Embrapa Gado de Leite
Sistema de Produção, 4
Produção de Leite no Sudeste do Brasil

Pedro Franklin Barbosa
André de Faria Pedroso
André Luiz Monteiro Novo
Armando de Andrade Rodrigues
Artur Chinelato de Camargo
Edison Beno Pott
Eli Antônio Schiffler
Eurípedes Afonso
Márcia Cristina de Sena Oliveira
Oscar Tupy
Rogério Taveira Barbosa
Victor Muiños Barroso Lima

- Introdução
Importância econômica
- Aspectos agro e   zooecológicos
- Raças
-
Infra-estrutura
- Alimentação
- Reprodução
- Manejo Sanitário
- Mercados e   Comercialização
- Coeficientes Técnicos
-
Referências bibliográficas
- Glossário
- Editores

 

Introdução

A decisão da Diretoria-Executiva em estabelecer, como meta para as Unidades, a elaboração de documentos em meio eletrônico, os quais ofereçam ao público da Embrapa recomendações técnicas sobre sistemas de produção, veio ao encontro da idéia da Embrapa Pecuária Sudeste em disponibilizar na internet um resumo das tecnologias utilizadas em seu "Sistema Intensivo de Produção de Leite – Gado Holandês", localizado na Fazenda Canchim, São Carlos, SP.

Desde a sua criação, em 26 de agosto de 1975, a Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP, atua em P&D na área de produção animal, particularmente em bovinos de corte, bovinos de leite e forragicultura. O enfoque de sistemas em suas atividades de P&D tem sido adotado como estratégia fundamental para incentivar a execução de projetos interdisciplinares em bovinocultura de corte e de leite.

Com o objetivo de atender à demanda do segmento da produção de leite e à estratégia de ação em projetos de P&D , em outubro de 1984 foi instalado o Sistema Intensivo de Produção de Leite – Gado Holandês (SIPL-GH), onde procurou-se adotar um pacote de tecnologias plenamente alcançável pela maioria dos produtores de leite B da Região Sudeste e manter as características básicas dos sistemas de produção de leite B predominantes na região: a) topografia levemente acidentada; b) pastagens de forrageiras tropicais; c) suplementação volumosa para todos os animais na época da seca; d) rebanho de gado Holandês (puro por cruza e puro de origem) e de alta mestiçagem de Holandês (3/4 a 15/16). Este modelo reunia algumas técnicas já conhecidas isoladamente e visava oferecer ao produtor de leite B da Região Sudeste do Brasil exemplos de uso de tecnologias competitivas que garantissem o aumento da produção, com melhorias da produtividade e da rentabilidade da atividade leiteira, em bases sustentáveis.

Com características dinâmicas, o SIPL-GH passou por um processo gradual de intensificação, preservando, porém, suas características básicas: utilização de pastagens de gramíneas tropicais, como única fonte de volumoso no período das águas (outubro a abril), e rebanho de gado Holandês, além do emprego de tecnologias simples e de fácil adoção pelos produtores, em consonância com seus objetivos gerais.

O SIPL-GH ocupa uma área total de 96 ha, de relevo levemente ondulado em Latossolo Vermelho-Amarelo, de textura média, distrófico. A média da precipitação pluvial na região de São Carlos é de 1.590 mm/ano, alternando períodos seco (maio a novembro – 374 mm/ano) e chuvoso (outubro a abril – 1.216 mm/ano), com temperaturas médias de 22,6º C no verão e 18,6º C no inverno.

O rebanho original do SIPL-GH possuía padrão genético variando de 3/4 a Holandês Puro por Cruza (PC). Houve introdução de fêmeas em diferentes oportunidades, incluindo animais Puros de Origem (PO). Todas as fêmeas são acasaladas, por meio de inseminação artificial, com touro Holandês Preto e Branco. Os critérios de escolha dos touros são as diferenças preditas para produção de leite (maior), estatura (média para menor), profundidade de úbere (menor) e ângulo de casco (maior); na escolha de sêmen para novilhas inclui-se a diferença predita do touro para facilidade de parto (menor possível).

Predominantemente, as pastagens do SIPL-GH estão sobre um Latossolo Vermelho-Amarelo (LVA), textura média, distrófico. Os pastos utilizados pelas vacas em lactação (média de 110 animais/ano no período de 1998 a 2001) são de capins tobiatã, tanzânia e elefante, divididos em piquetes onde permanecem por um período de 24 horas. Após a saída dos animais, o piquete é adubado.

A fertilidade dos solos é acompanhada por análises anuais, sendo as amostras coletadas nos meses de abril/maio, à profundidade de 0 a 20 cm. As metas quanto à fertilidade dos solos são:

  • 80% de saturação por bases
  • níveis de cálcio, magnésio e potássio de 60, 12 e 6% em relação à CTC do solo, respectivamente
  • 40 ppm de fósforo (resina)
  • teor de matéria orgânica acima de 2,5%

A partir de setembro de 1992, o SIPL-GH sofreu algumas modificações com o intuito de intensificar o processo produtivo. As pastagens de capim- tobiatã (Panicum maximum cv. Tobiatã), sob utilização contínua e baixa lotação (menos de 2,0 UA - unidade animal/ha), passaram a ser exploradas em sistema rotacionado, com lotações crescentes, chegando no período das águas a aproximadamente 12,0 UA/ha. As capineiras de capim-elefante (Pennisetum purpureum) foram transformadas em pastos, e áreas com o capim-tanzânia (Panicum maximum cv. Tanzânia) foram implantadas. A produção de silagem de milho (Zea mays) saltou de 15 a 20 t de MO (matéria original)/ha para 40 a 45 t de MO/ha, ainda aquém do desejado. A cana-de-açúcar (Saccharum officinarum) passou a ser utilizada como recurso alimentar para o período da seca (maio a novembro).

As vacas em lactação do grupo de maior produção (lote A) pastejaram, no período das águas dos últimos anos, somente a área do capim-tobiatã, dividida em 34 piquetes de 1.000 m2 cada (3,4 ha). O período de descanso de cada piquete foi de 33 dias. As vacas em lactação dos outros três grupos (lotes B, C e D) pastejaram as áreas dos capins tanzânia e elefante. Os animais em crescimento e as vacas secas tiveram à disposição pastagens de capim- braquiária (Brachiaria decumbens) e de grama estrela (Cynodon nlemfuensis), manejados de forma semelhante ao das vacas em lactação, com a diferença de que o período de descanso neste caso foi de 28 dias.

O concentrado, que no período de outubro de 1984 a setembro de 1992 era oferecido individualmente na sala de ordenha, passou a ser distribuído coletivamente de acordo com a média de produção de leite do grupo. A dieta na época da seca passou a ser completa, ou seja, fornecimento de alimentos volumosos e concentrados misturados homogeneamente. A partir de meados de 1993 e até abril de 2001, foi utilizada a somatotropina bovina recombinante (rBST), como potencializador da produção de leite. A utilização da somatotropina foi interrompida em abril de 2001 porque a relação custo/benefício foi desfavorável, mesmo com aumento na produção de leite e sem alterações estatisticamente significativas nos índices reprodutivos do rebanho.

A criação de bezerros em aleitamento artificial passou a ser feita em abrigos individuais totalmente abertos, aperfeiçoados na Embrapa Pecuária Sudeste (casinha tropical). As novilhas foram mantidas em pastagens de braquiária, estrela e coast-cross, durante as águas e suplementadas durante a seca com cana-de-açúcar corrigida (até a confirmação da prenhez) e silagem de milho ou de sorgo (após prenhez confirmada). O objetivo desta alteração na alimentação de acordo com o desenvolvimento do animal é manter, durante a puberdade (8 a 12 meses), um ganho de peso entre 600 e 700 gramas por animal/dia. Após a confirmação da prenhez, o objetivo foi colocar o animal no momento do parto com peso vivo entre 550 e 600 kg, para que a vaca primípara tivesse condições de produzir leite, reproduzir e continuar crescendo após a parição. O concentrado foi oferecido na quantidade de 2,0 kg/animal/dia do desaleitamento até à parição. Durante os quatro primeiros meses de idade utilizou-se concentrado peletizado comercial.

Com este manejo, usando-se pastagens de gramíneas forrageiras tropicais adubadas na época das águas, como alimento volumoso exclusivo, e alimento conservado no período das secas, complementando-se a dieta com alimento concentrado em ambas as épocas, houve melhoria significativa dos índices zootécnicos do SIPL-GH da Embrapa Pecuária Sudeste, como pode ser visto a seguir.

Os dados de produção e de reprodução observados no SIPL-GH, sem eliminação de lactações de curta duração, foram analisados com o objetivo de se avaliar a sua evolução nos períodos de 1984 a 1991 (antes da intensificação do uso de pastagens), de 1992 a 1997 (implantação do processo de intensificação do uso de pastagens) e de 1998 a 2001 (após a implantação do processo de intensificação do uso de pastagens). Os resultados obtidos são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 – Médias para produção de leite, duração da lactação, intervalo de partos, produção de leite por intervalo de partos e idade ao primeiro parto, de acordo com o período de intensificação - Sistema Intensivo de Produção de Leite - Gado Holandês, Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP.

Características

1984-1991

1992-1997

1998-2001

Produção de leite/lactação, kg

3.194

5.148

7.744

Duração da lactação, dias

296

250

292

Intervalo de partos, dias

408

398

425

Prod. leite/intervalo de partos, kg/dia

11,85

14,87

18,90

Idade ao primeiro parto, dias

977

933

820

A produção de leite/vaca aumentou mais de duas vezes entre os períodos antes e após a intensificação do sistema de produção. O intervalo de partos não sofreu mudanças significativas. A média da duração da lactação foi menor no período de 1992 a 1997 porque muitas vacas em lactação foram vendidas nos leilões realizados pela Embrapa Pecuária Sudeste.

Um indicador significativo da evolução do SIPL-GH da Embrapa Pecuária Sudeste é a produção de leite por dia de intervalo de partos, que aumentou 59,5% entre os períodos de 1984-1991 (antes da intensificação) e 1998-2001 (após a consolidação do processo de intensificação do uso de pastagens), como pode ser visto na Tabela 3.

Outro indicador significativo da evolução do SIPL-GH desde a sua implantação (1984) até a consolidação do processo de intensificação do uso de gramíneas tropicais (1997) é a taxa de lotação das pastagens no período das águas, que aumentou de 5,5 UA/ha em 1992/93 para 11,8 em 1995/96 e se manteve nessa média nos últimos anos, contribuindo para o crescimento do rebanho, do número de vacas, da produção diária de leite e da produtividade da terra e da mão-de-obra.

Ao longo dos 18 anos de existência, o SIPL-GH tem sido visitado por produtores, estudantes, técnicos e lideranças do setor leiteiro, ocasião em que recebem orientações sobre as tecnologias ali empregadas. O crescente número de visitantes, de várias regiões do Brasil, mostra ser o SIPL-GH um instrumento valioso para a transferência de tecnologias intensivas para a produção de leite em pastagens com gado Holandês, integrando a pesquisa, a extensão e os produtores.

Uma contribuição importante do SIPL-GH para a pecuária leiteira foi a sua utilização, a partir de 1991, como referência para a elaboração da planilha do custo da produção de leite B. Os coeficientes técnicos da planilha foram obtidos a partir do perfil tecnológico do SIPL-GH da Embrapa Pecuária Sudeste.

Outra contribuição relevante do SIPL-GH instalado na Embrapa Pecuária Sudeste foi que ele constituiu um importante referencial tecnológico na produção de leite em pastagens, com rebanho de gado Holandês, e no emprego de tecnologias simples e de fácil adoção, especialmente para produtores de leite B da Região Sudeste. Evidencia-se, dessa forma, o alcance dos objetivos e metas estabelecidos quando da sua implantação, além de servir para o desenvolvimento e valorização institucional.

Este número foi preparado por uma equipe multidisciplinar da Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP. O formato da apresentação recebeu o tratamento editorial padrão da Embrapa Informação Tecnológica, onde a linguagem procura ser clara, concisa e objetiva, respeitando as limitações de um público heterogêneo quanto ao vocabulário técnico-científico.

As publicações desta série, além dos conhecimentos e das tecnologias resultantes do processo de P&D da Embrapa Pecuária Sudeste, incorporam conhecimentos gerados por outras entidades de pesquisa do ramo (com ênfase para os componentes do sistema estadual de pesquisa agropecuária), bem como experiências ou conhecimentos de produtores, devidamente validados. Pode haver ou não citações de fontes ao longo do texto. Apresenta-se no final, em ambos os casos, uma relação de Referências Bibliográficas e um glossário de termos técnicos.
 

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