Embrapa Embrapa Uva e Vinho
Sistema de Produção, 6
ISSN 1678-8761 Versão Eletrônica
Dez./2005
Sistema de Produção de Morango para Mesa na Região da Serra Gaúcha e Encosta Superior do Nordeste
Eduardo Pagot
Rosa Maria Valdebenito Sanhueza
Carlos Reisser Junior
George Wellington de Melo
Normam Simon
Pedro Augusto Rücker
Alexandre Meneguzzo
Milton Antônio Grassiani
Leneu Blauth
Japiassú de Melo Freire
Alexandre Hoffmann
Antônio Conte
Miguel Paiva
Preparo da área para plantio

O morangueiro pode ser cultivado de várias formas. No solo em condições normais, no solo com o emprego de cobertura plástica, em túneis baixo, em estufas e nos sistemas hidropônico e semi-hidropônico o uso de solo ou de substrato. A seguir, são apresentadas as principais práticas que devem ser seguidas para se obter uma cultura produtiva.

Escolha do local

A área de produção deve estar localizada em terrenos levemente inclinados, não ultrapassando 2 a 3% de inclinação, com boa exposição solar e adequada drenagem. Recomenda-se o uso de estufas e túneis baixos, porque permitem a produção de frutos de melhor qualidade, reduzindo as perdas por geadas ou excesso de chuvas.

Rotação de culturas

Os plantios de morangueiros não devem ser feitos em áreas onde foi mantido um viveiro ou uma área de produção desta mesma cultura, pois neste solo se acumulam agentes patogênicos que irão danificar as mudas do novo plantio. Para diminuir este risco, recomenda-se fazer na área uma rotação de culturas (adubação verde) que deverá incluir aveia (60 a 80 kg de sementes por ha) ou azevém (25 a 30 kg de sementes por ha) no inverno seguido de milho (30 kg de sementes por ha) ou milheto (15 kg de sementes por ha) no fim da primavera-verão. O milho ou o milheto é incorporado ao solo quando a cultura estiver florescendo. Quando do uso de leguminosas na adubação verde para o morango, como é o caso da ervilhaca, recomenda-se incorporar a ervilhaca ou outra leguminosa antes do florescimento, incorporando-se no solo a matéria verde dessas culturas. Após a incorporação das culturas deve ser feita a adubação orgânica (cama de aviário, esterco, composto orgânico, etc.) ou aplicar parte da adubação nitrogenada recomendada para a cultura.

Adubação de base

O pH ideal para a cultura do morangueiro é 6,0. A análise do solo (completa) deve ser feita no mínimo 120 dias antes do plantio, corrigindo-se a acidez com antecedência de pelo menos 90 dias. O calcário deve ser incorporado ao solo a uma profundidade de 20 cm. Quando a necessidade de calcário for superior a 3,0 toneladas (PRNT 100%) por hectare, a dose recomendada deverá ser parcelada em 2 vezes. A primeira aplicação deverá ser realizada no plantio da cobertura verde na primavera (setembro). A segunda aplicação deverá ser realizada quando da incorporação da massa verde (janeiro), juntamente com a adubação orgânica.
A adubação de correção é realizada com fósforo e potássio, corrigindo-se de acordo com as recomendações oficiais de adubação e de calagem adotadas nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina (Tabela 3). Quando o teor de boro estiver abaixo de 1,0 mg dm-3 (Extraído com água quente) deve-se fazer a correção. Recomenda-se aplicar 4,0 kg de boro por ha, em área total, juntamente com a adubação verde.

Tabela 1. Interpretação dos teores de fósforo e potássio
Interpretação do teor Faixa de Teor (mg dm-3) Doses de fósforo
(kg P2O5/ha)
Doses de potássio
(kg K2O/ha)
Fósfoto1 Potássio2
Muito-Baixo < 4,0 > 20 260 200
Baixo 2,1 - 8,0 21 - 40 220 160
Médio 8,1 - 12,0 41 - 60 180 120
Alto 12,1 - 24,0 61 - 120 120 80
Muito-Alto > 24,0 > 120 < 90 < 60
1. Solos com teor de argila variando de 21 a 40% (Classe 3).
2. Solos com CTCpH 7,0 variando de 5,1 a 15,0 cmolc dm-3.

Fonte: Comissão de Fertilidade do solo - RS/SC, 2004

A matéria orgânica é muito importante para o cultivo do morangueiro, devendo manter-se um nível superior a 3%. Esta é necessária para melhorar as condições físicas e biológicas do solo e proporcionar melhor aproveitamento dos adubos químicos. Solos com bom teor de matéria orgânica são mais leves, drenam melhor a água da chuva, armazenam mais água e têm maior vida microbiana. Os adubos orgânicos utilizados devem ser bem curtidos para evitar danos às plantas. A adubação deverá ser feita depois do sulcamento, incorporando com ancinho no momento do abaulamento do canteiro. Na cultura do morangueiro são recomendados de 30 m3/ha de cama de aviário contendo, no mínimo, 2,5% de nitrogênio .
O feijão miúdo consorciado ao milho apresenta problemas de incorporação devido à grande massa verde formada. A mucuna-anã é a leguminosa que tem proporcionado os melhores resultados na região de Pelotas, não apresentando problemas de incorporação da massa verde.

Preparo do canteiro

Após a lavração ou a subsolagem, deve-se preparar o canteiro. A adubação química deve ser feita depois do sulcamento, incorporando-se a terra com o ancinho, no momento de abaular os canteiros. No entanto, no Vale do Caí, é realizada a subsolagem (quando necessária), lavração, adubação química e orgânica, gradagem e posteriormente o encanteiramento.
O canteiro pode ser feito com o uso de um sulcador tracionado por microtrator. Também pode ser feito por um encanteirador, também tracionado por trator, que tem 3 ou 4 sulcadores e deixa 2 a 3 canteiros prontos a cada passagem ou através do uso da enxada rotativa que deixa, a cada passagem, um canteiro pronto.
A construção dos canteiros objetiva principalmente facilitar a drenagem visto que o cultivo é realizado durante o inverno (período chuvoso). A disposição dos canteiros na lavoura poderá ser feita no sentido da declividade do terreno, não havendo problemas de erosão causada pela chuva, visto que os canteiros são recobertos pelo filme plástico e, nos caminhos, deve ser colocada casca de acácia, acículas de Pinus ou outros materiais para prender as bordas do filme plástico. Não se recomenda o uso do engaço da uva como material de cobertura, pois o mesmo pode estar contaminado com Botrytis, um dos principais patógenos desta cultura. A largura do canteiro deverá ser de 80 a 90 cm no topo, ficando cerca de 50 a 60 cm destinado ao caminho. A altura do canteiro deverá ser de 20 a 30 cm nos terrenos planos e 15 no cm nos terrenos inclinados. É fundamental abaular o canteiro , deixando o centro 15 cm mais alto que os lados. Consegue-se isto retirando a terra do caminho e jogando-a para cima do canteiro com o auxílio de uma pá. Depois, com o uso de um ancinho a terra é puxada para as bordas, dando a forma abaulada.
A parte central do canteiro deve ser mais alta para não empoçar a água da chuva ou da irrigação, facilitando o escorrimento pelo plástico e a entrada de água através dos furos do filme onde estão as mudas. Além disso, não irá ocorrer excesso de umidade no solo. Outra razão deste preparo do canteiro, é que o mesmo facilita o assentamento do filme plástico no canteiro, não ficando frouxo e vindo a vibrar, sacudindo-se com o vento.
Para que o filme plástico fique bem assentado no canteiro, deve-se passar o ancinho e destorroar a terra para não permanecerem torrões ou pontas que venham a perfurar o filme e ocasionar menor duração no canteiro.

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