Embrapa Embrapa Uva e Vinho
Sistema de Produção, 7
ISSN 1678-8761 Versão Eletrônica
Dez./2005
Sistema de Produção de Ameixa Européia
George Wellington Bastos de Melo
Preparo e manejo do solo e adubação

A fase se implantação do pomar é, sem dúvida alguma, a mais importante para o sucesso de uma cultura. É nessa fase que o produtor deve lançar mão de todas as ferramentas possíveis para uma boa implantação do pomar, pois pomar mal implantado significa sérios prejuízos para a cultura e para o produtor.
A ferramenta principal para a implantação do pomar é a análise de solo. É nela que se verifica a necessidade de correção do solo para que as plantas possam desenvolver todo o seu potencial produtivo. Com o resultado da análise na mão se tem condições para estimar as necessidades de correção da acidez e da fertilidade do solo.
Alguns aspectos na implantação do pomar e condução das adubações precisam ser bem orientados para que do sucesso do pomar. Assim, os seguintes aspectos devem ser bem observados.

Escolha do Local
Preparo do Solo

Escolha do Local

Dentro das possibilidades e disponibilidades de áreas na propriedade, deve-se evitar localizar o pomar em baixadas úmidas, em solos com problemas de compactação e em solos rasos, que dificultem o desenvolvimento radicular das plantas e a incorporação de corretivos e de adubos. Em solos de baixa fertilidade e arenosos é necessário programar o uso periódico de matéria orgânica. Quanto à exposição do local, deve-se preferir aquela voltada para o norte, podendo ser opções a nordeste, noroeste, leste ou oeste, evitando-se a exposição sul em razão dos ventos frios que podem propiciar o aparecimento de certas doenças fúngicas. Devem ser evitadas encostas muito declivosas (acima de 20%), pois elas oneram os trabalhos com a conservação do solo e inviabilizam a mecanização para a correção da acidez e da fertilidade do solo.

Preparo do Solo

Na implantação de um pomar, é que se tem a melhor oportunidade para realizar o trabalho adequado ao bom condicionamento do solo para o normal desenvolvimento radicular e, conseqüentemente, o melhor desempenho das plantas. Dependendo do tipo de solo, principalmente relacionado com a textura e da profundidade, deve-se utilizar técnicas de preparo do solo mais eficientes e apropriadas. Assim, recomendam-se as seguintes etapas para um bom preparo do solo para a instalação de um pomar:

Limpeza da Área

Consiste em deixar o local o mais limpo possível, para maior eficiência dos trabalhos subseqüentes. Dependendo da área, as atividades dizem respeito ao desmatamento ou roçada, retirada de restos vegetais e de pedras da superfície. Esta etapa deve ser realizada com antecedência mínima de seis meses ao plantio das mudas ou porta-enxertos. No caso de solos de matas ou com bastante matéria orgânica (acima de 50,0g kg-1), é recomendável o cultivo de uma cultura anual no primeiro ano após o preparo do solo.

Subsolagem ou Aração Profunda

O uso desta prática vai depender da existência de camadas compactadas em profundidade superior à alcançada pelos arados. É uma etapa necessária para o bom desenvolvimento do sistema radicular. O ideal é fazer a aração profunda, ou subsolagem, cruzadas, sendo a 1a no sentido do declive do terreno. Se necessário, fazer nova limpeza da área para a retirada de restos de raízes e pedras.

Análise do Solo

Para realizar a correção da acidez e a adubação de pré-plantio, deve-se coletar as amostras de solo seguindo as orientações básicas para este procedimento. Deve-se coletar as amostras na profundidade de 0-20cm. Devem ser coletadas de 15 a 20 sub-amostras/área homogênea, de onde se retira uma amostra composta (500gramas), a qual será enviada ao laboratório de análises de solo. Esta etapa precisa ser executada com muito rigor, pois qualquer erro recairá nos resultados da análise, que influenciarão nas interpretações e recomendações dos corretivos e dos fertilizantes. Normalmente, solicitam-se as determinações de teor de argila, pH, Índice SMP, P e K extraíveis, Al, Ca e Mg trocáveis, M.O. e B.

Calagem

A quantidade de calcário necessária para elevar o pH, em água, do solo até 6,0 é estimada pelo índice SMP (Tabela 1). Em situações onde a aração, ou subsolagem, for realizada a profundidade superior a 20cm, deve-se corrigir a quantidade de calcário para a profundidade trabalhada. A calagem deve ser realizada com antecedência mínima de seis meses ao plantio. A quantidade de calcário deve ser corrigida para PRNT 100%, em função do valor apresentado pelo corretivo a ser utilizado. Isto se faz por:

Calagem (t ha-1) = Quantidade recomendada x 100/ PRNT do calcário a usar.

Outro fator importante a ser considerado é o custo do calcário, que deve ser expresso pelo valor por unidade de PRNT, posto na propriedade e, não apenas, pelo custo por tonelada. Para uma melhor distribuição do calcário no perfil do solo (horizontal e vertical), deve-se seguir as seguintes etapas: a) subsolagem - distribuição uniforme na superfície da área; b) gradagem superficial (para melhorar a mistura calcário-solo); c) aração para incorporação mais profunda; d) gradagem final para nivelamento ou destorroamento da área. Quando a calagem recomendada ultrapassar 5 t ha-1, a distribuição e incorporação devem ser feitas em duas vezes, seguindo o procedimento anterior (distribuição da metade do calcário - gradagem - aração - distribuição do resto - gradagem - aração - gradagem).

A prática da calagem é considerada efetiva por um período de cinco anos, aproximadamente, dependendo da quantidade e do tipo do calcário utilizado. Quanto à escolha do calcário, um fator importante é a relação entre o cálcio e o magnésio no solo(o sugerido é 4:1), para evitar desequilíbrio entre eles. Em geral opta-se pelo calcário dolomítico que possui maior teor de magnésio, em virtude da maioria dos solos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina se mostrarem com baixos teores deste elemento. No entanto, dependendo do resultado da análise do solo (Ca : Mg) pode-se usar o calcário magnesiano ou calcítico.

Tabela 1. Recomendação de calagem (calcário com PRNT 100%) com base no índice SMP, para correção da acidez dos solos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, para atingir pH 6,01.
Índice SMP t ha -¹ Índice SMP t ha -¹
< 4,4 21,0 5,8 4,2
4,5 17,3 5,9 3,7
4,6 15,1 6,0 3,2
4,7 13,3 6,1 2,7
4,8 11,9 6,2 2,2
4,9 10,7 6,3 1,8
5,0 9,9 6,4 1,4
5,1 9,1 6,5 1,1
5,2 8,3 6,6 0,8
5,3 7,5 6,7 0,5
5,4 6,8 6,8 0,3
5,5 6,1 6,9 0,2
5,6 5,4 7,0 0,0
5,7 4,8 - -
Fonte: Comissão de Química e Fertilidade do Solo - RS/SC , 10a edição (2004).

Adubação de Pré-plantio

É realizada na implantação do pomar e através dela são fornecidos P e K, em quantidades determinadas pela análise do solo, necessárias para elevar a fertilidade do solo até a faixa suficiente. Esta adubação deve ser realizada 3 meses após a calagem e, portanto 3 meses antes do plantio. As quantidades são estimadas com base nos dados da análise do solo tomada antes do plantio e interpretados através das Tabela 2.

Tabela 2. Interpretação dos teores de fósforo e potássio e doses de fertilizantes a serem aplicadas na adubação de pré-plantio.
Interpretação do teor Faixa de Teor
(mg dm-3)
Doses de fósforo
(kg P2O5/ha)
Doses de potássio
(kg K2O/ha)
Fósforo1 Potássio2
Muito-Baixo = 4,0 = 20 90 100
Baixo 2,1 - 8,0 21 - 40 60 70
Médio 8,1 - 12,0 41 - 60 30 40
Alto 12,1 - 24,0 61 - 120 0 20
Muito-Alto > 24,0 > 120 0 0
1. Solos com teor de argila variando de 21 a 40% (Classe 3).
2. Solos com CTCpH 7,0 variando de 5,1 a 15,0 cmolc dm-3.
Fonte: Comissão de Química e Fertilidade do Solo - RS/SC , 10a edição (2004).

Adubação de Crescimento

Esta adubação tem finalidade complementar a adubação de correção e suprir as plantas durante a fase sem produção de frutos. Utiliza-se esterco e/ou fertilizantes químicos à base de nitrogênio. A época de realização dessa operação, como o próprio nome diz, é na ocasião do plantio e durante os dois a três primeiros anos. A quantidade de nitrogênio a ser aplicada consta na tabela 3. A fonte de N a ser utilizada deve ser aquela mais fácil de ser encontrada na região. Quando for utilizado uréia deve-se tomar o cuidado para evitar perdas por volatilização, assim o solo deve estar úmido e/ou incorporar o fertilizante ao solo.

Tabela 3. Recomendações de adubações nitrogenadas durante a fase de crescimento das plantas de ameixeira.
Ano g de N / planta Época de aplicação
10 30 dias após a brotação
10 45 dias após a 1ª aplicação
10 60 dias após a 2ª aplicação
20 Início da brotação
20 45 dias após a 1ª aplicação
20 60 dias após a 2ª aplicação
45 Início da brotação
30 45 dias após a 1ª aplicação
15 60 dias após a 2ª aplicação
Fonte: Comissão de Química e Fertilidade do Solo - RS/SC , 10a edição (2004).

Adubação de Manutenção

É praticada a partir do terceiro ano após o plantio das mudas. Nesta fase usam-se as adubações com nitrogênio (N), fósforo (P2O5) e potássio (K2O). As quantidades dos N a serem aplicadas são baseadas em análise crescimento do ramo do ano, no teor de N na folha e previsão de produtividade; as de e K2O se baseiam no teor de K na folha e produtividade esperada e as de P2O5 se baseiam apenas no teor d P na folha. As quantidades a serem aplicadas constam da Tabelas 4, 5 e 6.

Tabela 4. Recomendação de adubação de manutenção com nitrogênio
Teor de N na folha Crescimento dos ramos do ano (cm)
< 30 > 30
Produtividade (t/ha) Produtividade (t/ha)
< > < >
% ----------------------- kg de N / ha -------------------------
< 1,80 100 120 60 80
1,80 - 2,05 60 80 60 80
2,06 - 2,30 40 60 40 60
2,31 - 2,55 MDAA ADUAA DMAA MDAA
2,56 - 2,80 STAP DMAA 0 STAP
> 2,80 0 0 0 0
MDAA - mesma dose do que ano anterior; ADUAA - aumentar a dose usado no ano anterior; DMAA - dose menor do que ano anterior; STAP - suspender todas ou algumas parcelas.
Fonte: Comissão de Química e Fertilidade do Solo - RS/SC , 10a edição (2004).

Tabela 5. Recomendação de adubação de manutenção com fósforo
Teor de P na folha Fósforo
% kg de P2O5/ha
< 0,04 80 - 120
0,04 - 0,09 40 - 60
> 0,09 0
Fonte: Comissão de Química e Fertilidade do Solo - RS/SC , 10a edição (2004).

Tabela 6. Recomendação de adubação de manutenção com potássio
Teor de K na folha Potássio
Produtividade esperada
< 15 15 - 30 > 30
% ----------------------------- kg de K2O / ha -----------------------------
< 0,54 150 150 150
0,54 - 0,92 120 120 150
0,93 - 1,30 80 120 120
1,31 - 1,68 50 70 100
1,69 - 2,06 30 50 70
2,07 - 2,82 0 30 50
> 2,82 0 0 0
Fonte: Comissão de Química e Fertilidade do Solo - RS/SC , 10a edição (2004).

Local de aplicação dos adubos

Na implantação do pomar (adubação de pré-plantio) o P e o K devem ser distribuídos na superfície da área e incorporados na camada arável. Até o 3º ano, deve-se adubar em faixas, distanciadas de aproximadamente 40 cm do tronco da planta. A partir do 4º ano a adubação pode ser efetuada no meio das entre-linhas ou em toda a superfície desta, obedecendo o espaçamento de 40 cm das plantas.

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