Embrapa Hortaliças
Sistemas de Produção, 4
ISSN 1678-880X Versão Eletrônica
Jun./2008
Mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza)
Autores

Sumário

Apresentação
Introdução
Botânica
Clima
Produção de mudas
Plantio
Correção do solo
Adubação e nutrição
Tratos culturais
Irrigação
Doenças
Pragas
Colheita
Nematóides
Processamento
Comercialização
Receitas
Cultivares
Coeficientes técnicos
Referências

Expediente

Nematóides

João Maria Charchar
Nuno R. Madeira

Os nematóides de galhas (Meloidogyne spp.) são os agentes causadores de doenças que, provavelmente, provocam mais danos à mandioquinha-salsa no Brasil. A infecção por nematóides deprecia qualitativa e quantitativamente as raízes de mandioquinha-salsa para a comercialização e o consumo, podendo ocorrer perdas de até 100% na produção de raízes comerciais.

Dentre os nematóides do gênero Meloidogyne que ocorrem em cultivos de mandioquinha-salsa, M. incognita e M. javanica são as espécies mais freqüentes em todo país. As espécies M. arenaria e, em regiões mais frias, M. hapla foram também relatadas em mandioquinha-salsa.

Os sintomas causados por nematóides do gênero Meloidogyne são a formação de galhas e deformações nas raízes (Figura 1). Por vezes, quando a elevação da população acima de níveis críticos ocorre no estágio inicial de desenvolvimento da lavura, chega a não haver a formação de raízes comerciais. As plantas intensamente atacadas apresentam ainda amarelecimento, raquitismo e apodrecimento de raízes pelo ataque de bactérias, especialmente do gênero Erwinia, ou fungos.

Foto: Nuno Rodrigues Madeira

Fig. 1. Nematóides das galhas (Meloidogyne spp.)

Existem relatos de nematóides das lesões do gênero Pratylenchus causando danos em mandioquinha-salsa em algumas áreas restritas das regiões Sul e Sudeste do Brasil. A espécie de nematóides das lesões mais freqüente é Pratylenchus penetrans.
As espécies do gênero Pratylenchus causam lesões necróticas enegrecidas nas raízes de mandioquinha-salsa (Figura 2). No Brasil, sua incidência tem sido bem menos drástica em comparação aos nematóides de galhas, mas quando de sua ocorrência também se verifica a depreciação qualitativa e quantitativa na produção. Também pode ocorrer amarelecimento de plantas e apodrecimento de raízes pelo ataque de bactérias ou fungos.

Foto: Nuno Rodrigues Madeira

Fig. 2. Nematóides das lesões (Pratylenchus spp.)

Em função do longo ciclo, de 8 a 12 meses, não se pode efetuar o plantio sucessivo de mandioquinha-salsa na mesma área, mesmo que no primeiro cultivo não sejam observados sintomas de nematóides nas raízes. A manutenção de cultura altamente suscetível a nematóides no campo por dois ciclos eleva muito o nível populacional de nematóides no solo.

Deve-se conhecer o histórico da área de cultivo, as lavouras precedentes e os problemas fitosanitários observados. No Sul de Minas, região de grande produção, assim como em algumas outras, é comum o plantio em sucessão à pastagem, o que é muito interessante, visto que a braquiária atua como supressora de pragas e doenças.

Também é muito comum o plantio em sucessão à cultura da batata em áreas anteriormente de pastagem, de modo a aproveitar a adubação residual da batata. Neste caso, há que se observar se não houve incidência de nematóides, assim como de outros agentes causadores de doença como fungos e bactérias de solo.

A rotação de culturas é prática indispensável. É recomendável o plantio de mandioquinha-salsa após gramíneas como milho, sorgo e braquiária. Em áreas com elevados níveis de infestação, pode-se utilizar a Crotalaria spectabilis ou Tagetes spp., comumente conhecido como cravo-de-defunto. Enquanto a primeira atua como planta isca, permitindo a adesão das fêmeas de nematóides em suas raízes mas não sua multiplicação, Tagetes é planta não hospedeira.

O pousio da área pode auxiliar no manejo do ponto de vista agrícola, porém o descontrole quanto ao desenvolvimento de espécies de plantas suscetíveis a nematóides não assegura a redução de sua população a níveis satisfatórios. Já o alqueive é uma prática que tem sido usada com algum sucesso em alguns casos. Consiste em manter a área livre de vegetação por um determinado período.

Podem ser adotados períodos de até 90 dias no campo, com o uso da aração e gradagem sucessivas, a intervalos de aproximadamente 20 dias, para eliminação de plantas invasoras da área. Entretanto, na prática, períodos de 40 dias vem apresentando resultados altamente satisfatórios, efetuando-se a aração e/ou gradagem 40 dias antes do plantio, seguindo-se uma nova gradagem 20 dias após a primeira e, finalmente, próximo ao plantio, o enleiramento.

Com isso, a cada movimentação do solo, reduz-se a população de nematóides, formas juvenis, em cerca de 90%. Contudo os ovos não são afetados. Para se obter eficiência com a prática do alqueive, é necessário haver água e temperaturas adequadas ao desenvolvimento de nematóides, isto é, acima de 20ºC, para que haja a germinação do banco de sementes de plantas espontâneas.

Assim, proporciona-se um ambiente propício à eclosão dos ovos e seu desenvolvimento até as fases juvenis. Então, uma nova gradagem reduz novamente a população remanescente, antes que ocorra sua multiplicação.

O ciclo de Meloidogyne é de cerca de 22 dias nas épocas mais quentes do ano, aumentando sob temperaturas mais amenas. Deve-se atentar para o fato de que a prática do alqueive pode causar severa erosão, devendo-se evitar o período mais chuvoso e utilizar curvas de nível ou terraços como prática de conservação.

Em pequenas áreas, a exemplo do local dos canteiros de pré-enraizamento, a solarização pode ser uma alternativa, especialmente em épocas de maior radiação, pela eliminação de ovos e juvenis dos nematóides pelo aquecimento do solo.
O uso de matrizes com baixa infestação por nematóides e o tratamento de mudas com solução de hipoclorito de sódio a 0,5 % (recomendado para o tratamento de pragas e doenças fúngicas e bacterianas) são práticas importantes para evitar a disseminação dos nematóides no campo.

Na verdade, para nematóides, a simples lavação dos filhotes de mandioquinha-salsa com água corrente, desde que retirando o solo aderido aos filhotes, já é suficiente para desinfestá-los quanto a nematóides, visto que estes não têm capacidade de penetração na parte aérea das plantas, de onde se retiram os propágulos.

Todavia, é comum a disseminação de nematóides nas formas de ovos e de juvenis de segundo estádio (J2) em solo aderido às mudas (filhotes). O pré-enraizamento de mudas em substratos esterilizados pode ser utilizado para garantir a não disseminação de nematóides e outros patógenos.

Mudas de mandioquinha-salsa sem a infecção por nematóides e outras doenças apresentam desenvolvimento vegetativo mais vigoroso após o  transplante no campo (SANTOS; CARMO, 1998).

No Brasil, são ainda escassas fontes de resistência em cultivares comerciais de mandioquinha-salsa de raízes amarelas. Alguns clones de raízes brancas apresentam altos níveis de resistência aos nematóides de galhas, porém sua aceitação comercial é restrita. A cultivar Amarela de Senador Amaral, de raízes amarelas, apresenta resistência moderada aos nematóides de galhas Meloidogyne incognita e M. javanica. A maior precocidade da ‘Amarela de Senador Amaral’ reduz consideravelmente o número de gerações de nematóides durante o ciclo da cultura, o que leva a uma menor população ao final do cultivo.

 

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