cm do solo.

A poda de limpeza é feita para retirada de ramos secos, atacados por pragas ou doenças e de ramos ladrões, improdutivos. Essa poda elimina focos de pragas e doenças, e permite um melhor arejamento da planta. Quando algum ramo doente é podado deve ser, preferencialmente, tratado com pasta cúprica. Essa operação pode ser feita utilizando-se tesouras e serras de poda.

A poda de rejuvenescimento é recomendada para pomares velhos, que produzam safras pequenas ou frutos de má qualidade, mas cujas plantas estejam sadias. Essa operação pode ser feita com serrotes ou moto-serra e retirada toda a copa 30-40cm acima das pernadas, expondo todo o tronco e a parte restante dos ramos principais, que devem, por isso, ser caiados, para proteção contra os raios solares e eliminação de fungos e parasitas.

Essa poda deve ser empregada depois da colheita, efetuando-se as adubações recomendadas pela análise de solo e folhas e, sempre que possível, efetuando-se o plantio de leguminosas nas ruas. Todo o material resultante da operação deve ser retirado do pomar e queimado, podendo-se também, triturá-lo nas entrelinhas com roçadeiras, caso não seja um material muito atacado por pragas e doenças.

Fitorreguladores

Os fitorreguladores devem ser de uso restrito e somente devem ser empregados produtos registrados para citros, mediante recomendações técnicas e legislação vigente. O emprego de reguladores de crescimento deve ser específico para variedades em que se torne imprescindível seu uso e quando não for possível ser substituído por outras práticas de manejo.

Manejo e Conservação do solo

Mecanização do solo

O tráfego de máquinas no pomar deve ser minimizado por provocar compactação e deformação na estrutura do solo, bem como, equipamentos desestruturadores como as grades A subsolagem é recomendada quando forem detectados camadas de impedimento no perfil do solo através de trincheiras, teste de compactação, penetrômetro ou coleta de amostras indeformadas. Detectada a região compactada, o produtor deve procurar orientação técnica sobre equipamentos e época adequada para efetuar a operação, prosseguindo com práticas de adubação verde e manejo de plantas infestantes e redução de trânsito no pomar. O uso de grade nos pomares deve ser limitado, devido aos efeitos prejudiciais que pode proporcionar como corte de raízes, erosão, compactação, destruição de plantas benéficas, oscilação da temperatura do solo, favorecer a perda de umidade e formar poeira.

Manejo de cobertura do solo

Tem a função de controlar processo de erosão e prover a melhoria das condições biológicas do solo. Realizar o manejo integrado de plantas invasoras. Manter a diversidade de espécies vegetais, favorecendo a estabilidade ecológica e minimizando o uso de herbicidas e roçar as entrelinhas, posicionando o material sobre a superfície do solo "mulching" e/ou sob a copa dos citros.

Herbicidas

Só é permitido utilizar herbicidas registrados para citros ou conforme legislação vigente; dando preferência aos pós-emergentes aplicados, no máximo, duas vezes ao ano na faixa de projeção da copa das plantas, em função do período crítico de interferência das plantas daninhas determinado para o ambiente trabalhado. Para as condições da Bahia e Sergipe, a cultura deve permanecer livre da interferência das plantas daninhas no período de setembro/outubro até março/abril do ano seguinte. Nas entrelinhas, é permitido apenas uma aplicação de herbicida pós-emergente para realização do plantio direto das coberturas vegetais (adubos verdes).

Manejo do Solo e Mato nas entrelinhas

A cobertura vegetal protege o solo do impacto das gotas de chuva e irrigação que provocam dispersão de partículas, mais tarde arrastadas pela enxurrada, do trânsito de máquinas, reduzindo seu efeito sobre a compactação.

O produtor deve manejar melhor o mato, evitando concorrência pelos fatores de produção como a água, explorando também, seu efeito benéfico como cobertura no período das chuvas. Na época seca o mato deve ser mantido, preferencialmente, roçado baixinho, minimizando sua concorrência por água com os citros.

Manejo de coberturas em citros

O citricultor deve plantar as coberturas vegetais nas entrelinhas do pomar nos meses maio e junho para as condições da Bahia e Sergipe. Chama-se atenção para o manejo da vegetação espontânea e coberturas vegetais (gramíneas e leguminosas) em ruas alternadas do pomar.

Quando e como plantar as leguminosas

Deve-se dar preferência ao plantio direto dessas coberturas para evitar o efeito danoso da gradagem sobre as propriedades físicas do solo, sistema radicular dos citros e pelo próprio efeito benéfico e cumulativo sobre essas propriedades, proporcionado por essas leguminosas como melhoradoras de solo. Nesse sistema de plantio é necessária a aplicação de um herbicida pós-emergente à base de glifosate, para dessecação do mato presente nas entrelinhas do pomar; após uma semana, procede-se o plantio mecanizado das leguminosas em sulcos ou manual em covas ou buracos, neste último caso espaçados a cada 25 cm x 25 cm, colocando-se duas a quatro sementes por buraco. O consumo de sementes por hectare é de 60 a 80 kg para feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), 20-30 kg para crotalária (Crotalaria juncea) e de 12 a 15 kg para milheto (Pennisetum glaucum). No sistema de plantio direto, aponta-se algumas vantagens em relação ao convencional a lanço, que são a retirada por completo da grade do pomar para o controle de plantas daninhas, a segurança de que dificilmente necessitará de uma replanta em função da melhor condição competitiva dada as leguminosas pelo dessecamento do mato e pela disponibilidade de água, em virtude da formação da cobertura morta, o menor risco de erosão, o menor gasto de sementes por hectare e, consequentemente a redução de custos.

Roçagem das leguminosas

A roçagem dessas leguminosas pode ser mecanizada ou manual a depender da condição do citricultor, e efetuada a 20-25 cm do solo para formação de uma boa cobertura verde. Para os estados da Bahia e Sergipe, recomenda-se a roçagem em setembro/outubro. Esse manejo recomendado para as leguminosas é muito importante, pois no período de deficiência hídrica no solo (período de seca), não se recomenda a convivência do pomar com estas plantas para evitar a concorrência por água. Quando ceifadas, o sistema radicular permanece no solo, decompõe-se, promovendo a descompactação biológica do solo.

Subsolagem

Em pomares adultos e em formação (1 a 2 anos), recomenda-se, quando necessário, subsolar o solo nas entrelinhas dos citros o mais profundo possível (60 a 70cm) para reduzir a compactação e o adensamento. Após essa operação, deve-se implementar as práticas de manejo do solo recomendadas. A faixa a ser subsolada nas ruas da cultura é a mesma onde se passa a grade e roçadeira para controle do mato. De uma maneira geral, deve-se respeitar uma distância de 0,50 m para fora da copa. A subsolagem deve ser efetuada logo após as primeiras chuvas de inverno, evitando solos extremamente secos ou úmidos até a camada a ser trabalhada.

Determinação da declividade do terreno

Para determinar a declividade de uma área, pode-se utilizar um instrumento de construção doméstica, que é um cavalete de madeira com um nível de carpinteiro (Fig. 1), realizando os seguintes passos:

  1. Medir a distância entre os pés do cavalete (distância horizontal = DH).

  2. Colocar o cavalete na parte mais alta da área e colocar no rumo ladeira abaixo, paralelo ao declive. A bolha do nível de pedreiro mostrará o desnível.

  3. Levantar a parte mais baixa do cavalete até a bolha ficar no nível. Medir a altura entre o pé do cavalete e a superfície do solo (distância vertical = DV). Colocar uma estaca em cada ponto.

  4. Anotar os dados na ficha de trabalho (Tabela 1).

  5. Mover o cavalete para o ponto seguinte, descendo o declive, e repetir as operações 7.3 e 7.4, colocando uma estaca a cada medida.

  6. Repetir a operação anterior percorrendo toda a área que se pretende medir.

  7. Calcular a declividade (D%) segundo a fórmula: D% = DV/DHx100, para cada 10 ou 20 m percorridos, observando as variações no declive ao longo da encosta.

  8. Separar as áreas onde as diferenças de declividade estiver entre 3 a 5% (terço superior: 3%; terço médio: 8%; terço inferior: 12%).

  9. Calculadas as declividade, deve-se consultar a Tabela 2 para determinar as distâncias entre as curvas de nível em cada declive.

  10. Para traçar as curvas de nível da área, deve-se iniciar na parte mais alta do terreno, realizando os seguintes passos:

  • Fixar uma estaca e medir a distância entre as curvas, em função da declividade da área e da textura do solo, como orienta a Tabela 2, marcando o início de cada curva com uma estaca;

  • A primeira estaca servirá de ponto de partida da primeira curva; coloca-se neste ponto um dos pés do cavalete e o operador fará com que o outro pé se desloque até um ponto em que o cavalete fique nivelado, marcando este ponto com uma segunda estaca;

  • O cavalete é deslocado para este segundo ponto e o processo é repetido por todo o comprimento da área, transversalmente ao declive, sempre marcando os pontos com estacas;

Terminada a marcação da primeira curva de nível, inicia-se a segunda, repetindo-se todo o processo descrito nos itens 8.2 e 8.3. Ao final deve ser realizado um repasse em cada curva eliminando os pontos que ficaram fora da rota, "amaciando" a curva para guiar o trator.

Figura 1. Nível tipo cavalete para medir a declividade de uma área.

 

Tabela 1. Ficha de trabalho utilizada para cálculo da declividade de um terreno.

Posições

Distância horizontal (m)

Distância vertical
(m)

Declividade
%

1

 

 

 

2

 

 

 

3

 

 

 

4

 

 

 

5

 

 

 

6

 

 

 

7

 

 

 

8

 

 

 

9

 

 

 

10

 

 

 

Total

 

 

 

 

Tabela 2. Espaçamento horizontal entre curvas de nível, em função da declividade e da textura do solo.

Declividade

(%)

Espaçamento horizontal (m)

Arenoso

Argiloso

Muito argiloso

1

37,75

43,10

54,75

2

28,20

32,20

40,95

3

23,20

27,20

34,55

4

21,10

24,10

30,60

5

19,20

21,95

27,85

6

17,80

20,30

25,80

7

16,65

19,05

24,20

8

15,75

18,00

22,85

9

15,00

17,15

21,75

10

14,35

16,40

20,80

12

13,30

15,20

19,30

14

12,45

14,20

18,05

16

11,80

13,45

17,10

18

11,20

12,80

16,25

20

10,70

12,25

15,55

Fonte: Adaptado de BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. São Paulo: Agronômica Ceres, 1990. 392p.

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