Embrapa Mandioca e Fruticultura
Sistemas de Produção, 8
ISSN 1678-8796 Versão eletrônica
Jan/2003
Cultivo da Mandioca para a Região do Cerrado
Luciano da Silva Souza
Josefino de Freitas Fialho

Início

Importância econômica
Clima
Solos
Adubação
Cultivares
Mudas e sementes
Plantio
Irrigação
Consorciação e rotação de culturas
Tratos culturais
Plantas daninhas
Doenças
Pragas
Uso de agrotóxicos
Colheita e pós-colheita

Mandioca na alimentação animal
Mercado e comercialização
Coeficientes técnicos
Referências bibliográficas
Glossário


Expediente

Mercado e Comercialização

Mercado e comercialização
Sazonalidade e formação de preço


Caracterização da cadeia produtiva 

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Mercado e comercialização
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Apesar da grande diversidade, o sistema produtivo da cadeia da mandioca apresenta três tipologias básicas: a unidade doméstica, a unidade familiar e a unidade empresarial. Essa tipologia leva em consideração a origem da mão-de-obra, o nível tecnológico, a participação no mercado e o grau de intensidade do uso de capital na exploração.

A unidade doméstica é caracterizada por usar mão-de-obra familiar, não utilizar tecnologias modernas, participar do mercado vendendo apenas o excedente e dispor de pouco capital para investimento. A unidade familiar já adota algumas tecnologias modernas, tem uma participação significativa no mercado e dispõe de algum capital para investir; embora a mão-de-obra seja a familiar, às vezes contrata diaristas ou empreiteiros para as tarefas de plantio, capinas e colheita. A unidade empresarial caracteriza-se pelo emprego da mão-de-obra de terceiros, dispondo de capital para investimento. As unidades empresarial e a do tipo familiar, juntas, respondem pela maior parte da produção de raízes no Brasil.

O segmento de processamento da cadeia da mandioca está intimamente relacionado com o uso das raízes para a indústria de farinha, de fécula, de alimentos pré-cozidos, de congelados de mandioca e de ração animal, localizadas no Estado do Mato Grosso do Sul, nos seguintes municípios: Dois Irmãos do Buriti, Campo Grande e Terenos.

A escala de operação das indústrias de processamento de farinha vai desde as pequenas unidades artesanais de processamento (comunitárias ou privadas) até as unidades de grande porte que processam, em média, 300 sacas de farinha por dia, passando pelas unidades de médio porte (100 sacas por dia). A maioria das fecularias possui capacidade operacional para moer, no mínimo, 150 toneladas de mandioca por dia. Na cadeia da mandioca existem ainda outros produtos de importância econômica regional e que são comercializados de forma informal, como é o caso da raspa de mandioca e da parte aérea.

As etapas de processamento e distribuição às vezes são realizadas por um mesmo ator. Essa situação pode acontecer no mercado de farinha, de raízes frescas e de fécula, ou seja, um mesmo produtor/empresa processa e distribui os produtos. Neste caso, as raízes frescas (no caso dos aipins) são comercializadas: nas feiras (atacado ou varejo), para atravessadores, nas CEASA’s, para a agroindústrias, supermercados e sacolões/frutarias. A farinha é vendida em feiras livres e repassada para supermercados. Já no caso da fécula, ocorre a comercialização diretamente com as empresas que irão usá-la como insumo em diversos processos industriais. Apesar do crescimento da comercialização via associações e cooperativas, ainda prevalece a figura do intermediário como principal agente de comercialização na cadeia. Essa função é exercida por agentes esporádicos (caminhoneiros) e por comerciantes regularmente estabelecidos nos centros urbanos.

O processo de embalagem depende do produto (farinha ou fécula) e do mercado a que se destina. No caso da farinha, é comercializada nas feiras livres, geralmente embalada em sacas de 50 kg, ou em supermercados, embalada em pacotes de meio, um ou dois quilos, vendidos em fardos de 30 kg. Já a fécula é embalada em sacas de 25 kg, para atender tanto ao mercado atacadista como ao mercado das indústrias; no caso desse último mercado, a fécula também pode ser comercializada em embalagens de maior capacidade. As raízes destinadas ao consumo in natura são comercializadas em caixa tipo “k” retornáveis de 23 kg.

O segmento de consumo da cadeia da mandioca, na Região do Cerrado, é caracterizado por consumidores que absorvem a própria produção, ou seja, são agricultores que definem os produtos em função de suas preferências e hábitos regionais. Cerca de 62% da produção são retidos nos estabelecimentos agropecuários de forma in natura, servindo de alimento tanto para o ser humano como para os animais (gado, porco e galinha), e também como matéria-prima para as pequenas casas de farinhas e para a fabricação de polvilho.

No caso dos demais consumidores, que adquirem os produtos no mercado, o padrão de consumo depende do produto, nível de renda, costumes regionais e hábitos de compra. No tocante à farinha comum, farinhas temperadas, farinha tipo “beiju”, mandioca “fresca” e outros produtos tradicionais, identificam-se, pelo menos, dois tipos de consumidores que podem ser caracterizados em função dos hábitos de compra: “o consumidor de feira livre” e o “consumidor de supermercado”. Com relação aos consumidores de fécula, todos podem ser classificados como consumidores intermediários, isto é, adquirem o produto para ser utilizado como insumo nos diversos processos industriais. Enquadram-se nessa categoria os consumidores que compram pequenas quantidades que podem ser encontradas no comércio varejista e no mercado atacadista, como é o caso das padarias, confeitarias e pequenas indústrias de processamento de carne. Além disso, incluem-se também os consumidores que transacionam grandes volumes, diretamente negociados com as fecularias, visando obter melhores preços e condições de pagamento. Nesse segmento da cadeia inserem-se, também, os importadores. O negócio de fécula, atualmente, mostra-se como um dos mais promissores devido ao mercado internacional, sendo que em 2002 foram exportadas 17,9 milhões de toneladas de fécula, enquanto o consumo desse produto no Brasil gira em torno de 500 mil toneladas por ano.

O nicho de mercado que vem crescendo, tanto na Região do Cerrado como em todo o Brasil, é o dos produtos minimamente processados, sendo a mandioca um desses. A mandioca congelada, cozida ou pré-cozida encontra espaço nas cadeias de restaurantes, cozinha industrial e bares, sendo comercializadas em embalagens de um ou dois quilos. No Distrito Federal, 23% da produção de raízes são destinados às agroindústrias que trabalham com essa linha de produto, fora o que é importado de municípios da Região do Entorno. 

O produto mandioca descascada, que tem tido boa aceitação no mercado, é comercializado tanto em feiras livre (varejo), como em supermercado, sacolões e frutarias, em embalagem de um ou dois quilos. O preço desse produto é, geralmente, de 25 a 50% superior ao do da mandioca com casca.

Cerca de 35% da produção de mandioca do Cerrado são destinados à industria; desse total, 17% são comercializados diretamente com as indústrias, enquanto que, do restante, uma parcela é processada nos próprios estabelecimentos agropecuários e a outra chega à industria pelas mãos de intermediários. No Estado do Mato Grosso do Sul, que tem parte de sua área territorial na Região do Cerrado, encontra-se o maior número de indústrias; conseqüentemente, 73% da produção são destinados para a indústria. No restante da Região do Cerrado predomina o consumo da mandioca fresca ou de mesa.

Sazonalidade e formação de preço

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Sazonalidade e formação de preço

A sazonalidade dos preços das raízes influencia diretamente o preço dos produtos. As flutuações nos preços são diretamente influenciadas por mudanças na oferta, haja vista que as mudanças na demanda se processam mais lentamente.

No Estado do Mato Grosso do Sul, o período do ano em que os preços recebidos pelos produtores são mais altos situa-se entre os meses de março e julho, quando há escassez do produto. A oferta concentra-se nos meses de agosto a dezembro, em que os preços alcançados estão no nível mínimo. No mês de maio ocorre o preço mais alto, e o mais baixo em dezembro, sendo que a diferença entre esses dois preços é de 18,4%. No Estado de Minas Gerais, o período de preços altos vai de setembro a janeiro, e o de preços baixos, de março a junho. O pico dos preços ocorre em janeiro e o menor preço em junho, sendo o primeiro 17,9% maior. No Distrito Federal ocorrem dois picos de preços, um em março, com maior intensidade, o outro em outubro, que é 6,1% inferior àquele; os níveis de preços mais baixos localizam-se nos meses de julho e agosto.

Quanto à formação dos preços, há uma série de fatores que interferem neste processo: 1) aspectos relacionados com o ciclo da cultura, que é função direta da combinação das variedades cultivadas e das condições ambientais; 2) aspectos inerentes à estrutura de mercado enfrentada pelos produtores de mandioca, em que o processo de formação de preço se aproxima de uma estratégia concorrencial, ou seja, os produtores de matéria-prima concorrem em preço. Além disso, as informações incompletas ou mesmo a falta de informação a respeito do mercado favorecem à ação dos intermediários, que agem como agentes determinantes no processo de formação de preço; 3) praticamente não há barreiras à entrada no mercado de farinha; em função da simplicidade da tecnologia, os investimentos não precisam ser altos e, inclusive, a farinha pode ser produzida em nível artesanal. Conseqüentemente, quando o preço do produto está atrativo, ocorrem entradas de agricultores no negócio e a produção de raízes e farinha aumenta rapidamente, reduzindo os preços; 4) a quantidade ofertada de matéria-prima independe de uma relação mais forte com as agroindústrias, isto é, a oferta de matéria-prima local não leva em consideração a capacidade instalada das unidades de processamento, havendo assim períodos de excesso e de escassez, com reflexos diretos no processo de formação de preços. A inexistência de contratos de fornecimento de longo prazo nas unidades individuais concorre para a não existência de volume e regularidade desejada de produção, fazendo com que a cadeia perca competitividade, dado o inadequado grau de coordenação entre os seus segmentos; e 5) os fatores relacionados com questões culturais de cada localidade influenciam no aumento da oferta de matéria-prima, como uma necessidade para se fazer caixa, visando a aquisição de bens e serviços de demanda imediata. Além disso, é importante ressaltar o aumento de oferta de matéria-prima que geralmente acontece no final de cada mês, como uma alternativa para recompor a renda, sobretudo dos agricultores que dependem de fontes de renda tais como a aposentadoria.

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