Embrapa Hortaliças
Sistemas de Produção, 4
ISSN 1678-880X Versão Eletrônica
Jun./2008
Mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza)
Autores

Sumário

Apresentação
Introdução
Botânica
Clima
Produção de mudas
Plantio
Correção do solo
Adubação e nutrição
Tratos culturais
Irrigação
Doenças
Pragas
Colheita
Nematóides
Processamento
Comercialização
Receitas
Cultivares
Coeficientes técnicos
Referências

Expediente

Irrigação

Waldir A. Maurouelli
Henoque R. da Silva

Devido à cultura da mandioquinha-salsa ser relativamente tolerante à seca, comparativamente a outras hortaliças, muitos produtores não utilizam a prática da irrigação. Contudo, em casos de adversidades climáticas, a produtividade é comprometida e o risco de insucesso, elevado. Apesar da tolerância moderada, a cultura responde favoravelmente a condições de boa disponibilidade de água no solo, o que torna a irrigação uma prática fundamental para produtores que têm como objetivo a obtenção de altos níveis de produtividade. Em geral, as produtividades em áreas irrigadas chegam a ser de duas a três vezes maiores àquelas observadas em áreas não irrigadas.

A produtividade pode ser severamente afetada pelo excesso de água, que reduz a aeração do solo e favorece maior incidência de doenças e lixiviação de nutrientes. Irrigações em excesso, notadamente em solos com problemas de drenagem, ocasionam maior incidência de doenças de solo, como podridão-de-esclerotínia e podridão-de-esclerócium e, principalmente, podridão-mole, causada por bactérias do gênero Erwinia.

Por ser uma cultura de recente exploração comercial, são poucas as informações técnicas disponíveis sobre a irrigação. Mesmo na literatura internacional, são praticamente inexistentes pesquisas sobre este tópico.

Sistemas de irrigação

A cultura pode ser irrigada por diferentes sistemas de irrigação, sendo a aspersão o mais empregado. Dentre os sistemas por aspersão, o convencional é o predominante, em função do baixo custo e de poder ser utilizado em áreas com diferentes topografias, tipos de solo, tamanhos e geometrias.

A aspersão apresenta a vantagem de diminuir a população de ácaros e pulgões, importantes pragas da cultura. Por outro lado, irrigações freqüentes por aspersão favorecem maior incidência de septoriose e crestamento-bacteriano, causados por Septoria sp. e Xanthomonas campestris pv. Arracaciace, respectivamente, que são as principais doenças que afetam a parte aérea das plantas.

Embora viáveis, os sistemas por sulco e gotejamento praticamente não têm sido utilizados. Enquanto o sistema por sulco requer maior uso de mão-de-obra, solos sistematizados e é inadequado para solos arenosos, o gotejamento apresenta alto custo. Ademais, por não “lavar” a parte aérea das plantas, favorece a maior incidência de ácaros e pulgões. O sistema por gotejamento e, principalmente por sulco, podem ainda favorecer maior incidência de podridão-das-raízes, especialmente em solos mal drenados.

Necessidade de água da cultura

A necessidade de água das plantas depende das condições climáticas e da duração do ciclo de desenvolvimento, variando entre 600 e 1.000 mm. Para fins de irrigação, o ciclo pode ser dividido em quatro estádios: inicial (30-40 dias de duração), vegetativo (100-130 dias), crescimento das raízes de reserva (80-100 dias) e maturação (35-60 dias). A exigência de água aumenta com o crescimento das plantas, sendo máximo durante o estágio de crescimento das raízes de reserva e diminuindo durante a maturação. As plantas são particularmente sensíveis à falta de água durante o estabelecimento inicial e o estádio de crescimento das raízes de reserva.

A evapotranspiração da cultura (soma da água transpirada pelas plantas e da água evaporada do solo) é determinada por meio de métodos baseados em informações climáticas e coeficientes de cultura (Kc). A título de sugestão, podem-se adotar os seguintes valores de Kcmédio: 0,50 para o estádio inicial; 0,75 para o vegetativo; 1,00 para o de crescimento das raízes de reserva; e 0,80 para o de maturação.

Manejo de irrigação

Via de regra, as mudas devem ser transplantadas em solo úmido, mas não encharcado, e receber uma irrigação leve imediatamente após, a fim de promover um melhor contato muda-solo. Durante o período de pegamento de mudas (1-2 semanas), as irrigações devem ser leves e freqüentes a fim de manter a umidade do solo próxima à capacidade de campo. A partir daí, devem ser mais espaçadas e em maior quantidade. Embora o murchamento das folhas seja um indicativo da necessidade de irrigação utilizado por alguns produtores, existem critérios mais precisos disponíveis. Sensores de umidade, como tensiômetro e Irrigas®, podem ser utilizados para indicar quando irrigar. Níveis ótimos de produtividade podem ser obtidos irrigando-se quando o tensiômetro indicar leitura entre 25 e 50 kPa, sendo que os menores valores devem ser adotados durante os estádios mais críticos de exigência hídrica, em solos arenosos e/ou condições de alta demanda de evaporação. Os sensores devem ser instalados entre duas plantas ao longo da fileira de plantio, a 50% da profundidade efetiva do sistema radicular.A profundidade efetiva radicular é aquela que contem cerca de 80% das raízes. Por ser afetada pelas condições de solo, deve ser avaliada no local de cultivo para cada estádio da cultura. A partir do estádio de crescimento das raízes de reserva, a maior parte das raízes de absorção de água e nutrientes encontra-se nos primeiros 40 cm de profundidade. A quantidade de água por rega depende das características do solo e da profundidade de raízes, podendo ser determinada a partir do déficit de água no solo ou da evapotranspiração da cultura desde a última rega. Os métodos para estimar quando e quanto irrigar que possibilitam um melhor controle são aqueles realizados em tempo real, utilizando sensores para a medição da água no solo e/ou estimativa da evapotranspiração. Todavia, são métodos que requerem o uso de equipamentos e de mão-de-obra treinada. Maiores informações sobre estes procedimentos podem ser obtidas no livro “Manejo da irrigação em hortaliças”, publicado pela Embrapa Hortaliças.A seguir é apresentado um procedimento simples para o manejo de irrigação baseado no uso de tabelas. A evapotranspiração e o turno de rega são determinados a partir de uma série histórica de dados climáticos médios diários de temperatura e umidade relativa do ar da região, que podem ser obtidos junto ao serviço de assistência técnica local, da textura de solo e do estádio de desenvolvimento da cultura.

Passo 1: Determinar, na Tabela 1, a evapotranspiração da cultura (ETc, mm dia-¹) durante o estádio de desenvolvimento de interesse.

Tabela 1. Evapotranspiração da cultura da mandioquinha-salsa (mm dia-¹), conforme a umidade relativa média (URm), temperatura média do ar e estádio de desenvolvimento.

  URm (%) Temperatura (oC)
10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30
Estádio inicial
40 2,2 2,5 2,7 3,0 3,3 3,6 4,0 4,3 4,7 5,1 5,4
50 1,8 2,1 2,3 2,5 2,8 3,0 3,3 3,6 3,9 4,2 4,5
60 1,5 1,6 1,8 2,0 2,2 2,4 2,7 2,9 3,1 3,4 3,6
70 1,1 1,2 1,4 1,5 1,7 1,8 2,0 2,2 2,3 2,5 2,7
80 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,6 1,7 1,8
90 0,4 0,4 0,5 0,5 0,6 0,6 0,7 0,7 0,8 0,8 0,9
Estádio vegetativo
40 3,3 3,7 4,1 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,6 8,2
50 2,8 3,1 3,4 3,8 4,2 4,6 5,0 5,4 5,9 6,3 6,8
60 2,2 2,5 2,7 3,0 3,3 3,6 4,0 4,3 4,7 5,1 5,4
70 1,7 1,8 2,1 2,3 2,5 2,7 3,0 3,2 3,5 3,8 4,1
80 1,1 1,2 1,4 1,5 1,7 1,8 2,0 2,2 2,3 2,5 2,7
90 0,6 0,6 0,7 0,8 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4
Estádio de crescimento das raízes de reserva
40 4,4 4,9 5,5 6,1 6,7 7,3 8,0 8,6 9,4 10,1 10,9
50 3,7 4,1 4,6 5,0 5,5 6,1 6,6 7,2 7,8 8,4 9,1
60 2,9 3,3 3,7 4,0 4,4 4,9 5,3 5,8 6,2 6,7 7,3
70 2,2 2,5 2,7 3,0 3,3 3,6 4,0 4,3 4,7 5,1 5,4
80 1,5 1,6 1,8 2,0 2,2 2,4 2,7 2,9 3,1 3,4 3,6
90 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 1,3 1,4 1,6 1,7 1,8
Estádio de maturação
40 3,5 3,9 4,4 4,8 5,3 5,8 6,4 6,9 7,5 8,1 8,7
50 2,9 3,3 3,7 4,0 4,4 4,9 5,3 5,8 6,2 6,7 7,3
60 2,4 2,6 2,9 3,2 3,6 3,9 4,2 4,6 5,0 5,4 5,8
70 1,8 2,0 2,2 2,4 2,7 2,9 3,2 3,5 3,7 4,0 4,4
80 1,2 1,3 1,5 1,6 1,8 1,9 2,1 2,3 2,5 2,7 2,9
90 0,6 0,7 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 1,2 1,3 1,5
Fonte: Marouelli et al. (2001).

Passo 2: Determinar a profundidade efetiva de raízes para o estádio de interesse. A abertura de uma trincheira perpendicular à fileira de plantas possibilita uma avaliação visual e local da profundidade a ser considerada.

Passo 3: Determinar, na Tabela 2, o turno de rega (TR, dias) conforme a ETc, textura do solo e profundidade efetiva de raízes.

Tabela 2. Turno de rega (dias) para a cultura da mandioquinha-salsa, conforme a evapotranspiração da cultura (ETc), profundidade de raízes e textura do solo.

ETc

(mm dia-1)

Profundidade efetiva de raízes (cm)

10

30

50

Textura

Textura

Textura

Grossa

Média*

Fina

Grossa

Média*

Fina

Grossa

Média*

Fina

1

4

7

10

--

--

--

--

--

--

2

2

4

5

5

11

15

--

--

--

3

1

2

3

4

7

10

6

12

17

4

1

2

3

3

5

8

4

9

13

5

1

1

2

2

4

6

4

7

10

6

1

1

2

2

4

5

3

6

8

7

1

1

1

2

3

4

3

5

7

8

--

--

--

1

3

4

2

5

6

9

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--

--

1

2

3

2

4

6

10

--

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--

1

2

3

2

4

5

Textura grossa: 0 - 15%; textura média: 15 - 35%; textura fina: >35%.
Fonte: Marouelli et al. (2001).

Passo 4: Determinar a lâmina real de água necessária (LRN, mm) por irrigação, pela expressão LRN = TR x ETc.

Passo 5: Calcular o tempo de irrigação necessário para aplicar a lâmina requerida. Para aspersão convencional, o tempo de irrigação (Ti, minutos) é calculado por Ti = 6.000 x LRN / (Ia x Ei), onde Ia é a intensidade de aplicação de água do sistema (mm h-1) e Ei a eficiência de irrigação (%), que depende das características e manutenção do sistema, dentre outros fatores. Valores comumente observados em sistemas por aspersão convencional variam de 60% a 75%.

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