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Uvas Americanas e Híbridas para Processamento em Clima Temperado |
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A videira, em seu meio natural, pode atingir grande desenvolvimento. Nessas condições, a produtividade não é constante e os cachos são pequenos e de baixa qualidade. Ao limitar o número e o comprimento dos sarmentos, a poda seca proporciona um balanço racional entre o vigor e a produção, regularizando a quantidade de uva produzida e sua qualidade. A poda verde constitui-se num importante complemento da poda seca para melhorar as condições do dossel vegetativo do vinhedo. Poda
seca
Os principais objetivos
da poda seca são: a) propiciar que as videiras frutifiquem desde os
primeiros anos de plantio; b) limitar o número de gemas para regularizar
e harmonizar a produção e o vigor, de modo a não expor as videiras
a excessos de produção que podem levá-las a períodos de baixa frutificação;
c) melhorar a qualidade da uva, que pode ser comprometida por uma
elevada produção; d) uniformizar a distribuição da seiva elaborada
para os diferentes órgãos; e) proporcionar à planta uma forma determinada
que se mantenha por muito tempo e que facilite a execução dos tratos
culturais.
A eleição de um sistema de poda depende da cultivar, das características do solo, da influência do clima e de aspectos sanitários. Cultivar: pode-se adotar a poda mista (vara e esporão) em determinadas cultivares, como na Niágara Branca, e a poda em cordão esporonado, como na Isabel. Em condições similares de clima e solo, as diversas cultivares apresentam desenvolvimento vegetativo diferenciado. Nas vigorosas, deixa-se um maior número de gemas/vara.O sistema de poda depende também da localização das gemas férteis ao longo do sarmento. Se as gemas estiverem situadas em sua base, normalmente faz-se a poda em cordão esporonado; as cultivares que apresentam gemas inférteis na base do sarmento exigem poda mista. O comprimento dos entrenós também deve ser considerado para a realização da poda. Características do solo: o vigor da planta está relacionado com a fertilidade do solo. Videiras em solos de baixa fertilidade não são muito vigorosas e, por isso, normalmente adota-se a poda curta; solos férteis propiciam grande desenvolvimento às videiras, sendo então utilizada a poda longa. Influência do clima:
uma mesma cultivar, plantada em solos similares, comporta-se segundo
as características climáticas do local. Em áreas sujeitas a geadas
tardias, a videira deve ser conduzida mais alta. Em climas úmidos,
as gemas da base do sarmento geralmente são inférteis. Climas secos
proporcionam maior fertilidade das gemas da base do sarmento. É importante,
ainda, considerar a predominância dos ventos. Aspectos sanitários:
as partes da videira com umidade persistente e pouco arejadas propiciam
o desenvolvimento de doenças fúngicas. Para evitar a proliferação
de doenças nas videiras, deve-se eleger o sistema de poda que assegure
o máximo de circulação de ar e penetração de luz.
Na videira não se distinguem gemas vegetativas e gemas frutíferas, como em muitas espécies, mas sim somente gemas mistas, que originam brotos com inflorescências e folhas ou somente folhas. A gema da videira é composta, sendo a principal chamada de primária, que dá origem a um broto frutífero; as outras duas são chamadas de secundárias, que geralmente brotam quando ocorrer algum dano com a gema primária (geada, granizo, vento, dano nas gemas superiores), as quais dão origem a brotos que podem ser férteis ou não. Em geral, são mais férteis nas variedades americanas e híbridas que nas viníferas. As gemas da videira se localizam nas axilas das folhas, na posição lateral do ramo, inseridas junto aos nós (Figura 1). Gemas prontas: formam-se na primavera-verão, cerca de uma dezena de dias antes das gemas francas. Assim que formadas podem dar origem a uma brotação chamada feminela ou neto (ramo antecipado), que pode ser estéril, pouco ou muito fértil, segundo a cultivar. Localiza-se, também, na axila das folhas, ligeiramente descentralizada e abaixo da gema franca. Gemas francas ou axilares: formam-se na base das gemas prontas, junto à inserção do pecíolo foliar e permanecem dormentes durante o ano de formação, mas sofrem uma série de transformações. A formação do esboço dos cachos se completa somente na primavera seguinte. Durante a brotação e desenvolvimento dos ramos, as gemas francas não germinam porque são inibidas pela atividade dos ápices vegetativos (dominância apical) e das gemas prontas (inibição correlativa). Essas gemas podem produzir de um a qautro cachos, e até cinco como por exemplo na Couderc 13. Gemas latentes: são gemas não muito desenvolvidas, localizadas na madeira velha, que foram cobertas pela sucessiva formação de tecidos. Quando brotam dão origem a ladrões estéreis, que surgem quando se realiza uma poda drástica; ocorre danos por geadas tardias nas outras gemas; há problemas com a circulação da seiva. Gemas basilares, da coroa ou casqueiras: são um conjunto de gemas não bem diferenciadas que se formam na base do ramo, junto à inserção do broto do ano com a madeira do ano anterior. Somente brotam quando se fizer poda curta, aplicação de regulador de crescimento ou ocorrer problemas com as gemas francas. Geralmente são férteis nas cultivares americanas e inférteis nas viníferas. Gemas cegas: são as mais desenvolvidas das gemas basilares, sendo as primeiras gemas visíveis localizadas logo acima dessas. Geralmente elas são férteis nas americanas.
Mesmo que os sistemas de poda sejam transmitidos durante gerações, de forma empírica ou intuitiva, é importante que o podador conheça as bases racionais nas quais se sustenta a difícil técnica de podar. Os princípios da poda são os seguintes:
A época depende de vários fatores, entre
os quais a cultivar, tamanho do vinhedo, topografia do terreno (riscos
de geadas tardias), disponibilidade de mão-de-obra qualificada, concorrência
com outras atividades na propriedade, umidade do solo e objetivos
da produção (indústria, mesa).
Os elementos da poda são o esporão e a vara.
O esporão desempenha duas funções na poda, ou seja, frutificação e
produção de sarmento para a futura poda. Quando adotada a poda mista,
sua função principal é a produção de sarmentos. A função da vara é
a frutificação.
Há grande variabilidade de sistemas de poda,
em função da cultivar, clima, solo e porta-enxerto. Mas, podem ser
agrupados em poda curta (cordão esporonado) e mista (vara e esporão).
A poda é considerada curta quando o esporão tem até três gemas francas,
e mista quando permanecem esporões e varas na mesma planta.
Quando o corte for realizado no tronco ou
nos braços da videira, geralmente ocorre a morte dos tecidos subjacentes
à secção do corte se ele for efetuado próximo à parte que permanece.
Isto por que pode haver infiltração de água da chuva, que pode provocar
a decomposição e a necrose do tecido caso não forem adequadamente
protegidos até que se forme a cicatriz que o isola dos agentes externos.
É importante deixar um pouco de madeira, a qual contribuirá para melhorar
a cicatrização.
Há três tipos de poda da videira: formação, frutificação e renovação, realizadas em função da idade da videira. Poda de formação: tem por finalidade dar a forma adequada à planta, de acordo com o sistema de sustentação adotado.Desde o plantio da muda ou da enxertia é importante que ocorra um bom desenvolvimento da área foliar e, conseqüentemente, do sistema radicular. Por isso, toda a vegetação da planta deve ser mantida em boas condições. A formação da planta deve ser bem planejada e posta em prática no início da brotação. Para a Serra Gaúcha recomendam-se os seguintes procedimentos: o broto de maior vigor do enxerto ou da muda (Figura 2A) é conduzido mediante sucessivas amarrações junto ao tutor (Figura 2B); quando esse broto alcançar a estrutura da latada ou o primeiro fio da espaldeira, será despontado cerca de 10 cm abaixo desta (Figura 2C), para eliminar a dominância apical e estimular a brotação e o desenvolvimento das feminelas; os brotos das últimas duas feminelas são conduzidos no arame, mediante amarrações no sentido da linha de plantio, um para cada lado (Figura 2D). Esses brotos serão os futuros braços da videira. Caso eles tiverem o vigor suficiente, poderão ser novamente despontados. A poda de formação consiste em podar os futuros braços das videiras que foram despontadas, deixando no máximo seis gemas (Figura 2E). As mudas que não foram despontadas, mas que apresentam vigor suficiente, são podadas na altura da estrutura de sustentação. As mudas fracas devem ser podadas a duas gemas. Normalmente, a poda de formação é concluída até o terceiro ano. A poda de formação adequada proporciona maior facilidade para a realização da poda de frutificação.
Poda de frutificação:
A poda de frutificação, também chamada de poda de produção, tem por
objetivo preparar a videira para a produção da próxima safra. Deve
ser feita através da eliminação de sarmentos mal localizados ou fracos
e de ladrões, a fim de que permaneçam na planta somente as varas e/ou
esporões desejados. A carga de gemas do vinhedo deve ser adequada
à maximização da produtividade e da qualidade de uva, sem comprometer
as produções dos anos seguintes.
Poda de renovação: a poda de renovação
consiste em eliminar as partes da planta, principalmente braços e
cordões, que se encontram com pouca vitalidade devido a acidentes
climáticos, danos mecânicos, doenças ou pragas, e substituí-los por
sarmentos mais jovens. É utilizada, também, para rebaixar partes da
planta que se elevaram em demasia em relação ao aramado, bem como
as partes que, devido a sucessivas podas, se distanciaram dos braços
ou cordões.
A poda verde é
efetuada com o objetivo de complementar a poda seca da videira e
de melhorar o equilíbrio entre a vegetação e os órgãos de produção. No
manejo do dossel, a poda verde é uma de suas principais atividades. Ela
consiste na desbrota, no esladroamento, na desfolha e na desponta de ramos, quando forem
verdes ou herbáceos. Desbrota e Esladroamento: A
desbrota e o esladroamento consistem em suprimir as gemas, os brotos
e os ramos que se desenvolvem nos troncos e nos braços e os ladrões
que se desenvolvem no porta-enxerto. Desfolha:
A desfolha consiste na eliminação de
folhas da videira, principalmente as situadas próximas aos cachos. Desponta: A desponta consiste na eliminação de uma parte da extremidade do ramo em crescimento e tem os seguintes efeitos:
A desponta deve ser
feita manualmente a partir da floração, repassando duas ou três vezes se
necessário. Se realizada muito cedo, ela pode estimular o desenvolvimento das
feminelas aumentando o efeito da competição por nutrientes; se praticada muito
tarde, não apresenta efeito sobre o pegamento do fruto. |
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