Embrapa Semiárido
Sistemas de Produção, 6
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Ago/2010
Sistema de Produção de Melancia

Geraldo Milanez de Rezende
Rita de Cássia Souza Dias

Nivaldo Duarte Costa

Sumário

Apresentação
Socioeconomia
Clima
Solos
Adubação
Cultivares
Produção de mudas
Plantio
Irrigação
Tratos culturais
Plantas daninhas
Doenças
Pragas
Agrotóxicos
Colheita e pós-colheita
Mercado
Custos e rentabilidade
Referências
Literatura recomendada
Glossário

Expediente

Clima

Temperatura do ar

Umidade relativa do ar

Precipitação

Radiação solar

Velocidade do vento

As cucurbitáceas se adaptam bem às zonas quentes e semiáridas, com alta luminosidade e temperaturas do ar entre 18 °C a 30°C, não tolerando temperaturas abaixo de 10 °C. A melhor época para o desenvolvimento da melancia é durante o período seco, pois nos períodos úmidos ela é mais suscetível a doenças. Entre as cucurbitáceas, a melancia é uma das espécies menos tolerantes a baixas temperaturas, principalmente durante a germinação das sementes e emergência, sendo uma cultura tipicamente de clima quente. As cultivares triploides — sem sementes — são mais exigentes em temperatura do ar que as demais, apresentando maiores problemas de germinação. Um clima quente e seco favorece a formação de frutos de melancia com excelentes qualidades organolépticas. Ao contrário, em condições de umidade relativa do ar alta e baixa insolação, os frutos formados são de má qualidade.
O efeito de condições ambientais na determinação do sexo em melancia foi estudado em condições controladas, verificando-se que em dias curtos (8h), a temperatura de 27 °C, aumentou-se a tendência de emissão de flores femininas e dias longos (16h) com a temperatura de 32 °C houve a inibição desta emissão. Além disso, os níveis de temperatura do ar também afetam significativamente o ciclo da melancia. Considerando uma mesma cultivar, este poderá ser incrementado em torno de 20 dias com a diminuição da temperatura do ar e radia ção solar incidente.

Temperatura do ar

Há, na literatura, diferentes informações sobre a faixa de temperatura do ar ideal para cada fase da cultura da melancia. A faixa que favorece a germinação das sementes situa-se entre 21,1 °C e 35 °C, sendo os limites de temperaturas mínimas do ar e do solo iguais a 15 °C e 21,1 °C, respectivamente. A temperatura média do ar ideal para que ocorra a germinação está entre 23,8 °C e 29,4 °C. Desta forma, quando a temperatura do ar situa-se em torno de 20 °C, a germinação das sementes se completa em 15 dias, enquanto a 30 °C, este processo ocorre em apenas 5 dias, em média.
O desenvolvimento vegetativo e a floração são favorecidos por valores de temperatura do ar na faixa de 23 °C e 28 °C e 20 °C a 21 °C, respectivamente, e paralisados em temperatura de 11 °C a 13 °C ou inferiores (Tabela 1). Contudo, não permanecendo por muitos dias sob tais condições de temperatura, a planta voltará a crescer. A temperatura do ar ideal para o seu desenvolvimento deve estar em torno de 25 °C. O crescimento das plantas de melancia é afetado quando as temperaturas médias do solo atingem valores iguais ou inferiores a 16,7 °C. Além do anteriormente exposto, a temperatura também influencia na incidência de doenças. As temperaturas mais amenas favorecem a incidência de doenças como fusariose (Fusarium oxysporum f. sp. niveum), cancro das hastes (Didymella bryoniae), oídio (Shaerotheca fuliginea) e míldio (Pseudoperonospera cubensis).
Em condições térmicas ótimas, ou seja, temperaturas do ar noturnas entre 15 e 20 °C e diurnas de 20 °C a 30 °C, o fruto pode atingir 50% de seu peso final nos primeiros 15 dias após a antese. Atinge a maturação completa de 30 a 50 dias, dependendo, também, de outros fatores como as condições de cultivo e cultivar utilizada.
Sob temperatura do ar elevada (acima de 35 °C), a formação de flores masculinas é estimulada. A associação de altas temperaturas e ventos provoca elevada taxa de transpiração, aumentado a pressão interna dos frutos e ocasionando a ruptura da casca dos frutos nos pontos mais fracos.
A produtividade da cultura depende diretamente da eficiência da polinização que, em condição natural, é feita por abelhas. A maior atividade destas ocorre em temperaturas altas — entre 21 °C a 39 ºC —, com ótimo entre 28 °C e 30 °C. Assim, de forma indireta, a temperatura também pode afetar a produtividade. Na Tabela 1 são apresentadas as temperaturas críticas para a melancia em distintas fases de desenvolvimento.

Tabela 1. Caracterização das faixas de temperatura do ar para melancia em distintas fases de desenvolvimento.

Descrição

(°C)

Congelamento

0

Paralisação vegetativa

11 - 13

Germinação mínima

16

Floração ótima

20 - 21

Desenvolvimento ótimo

23 - 28

Maturação do fruto

23 - 28

Fonte: INFOAGRO (2010).

Quando as diferenças de temperatura do ar entre o dia e a noite são grandes (>10oC), pode ocorrer desequilíbrios nas plantas como fendas no colo e ramas, bem como, produção de pólen não viável.
A temperatura do ar elevada, os altos níveis de radiação solar incidente e a baixa umidade relativa do ar proporcionam, quando associados, condições climáticas ideais para uma boa produtividade da cultura e obtenção de frutos de ótima qualidade, pois aumentam o conteúdo de açúcares e melhoram o aroma, o sabor e a consistência dos frutos. Em condições de irrigação do Vale do São Francisco, com os requerimentos hídricos satisfeitos, isso é alcançado no cultivo de agosto a novembro.
Sob clima frio e úmido, as qualidades organolépticas tornam-se baixas, por causa da redução no teor de açúcares. Também, deve-se considerar a exposição do terreno, evitando-se faces atingidas por ventos frios - mais sujeitas às geadas - e aquelas menos iluminadas.

Umidade relativa do ar

A umidade relativa do ar ótima para a cultura da melancia, de forma geral, situa-se entre 60% e 80%, sendo um fator determinante durante a floração, uma vez que, associada a temperaturas mais amenas, favorece a uma melhor fertilização das flores e um maior número de flores femininas.
Valores elevados de umidade relativa favorecem a ocorrência de doenças fúngicas, resultam em desfolha precoce das plantas, reduzindo a fotossíntese e afetando diretamente a produtividade e a qualidade dos frutos, que se tornam aguados e com baixo teor de açúcares. A alta umidade relativa do ar, sobretudo quando associadas a temperaturas elevadas, favorecem ao desenvolvimento de várias doenças, como alternaria (Alternaria cucumerina), mofo-branco (Sclerotium rolfsií) e de alguns distúrbios fisiológicos, como é o caso do rachamento de frutos.
Em condições de irrigação a umidade relativa do ar é muito importante na determinação da evapotranspiração.

Precipitação

Quando o cultivo da melancia é realizado sem irrigação, o ideal é que as chuvas sejam bem distribuídas ao longo do ciclo da cultura. Embora a melancia possa tolerar pequenos veranicos, paralisando o seu crescimento, a falta de umidade no solo durante as fases de floração e frutificação, diminui a produtividade em decorrência da baixa frutificação e à redução do tamanho dos frutos.
O excesso de chuvas durante o desenvolvimento da cultura aumenta a incidência de doenças. No caso de solos mal drenados, períodos longos de encharcamento prejudicam a respiração radicular, provocando amarelecimento das plantas seguido de morte. Nesses casos, também é comum o desenvolvimento de raízes adventícias ao longo das ramas.
Durante a floração, o excesso de chuvas prejudica a polinização, danificando as flores e dificultando a ação dos polinizadores (abelhas). Na maturação, a qualidade dos frutos e a vida de prateleira dos mesmos podem ser prejudicadas pelo excesso de chuvas, pois há maior dificuldade para o controle das pragas e doenças que afetam as plantas e, consequentemente, a produção. Além disso, chuvas intensas, sobretudo quando acorrem após um período de estiagem ou próximo á colheita, contribuem para a rachadura de frutos.
Dentre os fatores climáticos, a precipitação é determinante para definição da época de plantio e da forma de cultivo. No caso dos cultivos sem irrigação, os meses de maior precipitação devem ser evitados por causa da dificuldade do controle de pragas e doenças. No caso dos cultivos irrigados, o semeio pode ser realizado de forma a sincronizar a colheita fora de épocas com precipitação, pois afeta, também, a qualidade dos frutos.

Radiação solar

A radiação solar (luminosidade) é fundamental, principalmente sob condições de temperatura do ar abaixo do ótimo, em que a elevada irradiância ou o prolongamento do período luminoso promove a formação de maior área foliar.
Longos fotoperíodos favorecem o crescimento vegetativo e o florescimento da melancia. Dias longos e noites curtas, ambos quentes, caracterizam verão quente e seco, que são considerados ideais para a cultura. É por isso que a região Nordeste apresenta excelentes condições climáticas para o cultivo da melancia e a obtenção de frutos de boa qualidade. Em condições de umidade alta e baixos índices de radiação solar incidente, os frutos apresentam-se sem sabor.
Na região da Amazônia, durante o período de estiagem, quando a fumaça das queimadas se intensifica, a redução da radiação solar incidente pode provocar atraso no desenvolvimento das plantas.

Velocidade do vento

Ventos fortes danificam folhas, flores e frutos; nos últimos, os prejuízos são facilmente perceptíveis pela diminuição na frutificação e/ou depreciação do produto. Outro fator negativo, é que as lesões provocadas pelos ventos expõem a planta às infecções fúngicas e bacterianas, através de microlesões ocasionadas pelo atrito das ramas com o solo ou mesmo pelo atrito de partículas de solo arrastadas pelo vento. Além disso, ventos fortes e secos intensificam a evapotranspiração, aumentando a demanda da planta por água.
No manejo cultural da melancia, a predominância de ventos fortes dificulta a prática cultural do penteamento, que consiste na condução das ramas a favor das direções predominantes, como forma de evitar que parte da planta fique dentro dos sulcos de irrigação, ou na área de circulação de pessoas e máquinas.
Em regiões onde os ventos fortes são comuns, o preparo do solo deve ser moderado, evitando-se a pulverização e sempre que possível, as linhas de cultivo devem ser estabelecidas de modo que as plantas cresçam paralelamente às direções predominantes. Também deve ser adotada a confecção de barreiras vivas, próximo à área de cultivo, sem que causem sombreamento.

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