Embrapa Gado de Leite
Sistema de Produção, No. 7
ISSN 1678-314X Versão Eletrônica
Dez/2005

Sistema de produção de leite com recria de novilhas em sistemas silvipastoris

Autores

 

Sumário

Apresentação
Importância econômica
Aspectos agro e zooecológicos
Raças
Instalações
Alimentação
Reprodução
Manejo produtivo
Saúde
Preparo para o mercado
Mercado e comercialização
Coeficientes técnicos
Referências
Glossário

Expediente

 

Raças

Existem várias opções de raças e cruzamentos para produção de leite, sendo que as principais  são:

A. Raça Européia pura, especialmente selecionada para produção de leite, como a Holandesa (H), a Suiça-Parda ou Schwyz, a Jersey, a Guernsey, a Ayrshire. Dessas a mais conhecida e difundida é a Holandesa;

B. Raça Européia de dupla-aptidão (Produção de leite e de carne), como a Simental, Dinamarquesa, Red Poll. Dessas a mais conhecida é a Simental;

C. Raças  Zebú Leiteiras (Gir; Guzerá; Sindi etc) e

D. Vacas mestiças, derivadas do cruzamento de raça Européia (E) com uma raça Zebú (Z), em vários graus de sangue. Entre as muitas opções de cruzamentos, os mais comuns são:

D.1 - Absorção por raça européia especializada, até atingir o puro por cruza (PC); 

D.2 - Cruzamento alternado simples Europeu x Zeb ú (E x Z);

D.3 - Cruzamento alternado com repetição do Europeu (E-E-Z) ou (E-E-E-Z);

D.4 - Formação de uma nova raça sintética, (ex: 5/8 Holandês + 3/8 Gir, bimestiço,  que é a raça Girolando);

D.5 - Utilização contínua de vacas ou uso do F1;

D.5.1 - Cruzamento com Holandês e Venda de Fêmeas ¾ HZ;

D.5.2 - Cruzamento terminal;

D.5.3 - Rebanho F1 e ¾ HZ;

D.6 - Uso de vacas 3/4 HZ

D.7 - Cruzamento triplo ou “tricross”;

A escolha de uma ou outra alternativa depende de vários fatores, como: Sistema de Produção, Clima, Topografia do terreno (localização da propriedade) etc, bem como da preferência pessoal do produtor. Sem dúvida nenhuma, o sistema de produção a ser utilizado na propriedade é o item mais importante a ser considerado na escolha da raça ou do cruzamento. 

Sistema de Produção

O sistema de criação e produção a ser adotado é decorrente do desempenho dos animais existentes  e das práticas de criação e produção utilizadas na propriedade. Este desempenho pode ser estimado pela média da produção de leite por lactação, produção de leite diária, dentre outros. Os rebanhos podem ser divididos em três níveis de criação e produção como, por exemplo: -

è alto, que propiciam produções acima de 4.200 kg/lactação.

è médio, com produções de 2.800 a 4.200 kg/lactação.

è baixo, com produções abaixo de 2.800 kg/lactação. 

 

Escolha o recurso genético mais adequado para a propriedade em questão.

De acordo com o nível de criação e produção, deve-se considerar:

            - em propriedade com médias de produção de leite acima de 4.200 por lactação, devem ser utilizadas raças européias especializadas, sendo a Holandesa a mais difundida;

             - em propriedade com produções de leite entre 2.800 e 4.200 kg por lactação, têm-se como opção  o cruzamento alternado com repetição do europeu ou ,  o uso de ,ou uso do “tricross”;

             - para fazendas com produções de leite inferiores a 2.800 kg por lactação, deve ser utilizado o como opção existe a raça Girolando (5/8 H + 3/8 Z) fixada e as raças zebú leiteiras.

 

Distinção entre animais cruzados

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Como existem vários graus de mestiçagem, principalmente entre as raças Holandesa e Gir, é muito difícil estabelecer um padrão racial único, uniforme. Entretanto, algumas características permitem , entre o meio sangue, o  5/8 HZ e o ¾ HZ.

 

Vacas Mestiças

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Cerca de 70% da produção de leite no Brasil provêm de vacas mestiças Holandês-Zebú. Na pecuária leiteira, considera-se gado mestiço aqueles animais derivados do cruzamento de uma raça pura de origem européia e que seja especializada na produção de leite (Holandesa, Suíça- Parda, Jersey, etc), com uma raça de origem indiana, uma das várias que formam o grupo Zebú (Gir, Guzerá, Indubrasil, Sindi ou Nelore).A raça Holandesa predomina nos cruzamentos, sendo que o  mais comum é o de Holandês com o Gir, mais conhecido como "Girolando". Há também o ‘Guzolando’, resultado do cruzamento de Holandês com Guzerá e já há alguns produtores fazendo o ‘’Nerolando’, que é o cruzamento do Holandês com o Nelore.

Quando se cruza uma vaca F1  com um touro Holandês puro, obtêm-se o ¾ HZ. Ao cruzar as fêmeas ¾ HZ com touro Holandês, tem-se o 7/8 HZ. Cruzando-se as fêmeas 7/8 HZ com touro Holandês puro, obtêm-se o 15/16 HZ. Se continuar cruzando com touro Holandês P.O. vai apurando a raça Holandesa, até obter os puros por cruza ou PC.

Pesquisa realizada durante mais de 15 anos pela Embrapa Gado de Leite mostrou que a perfomance de cada cruzamento é variável com a tecnologia adotada nas fazendas. Nas propriedades com melhor nível de manejo, as vacas mais holandesadas (3/4 HZ; 7/8 HZ e H) foram as mais produtivas. Nas fazendas mais simples, onde se emprega menos tecnologia, as vacas mais azebuadas foram as mais produtivas, exceto as 5/8 HZ. Isto porque não considerou-se a seleção, ou seja, não foram usados touros mestiços provados, pois eles não estavam e ainda não estão disponíveis no mercado. Em qualquer caso, as vacas mais azebuadas foram as mais resistentes a ectoparasitas,  as mais pesadas e as mais longevas.

Teoricamente, quanto mais puxada para o lado do Holandês, mais leite a vaca vai dar, porque a raça Holandesa tem maior especialização leiteira do que as zebuínas. Mas também quanto mais holandesado o rebanho mais exigente em trato, mais susceptível a carrapato, mais sensível ao calor, os animais tem dificuldade em subir morros muito altos para pastar, etc (Tabela 1). Também, após o grau de sangue ¾ HZ, os machos não são bons para serem  criados e recriados para corte.

Nas fazendas com melhor manejo, a produção  de leite (litros/vaca/dia) é bastante semelhante entre vacas mestiças com  graus de sangue 1/2 HZ ,3/4 HZ, 7/8 HZ e 15/16 HZ. As mais holandesadas são mais produtivas (litros/lactação) porque tem período de lactação maior do que as mais azebuadas (Tabela 2).

Para manter o rebanho mestiço o mais apropriado é cruzar as vacas 15/16 HZ com um touro Zebu de boa genética, e preferencialmente Gir leiteiro ou Guzerá provado para leite, voltando o gado para próximo do meio-sangue. Neste caso, os filhos desse cruzamento terão 47% de genética (sangue) Holandesa e 53% de Zebu.

Ao se  cruzar vacas   7/8  ou 15/16 HZ com touro Zebu volta-se  muito o gado e pode ocorrer casos de vacas com lactação curta ou  que não desça o leite sem o bezerro ao pé, mas nada que não se resolva com uma pequena seleção ou descarte.

Tabela  1 -  Infestações por ecto e endoparasitos em novilhas de seis graus de sangue H-Z 

GRAU DE

SANGUE

MÉDIA DE

CARRAPATOS

MÉDIA DE   COOPÉRIAS

MÉDIA DE

BERNES

¼

44

11.917

4,18

½

71

4.861

4,34

5/8

151

14.610

3,94

¾

223

26.115

8,77

7/8

282

26.422

7,28

H

501

21.938

8,43

Fonte: Lemos et al., 1993.

Tabela 2 - Características de primeira lactação, em animais de seis graus de sangue H-Z, em fazendas de dois níveis de manejo

               Nível alto                               Nível  baixo

Grau de sangue

 

Duração     da lactação

(dias)

Produção de leite

(kg)

Produção de

Gordura

(kg)

Produção de proteína

(kg)

Duração da lactação (dias)

Produção de leite (kg)

Produção de gordura

(kg)

Produção de proteína

(kg)

¼

211

1396

55

48

268

1180

54

40

½

305

2953

132

100

375

2636

114

83

5/8

191

1401

46

43

283

1423

59

45

¾

329

2981

121

94

367

2251

94

70

7/8

295

2821

104

84

304

1672

66

51

H

365

3147

113

93

258

1226

49

38

Fonte: Madalena et al., 1990.

 

Heterose ou Vigor  Híbrido

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 O objetivo do cruzamento é obter um melhoramento genético rápido, reunindo em um só animal as boas características de duas ou mais raças,  aproveitando-se a heterose ou vigor  híbrido. A heterose é o fenômeno pelo qual os filhos apresentam melhor desempenho (mais vigor ou maior produção) do que a média dos pais. A heterose é mais pronunciada quanto mais divergentes (geneticamente diferentes) forem as raças ou linhagens envolvidas no cruzamento. Existem resultados de pesquisas científicas mostrando heterose para produção de leite variando de 17,3% até 28% nos cruzamentos entre as raças Holandesa e Zebú. A heterose afeta características particulares e não o indivíduo como um todo. A heterose é máxima nos animais F1 ou de ‘primeira cruza’. O F1 reúne as boas características de ambos os progenitores. No caso do cruzamento de vaca Gir com touro Holandês P.O. , as fêmeas F1 vão apresentar maior precocidade e maior aptidão leiteira (características típicas do Holandês) do que a Gir, e maior resistência a ectoparasitas,(Veja Tabela-1), mais tolerância ao calor e maior rusticidade do que o Holandês. A performance (produção) do indivíduo F1 vai depender da qualidade genética dos progenitores (do touro e da vaca). Assim, existem bons e maus animais F1 (ou meio-sangue), refletindo a qualidade genética do touro e da vaca envolvidos no cruzamento.Portanto, é importante utilizar sempre touros provados para leite, sejam eles européus ou Zebús.

Até início dos anos 90, a recomendação para se obter F1 era  cruzando vacas Gir com touros Holandês P.O. Isto porque a população de Gir era grande, a vaca Gir era  relativamente de baixo custo e dispunha-se de touros Holandeses provados para leite, sendo as vacas Holandesas de maior valor. Desde 1993 dispõe-se de touros Gir leiteiro provados para produção de leite. Também, as vacas Holandesas não estão com preço muito elevado, enquanto a população de Gir  diminuiu. Assim, pode-se utilizar tanto o cruzamento de vacas Gir  com touro Holandês, como o cruzamento recíproco, vacas Holandesas com touro Gir. Geneticamente a qualidade do F1 é a mesma, com o mesmo potencial de produção de leite. Pode haver efeito materno no tamanho dos animais  F1, sendo os filhos das vacas Holandesas maiores.

 

Absorção por uma raça européia especializada.

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Consiste na utilização contínua de touros europeus de uma raça especializada na produção de leite até atingir o puro por cruza ou PC, podendo-se absorver para qualquer raça européia pura. Entretanto, a raça Holandesa, por ser a mais conhecida e difundida, dado a sua alta produção, é a mais utilizada.

 

Absorção por Holandês

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As fêmeas F1 e suas descendentes (filhas, netas, bisnetas etc), são cruzadas seguidamente com touro Holandês P.O. até obtenção de animais puros por cruza ou PC. É um esquema indicado para produtores de melhor nível tecnológico.

 

Cruzamento alternado simples Europeu x Zebú (E-Z)

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Pode-se utilizar qualquer raça européia pura, mas na prática o mais usado é a Holandesa, transformando o esquema em cruzamento alternado simples Holandês x Zebú (H x Z). Neste esquema se alternam as raças paternas (touros) a cada geração, obtendo-se animais com aproximadamente 3/4 Holandês + 1/4  Zebú e na próxima geração 3/4 Zebú + 1/4  Holandês (HZ).As raças  de Zebú mais usadas são a Gir e a Guzerá.

É um esquema bom para pequenos produtores, que desejam produzir leite a pasto e recriar os machos para corte. Porém, pode ser mais caro para os pequenos produtores, pela necessidade de se manter dois touros na propriedade, um Holandês e um Zebú. Isto é facilitado onde a inseminação artificial é uma prática usual. 

 

Cruzamento alternado com repetição do Europeu (E-E-Z) ou (E-E-E-Z):

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No caso do (E-E-Z) repete-se uma raça européia por duas gerações seguidas, obtendo-se animais com aproximadamente 7/8 Europeu + 1/8 Zebú e retorna com a outra, no caso a Zebú,

No caso do (E-E-E-Z), repete-se o touro europeu por três vezes obtendo-se animais com até 15/16 (E) + 1/16 Z, e retorna com touro Zebú, podendo ser um esquema bom se as condições de manejo e alimentação forem satisfatórias. Neste sistema a Holandesa é a raça européia mais  utilizada, transformando o esquema em (H-H-Z) ou (H-H-H-Z), sendo este último utilizado no Sistema  Intensivo de Produção de Leite à Pasto da Embrapa Gado de Leite, em Coronel Pacheco – MG, que funciona com bons resultados desde 1977. Na prática este esquema funciona da seguinte maneira: as fêmeas F1 são cruzadas com touro Holandês por duas gerações seguidas, obtendo-se ¾ HZ e depois o 7/8 HZ. Depois, utiliza-se touro Zebú (Gir ou Guzerá) para cruzar as vacas 7/8 HZ voltando o gado  para  próximo do meio- sangue. Os produtores de melhor nível tecnológico podem utilizar touro Holandês por três gerações seguidas até obtenção de 15/16 HZ, quando então deve utilizar um touro Zebú para  voltar o gado. Assim como o touro Holandês, recomenda-se também utilizar touro Zebú provado para leite, Gir ou Guzerá, para obtenção de melhores animais cruzados.

Ao se  cruzar vacas   7/8 HZ ou 15/16 HZ com touro Zebú, voltando o gado para próximo do meio-sangue,  pode ocorrer casos de vacas com lactação curta ou  que não desça o leite sem o bezerro ao pé. Neste caso o produtor deverá fazer alguma seleção para eliminar do rebanho as fêmeas com lactação curta, (por exemplo, vacas com lactação menor que 250 dias deverão ser descartadas) ou que não se adaptem à ordenha mecânica (não dar leite sem o bezerro). Também, novilhas de primeira cria com lactação baixa (por exemplo, abaixo de 1800 litros/lactação) devem ser descartadas. Isto permite um melhoramento genético do rebanho, aumentando a produtividade média da fazenda.

Um problema que ocorre nesse sistema é a falta de padronização racial no rebanho, havendo vacas mais azebuadas e outras mais holandesadas, o que dificulta as práticas de manejo, principalmente no que tange ao controle de ectoparasitas,  ao estresse de calor, manejo de ordenha com ou sem bezerro, etc.

 

Formação de uma nova raça sintética

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Para fixação de uma nova raça é necessário o acasalamento entre touros e vacas mestiças, geralmente de um mesmo grau de sangue, por exemplo, bimestiço Girolando, que é o 5/8 HZ;

A partir do F1 pode-se obter o girolando ou 5/8 H + 3/8 Gir, como demonstrado nos diagramas I e II, fixando o grau de sangue da nova raça.

Na tentativa de se obter e fixar uma raça leiteira tropical, o MAPA, através da Portaria 079, de 07 de Fevereiro de 1996, oficializou a criação da raça “Girolando” que é o cruzamento do Holandês  com Gir, tendo 5/8 de “sangue” Holandês + 3/8 de Gir. A Associação Brasileira de Criadores de Girolando, sigla “Girolando”, é a Entidade Oficial encarregada do Registro Genealógico, tendo como finalidade incrementar a criação da raça Girolando. Um gado leiteiro produtivo e padronizado, adaptado à região tropical e subtropical. A sede da “Girolando” fica em Uberaba – MG.

O diagrama I ilustra a estratégia de cruzamento  mais comum utilizada para obtenção do gado Girolando. Touros P.O. da raça Holandesa, de preferência provados para leite, são cruzados com vacas Gir, obtendo-se o F1. As fêmeas F1  são cruzadas com touro Gir tembém provado, obtendo-se o ¼ H + ¾ G. As fêmeas ¼ H + ¾ G são então cruzadas com touro Holandês P.O. obtendo-se animais 5/8 H + 3/8 G, que acasalados entre si formam  o bimestiço que se pretende fixar como  raça pura, adaptada aos trópicos. Para implementar este esquema estão disponíveis no mercado touros Holandês P.O e Gir leiteiro P.O. provados (pelo teste de progênie) para produção de leite.

Outra opção para obter animais bimestiços é cruzar  touro Holandês P.O.  com vacas Gir, obtendo-se o F1 . As fêmeas F1  são cruzadas com touro Holandês P.O. obtendo-se as ¾ H +  ¼ Gir.  As fêmeas ¾ H + ¼ G são então cruzadas com touros ½ HG (F1),ou o inverso,fêmeas 1/2 HZ cruzados com touro 3/4 HZ, obtendo-se o 5/8 H + 3/8 G. O problema neste esquema é que não se dispõe de touros meio-sangue, e nem touros 3/4 HZ,  provados para leite. Neste caso o melhor é escolher o touro  pelo “pedigree”  e pela produção da mãe.

A Associação Girolando aceita o uso de touros 5/8H + 3/8 G para cruzar com vacas ¾ H + ¼ G, visando formar um grupamento de animais próximo ao grau de sangue desejado de 5/8 H + 3/8 G, (4,5 de H + 3,5/8 de G), conforme demonstrado no .

 

 Estratégia de Cruzamento

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Fonte: Associação Brasileira de Criadores de Girolando.

Após atingir o grau de sangue desejado de 5/8 H + 3/8 G, o rebanho deve ser estabilizado, utilizando-se touros 5/8 H + 3/8 G, mantendo-se assim o bimestiço Girolando  . Este é o exemplo clássico de estabilização de raças bimestiças em todo o mundo. Isto será acelerado após dispor de touros 5/8 H + 3/8 G provados para leite. Com o processo de seleção a raça poderá aumentar sua média de  produção de leite.

O tempo requerido para estabilizar a raça Girolando em 5/8 H + 3/8 G é considerável,no mínimo  de 10 a 15 anos. Para acelerar este processo, o produtor poderá adquirir fêmeas ¾  H + 1/4 G e cruzá-las com touro ½ HG, ou fêmeas 1/2 HG cruzadas com touro 3/4 HG. Fêmeas ¼ H + ¾ G tem pouca disponibilidade no mercado, mas cruzadas com touro Holandês P.O. vai dar o 5/8 H + 3/8 G, como no diagrama 1.

Atualmente a Associação Girolando, em convênio com a Embrapa Gado de Leite, tendo como parceiros diversas instituições nacionais, executa um programa de teste de progênie de touros , nos graus de sangue  ¾H G e 5/8 H G. Os produtores interessados em participar deste programa devem contactar a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, no endereço: A.B.C. Girolando – Rua Orlando Vieira do Nascimento, 74 – Caixa Postal 493, CEP 38040-280, Uberaba – MG – Fone /Fax: (34) 3336-3111, e-mail: girolando@mednet.com.br.

 

Utilização de Vacas ½ sangue Holandês-Zebú ou uso do F1

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Um rebanho leiteiro de animais F1 explora ao máximo a Heterose ou vigor  híbrido entre as raças Holandesa e Zebú. São animais rústicos, com boa resistência a carrapatos e ao calor, bom porte, boa produção leiteira, bem valorizada no mercado. Os machos F1 são bons para corte. O produtor de leite pode optar por comprar fêmeas F1 no mercado ou dispor de um rebanho de vacas Zebú para fazer o F1, para reposição anual de 20% a 25% do seu rebanho.

Em pesquisa realizada pela Embrapa Gado de Leite, os animais 1/2 HZ  ou (F1) apresentaram desempenho superior aos de outros cruzamentos, nas condições predominantes de manejo na região, sendo portanto uma alternativa recomendável para as mesmas.

Dispondo-se de animais F1 vários esquemas de cruzamentos são possíveis: 

 

Cruzamento com Holandês e Venda de Fêmeas ¾ HZ

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As fêmeas F1 são cruzadas com touro Holandês P.O. obtendo-se o  3/4 H + 1/4 Z. As fêmeas ¾ HZ são boas produtoras de leite, porém são mais exigentes em trato do que as F1 e são mais sensíveis a carrapatos e ao calor. Produtores que não desejam manter as fêmeas ¾ HZ no rebanho leiteiro, poderão recriá-las e cruzá-las (ou inseminar) em Julho e Agosto, de modo a parirem em Abril e Maio do ano seguinte, quando serão vendidas a bom preço, já que são animais muito valorizados no mercado brasileiro. O rebanho leiteiro seria formado apenas por vacas F1, fazendo-se a reposição anual sempre com fêmeas F1.

 

Cruzamento Terminal

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As fêmeas F1 são cruzadas com  touros de  raças de  corte,como  Nelore, Canchim, Tabapuã, Guzerá, etc., destinando-se para abate todas as crias, machos e fêmeas. Neste caso, o produtor obtêm uma boa renda com a venda de animais para corte, mas deverá adqüirir as fêmeas F1 ou ter um rebanho de vacas Zebú (Gir ou  Guzerá) para produzir as fêmeas F1 na própria fazenda. No caso de se utilizar touro Guzerá, de preferência provado para leite, poderá vender as novilhas 3/4 HZ para produtores de leite, obtendo melhor renda do que vendê-las para abate.

Este é o esquema conhecido como ”vaca de leite, bezerro de corte”. Uma vaca F1 de boa genética, mantida em pasto de boa qualidade e mais o uso de 1 a 2 kg de concentrado/vaca/dia, pode produzir uma média de 8 litros de leite por dia, em lactação de 300 dias. Neste caso tem-se 2400 litros de leite para venda, o que rende cerca de R$ 720,00/ano (2400 litros x R$ 0,30) . Se considerar o bezerro criado ao pé da vaca, pode-se ter uma renda de R$ 1.000.00 por vaca/ano. Nenhuma vaca de corte rende tanto, exceto as de genética de ponta.

 

Rebanho F1 e ¾ HZ

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Neste caso, o produtor também poderá optar por cruzar as fêmeas F1 com um touro Holandês, obtendo as 3/4HZ e aproveitando os machos ¾ HZ para corte, fazendo a cria e recria dependendo da disponibilidade de pastagem, ou vendendo os bezerros no mercado local. As fêmeas ¾ HZ poderão ser cruzadas com touros de  raças  de corte, (Nelore, Canchim, Tabapuã, Guzerá, etc.) e destinando para abate tanto os machos como as fêmeas, repetindo o bordão “vaca de leite, bezerro de corte”. Neste caso o rebanho leiteiro é formado por vacas F1 e ¾ HZ. De vez em quando, o produtor deverá adquirir fêmeas F1 para repor até 30% das F1, selecionando no próprio rebanho as fêmeas para repor as ¾ HZ.

 

Uso de vacas 3/4 HZ

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As vacas  3/4 HZ são boas produtoras de leite e não tem tanto problema de carrapatos como as mais holandesadas. Assim, muitos produtores preferem produzir leite só com rebanho de vacas 3/4  HZ.

As fêmeas 3/4 HZ podem ser cruzadas com  touros de raças de corte, como Nelore, Canchim, Tabapuã, Guzerá, etc., destinando-se para abate todas as crias, machos e fêmeas. Neste caso, o produtor obtêm uma boa renda com a venda de animais para corte, mas deverá adqüirir as fêmeas 3/4 HZ no mercado regional. No caso de se utilizar touro Guzerá, poderá vender as novilhas (filhas das vacas 3/4 HZ) para produtores de leite, obtendo melhor renda do que vendê-las para abate. Este esquema retorna ao conhecido ”vaca de leite, bezerro de corte”.

 

Cruzamento Triplo ou “Tricross”

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Consiste na utilização de uma segunda raça européia, geralmente a Suíça-Parda, a Jersey ou  Simental, nos cruzamentos com animais  Holandês X  Zebú, obtendo-se animais denominados “tricross”, mantendo-se um bom nível de heterose.

Embora não se disponha de muitos resultados de pesquisa no Brasil,é tecnicamente recomendável que as fêmeas HZ sejam cruzadas com touro Jersey, para obtenção do tricross, mantendo-se o vigor  híbrido.Se as fêmeas são F1, as crias serão 50% Jersey, 25 % Zebú ( Gir ou Guzerá ) e 25% Holandês, com os machos de baixo valor como animais de corte. As fêmeas são muito valorizadas porque o Jersey transmite precocidade, alta fertilidade, docilidade, longevidade, além de que as fêmeas são menores, possibilitando criar maior número de animais por hectare. Também, a jersey corrige muitos problemas de  teto e úbere, além de que as vacas tricross  produzem leite com maior teor de sólidos totais, que é muito importante para quem faz queijos.

 

Distinção entre animais cruzados

Com um pouco de prática e atenção é relativamente fácil fazer a distinção entre as fêmeas  F1 , 5/8 HZ e as  Mestiças 3/4 HZ.

Meio sangue HZ ou F1

As fêmeas adultas são de estatura média a elevada, pesadas, de constituição corporal média, ossatura forte, ossos chatos, de forma angulosa. Apresentam silhueta feminina, delicada e harmoniosa, andar fácil e elegante. O temperamento é dócil, porém ativa. A cabeça é descarnada, proporcional, com largura e comprimento médio. O perfil é retilíneo a ligeiramente subconvexo. A fronte é larga  e plana. O chanfro é de comprimento médio, reto, mais estreito e comprido nas fêmeas. O focinho é preto, largo, com narinas amplas e dilatadas. Os olhos são grandes, escuros e brilhantes, de formato elíptico, situados lateralmente e protegidos por rugas da pele. Orelhas de comprimento médio, relativamente largas, estreitando-se na ponta, de textura fina, com pêlos mais curtos, posicionando-se para a frente a abaixo dos olhos. A barbela é de comprimento médio e pregueada. Peito largo e amplo. Tórax amplo e profundo, com boa capacidade respiratória. O umbigo é médio. Os pêlos do corpo são curtos, finos, brilhantes, delicados e sedosos. A cor pode ser preta, preta pintada de branco, preta mamona, mamona de castanho, castanho mamona, castanha em todas as suas tonalidades, castanha pintada de branco, vermelha em tonalidades típicas. Como particularidades: estrela, gargantilha e bargada.

Bimestiço Girolando (ou 5/8 HZ)

As fêmeas 5/8 HZ são parecidas com as meio sangue, diferindo principalmente pelo perfil retilíneo, orelhas de comprimento e largura média, textura média, (porém menores que as orelhas das ½ sangue), não pendentes, com as faces internas do pavilhão voltadas para a frente, posicionando-se ao nível dos olhos; o umbigo é reduzido. A barbela é ligeiramente reduzida e pregueada.

Mestiças 3/4 HZ

As fêmeas ¾ HZ são de estatura média, com ossatura forte, ossos chatos, forma angulosa, com evidência de mais refinamento. A silhueta é bem feminina, delicada e harmoniosa, com andar fácil e elegante. Temperamento dócil, porém ativa. A cabeça é descarnada, proporcional, ligeiramente mais curta (que as meio-sangue e as 5/8 HZ). O perfil é retilíneo a subcôncavo, fronte larga, com chanfro curto. Focinho largo com narinas amplas e dilatadas. Os olhos são grandes, escuros, brilhantes, de formato arredondado e ligeiramente salientes. As orelhas são pequenas, curtas, com muitos pêlos, com as faces internas do pavilhão auricular voltadas para a frente, posicionando-se um pouco acima dos olhos. A barbela é reduzida e lisa. O umbigo é muito reduzido, pouco evidente. Os pêlos são curtos (porém bem mais peluda que as meio-sangue e as 5/8 HZ), finos, brilhantes, delicados, sedosos e são mais densos. A vassoura da cauda é abundante. A cor característica predominante é preta, preta malhada de branco, ou branca malhada de preto, embora existam animais de  cor castanha em todas as suas tonalidades. 

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