Embrapa Gado de Leite
Sistema de Produção, 2  
Mercados e Comercialização
Limirio de Almeida Carvalho
Luciano Patto Novaes
Carlos Eugênio Martins
Rosângela Zoccal
Paulo Moreira
Antônio Cândido Cerqueira Leite Ribeiro
Victor Muiños Barroso Lima

- Introdução
Importância econômica
- Aspectos agro e   zooecológicos
- Raças
-
Infra-estrutura
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- Reprodução
- Manejo Sanitário
- Mercados e   Comercialização
- Coeficientes Técnicos
-
Referências bibliográficas
- Glossário
- Editores

 

Mercado de Leite e derivados

A estrutura do mercado de produtos lácteos no Brasil é bastante complexa, em virtude do elevado número de agentes econômicos que atuam no sistema e da multiplicidade de canais de comercialização.

A abertura da economia, liberação de preços e o plano de estabilização, com a implementação do Plano Real em 1994, trouxeram modificações importantes para toda a cadeia agroindustrial do leite, aumentando os investimentos no setor,  aumentando o mercado consumidor e viabilizando aumentos de produção.

Com as mudanças do início da década de 90, aumentou o interesse de grandes empresas internacionais em investirem nesse segmento de mercado. Muitos laticínios nacionais foram incorporados por essas empresas, provocando uma concentração da indústria. Essa tendência é observada desde os anos 1970, mas acentuou bastante na década de 1990. Isso aumentou o poder de negociação dessas empresas junto a produtores e consumidores, inclusive na determinação de preços. Essas multinacionais vêm se destacando no mercado, com lançamentos e novidades que ganham a preferência do consumidor, num mercado com tendência de demanda crescente.

A demanda por leite e derivados pode ser aumentada por diversos fatores, entre eles o aumento de população, crescimento de renda, redução de preços relativos de produtos concorrentes ou substitutos e mudanças nos hábitos alimentares. Na realidade a demanda é alterada por diversos fatores que podem ocorrer simultaneamente.

Segundo as recomendações do Ministério da Saúde, o consumo de leite, na forma fluida ou de derivados lácteos, varia de acordo com a idade das pessoas. A recomendação para crianças de até dez anos é de 400 ml/dia, isto é, 146 litros/ano de leite fluido ou equivalente na forma de derivados. Para os jovens de 11 a 19 anos, o consumo é maior, de 700 ml/dia ou 256 litros/ano e para os adultos acima de 20 anos a recomendação é de 600 ml/dia ou 219 litros/ano, inclusive para os idosos, porém o consumo para esse grupo de pessoas deve ser principalmente desnatado.

Admitindo um cenário no País que favoreça o consumo de laticínios, em especial para as populações mais carentes que pouco ou nada consomem, e tomando por base  apenas o consumo mínimo recomendado de 146 litros/ano, o País requer uma produção mínima anual de 25,5 bilhões de litros de leite para atender apenas o seu mercado interno potencial, composto de 175 milhões de pessoas, se considerarmos um consumo per capita de 600 ml/dia a produção anual de leite deveria ser de 38,3 bilhões de litros.

Uma das mais significativas mudanças ocorrida no mercado de lácteos trata da importância assumida pelos supermercados como pontos de distribuição, a partir principalmente da entrada do leite  longa vida (ou UHT) no mercado, que veio atender às exigências de comodidade e conveniência do consumidor, cada vez mais consciente de seus direitos.

A queda da renda da população nos últimos 25 anos pode ser mostrada tomando os valores do salário mínimo como referência. Na média, o salário mínimo reduziu em cerca de R$ 9,00 ao ano a preços de dezembro de 2001. Isto representa uma perda real de poder aquisitivo do consumidor com impactos relevantes no consumo de produtos lácteos, que altera significativamente com mudanças nos níveis de renda da população.  Contudo, no início do Plano Real houve crescimento do salário mínimo representando maior potencial de compra e com fortes impactos na demanda por produtos lácteos, durante 1994 a 1997.

Pode-se argumentar ainda que a demanda da indústria de transformação é dependente do consumidor final e do conjunto de produtos lácteos que ele consome. No caso brasileiro, segundo houve mudanças substanciais na demanda e no conjunto de produtos ofertados e consumidos. Destaca-se  o crescimento do leite longa vida e o crescimento dos produtos de maior valor agregado como queijos, iogurtes e sobremesas. A Tabela 01 mostra as variações nas vendas e nos preços de produtos lácteos.

Tabela 01. Variações na venda e nos preços de derivados de leite (1996 – 1998).

Produto lácteo

Vendas (%)

Preços (%)

Leite asséptico

106

-11

Leite flavorizado

43

-8

Petit-suisse

35

-15

Creme de leite

27

-12

Sobremesas gelificadas

23

-6

Iogurte

19

-14

Leite condensado

18

-10

Leite em pó

9

-21

Doce de leite

8

-16

  Fonte: Acnielsen (1998), citado por Martins (2001).

Além da mudança no mix dos produtos ofertados e substancial redução de preços, ocorreu a abertura econômica, que trouxe também uma elevação dos padrões de qualidade advindos da comparação entre produtos nacionais e importados, e maior conscientização do consumidor a respeito de saúde e segurança alimentar.

Os agentes que atuam na cadeia de lácteos devem promover modificações rápidas para se adequar aos requerimentos do mercado globalizado, inclusive com vistas a exportação. As mudanças mais importantes são a definição dos padrões de qualidade, aumento da oferta de produtos de maior valor agregado, racionalização da coleta por meio da granelização, concentração da indústria, requerimentos de escala e profissionalização da produção primária.

Em relação ao mercado externo, sabe-se que o Brasil é um tradicional importador de produtos lácteos, chegando a importar até 30% do leite consumido no País. Em média importaram cerca de 10% da produção nacional nos últimos anos.  A partir de 1999 observa-se uma clara tendência de redução nos gastos com importação de lácteos e simultaneamente uma evolução na receita com exportações, conforme Tabela 02. Tendo em vista a falta de tradição do País neste mercado, estes são dados que apontam um novo caminho que pode, de certa forma,  revolucionar o setor produtivo do leite nacional.

Tabela  02.  Exportações e Importações de Leite e Derivados pelo Brasil, 1997/2002.

 

Exportações

Importações

Ano

Mil kg

US$ 1000 FOB

Mil kg

US$ 1000 FOB

 

1997

4.304

9.410

318.748

454.669

 

1998

3.000

8.105

384.174

508.907

 

1999

4.398

7.520

383.674

439.951

 

2000

8.928

13.361

307.062

373.100

 

2001

19.371

25.030

141.188

178.610

 

2002*

21.053

23.707

132.163

153.247

 

* De janeiro a julho de 2002

Fonte: MDIC Alice Web

O potencial produtivo do setor e suas vantagens comparativas em relação a outros países produtores e tradicionalmente exportadores é muito grande e deverá ser trabalhado intensamente, tanto pelo Governo como pela iniciativa privada. A implementação da Portaria 56/99 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que regulamenta o Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite deverá ser uma das primeiras iniciativas do Brasil para ganhar a credibilidade dos principais e maiores centros importadores de derivados de leite no mundo.

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