Embrapa Hortaliças
Sistemas de Produção, 2
ISSN 1678-880x Versão Eletrônica
Nov./2007
Pimenta (Capsicum spp.)
Autores

Sumário

Apresentação
Importância econômica
Botânica
Clima
Solos
Adubação
Cultivares
Produção de mudas
Plantio

Tratos culturais
Irrigação
Plantas daninhas
Doenças
Pragas
Colheita
Comercialização
Consumo
Processamento

Produção de sementes
Coeficientes técnicos
Referências
Glossário

Agrotóxicos



Expediente

Produção de sementes

 

A produção de sementes de pimentas pode ser desenvolvida nas mesmas regiões e sob as mesmas condições de clima e solo recomendadas para a produção de frutos. É desejável, entretanto, buscar uma época do ano com temperaturas e umidades relativas mais baixas, para se evitar a elevada ocorrência de pragas e doenças. O clima ameno não prejudica a produção e contribui para a obtenção de sementes de alta qualidade, com menores riscos de perda de produção.

As pimentas têm flores perfeitas e reproduzem-se preferencialmente por autofecundação. Entretanto, a quantidade de polinização cruzada natural pode variar com a cultivar e com outros fatores ambientais, sendo a presença de insetos polinizadores o mais importante. O isolamento dos campos de produção de sementes de diferentes cultivares deve respeitar uma distância mínima de 300m para a classe fiscalizada. Na produção de sementes híbridas, apesar da polinização artificial ser feita antes da abertura das flores femininas maduras, recomenda-se manter a separação física de outros genótipos, devido ao risco de contaminação genética por insetos (microhimenópteros) que perfuram botões florais fechados em busca de pólen e néctar.

A área destinada à produção de sementes fiscalizadas deve variar de um mínimo de 0,2 a um máximo de 2 hectares, ser de fácil acesso, bem localizada, plana ou suavemente inclinada, arejada, de preferência não cultivada recentemente com outras Solanáceas. Deve apresentar solo leve, profundo, bem drenado, ligeiramente ácido, rico em matéria orgânica e nutrientes minerais, e estar livre de plantas daninhas, pragas e doenças limitantes para a cultura de pimenta. O preparo do solo deve ser o mais bem feito possível, iniciando pelo enterramento profundo dos restos da cultura anterior. O espaçamento entre fileiras pode ser até 50% maior do que o comumente utilizado na produção de frutos, permitindo maior facilidade na execução dos tratos culturais, maior espaço para a observação das plantas e alteração do microclima em favor da cultura.

A semeadura deve ser feita com sementes de boa qualidade genética, física, fisiológica e fitossanitária. As sementes devem ser semeadas em bandejas de isopor, com substrato adequado para a produção de mudas. Quando as plântulas apresentarem de 4-6 folhas verdadeiras podem ser transplantadas para local definitivo. O método de semeadura em sacos plásticos também tem sido muito utilizado. O tratamento químico é uma prática indispensável nesse momento, devendo-se utilizar fungicidas à base de iprodione, thiram, captan, carboxim ou tiabendazol, na dose de 3g de produto comercial por quilo de sementes. A profundidade da semeadura deve ser no máximo 1cm. São necessárias 100 a 150g de sementes para suprir a necessidade de mudas para um hectare.

Além dos tratos culturais normais, algumas práticas específicas podem ser aplicadas à produção de sementes, para alcançar melhores resultados. O estaqueamento das plantas evita o seu tombamento e garante níveis mais elevados de qualidade fitossanitária nas sementes. A desbrota das primeiras ramas laterais contribui para ventilar o colo das plantas e permite economizar energia para a formação das sementes. A eliminação de plantas atípicas da mesma espécie ou de outras espécies silvestres e cultivadas deve ser efetuada rigorosamente no início da floração e na pré-colheita. Para o controle de viroses, é indispensável combater os pulgões e outros insetos vetores.

Na produção de sementes híbridas, a flor emasculada (sem as anteras) deve ser protegida por saquinho de papel encerado ou rolete de papel alumínio, até o momento da polinização. Esta deve ser efetuada de preferência em dias claros, de pouco vento e sobretudo no final da manhã, para melhorar a eficiência de fertilização. Os saquinhos de papel devem voltar a proteger as flores após a polinização.

Para algumas cultivares, a colheita pode ser iniciada aproximadamente aos 60 dias após o florescimento ou quando mais de 80% dos frutos estiverem mudando de cor. Esta alteração indica o atingimento do ponto de maturidade fisiológica das sementes, quando são observados níveis máximos de germinação e vigor e níveis mínimos de deterioração. Recomenda-se, nessa fase, o repouso dos frutos por três dias, a sombra e a temperatura ambiente para uniformizar a maturação e facilitar a sua trituração. Sugere-se fazer primeiramente a extração de sementes dos frutos mais maduros (coloração vermelha) e posteriormente dos frutos que estão em repouso. Frutos imaturos, de coloração verde, geralmente produzirão sementes menos vigorosas ou até inférteis. As principais características a serem selecionadas e mantidas na fase de colheita, visando-se qualidade total, são o tamanho e o formato característico dos frutos da cultivar, a ausência de defeitos e a boa condição fitossanitária. A produtividade média é variável, sendo considerada normal quando alcança 150 a 200kg de sementes por hectare.

A extração das sementes pode ser feita a seco ou por via úmida. O primeiro processo é conduzido manualmente, sendo mais indicado para obtenção de sementes em pequena escala. A extração via úmida é feita mecanicamente e requer equipamentos para o esmagamento dos frutos, sendo mais utilizada em escala comercial.

O processo de secagem exige cuidados especiais. As sementes ainda úmidas devem ser colocadas para secar a sombra, em ambiente fresco e ventilado, perdendo lentamente a umidade superficial para o ambiente. A movimentação das sementes é desejável nessa fase inicial. A temperatura não deve ultrapassar os 30ºC, sob pena de se danificar o sistema de membranas das células embrionárias. Uma vez eliminada a umidade superficial, as sementes devem ser transferidas para estufas elétricas reguladas a 38ºC, onde devem permanecer de 24 a 48 horas até atingirem grau de umidade próximo a 6%.

A análise das sementes deve ser conduzida ‘sobre papel’, de acordo com as Regras para Análise de Sementes – RAS do Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento - MAPA. A condição recomendada é a manutenção por 16h a 20ºC e 8h a 30ºC. A primeira contagem deve ser feita aos seis dias e a contagem final aos 14 dias após a instalação do teste. Em caso de dormência, as RAS prescrevem umedecer o substrato inicialmente com uma solução de nitrato de potássio (0,2%), em vez de água, ou fornecer luz por 8 a 16 horas.

A embalagem correta das sementes contribui para a preservação das qualidades originais do lote, fazendo com que cheguem perfeitas ao destino e apresentem um bom desempenho fisiológico na nova semeadura. As sementes de pimentas devem ser embaladas com grau de umidade de 6%, em latas ou sacos de papel aluminizado contendo 100g do produto. Nessa condição, o seu poder germinativo normalmente fica garantido pelo prazo de três anos.

O armazenamento deve ser feito de preferência em ambiente frigorificado, com temperatura próxima a 4ºC, se as sementes estiverem acondicionadas em embalagens herméticas. Secas e resfriadas, as sementes reduzem o nível interno de atividade metabólica, consomem menos energia através da respiração e mantém a sua viabilidade por períodos mais prolongados.

 

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