Embrapa Gado de Leite
Sistema de Produção, 2  
Aspectos Agro e Zooecológicos
Limirio de Almeida Carvalho
Luciano Patto Novaes
Carlos Eugênio Martins
Rosângela Zoccal
Paulo Moreira
Antônio Cândido Cerqueira Leite Ribeiro
Victor Muiños Barroso Lima

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Principais Segmentos da Pedopaisagem nas Áreas de Cerrado


A Região Centro-Oeste, onde predomina a formação de Cerrados, caracteriza-se por apresentar o solo, e em particular o horizonte "Cr", muito profundo, embora haja grandes afloramentos rochosos. Em geral, os solos são velhos e empobrecidos, encontram-se em franco processo de remoção. Os solos mais jovens e férteis são encontrados nas partes mais baixas, que vão penetrando vale acima, criando novas relações entre o homem e o solo. Além da grande profundidade e da espessura desproporcional entre solum e horizonte C, há um perfil de cor típica, da rocha fresca à superfície: o horizonte C profundo é tipicamente de coloração rósea (mais avermelhado quando úmido); próximo à rocha fresca ele se torna acinzentado e em direção à superfície é substituído por um horizonte B amarelado ou avermelhado.

Quando o horizonte C róseo é estreito ou a cor cinzenta vem até à base do horizonte B (ausência de cor rósea), o horizonte B tende a ser vermelho e eutrófico (Podzólicos Vermelho-Amarelos e Podzólicos Vermelho-Escuros). Se o horizonte C róseo é profundo, o horizonte B é amarelado (Latossolo Vermelho-Amarelo e Latossolo Una); Latossolo Vermelho-Escuro pode ocorrer, mas, em geral, não é, muito expressivo. Nos casos em que o processo erosivo é muito intenso e o solum é muito raso, ocorrem Cambissolos. 

Os Latossolos, os Podzólicos e as Areias Quartzosas são, de fato, as três grandes classes de solos que dominam a Região dos Cerrados, podendo se apresentar tanto nas regiões mais acidentadas, quanto em regiões mais planas.

O relevo característico em grande parte dessa região é representado pela Figura 1. Nessa Figura, é descrita a situação de cada um dos segmentos que compõem a referida pedopaisagem. Vale ressaltar que esta situação apresentada na Figura 1, embora sendo mais característica da área dos morros florestados da Região Sudeste, pode também ser encontrada nas demais regiões fisiográficas do País, como é o caso da Região Centro-Oeste coberta por extensas áreas de Cerrados.

Toposseqüência característica da Região Sudeste do Brasil

Figura 1. Toposseqüência característica da Região Sudeste do Brasil.

A seguir, é descrito cada um desses segmentos, localizando alguns aspectos relacionados ao seu uso, objetivando a exploração animal.

A – Leito Menor. Caracterizado pela presença de fontes de água da propriedade, normalmente constituído por olhos-d'água, minas d'água, córregos, riachos e rios, açudes, etc.

B – Leito Maior. Este segmento é caracterizado por inundações periódicas, ora permanecendo encoberto de água por períodos prolongados, ora inundados, porém com escoamento rápido do excesso de água. Além disso, sobressai por um enriquecimento de sua fertilidade natural, mercê das constantes inundações, que depositam grande quantidade de colóides na superfície do solo. Em decorrência desses freqüentes alagamentos, este segmento apresenta fortes limitações relativas à drenagem e à mecanização motorizada; é normalmente utilizado com forrageiras resistentes ao encharcamento, citando como exemplo: capim-angola, estrela africana, tangola, coast-cross e setária.

Por ser o capim-elefante uma planta que não se adapta a solos com problemas de drenagem, o leito maior não é recomendado para o seu cultivo. Da mesma forma, este segmento não é recomendado para o cultivo de forrageiras dos gêneros Panicum ou Brachiaria.

C – Terraço. É também um segmento plano da paisagem, porém mais elevado que o leito maior, não sujeito às inundações. Caracteriza-se também por apresentar fertilidade natural bastante elevada, além de não apresentar impedimento à motomecanização. Em geral, é usado com as culturas de milho, sorgo, feijão, arroz de sequeiro etc. Se usado para pastagens, deverá ser cultivado com espécies que apresentem alto potencial de produção de biomassa, relevando-se: capim-elefante, Panicum maximum, estrela africana, coast-cross, milho, sorgo e cana-de-açúcar.

D – Meia-Encosta. Sua forma côncava facilita a deposição de partículas de solo, removidas dos segmentos (E) e (F) pelo processo de erosão, enriquecendo sua fertilidade natural. Em geral, pode ser cultivado usando-se tração animal e/ou mecanizada. Por apresentar maior fertilidade natural e possibilidade de mecanização, deverá ser cultivado com forrageiras que apresentem alto potencial de produção de biomassa.

E – Morro (Área côncava e convexa) - Caracterizado por solos de baixa fertilidade natural e forte impedimento à mecanização motorizada.

Em razão desta baixa fertilidade natural e declive acentuado, é recomendado para cultivos com forrageiras que apresentem características de tolerância a fatores de acidez de solo; adaptação à baixa fertilidade natural; rapidez na cobertura do solo, após plantio; boa capacidade de produzir sementes, dentre outras. As forrageiras mais indicadas para serem usadas neste segmento são: braquiárias (especialmente B. ruziziensis e B. decumbens), Hyparhenia rufa (capim-jaraguá) e capim-gordura (Melinis minutiflora), dentre outras.

Salienta-se, ainda, que o cultivo desta área implica emprego de práticas conservacionistas de manejo do solo.

F – Topo do Morro. Caracteriza-se por apresentar, geralmente, baixa fertilidade natural; entretanto, permite o uso de mecanização por tração motorizada.

Neste segmento, poderão ser cultivadas forrageiras adaptadas a solos de baixa fertilidade e acidez elevada. Poderá também ser cultivado com forrageiras que apresentem alta capacidade de produção de biomassa; neste caso haverá necessidade de se elevarem os níveis de calagem e de adubação de plantio e de manutenção.

O capim-elefante, assim como as cultivares do gênero Panicum, bem como as forrageiras milho, sorgo e cana-de-açúcar (recursos forrageiros usados como suplementos volumosos para a época seca do ano) são plantas extremamente sensíveis ao encharcamento do solo. Assim, as áreas da propriedade sujeitas a inundações ou elevação do lençol freático, como é o caso do segmento B, apresentado na Figura 1, não são indicadas para o cultivo dessas forrageiras. Além dessa limitação, áreas com declive acima de 25 a 30% (segmento E) não devem também ser empregadas. A não-recomendação das áreas de relevo mais acidentado deve-se à dificuldade de mecanização, bem como às perdas de solo e água pela erosão, e pelas dificuldades de adoção de práticas racionais de conservação de solo.

Assim, as áreas da propriedade mais indicadas ao cultivo destes recursos forrageiros são o terraço e meia-encosta (segmentos C e D), áreas estas não-sujeitas às inundações. Essas áreas, além de não apresentarem impedimento à mecanização, são também as que apresentam os solos de fertilidade natural mais elevada.

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