Embrapa

Embrapa Uva e Vinho
Sistema de Produção, 3
ISSN 1678-8761 Versão Eletrônica
Jan/2003

Sistema de Produção de Pêssego de Mesa na Região da Serra Gaúcha

João Bernardi
Alexandre Hoffmann

Início

Clima

Cultivares
Obtenção e plantio da muda
Preparo do solo, calagem e adubação
Condução,poda e raleio
Principais Pragas
Doenças fúngicas e bacterianas do pessegueiro
Doenças virais do pessegueiro
Doenças causadas por nematóides na cultura do pessegueiro
Cuidados na aplicação de agrotóxicos
Tecnologia de aplicação de agrotóxicos
Manejo e pós-colheita de pêssegos

Custos e rentabilidade

Referências
Glossário


Expediente
Autores
Condução, poda e raleio

     A obtenção de frutas de qualidade é um objetivo constantemente estabelecido pelo produtor, já que está diretamente relacionado à rentabilidade do pomar. O manejo da planta, com ênfase na poda e no raleio, é um dos fatores que contribuem de forma significativa para a colheita de frutas de qualidade superior, expressando assim o potencial de cada cultivar.

Sistema de condução
Poda
Raleio de frutos

Sistema de Condução

seta

    Nos diversos países produtores, o pessegueiro é conduzido em diferentes formas da copa. Os principais são a condução em taça, em "Y", em líder central, bem como suas variações que originam sistemas com características, vantagens e desvantagens específicas.
     No Brasil, como também na Serra Gaúcha, a forma de condução predominante é a taça ou vaso aberto. Esse sistema é recomendado para pessegueiros na Serra Gaúcha, pois, além de possibilitar elevada produtividade, boa insolação da copa e dos frutos, apresenta fácil condução e domínio pelo produtor. Adicionalmente, é desse sistema de condução que é encontrada a maior parte das informações da pesquisa. Esse sistema caracteriza-se pela condução da copa com 4 a 6 ramos primários ou pernadas, sobre os quais localizam-se os ramos produtivos. Os ramos primários são emitidos a partir de pontos do tronco próximos entre si, localizados a cerca de 30 a 50 cm do solo. A distribuição uniforme das pernadas em diversas direções e o pequeno tamanho e diâmetro dos ramos produtivos permite uma elevada insolação de toda a copa, bem como uma alta capacidade de produção por planta, além de favorecer a exposição e qualidade dos frutos. O alcance dos tratamentos fitossanitários é favorecido nesse sistema. Normalmente, utilizam-se espaçamentos em torno de 4,5 a 6 metros entre linhas e entre 2,5 a 4 metros na linha de plantio, originando-se densidades compreendidas entre 417 a 888 plantas por hectare.
     Outros sistemas estão sendo testados, tanto pela pesquisa quanto por produtores de pêssego, visando aumentar a densidade de plantio, diminuir o tamanho das plantas e o período improdutivo do pomar, especialmente o sistema em "Y" e o líder central. Essencialmente, o objetivo dos sistemas alternativos de condução é o atingimento da máxima capacidade produtiva da planta no menor período de tempo possível. Com isso, reduz-se o tempo em que a planta fica improdutiva, no qual somente há despesas sem uma contrapartida em produção, atrasando o momento em que o pomar passa a proporcionar lucro para o produtor. Em adição, outros objetivos podem ser alcançados: facilidade de operacionalização de práticas como poda, raleio e colheita, aumento da eficiência dos tratamentos fitossanitários, dentre outros.
     Entretanto, esses sistemas encontram-se, para as condições da Serra Gaúcha, ainda em estudo, sendo que a sua recomendação poderá ocorrer somente após a validação desses sistemas pela pesquisa, incluindo fatores essenciais como: uso de porta-enxertos ananizantes, definição do sistema de condução, técnicas de redução do vigor da planta, entre outras.

Sistema de condução em taça
Fig. 1. Sistema de condução em taça (Foto: J. Bernardi)
Poda

seta

    O pessegueiro é uma planta frutífera que necessita de podas anuais, para a produção de bons frutos, bem como para a regularização da produção, pois produz em ramos de ano, ou seja, ramos novos.
     Pode-se dividir a poda do pessegueiro em:

Poda de Formação: Visa orientar a formação da copa para sustentar futuras produções, aproveitando melhor o potencial de produção da planta. É executada desde o plantio da muda até que a planta tome o tamanho e o formato desejável. Deve ser realizada em um ou dois anos, para formação de um dos três tipos de copa: taça aberta, "Y" e líder central, sendo a primeira a mais utilizada.
    A poda de formação do pessegueiro deve ser executada conforme segue:

Ano Época Operação
1 Julho - Agosto Plantio e desponte da muda na altura de 50 a 60 cm, logo acima de uma gema. Brotações existentes abaixo da região do enxerto devem ser eliminadas, as localizadas acima, devem ser encurtadas em 10 cm do seu comprimento e podadas junto a uma gema voltada para baixo.
1 Setembro - Dezembro Com o desenvolvimento das brotações, são escolhidos 4 a 5 ramos bem distribuídos no tronco separados de 10 a 15 cm. No período vegetativo, as pernadas devem ser inclinadas com ângulo de 45° em relação à horizontal (com auxílio de varas ou amarras). As demais brotações que surgirem são indesejáveis e devem ser eliminadas.
2 Julho As pernadas são encurtadas em 10% se forem vigorosas e em 25% se fracas. Esta poda deve ser feita junto a uma gema vegetativa situada na parte de baixo do ramo ou, de preferência, junto a um ramo secundário inclinado. O desponte dos ramos vegetativos pode ser feito em plantas jovens (1 a 2 anos) para obter-se a altura adequada da planta.
2 Setembro - Dezembo Até a altura de 0,3 a 0,4 m da inserção com o tronco, todas as brotações que surgirem deverão ser eliminadas. Se a planta for vigorosa, a poda verde poderá ser realizada visando adiantar a formação da planta.
3 e 4 Julho As pernadas são novamente encurtadas e conduzidas, conforme o princípio utilizado no ano anterior, porém com ângulos de aberturas maiores (até 20° em relação à horizontal). Quando os ramos de duas plantas vizinhas encontrarem-se próximos, está terminada a poda de formação.


     A frutificação durante a formação da copa deverá ser administrada com bom senso, uma vez que a mesma compete com a formação da planta. No segundo ano, a planta poderá produzir em torno de 5 quilos por planta sem causar problema de desenvolvimento. No terceiro ano, 10 quilos, no quarto ano 20 quilos por planta. A partir do quinto ano a produção por hectare deverá ser em torno de 20 toneladas por hectare, podendo produzir mais. Isso depende da qualidade da muda, do manejo das plantas, do clima de cada ano e da sanidade das plantas.

Sistema de condução em Y
Fig. 2. Sistema de condução em Y (Foto: J. Bernardi)

Poda de frutificação: Após a entrada em frutificação, a planta deve ser podada com frequência, em função do hábito de frutificação da espécie. O pessegueiro frutifica em ramos novos, de um ano, e, anualmente, ramos novos devem ser emitidos para serem os produtores no ciclo subsequente.

Os principais objetivos da poda de frutificação são:

  • deixar um número adequado de ramos produtivos, para obter equilíbrio entre a produção e a vegetação
  • manter a produção mais próxima dos ramos principais
  • obter maior quantidade de frutos com boa qualidade para comercialização
  • diminuir o trabalho de raleio
  • eliminar ramos com problemas ou mal localizados
  • formar novos ramos produtivos para o ciclo seguinte
  • controlar a estrutura e a altura das plantas
  • facilitar o manejo fitossanitário da planta, promovendo melhor insolação e arejamento da copa
  • em plantas jovens (1 a 2 anos), desenvolver ramificações primárias fortes e bem localizadas

A melhor época para a poda de frutificação é no inchamento das gemas, que ocorre logo após o inverno. Preferencialmente, a poda de frutificação, realizada nessa época, deve ser uma complementação da poda de outono, para evitar cortes severos nesse período, o que provoca brotações vigorosas e, por consequência, o desequilíbrio da planta. Se bem realizada a poda de outono, a poda de frutificação consiste em poucos cortes.

A poda de frutificação deve ser realizada conforme segue:

1- Eliminação dos ramos doentes, secos, quebrados, machucados, mal situados, próximos entre si e ramos ladrões (ramos vigorosos, com orientação vertical para cima ou para baixo do ramo)

2- Eliminação e/ou encurtamento de ramos que já produziram, visando a renovação de ramos de produção para o próximo ano. Os ramos produtivos podem ser despontados da seguinte forma, de modo a deixar os ramos produtivos com cerca de 40 cm de comprimento, em função da cultivar, do estado nutricional da planta e da distância entre as gemas floríferas:

desponte de 1/4 do ramo (poda longa)
desponte de 1/3 do ramo (poda média)
desponte de 1/2 do ramo (poda curta)

3- Seleção de ramos mistos de ano que permanecerão e deverão produzir na safra atual

Devem ser evitados cortes de ramos grossos, pois isso pode desequilibrar a planta, prejudicando a sua capacidade produtiva. Em plantas adultas, não se deve despontar o ramo da ponta da pernada, para favorecer a brotação melhor distribuída, principalmente na região mediana da planta. Caso contrário, haverá crescimento dominante na parte superior da pernada, fazendo com que os ramos novos, que são produtivos, fiquem localizados predominantemente na periferia da copa.

Poda de outono: A poda de outono serve para dar uma estrutura adequada à planta, com ramos bem distribuídos em toda planta para que produza o máximo com a melhor qualidade, e auxilia muito no estabelecimento do equilíbrio entre vegetação e frutificação. Além disso, antecipa, com vantagens, os cortes que seriam feitos no inverno, já que os cortes feitos nessa época não resultam em brotações vigorosas, ao contrário do que ocorre com a poda hibernal.
     A poda de outono deve ser feita logo após a colheita ou no máximo até final do mês de abril e tem por objetivo eliminar:

  • ramos mal colocados
  • ramos com cancros
  • ramos "ladrões"
  • "forquilhas"
  • ramos que sombreiam outras partes da planta.

     A poda de outono deve ser efetuada conforme segue:

1- Analisar o vigor da planta e a presença de ramos grossos (mais de 2 cm de diâmetro)

2- Retirar ramos "ladrões" (com crescimento vegetativo em excesso)

3- Retirar ramos doentes e em posição inadequada

4- Não podar os raminhos que frutificaram no ano anterior; esses devem ser podados no inverno, na poda de frutificação. Nos cortes feitos nessa época a brotação, na primavera, ocorre com menos vigor do que se forem feitos no inverno

     A proteção dos cortes com algum produto fungicida é uma prática importante contra a entrada de doenças que causam cancros e gomose. O produto para passar nos cortes pode ser uma pasta, a qual pode ser passada com um pincel, recobrindo toda parte cortada. Esta pasta pode ser feita com:

  • Mistura de Tebuconazole (10 ml) e tinta plástica (1 litro)
  • Mistura de sulfato (2 kg), cal (2 kg) e água (10 litros)
  • Mistura de calda bordalesa ("verderame") (10 ml) e tinta plástica (1 litro)
  • Outras pastas caseiras ou encontradas no mercado.

    O cobre não deve ser passado puro ou muito forte nas feridas, principalmente nos ramos novos porque provoca exsudação e com isso haverá retirada da pasta ou pode causar alguma fitotoxidez.
     Após a poda, os ramos podados deverão ser retirados do pomar, de modo a não se tornarem foco para proliferação de doenças. Preferencialmente, esses ramos devem ser queimados ou enterrados. Uma alternativa à retirada dos ramos é a roçada com trituração dos ramos, facilitando o seu apodrecimento e redução do risco de contaminação das plantas.

Poda verde: Essa poda é feita na fase vegetativa da planta com o objetivo de melhorar a qualidade dos frutos e a produtividade das plantas. A poda verde é necessária para retirar brotos vigorosos voltados para o interior da copa, que causam sombreamento dos frutos e da planta, e ramos "ladrões", com o objetivo de aumentar a aeração e entrada de luz. Com essa poda procura-se manter uma produção nas camadas inferiores.

Planta necessitando poda verde
Fig. 3. Planta necessitando poda verde (Foto: J. Bernardi)

Poda de renovação: Como o próprio nome diz, consiste em renovar os ramos básicos das plantas já formadas ou velhas, dando, a partir daí, uma conformação renovada. É feita uma poda drástica no inverno, deixando apenas os ramos primários com 30 - 50 cm de comprimento. Após a poda, ocorrerão brotações, as quais deverão ser conduzidas seguindo os padrões já estabelecidos.

Poda de renovação
Fig. 4. Poda de renovação (Foto do livro: Medeiros e Raseira, 1998)

     O raleio de frutos na cultura do pessegueiro é uma das práticas mais importantes para obter-se produção de frutos com boa qualidade e com rentabilidade satisfatória. Em geral, a planta fixa muito mais frutos do que o necessário para a produção com qualidade. Como os frutos competem entre si e também com o crescimento vegetativo por água e nutrientes, o desenvolvimento das plantas e dos frutos fica prejudicado com o excesso de frutos.
     De um modo geral, são necessárias 30 a 40 folhas por fruto, e o raleio é feito com base na capacidade produtiva da planta e no tamanho do fruto característico de cada cultivar.
     Os objetivos do raleio são:

  • aumentar o tamanho, a qualidade e a coloração dos frutos. Com o raleio, a competição entre frutos é reduzida, favorecendo o seu crescimento. Cada fruto necessita em torno de 30 a 40 folhas para a sua adequada formação e crescimento.
  • reduzir o custo de colheita, devido à menor quantidade de frutos a serem colhidos.
  • evitar quebra de ramos pelo peso excessivo.
  • padronizar a qualidade dos frutos na colheita, pela eliminação de frutos danificados por pragas ou doenças ou com algum defeito.
  • manter equilíbrio entre a vegetação e a frutificação da planta.
  • reduzir o risco de alternância na produção em anos consecutivos.
  • diminuir o ataque de pragas e doenças pelo aumento do espaço entre um fruto e outro.
  • melhorar a eficiência dos tratamentos contra pragas e doenças.

     A época de maior resposta ao raleio é o período compreendido entre a floração até 30 dias após a queda das pétalas. Porém, quando os frutos são raleados muito precocemente, pode haver gasto excessivo de mão-de-obra, já que, neste período, há queda natural dos frutos. Por esta razão, o raleio pode ser feito mais tardiamente. Recomenda-se fazer o raleio quando os frutinhos atingirem de 1,5 a 2 cm de diâmetro, ou a partir de 35 a 40 dias após a floração. Nesse momento, pode-se deixar a quantidade desejada e definitiva de frutos por planta.
     É importante e indispensável deixar os frutos distantes um do outro. Deve-se evitar deixar 2 ou 3 frutos juntos, porque ali se alojam insetos e as doenças são mais danosas. Começa-se o raleio pelos frutos doentes, menores, mal colocados e os da parte de cima do ramo. Na prática deve-se deixar um fruto a cada 5 a 8 cm e, nos raminhos finos, deixar 1 fruto ou no máximo 2.

seta    

Copyright © 2003, Embrapa