Embrapa Hortaliças
Sistemas de Produção, 3
ISSN 1678-880x Versão Eletrônica
Nov. / 2007
Berinjela (Solanum melongena L.)
Autores

Sumário

Apresentação
Botânica
Clima
Solos
Cultivares
Produção de mudas
Tratos culturais
Irrigação
Plantas daninhas
Diagnose foliar
Pragas
Doenças
Pós-colheita
Processamento
Produção de sementes
Cultivo protegido
Propriedades nutracêuticas
Coeficientes técnicos
Referências
Glossário



Expediente

Pragas


Por ser relativamente resistente ao ataque de pragas, a cultura da berinjela não necessita do uso intensivo de inseticidas e acaricidas. Conseqüentemente, possibilita aos inimigos naturais atuarem na redução da população de pragas-chaves da cultura (ácaro, lagarta e mosca-branca). Assim, recomenda-se que os inseticidas e acaricidas devam ser utilizados apenas quando populações destas pragas forem detectadas através de técnicas de monitoramento simples, como a observação direta de folhas, ponteiros e frutos. Há diferenças marcantes de suscetibilidade às pragas-chave entre as cultivares de berinjela. Portanto, a escolha da cultivar, aliada a práticas culturais como rotação de culturas e destruição de restos culturais, são fundamentais para a redução de danos causados por insetos e ácaros. Inseticidas piretróides devem ser usados apenas no final do ciclo da cultura, pois estes produtos favorecem o aumento da população de ácaros, pela eliminação de inimigos naturais.

As pragas mais comuns associadas à berinjela são listadas a seguir, em ordem decrescente de importância econômica.


Ácaros

Família Tetranychidae

  • ácaro rajado (Tetranychus urticae)
  • ácaro vermelho (Tetranychus evansi)
  • ácaro vermelho (Tetranychus ludeni)

Família Tarsonemidae

  • ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus)

Família Eriofiidae

  • ácaro do bronzeamento (Aculops lycopersici)


Os ácaros são as principais pragas da berinjela. Em geral, altas populações estão associadas a altas temperaturas, baixa umidade relativa do ar e uso exagerado de inseticidas, que eliminam os seus inimigos naturais. Completam seu ciclo biológico em dez a quatorze dias e têm elevada capacidade reprodutiva, tornando-se alimento de tripes, percevejos, besouros e ácaros predadores (Phytoseiidae). Por serem disseminados principalmente pelo vento, é muito importante a destruição dos restos culturais. Normalmente, os ácaros localizam-se na face inferior das folhas, reduzem a área foliar interferindo na fotossíntese e eventualmente causam necrose, queda das folhas e morte da planta, diminuindo a produção. Os frutos de berinjela atacados por ácaros tornam-se pequenos e ondulados, e a casca apresenta áreas ásperas e claras.

Os danos têm características especiais e podem estar associados a três gêneros de ácaros, comuns à planta de berinjela. Os ácaros rajado e vermelho, no início do ataque, produzem manchas cloróticas nas folhas do terço inferior da planta. Altas populações, que normalmente ocorrem no final do ciclo da planta, resultam na formação de teias nas folhas superiores da planta. O ácaro branco produz enrolamento das bordas das folhas do ponteiro ou do terço superior das plantas. A sua atividade interfere na expansão foliar, tornando as folhas espessas, coriáceas e quebradiças ao toque. O ácaro do bronzeamento tem na berinjela seu melhor hospedeiro. A cultura suporta grandes populações deste ácaro, que coloniza a base da haste principal e as folhas do terço inferior, conferindo à planta aparência bronzeada.

Muitos predadores controlam eficientemente as espécies de ácaros associados à berinjela; por isto, a pulverização de acaricidas ou inseticidas-acaricidas deve ser precedida de observação da lavoura. Deve ser examinado, por amostragem, se há sintomas característicos das espécies ou verificar, com auxílio de lupas de aumento de 20 vezes ou mais, se há ácaros nas folhas.

No controle através de produtos químicos (Tabela 1), a pulverização de solução acaricida deve ser dirigida à parte inferior das folhas, onde há maior concentração de ovos, ninfas e ácaros adultos.

Insetos

Ordem Hemiptera

  • Percevejo do tomate (Phthia picta)
  • Percevejo rendado (Corythaica cyathicollis)

Os percevejos são insetos sugadores que ocorrem em grande número e durante todo o ciclo da planta, independente da época de cultivo. Os frutos picados por este inseto podem murchar e apodrecer. Alta temperatura e baixa umidade relativa do ar favorecem o desenvolvimento populacional dos percevejos. Por serem polífagos, ou seja, não são específicos a uma única cultura, e tendo caráter migratório, exigem constante monitoramento, principalmente durante o pico de frutificação da planta. Estes insetos, cujo ciclo biológico é de 25 a 40 dias, são facilmente controlados com a aplicação de inseticidas. O percevejo-do-tomate, adulto, tem entre 14 e 20 mm de comprimento, é de cor marrom-escura ou preta, apresenta olhos vermelhos e uma faixa amarela no dorso. O percevejo manchador é bem maior, com 25-40 mm de comprimento e apresenta o dorso claro com manchas escuras.


As pulverizações devem ser condicionadas à presença do inseto na área, limitadas e cautelosas, pois podem causar desequilíbrio ecológico, o que favorecerá o desenvolvimento populacional dos ácaros. Em geral, são realizadas em intervalos quinzenais. Os percevejos são insetos sugadores que ocorrem em grande número e durante todo o ciclo da planta, independente da época de cultivo. Os frutos picados por este inseto podem murchar e apodrecer. Alta temperatura e baixa umidade relativa do ar favorecem o desenvolvimento populacional dos percevejos. Por serem polífagos, ou seja, não são específicos a uma única cultura, e tendo caráter migratório, exigem constante monitoramento, principalmente durante o pico de frutificação da planta. Estes insetos, cujo ciclo biológico é de 25 a 40 dias, são facilmente controlados com a aplicação de inseticidas. O percevejo-do-tomate, adulto, tem entre 14 e 20 mm de comprimento, é de cor marrom-escura ou preta, apresenta olhos vermelhos e uma faixa amarela no dorso. O percevejo manchador é bem maior, com 25-40 mm de comprimento e apresenta o dorso claro com manchas escuras.

Ordem Lepidoptera

  • Lagarta-rosca (Agrotis ipsilon)
  • Broca-pequena (Neoleucinodes elegantalis)
  • Broca-grande (Helicoverpa zea)
  • Lagarta-das-solanáceas (Mechanitis lysimnia)


A lagarta-rosca causa danos às plantas desde a fase de sementeira até a terceira semana após o transplante. Em geral, a praga está associada à presença de gramíneas nativas que proliferam com o mau preparo do solo. A oviposição é feita em gramíneas e as larvas presentes no solo cortam a base do caule da plântula, reduzindo o número de plantas na área. A identificação dos danos e do agente é bastante simples: basta cavar o local onde anteriormente se localizava a plântula cortada para encontrar a larva. Pulverizações com inseticidas devem ser feitas ao entardecer, período de maior atividade das lagartas, dirigindo o jato de solução ao solo, junto à base da planta. A cobertura do solo é contra-indicada, porque favorece a proteção das lagartas, sendo comum encontrar danos nos ponteiros de plantas com 30 a 40 dias de idade.


As brocas pequena e grande ocorrem no início do florescimento da berinjela. Estes insetos são mantidos sob controle por predadores de ovos como a vespinha (Trichogramma pretiosum) e raramente são considerados como pragas da berinjela. Os ovos da broca-pequena (lisos, brancos ou rosados) e da broca-grande (com sulcos, brancos) são colocados nos cálices das flores antes de sua abertura, e a eclosão das larvas se dá dois a quatro dias após a oviposição. As larvas recém-emergidas entram imediatamente nos frutos, sendo inatingíveis por inseticidas. A cada três dias deve-se inspecionar se há ovos nas inflorescências, verificando especialmente se há ovos parasitados (totalmente escuros). Caso necessário, aplicar inseticida, com o jato do pulverizador dirigido apenas para as flores, evitando a pulverização das folhas, de modo a preservar os inimigos naturais.


A lagarta das solanáceas alimenta-se de folhas de berinjela e de outros hospedeiros de diversas famílias botânicas e não representa risco para a lavoura de berinjela. Os adultos são borboletas coloridas de cores preta, amarela e vermelha, que voam lentamente.

Ordem Thysanoptera

  • Tripes (Thrips palmi)
  • Tripes (Frankliniella schulzei)
  • Tripes (Thrips tabaci)

Tripes são insetos com menos de 1 mm, de cor castanha ou branca, que eventualmente causam danos (cicatrizes) nos frutos de berinjela por estarem localizados nos cálices das flores e por alimentarem-se de frutos no momento em que são formados. São transmissores de viroses que causam perdas na produção. As perdas são reduzidas quando a lavoura é formada por mudas sadias. Os danos nos frutos podem ser evitados pelo exame das flores para verificar a presença de ninfas ou adultos de tripes. Pulverizações feitas para o controle das outras pragas da berinjela são eficientes para o controle do tripes.

Ordem Homoptera

  • Pulgão (Myzus persicae)
  • Mosca-branca (Bemisia argentifolii, também denominada Bemisia tabaci biótipo B)


Pulgões são observados em plantas de berinjela, sem contudo representar potencial e dano. Pulverizações feitas para o controle das outras pragas da berinjela são eficientes para o controle de pulgões.

A mosca-branca é ameaça à cultura pelo seu potencial biológico e ciclo de hospedeiros. A praga coloniza plantas de inúmeras famílias botânicas. Plantas daninhas como picão (Bidens pilosa), joá-de-capote (Nicandra physaloides), joá-bravo (Solanum viarum), amendoim bravo ou leiteiro (Euphorbia heterophylla) e datura (Datura stramonium), entre outras, são excelentes hospedeiras da mosca-branca. Em geral, esta espécie coloniza a berinjela a partir de outros hospedeiros como o algodão, repolho, tomate e plantas ornamentais. A migração é favorecida pelo estado vegetativo da planta e pelo vento. Populações elevadas de mosca-branca em plantas velhas são estimuladas a procurar plantas mais novas para novo processo de colonização. Períodos secos favorecem a multiplicação e a expansão populacional do inseto, enquanto chuvas fortes e constantes concorrem para diminuir o número de indivíduos. Considerando um ciclo de vida ovo-adulto entre 20 e 30 dias, condicionados por altas temperaturas e baixa precipitação, a espécie tem um potencial de até 15 gerações por ano. Quanto mais novas as plantas, mais protegidas deverão ser, principalmente diante do risco de viroses transmitidas pelo inseto. Plantas bem nutridas suportarão melhor os danos diretos do que plantas com deficiência mineral.

Para aumentar a eficiência dos produtos, a acidez da água de pulverização deve ser determinada, sendo que o pH deve estar abaixo de 7,2. Também tem sido recomendada a utilização de detergentes neutros, concentrados a 0,5%, ou em mistura com qualquer inseticida para o controle de mosca-branca.

Ordem Coleoptera

  • Vaquinha (Diabrotica speciosa)
  • Burrinho (Epicauta atomaria)


Coleópteros também são insetos polífagos, cujo ciclo se completa em outros hospedeiros. Vaquinha é um besouro de cor verde e amarela, com 0,5-0,7 cm, que pode causar danos às folhas de plântulas recém-emergidas ou transplantadas. O controle pode ser feito com pulverizações de inseticidas até 40 dias após o transplante ou com iscas atrativas de cabaça-verde (Lagenaria spp) tratadas com inseticidas de solo. A cabaça-verde contém alto teor de cucurbitacina, que atrai vaquinhas em geral.

Burrinho é um besouro de cor preta ou cinza escuro, com 0,9-1,2 cm, que se alimenta ocasionalmente de folhas de berinjela e de outras solanáceas. Sua ocorrência é muito rara, mas quando ocorre, é possível observar-se grupos de até 2.000 indivíduos. Pode ser notado nas lavouras entre agosto e outubro, danificando plantas em reboleira. Pelo seu número elevado, este inseto pode destruir muitas plantas rapidamente, porém, é facilmente controlado com a aplicação de inseticidas de contato, que deve ser feita apenas nas áreas de ocorrência do inseto.

Tabela 1. Inseticidas e acaricidas registrados para o controle de pragas da berinjela.

Ingrediente ativo

Nome

comercial

Classe

Toxicológica¹

Pragas

Betacyflutrin

Bulldock

II

lagarta-rosca

Carbaryl

Carbaryl
Sevin

III
III

broca-grande, broca-pequena, burrinho, lagarta-rosca; percevejo-do-tomate, percevejo-rendado, tripes, vaquinha

Cyhexatin

Cyhexatin

II

ácaro-rajado

Deltamethrin

Decis

III

broca-pequena, burrinho, lagarta-rosca, percevejo-rendado, vaquinha

Dimetoato

Agritoato

I

ácaro do bronzeamento, ácaro rajado, ácaro vermelho, pulgão

Enxofre

Sulficamp

IV

ácaro branco, ácaro-vermelho

E11-hezadecen-1-ol e Z3, Z6, Z9

Bio Neo

IV

broca pequena

Fenitrothion

Sumithion

II

burrinho, lagarta-das-solanáceas, pulgão, tripes, vaquinha

Imidacloprid

Confidor
Provado
III
III

mosca-branca, pulgão, tripes

 

Malathion

Malathion

III

broca-pequena, burrinho, percevejo-do-tomate, percevejo-rendado, pulgão, vaquinha

Methiocarb

Mesurol

II

tripes.

Parathion Methyl

Bravik

I

burrinho, lagarta-das-solanáceas, pulgão, tripes, vaquinha

Pirimicarb

Pi-Rimor

II

pulgão

Pyriproxifen

Tiger
Cordial

I
I

mosca-branca, tripes.

Tetradifon

Tedion

I

ácaro-branco, ácaro-do-bronzeamento, ácaro-rajado,  ácaro-vermelho

Thiacloprid

Calypso

III

mosca-branca, tripes

Tiametoxan

Actara

III

mosca-branca, tripes

Trichlorfon

Dipterex
Trichlorfon

II
II

broca-grande, broca-pequena, burrinho, lagarta-das- solanáceas, vaquinha

Fonte: Agrofit/MAPA (2005) e Agrotis (2005).
¹ CT = Classe Toxicológica.
I – Extremamente tóxico (faixa vermelha);
II – Altamente tóxico (faixa amarela);
III – Moderadamente tóxico (faixa azul); IV – Pouco tóxico (faixa verde).



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