Embrapa Gado de Leite
Sistema de Produção, No. 7
ISSN 1678-314X Versão Eletrônica
Dez/2005

Sistema de produção de leite com recria de novilhas em sistemas silvipastoris

Autores

 

Sumário

Apresentação
Importância econômica
Aspectos agro e zooecológicos
Raças
Instalações
Alimentação
Reprodução
Manejo produtivo
Saúde
Preparo para o mercado
Mercado e comercialização
Coeficientes técnicos
Referências
Glossário

Expediente

 

Saúde

Diarréias

Uma doença comum que  acomete os bezerros nesta época é a diarréia. O animal com  diarréia se caracteriza por  apresentar fezes líquidas que pode ter as mais variadas aparências, desde amarela viva passando por esverdeada, preta e vermelha, até mesmo com sangue vivo. Não se pode dar um diagnóstico seguro do causador da diarréia, pela cor das fezes, mas podemos chegar a alguns componentes destas fezes e daí conduzir o tratamento com melhor eficiência. Mas  a grande importância desta enfermidade é levar o animal a desidratação que normalmente é a causa principal da morte. O animal apresenta a doença fica triste, não se alimenta de forma adequada, muitas vezes apresenta respiração acelerada e vai aos poucos apresentando sinais de desidratação, como pele seca, olhos fundos entre outras, e por fim as extremidades apresentam baixa temperatura e logo a seguir a morte. Neste caso, quando forem observado os primeiros sinais de desidratação, devemos socorrer o mais rápido possível, dando mais líquidos para este animal. Podemos lançar mão da hidratação oral em primeira mão. Podem surgir casos de diarréia de causa nutricional, quando os animais não estão habituados com certo tipo de alimentação, por exemplo, nova ração que pode estar contaminada por fungos ou outros microorganismos. Nos casos mais graves, a presença de um Veterinário é uma necessidade.

Micoses

Outra enfermidade comum nesta época é o aparecimento de micoses. Existe um tipo de micose denominado “tinha”, que causa lesões de placas arredondadas que aparecem comumente na região da cabeça e pescoço. São placas de tamanho variado, de um modo geral de forma arredondada, muito comum em criatório coletivo. Normalmente não causa maiores danos e pode ser tratado com certa facilidade. A utilização de tintura de iodo tem efeito satisfatório desde que aplicada todos os dias, até o desaparecimento das lesões. Esta enfermidade é mais comum em ambientes de grande concentração de animais. Em bezerreiros coletivos, onde os bezerros permanecem muito tempo juntos, o aparecimento de tinha é comum.

Tristeza parasitária

Agora,  ainda existe uma certa proteção dada pelo colostro e os animais começam a desenvolver a parasitose de carrapatos. É o momento em que os primeiros sintomas da tristeza parasitária começam. A tristeza é transmitida pelos carrapatos e insetos hematófagos como moscas e pernilongos. A tristeza parasitária é causada por dois agentes parasitários: o Anaplasma e a Babesia. A anaplasmose é causada pelo Anaplasma marginale e a babesiose é causada pela babesia sp. A babesia  é transmitida pelos carrapatos e a anaplasma pelos insetos hematófagos.  Ambas são doenças que causam anemia grave podendo com freqüência levar os animais a morte. No campo é muito difícil diagnosticar estas doenças separadamente com certeza absoluta. O tratamento para a tristeza parasitária deve ser realizado assim que os primeiros sintomas  forem observados. Temos no mercado vários tipos de medicamentos que são utilizados para o tratamento desta doença. Esta deve ser uma recomendação do Veterinário assistente na propriedade. Quanto mais precoce o tratamento, melhor a recuperação.

Verminose

A partir dos três meses de idade, podemos estar atentos as verminose, as quais acometem os bovinos jovens. Bovinos com idade até dois anos são muito sensíveis às verminoses e por isto devem receber atenção especial nesta fase, que é de grande desenvolvimento.  Como as larvas de vermes estão disseminadas nas pastagens, os animais sob pastejo normal estão continuamente se infectando. Para que esta convivência esteja sob controle, devemos combater os vermes de forma estratégica. Se sabemos que estas larvas de vermes estão espalhadas na pastagens temos que atacar da forma que estejamos com mais vantagens. De um modo geral no Brasil na época de temperatura fria que coincide com a seca as pastagens estão em seu pior momento com o capim sem desenvolvimento de porte baixo e as larvas não tem como sobreviver de forma normal, então a maior população de vermes está dentro dos animais. Assim sendo esta é a melhor época para se combater estes vermes. Se vermifugarmos os animais no inicio meio e fim da época seca, estaremos fazendo um excelente controle destes parasitas, de forma econômica e eficiente. . O uso de vermífugos com poder residual maior, como as avermectinas, pode facilitar este controle estratégico exigindo apenas duas vermifugações sendo uma no início e a outra fim de seca. Outra forma de se vermifugar esta categoria, é a partir de três meses de idade vermifugar todos os animais mensalmente até a idade de um ano. Esta estratégia tem bom retorno financeiro.

Vacinações

Basicamente temos dentro de um programa sanitário algumas vacinas de uso obrigatório.

A vacinação contra a brucelose é obrigatória somente para as fêmeas na idade entre três e oito meses de idade. Não se pode vacinar estas fêmeas a partir desta idade pois a titulação do exame pode ser positivo para o resto da vida e este animal é considerado positivo e o destino certamente é o abate.

Outra vacina obrigatória é a da aftosa que deve ser aplicada de acordo com a região do pais, como indicado pelos órgãos de defesa sanitária do estado.

A vacinação contra o carbúnculo sintomático deve ser realizada em todos os animais acima de três meses de idade sendo repetida de seis em seis meses até aos dois anos de idade.  É nesta idade que os animais estão mais sujeitos a desenvolver esta enfermidade. Como característica, é uma doença que afeta os animais com melhores escores corporais. 

Outra vacinação importante é a contra a raiva que deve ser aplicada anualmente, principalmente em regiões de surto quando grande parte do rebanho pode ser afetada pela doença.

Existe no mercado um número grande de vacinas contra várias doenças como leptospirose, Rinotraqueite infecciosa dos bovinos - IBR, diarréia bovina a vírus -  BVD, mamite, campilobacteriose, colibacilose e outras tantas que devem ser indicadas para cada caso e pelo veterinário responsável pelo rebanho. Cada caso vai exigir uma conduta específica de acordo com a recomendação do veterinário.

Controle de carrapatos

Uma das doenças mais importantes que afeta nossos rebanhos é a carrapatose. É doença que causa enormes prejuízos e  grande desconforto para os animais prejudicando o seu desenvolvimento e  produção. Os carrapatos além dos problemas que normalmente causam  também transmite doenças que afetam de forma drástica o animal. Estas doenças são a babesiose e a anaplasmose que fazem parte do complexo “tristeza parasitária”.

Um grande complicador no combate aos carrapatos é que não podemos eliminá-los do rebanho pois apesar de transmitir a tristeza parasitária são eles que mantém os níveis de anticorpos contra esta doença. Os carrapatos  inoculam constantemente os agentes da tristeza parasitária nos bovinos e então estes estão sempre sendo estimulados a produzir anticorpos contra a tristeza parasitária. Por outro lado, é imperativo que nossa vigilância esteja sendo levada com seriedade pois qualquer descuido, a população de carrapatos pode aumentar de tal forma que pode levar alguns animais a morte. É comum em propriedades descontroladas que os animais estão tão afetados que começam  a emagrecer, não tem o rendimento esperado, chegam ao extremo de morrer. Uma proposta de controle é o estratégico que consiste em banhar os animais de forma a não deixar o desenvolvimento de teleóginas por um período de 120 dias. No sudeste este controle deve ser realizado na época de maior calor que coincide com a época das chuvas quando aumenta também a umidade relativa.  A partir de dezembro, começa um pico de crescimento do carrapato que deve ser combatido por banho carrapaticida. Estes banhos devem ser realizado a cada 21 dias, com um total de cinco a seis banhos. Este combate deve cobrir um período de 120 dias sem que haja desenvolvimento de teleóginas. Este banho pode ser dado por aspersão ou “pour on”. Se o carrapaticida utilizado tiver maior tempo residual, estes banhos podem ser mais espaçados com intervalos de 35 dias. O importante é combater os carrapatos de maneira que não permita o desenvolvimento de teleóginas. 

As formas de dar banho pode variar com o produto. De um modo geral o banho por aspersão requer em torno de quatro a cinco litros de solução por animal adulto. O animal tem que ser molhado totalmente desde a cauda até a ponta do focinho.  Um dos grandes problemas que encontramos nos banhos carrapaticidas é que nas partes baixas e nas reentrâncias da pele muitas vezes não ficam bem molhados e os carrapatos que ali estiverem não sofrerão os efeitos do veneno. Estes carrapatos vão  se desenvolver e contaminarão as pastagens prejudicando de forma drástica o controle destes parasitas.

Quando formos banhar o rebanho, devemos atingir todo o contingente no menor espaço de tempo. Por exemplo, não é  recomendado que se banhe os animais solteiros numa semana e os de leite na semana seguinte. Além de termos um controle muito trabalhoso em quem foi banhado pode um destes animais trocar de lote e ser o contaminador daquele pasto. O ideal é que se banhe todo o rebanho no máximo em três dias.

Um agravante do combate aos carrapatos é que nesta época  em que se tem a maior precipitação pluviométrica. Quando os animais tomam banho carrapaticida e logo após são atingidos por uma chuva, dependendo do produto utilizado, este é lavado e perde o efeito. Neste caso  o controle é interrompido e não se alcança os resultados esperados. Este é um dos grandes causadores de insucesso do combate estratégico dos carrapatos. Outro que se deve chamar a atenção, é que os banhos não foram dados de forma adequada tanto em quantidade quanto em qualidade não atingindo todos os pontos do corpo do animal. Há uma variação enorme da quantidade gasta pelos proprietários para banhar seus rebanhos. Esta quantidade varia de meio litro até  oito litros por animal. Como se há de convir, com meio litro de calda não é possível banhar todo um animal adulto. Por outro lado oito litros para banhar um animal está se desperdiçando o produto.

Um dos grandes problemas que encontramos nas propriedades é a forma de se dar banho. Quando se faz uso de aspersores, os costais são o vilão da história. Com uma capacidade para 20 litros de calda, que daria para banhar entre quatro e cinco animais temos visto que nas propriedades esta mesma quantidade de calda o funcionário banha ate 40 animais. Conclui-se que este banho foi mal dado. Este problema vem da bomba que é pesada, o trabalho realizado pelo operador é pesado e por este motivo, os três primeiros animais tem banhos melhores, os outros vem o cansaço e o operador não agüenta mais então não consegue trabalhar adequadamente fugindo do objetivo.

É muito comum neste casos as pessoas reclamarem do produto e muita vezes há troca do produto sem que se preocupe com o princípio ativo que pode com freqüência ser o mesmo que o anterior. Às vezes, no segundo banho com o mesmo produto o operador consegue um melhor sucesso mas quando vamos saber porque, simplesmente houve maior capricho no banho.

Outra forma de agir das pessoas é a troca constante de base medicamentosa sem critério. Isto ocorre sempre que não se tem sucesso com os tratamentos então, troca-se por outra base mas o vilão continua sendo o banho mal realizado.

Todos estes cuidados devem ser observados na hora de planejar o controle estratégico. Qualquer erro em qualquer fase, pode comprometer seriamente o sucesso

Controle de mamite

A mamite é a inflamação da glândula mamária. É causada pelos mais diversos agentes. Os agentes mais comuns causadores de mamites são as bactérias dos gêneros estreptococos e estafilococos. Outros agentes de importância causadores de mamites são os coliformes.

É preciso trabalhar preventivamente no controle de mamite pois é uma doença que está sempre para surgir repentinamente. Esta é uma doença de manejo. Para se fazer uma prevenção adequada, é preciso considerar todo o manejo da propriedade. Quando os índices desta doença se elevam, significa que uma ou mais ações dentro do manejo está sendo executada de forma inadequada. Vale ressaltar que as mamites ambientais são esporádicas e podem acometer qualquer dos animais em lactação.

Dentro deste manejo da propriedade devemos levar em consideração todo o processo realizado diariamente dentro da propriedade, desde quando os animais estão no pasto,  vem para a ordenha e voltam para o pasto.

Não importando a forma de ordenha seja ela mecânica ou manual  deve ser observado a condução de todo o processo pois é um dos grandes causadores de mamite quando a própria ordenha não é bem conduzida. No processo com ordenha mecânica, os equipamentos devem ser conduzidos como recomendado pelos fabricantes. As trocas de peças e borrachas, tem que ser executada dentro do que for recomendado pois assim como o  nível de vácuo, tem que estar conforme o recomendado pois tanto o excesso como a falta deste vácuo são grandes fatores predisponentes para o aparecimento de mamite. Estes são exemplos do que pode facilitar a presença da mamite.

Existem vários testes que podem auxiliar no diagnóstico da mamite. O “CMT” (California Mastitis test) é um teste que pode ser realizado  no campo, muito prático porém deve ser executado por profissional treinado. A contagem de células somáticas “CCS” é outro exame que é usado para o diagnóstico da mamite, este é feito em laboratório. Estes dois meios de diagnóstico, são utilizados par diagnosticar a mamite sub-clínica. Esta mamite ocorre com certa freqüência nos rebanhos. É a mamite que não podemos enxergar a olho nu, porem ela é a precursora da mamite clínica. A mamite clínica é aquela que se pode ver a olho nu.

Outro teste que pode ser auxiliar no diagnóstico da mamite é a cultura . Toma-se uma porção do leite afetado e faz-se uma cultura em laboratório. Este exame é utilizado para identificar o causador da mamite. 

O teste prático mais eficiente é o teste da caneca telada ou de fundo escuro. Este é o teste que se deve fazer a cada ordenha. Ele detecta a mamite clínica nos primeiros jatos de leite. Quando a mamite clínica aparece, há um depósito de leucócitos (células de defesa) no canal da teta e estes leucócitos formam grumos que  são visualizados logo nos primeiros jatos de leite. Estes primeiros jatos devem ser depositados na caneca de fundo escuro ou telada onde os grumos serão visualizados com mais facilidade. Devido ao contraste do fundo da caneca  com os próprios grumos estes ficam mais aparente. Neste caso estamos frente a mamite clínica.

Nos caso de mamite clínica, o animal deve ser retirado do recinto e ser ordenhado mais tarde após os outros sadios. Dependendo da gravidade da mamite o animal deve ser ordenhado fora do local de ordenha para não contaminar o ambiente. Se a mamite for crônica o animal deve ser descartado.

No caso de controle adequado da mamite, pode-se utilizar a linha de ordenha onde primeiramente são ordenhadas as vacas sadia, depois as que já tiveram mamite e foram curadas e no final aquelas que estão com mamite e em tratamento.

O tratamento das vacas com mamite varia de acordo com o caso apresentado. De um modo geral, os tratamentos devem ser precedidos de ordenhas sucessivas em torno de quatro no período do dia e se for o caso de necessidade de medicamento, tratar somente após a ultima ordenha do dia.

As vacas secas devem ser tratadas com medicamentos próprios para esta fase. Existe no mercado vários medicamentos para tratamento preventivo de vacas neste período de descanso. É bom lembrar que estes medicamentos nunca devem ser utilizados para tratar mamites comuns, pois eles são próprios para a prevenção da mamite no período seco.

Cascos

Uma das grandes preocupações em todos os criatórios de bovinos são os cascos. A importância dos cascos na locomoção do animal é vital. Se qualquer problema que possa a vir a acontecer com os cascos, comprometem de forma drástica a produção.

São muitas causas que prejudicam os cascos. Dentre as várias que podemos citar temos como muito importante a alimentação e o desgaste que ocorre principalmente em animais confinados. Em animais não confinados, quando  chega a estação chuvosa época em que o barro é abundante, há um amolecimento dos cascos que favorece o desgaste dos cascos. Estes fatores somados levam ao aparecimento de vários problemas que afetam diretamente os animais.

Animais que tem os cascos comprometidos, podem apresentar inúmeros problemas mas um dos que mais chamam a atenção é a reprodução. Os animais afetados não só tem perda de peso como não demonstra cios e esta perda afeta diretamente o intervalo entre partos, além do que é comum a perda total do animal.

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