Embrapa Gado de Leite
Sistemas de Produção, 1
ISSN 1678-314X Versão eletrônica
Jan./2003
Sistema de Produção de Leite (Zona da Mata Atlântica)
Autores

 

Importância econômica
Aspectos agro e zooecológicos
Raças
Infra-estrutura
Alimentação
Reprodução
Manejo sanitário
Mercados e comercialização
Coeficientes técnicos
Referências bibliográficas
Glossário
Editores


Expediente

Introdução


A decisão da Diretoria-Executiva em estabelecer, como meta para as Unidades, a elaboração de documentos em meio eletrônico, que ofereçam ao público da Embrapa recomendações técnicas sobre sistemas de produção, veio reforçar a idéia da Embrapa Gado de Leite em disponibilizar na internet um resumo das tecnologias utilizadas em seu “Modelo Físico de Sistema de Produção de Leite, com Gado Mestiço, a Pasto” - SPL, localizado no Campo Experimental de Coronel Pacheco, MG.

Desde sua criação em 1976, a Embrapa Gado de Leite envidou esforços para operacionalizar o enfoque de sistemas em suas atividades de pesquisa. Com este objetivo, em 1977 foi instalado o SPL, onde se procurou manter as características básicas dos sistemas predominantes na região:
a) topografia acidentada, com 20 a 30% de meia-encosta e baixada;
b) pastagens de capim-gordura (Melinis minutiflora);
c) suplementação volumosa para as vacas em lactação na época da seca;
d) rebanho mestiço, com padrão genético variando de ½ a 7/8 Holandês x Zebu.
Este modelo reunia algumas técnicas já conhecidas isoladamente e visava oferecer ao produtor de leite da Região Sudeste do Brasil exemplos de uso de tecnologias competitivas que garantissem o aumento da produção, com melhorias da produtividade e da rentabilidade da atividade leiteira, em bases sustentáveis.

Com características dinâmicas, este SPL experimentou gradual processo de evolução tecnológica, preservando, porém, suas características básicas - pasto como única fonte de volumoso no verão e rebanho mestiço Holandês x Zebu, além do emprego de tecnologia simples e de fácil adoção pelos produtores, em consonância com seus objetivos gerais. Atualmente, o SPL ocupa uma área de 107 ha, de relevo fortemente ondulado, com 20% de baixadas e meia-encosta, e bem servido por aguadas naturais. A precipitação na região é 1.535 mm/ano, alternando períodos seco (maio a outubro) e chuvoso (novembro a abril), com temperaturas médias de 22º C no verão e 16,8º C no inverno. A evolução na área total e ocupada com pastagens e culturas forrageiras é mostrada na Tabela 1.

Tabela 1. Pastagens e culturas forrageiras: mudanças e produtividade - 1978 a 2000.

Terra e ocupação
(Ha)

Período

1977/78

85/86

91/92

94/95

1999/2000

Área total

97,6

103,0

103,0

107,0

105,0

Área útil destinada ao rebanho

96,5

102,0

98,9

100,8

100,8

Capim-gordura

86,0

80,6

30,4

28,0

28,0

Capim-jaraguá

2,0

2,0

4,0

3,5

3,5

Brachiaria decumbens

-

2,5

39,0

39,0

39,0

Capim-elefante

-

5,8

13,5

14,5

14,5

Estrela, Setária e Angola

-

3,5

3,5

3,5

2,5

Capineira de capim-elefante

6,0

1,0

1,0

0

0

Cana-de-açúcar

0,5

1,5

3,0

1,0

1,0

Milho para silagem

2,0

4,5

4,5

8,0

7,0

Benfeitorias, matas etc.

1,1

1,1

1,1

6,2

6,2

Produtividade das pastagens:

 

 

 

 

 

Lotação - (UA/ha)

0,8

0,7

1,5

1,5

1,7

Produção de leite - (L/ha/ano)

1.205

1.1234

2.257

2.300

2.993

Fonte: Adaptado de Souza  e Lobato Neto, 1986; Novaes, 1993 e Costa, 1999.

O rebanho original do SPL (42 vacas) possuía padrão genético variando de ½ a 7/8 Holandês x Zebu. Para manutenção do gado mestiço, fêmeas até 3/4 HPB eram acasaladas com touro HPB e fêmeas 7/8 HPB com touro Gir, em sistema de monta controlada, buscando maior concentração de partos na seca. A partir de 1989/90, graças a melhorias nas práticas de manejo e alimentação, elevou-se o padrão genético do rebanho, que passou a ser formado com fêmeas com graus de sangue variando de próximo a ligeiramente inferior a ½ até 15/16 HPB x Zebu – basicamente ½, ¾, 7/8, 15/16 HPB x Zebu. Para isso, com a adoção da inseminação artificial, as fêmeas até 7/8 HZ são inseminadas com sêmen de touros HPB e as fêmeas 15/16 HxZ inseminadas com Gir. A evolução no tamanho do rebanho é mostrada na Tabela 2.

Tabela 2. Composição do rebanho e produção de leite - 1978 a 2000.

Categoria animal

Período

77/82

85/86

89/90

91/94

95/98

99/00

Vacas em lactação

36

35

57

64

68

75

Vacas secas

6

9

14

17

24

25

Fêmeas de 2 a 3 anos

10

12

20

27

34

35

Fêmeas de 1 a 2 anos

15

13

22

29

32

36

Fêmeas de 0 a 1 ano

17

20

28

34

40

40

Total de cabeças *

87

92

145

192

216

214

Total de UA *

66

68

108

133,6

150,6

158

Produção de leite (L/dia)

316

335

312

632

752

840

Fonte: MFSPL - Embrapa Gado de Leite

* Inclui três animais de serviço, um rufião/ano e, eventualmente, machos jovens.

Um indicador significativo da evolução do SPL em seus 25 anos é a taxa de lotação das pastagens, que dobrou (0,8 UA/ha em 1977 para 1,6 em 2000), contribuindo para expressivo crescimento, da ordem de 150%, do rebanho, do número de vacas, da produção diária de leite e produtividade da terra. Esta evolução pode ser avaliada ao se comparar os indicadores de tamanho e eficiência técnica do SPL obtidos em 1977/78 e 1999/2000 (Tabela 3).

Tabela 3. Indicadores de tamanho e eficiência técnica: evolução.

Indicador

Unidade

Períodos

Acréscimo
(%)

1977/78

1999/2000

Pastagens - Taxa de lotação

U.A./ha

0,8

1,6

100

Rebanho (Fêmeas)

Cabeças

84

211

151

Vacas

Cabeças

40

100

150

Produção de leite

Litros/dia

315

802

155

Produção vaca / lactação

kg

2.942 *

3.657 **

24

Produtividade da terra

L/ha/ano

1.205

2.993

148

Produtividade da m.o permanente

(L leite / DH)

67

214

219

Fonte: MFSPL - Embrapa Gado de Leite.
* 1977/82
** 1996/99

A composição percentual da renda e dos custos de produção de leite, em quatro períodos, é mostrada na Tabela 4.

Tabela 4. Composição (%) da renda e custos de produção de leite em quatro períodos.

Especificação

Períodos

1978/82
(%)

83/87
(%)

88/95
(%)

95/99
(%)

RENDA BRUTA

       

   Leite

85,4

88,8

82,9

86,6

   Animais

14,6

11,2

17,1

13,4

CUSTOS DE PRODUÇÃO

 

 

 

 

   Custo operacional efetivo

       

      Mão-de-obra

31,9

28,9

24,9

26,2

      Pastagens

*

*

*

3,2

      Forrageiras (cana-de-açúcar, capim-elefante)

*

*

*

1,4

      Silagem

*

3,8

15,4

8,8

      Concentrados + sal mineral

31,0

31,7

35,9

33,6

      Leite para bezerros

*

*

*

3,8

      Medicamentos

6,7

5,7

6,3

6,6

      Material de ordenha

*

*

*

2,5

      Transporte do leite

8,9

9,3

8,7

**

      Energia e combustível

2,8

2,8

3,0

2,9

      Inseminação artificial

-

3,7

4,6

3,0

      Impostos e taxas

3,9

3,9

3,9

5,8

      Reparos de benfeitorias e máquinas

0,7

0,7

0,7

2,0

      Outros gastos de custeio

13,0

6,4

6,9

0,1

   Custo operacional total

       

      Custo operacional efetivo

89,3

88,0

95,3

94,6

      Depreciação

10,7

12,0

4,7

5,4

   Custo total

       

       Custo operacional total

89,0

87,7

86,5

85,9

       Remuneração capital

11,0

12,3

13,5

14,1

Fonte: Adaptado de NOVAES et al., 2001.
* Incluído em Outros gastos de custeio.
** Coleta de leite a Granel.

Ao longo dos 25 anos de existência, o SPL foi intensamente visitado por produtores, estudantes, técnicos e lideranças do setor leiteiro, que recebiam orientações sobre as tecnologias ali empregadas. O crescente número de visitantes, de várias regiões do Brasil, mostra ser o SPL um instrumento valioso para a transferência de tecnologias intensivas para a produção de leite a pasto com gado mestiço, integrando a pesquisa, a extensão e produtores.

Outra contribuição relevante do modelo físico de produção de leite instalado na Embrapa Gado de Leite constituiu um importante referencial tecnológico na produção de leite a pasto com rebanho mestiço Holandês x Zebu, e no emprego de tecnologias simples e de fácil adoção, especialmente para produtores da Região Sudeste. Evidencia-se, dessa forma, o alcance dos objetivos e metas estabelecidos quando da sua implantação, afora servir para o desenvolvimento e valorização institucional.

Este número foi preparado por uma equipe multidisciplinar da Embrapa Gado de Leite. O formato da apresentação recebeu o tratamento editorial padrão da Embrapa Informação Tecnológica em que o estilo de redação procura ser claro, conciso e objetivo, respeitando as limitações de um público heterogêneo quanto ao vocabulário técnico-científico.

As publicações desta série, além dos conhecimentos resultantes do processo de P&D da própria Embrapa, incorporam conhecimentos gerados por outras entidades de pesquisa do ramo (com ênfase para os componentes do sistema estadual de pesquisa agropecuária), bem como experiências ou conhecimentos de produtores, devidamente validados. Pode haver ou não citações de fontes ao longo do texto. Apresenta-se no final, em ambos os casos, uma relação de Referências Bibliográficas e um glossário de termos técnicos.

Mais informações atualizadas sobre Banco de dados, Leite em números, Legislação, Portarias, Banco de Artigos Técnicos, Mapeamento da Produção de Leite, Dica da semana, Treinamentos, Eventos Técnicos, Portais Agropecuários e Livraria Vitual, todas sobre Gado de Leite poderão ser gratuitamente acessadas em http://www.cnpgl.embrapa.br

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