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Embrapa Uva e Vinho
Sistema de Produção, 3
ISSN 1678-8761 Versão Eletrônica
Jan/2003

Sistema de Produção de Pêssego de Mesa na Região da Serra Gaúcha

Alexandre Hoffmann
Jair Costa Nachtigal
João Bernardi

Início

Clima

Cultivares
Obtenção e plantio da muda
Preparo do solo, calagem e adubação
Condução,poda e raleio
Principais Pragas
Doenças fúngicas e bacterianas do pessegueiro
Doenças virais do pessegueiro
Doenças causadas por nematóides na cultura do pessegueiro
Cuidados na aplicação de agrotóxicos
Tecnologia de aplicação de agrotóxicos
Manejo e pós-colheita de pêssegos

Custos e rentabilidade

Referências
Glossário


Expediente
Autores
Obtenção e plantio da muda

     A qualidade da muda é fator essencial para o estabelecimento de um pomar produtivo, capaz de produzir frutos de qualidade durante longo tempo e rentável para o produtor. A escolha de uma muda de baixa qualidade, mesmo que inicialmente proporcione redução no custo de implantação do pomar, poderá trazer sérios problemas futuros. Daí a razão da obtenção de uma muda a partir de viveiristas qualificados e devidamente registrados.
     A decisão sobre adquirir a muda ou produzí-la na propriedade é uma decisão importante a ser tomada quando definida a implantação do pomar. Para tanto, alguns critérios devem ser considerados:

  • custo de aquisição ou de produção da muda;
  • possibilidade de obter material propagativo (caroços de porta-enxertos e borbulhas) com perfeita sanidade;
  • estrutura de produção para viveiro (mão-de-obra, instalações, área adequada, irrigação, dentre outros).

     A falta de condições mínimas para a produção de mudas de qualidade implica a opção pela aquisição da muda. Além disso, em função de produzir mudas em escala comercial, o viveirista pode disponibilizar mudas de alto padrão a custo competitivo devidamente fiscalizada por órgãos oficiais.      É importante, ainda, considerar que, se a decisão for pela produção de mudas para uso próprio, essas não poderão ser comercializadas, a menos que o produtor efetue seu registro junto à Secretaria da Agricultura.

Obtenção da muda de viveiristas
Produção da muda
Plantio da muda

Obtenção da muda de viveiristas

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     Caso a decisão do produtor seja adquirir a muda, é necessário buscá-la junto a viveiristas idôneos, qualificados e registrados junto à Secretaria da Agricultura. Normalmente, é feita a encomenda da muda antes da fase de enxertia, que ocorre a partir de novembro. Essa encomenda é importante para evitar a falta de mudas ou a aquisição de mudas de baixo padrão qualitativo.
     As mudas deverão atender aos requisitos mínimos de qualidade, estabelecidos na legislação da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Rio Grande do Sul (Portaria N° 302/98). Os padrões mínimos de uma muda de pessegueiro são os seguintes:

Altura do enxerto 10 a 20 cm, medidos a partir do colo da planta
Diâmetro mínimo acima do ponto de enxertia 1 cm, medido a 5 cm do ponto de enxertia
Diferença máxima de diâmetro entre enxerto e porta-enxerto 0,6 cm, medidos a 5 cm do ponto de enxertia
Altura mínima da haste principal 50 cm, medidos a partir do colo da planta
Comprimento mínimo das pernadas (se houver) 25 cm, não lascadas
Sistema radicular Bem desenvolvido, raiz principal com mínimo de 20 cm de comprimento e raízes secundárias abundantes, não enoveladas ou torcidas
Idade máxima da muda 27 meses
Características gerais Muda de raiz nua com raízes protegidas com material úmido e não fermentável ausência de sintomas de pragas ou doenças método de propagação: enxertia, estaquia ou micropropagação

 

Produção da Muda

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    Embora o pessegueiro possa ser propagado por diversos métodos, comercialmente, a obtenção de mudas é totalmente feita pela enxertia da cultivar produtora sobre um porta-enxerto proveniente de sementes.
     Esse método de propagação apresenta muitas vantagens, como a facilidade de obtenção da muda, o vigor do porta-enxerto, a longevidade da planta e, principalmente, o rendimento em viveiro. Entretanto, vários são os inconvenientes, como necessidade de enxertador com habilidade, tempo para obtenção da muda, variabilidade das plantas em função da propagação sexuada do porta-enxerto, dentre outros.
     Esse fato tem induzido à realização de muitos trabalhos visando alterar o método de propagação convencional, tais como a estaquia da cultivar-copa e/ou do porta-enxerto, a seleção de porta-enxertos clonais e a micropropagação. Tais alterações, embora promissoras e com algumas experiências positivas em outros países, ainda não foram incorporadas ao sistema de produção de mudas de pessegueiro no Brasil, possivelmente pelos resultados variáveis em função da cultivar e da própria necessidade de investimentos em infra-estrutura do viveiro para obtenção de resultados economicamente viáveis.
     A seguir, está apresentado o procedimento para produção de mudas pelo método convencional.

Produção do porta-enxerto: No Rio Grande do Sul, pela proximidade de indústrias processadoras de pêssegos, predomina a utilização de caroços de cultivares tardias, após seu descarte pela indústria. A preferência por essas cultivares deve-se ao tempo mais prolongado para maturação do embrião durante o desenvolvimento do fruto, já que cultivares muito precoces tendem a apresentar problemas de germinação e baixo vigor das plântulas. O desempenho dos porta-enxertos provenientes de cultivares tardias tem sido bom, embora a mistura de cultivares, quando do plantio dos caroços no viveiro, possa acarretar desuniformidade das futuras mudas no pomar.
     Normalmente, faz-se referência a cultivares como Aldrighi e Capdeboscq para essa finalidade, porém, com o surgimento de cultivares mais competitivas para a indústria, a obtenção de caroços dessas cultivares é menos freqüente, razão pela qual o uso de outras cultivares tardias tem aumentado nos últimos anos.
      Um bom porta-enxerto é aquele que é de fácil propagação, apresenta rápido desenvolvimento, é tolerante a pragas e doenças, é compatível com a cultivar-copa e confere boas características à planta enxertada.
     Na região Sudeste do Brasil, predomina o uso do porta-enxerto 'Okinawa', devido à sua resistência a nematóides, principalmente aos do gênero Meloidogyne; elevada produtividade e capacidade de germinação, bem como o bom desempenho como porta-enxerto para pessegueiro, nectarineira e ameixeira.
     Embora já existam diversos trabalhos de pesquisa no Brasil, uma das maiores dificuldades com relação à produção de mudas é a falta de opção de materiais que possam ser usados como porta-enxertos, principalmente levando-se em consideração as variações nas condições edafoclimáticas que existem entre as principais regiões produtores de pêssegos. Em outros países, como Itália, França, Estados Unidos, Espanha e Chile, existem dezenas de materiais, clonais ou propagados por sementes, que podem ser utilizados como porta-enxertos.

     Para a obtenção do porta-enxerto, devem ser observadas as seguintes etapas:

Coleta e preparo da semente: As sementes devem ser coletadas, preferencialmente, de plantas matrizes sadias, produtivas e de cultivares tardias ou de meia-estação. Os frutos devem ser maduros, bem formados e sadios, o que favorece a qualidade fisiológica da semente. Após a colheita dos frutos, os caroços são extraídos manualmente (quando estes forem obtidos de cultivares com polpa não-aderente ao caroço) ou com uso de descaroçador (quando de polpa aderente ao caroço). Convém não armazenar caroços com resto de polpa por longo tempo, pois a fermentação pode elevar a temperatura das sementes e aumentar a contaminação com fungos e bactérias, desfavorecendo a qualidade das mesmas. Por isso, é conveniente lavar os caroços logo após a sua extração, retirando os restos de polpa aderidos. Outra maneira de se efetuar a limpeza dos caroços consiste em espalhá-los em camadas com cerca de 20 cm de altura, fazendo duas remoções diárias das camadas de caroços, durante 3 a 7 dias. A seguir, os caroços são submetidos ao tratamento para quebra de dormência.

Quebra de dormência: As sementes das espécies frutíferas de clima temperado necessitam de um período de estratificação sob frio úmido, que varia de espécie para espécie e também entre cultivares (dormência fisiológica). Além da dormência fisiológica, as sementes de pessegueiro apresentam dormência física, devido à presença do envoltório duro e impermeável do caroço. Assim, para se obterem mudas de qualidade, torna-se necessária a estratificação das sementes (caroços ou amêndoas) em substrato umedecido sob condições de ambiente frio (5-12 ºC) por algumas semanas, antes da sua semeadura. Há, principalmente, 2 métodos para quebra de dormência:

a) estratificação de caroços - utilizam-se caixas com dimensões em torno de 60 x 40 x 50 cm, apresentando no fundo orifícios com aproximadamente 1 cm de diâmetro, para drenagem da água de irrigação. Dentro das caixas, os caroços são colocados em camadas alternadas com o substrato (areia, serragem curtida e de madeira não-tratada ou solo misturado com areia ou serragem), tratando-se cada camada com um fungicida (Captan, Tebuconazole) e, em seguida, as caixas são colocadas em geladeira ou em câmara fria ou, ainda, deixadas em locais sombreados. O substrato deve ser umedecido periodicamente e após um período de aproximadamente 60 dias, os caroços são retirados, procedendo em seguida a quebra do endocarpo (caroço) para obtenção da amêndoa, com auxílio de um torno manual ou martelo.
    Em regiões frias e úmidas, a estratificação dos caroços também pode ser realizada à sombra de árvores ou no interior de pequenas matas, onde os caroços são colocados em camadas com, no máximo, 20 cm de altura, até serem levados para a sementeira ou viveiro.

b) estratificação de amêndoas - esse método é mais rápido e mais eficiente, podendo a quebra de dormência ocorrer com 30 ou 40 dias de estratificação. Inicia-se com a quebra dos caroços e posterior estratificação das amêndoas em camadas umedecidas de algodão, papel de filtro ou vermiculita, contidos em bandejas. As amêndoas devem ser tratadas com fungicidas. Essas bandejas são levadas à geladeira ou câmara fria a 5-10 ºC por 30 a 40 dias, quando estarão aptas à semeadura. Pode-se ainda associar esse método ao tratamento com ácido giberélico (GA3) a 20 mg. L-1, de modo a incrementar o percentual de amêndoas germinadas. As principais desvantagens da estratificação de amêndoas são o custo, já que o material tem que permanecer em um ambiente refrigerado, a dificuldade de armazenamento de grande quantidade de amêndoas e o aumento do risco de contaminação por fungos.

Semeadura e manejo do porta-enxerto: Tão logo for quebrada a dormência, procede-se à semeadura, a qual pode ser feita utilizando-se os caroços ou as amêndoas. O método preferencial é pelo uso de amêndoas, devido à germinação ocorrer em menor tempo e com uma maior uniformidade do que quando usados caroços. O tratamento das amêndoas com fungicidas antes da semeadura é recomendável.
     As sementeiras devem ser bem preparadas. Devem, em geral, apresentar largura de 1 a 1,2 m e comprimento variável. É recomendável, ainda, a solarização ou o tratamento do solo antes da semeadura. A adubação da sementeira deve ser realizada com cautela, evitando-se excessos, principalmente de nitrogênio. A semeadura é feita em sulcos com 2-3 cm de profundidade, espaçados entre si em 20 cm, sendo as amêndoas espaçadas de 8 a 10 cm e os caroços colocados lado a lado. Logo após a semeadura, procede-se à cobertura das sementes com areia e à cobertura do solo com palha. Tão logo se inicie a emergência, a palha deve ser retirada.
     A semeadura em recipiente é utilizada especialmente para amêndoas, podendo-se utilizar tubetes, bandejas de isopor e sacos plásticos. Nesse caso, o preparo do substrato deve receber atenção especial, o qual deve ser suficientemente poroso e capaz de reter água em quantidade adequada, bem como não conter inóculos de patógenos ou propágulos de invasoras.
     A semeadura direta em viveiro é utilizada para o plantio de caroços, sendo utilizado um espaçamento entre linhas de 1 a 1,40 m e 170 a 200 caroços/metro linear. Após a emergência, faz-se um raleio das plantas, obedecendo, dentro do possível, um espaçamento de 0,20 m entre plantas.
     No caso da sementeira ou da utilização das mudas descartadas no raleio, a repicagem para o viveiro deve ser realizada logo após a emergência, ainda com os cotilédones e tomando-se cuidado para que as raízes fiquem bem distribuídas, sem dobras, sendo as mudas plantadas na mesma profundidade que se encontravam na sementeira.
     As mudas produzidas em recipientes, por serem repicadas com torrão, podem ser levadas ao viveiro com altura em torno de 15 cm, utilizando-se espaçamento de 0,20 a 0,40 m x 0,80 a 1,0 m.
     Os principais cuidados na condução das mudas são: desbaste das mudas em excesso e pouco desenvolvidas; desbrotas para condução em haste única; adubações; controle de plantas invasoras, de pragas e de doenças; irrigações, quando necessário. No que se refere à adubação, utilizam-se fertilizantes nitrogenados, os quais são aplicados em torno de 30 a 80 dias após a repicagem.

Produção da muda enxertada: O método de enxertia mais utilizado na propagação do pessegueiro é a borbulhia de gema ativa realizada no período de primavera-verão e utilizando-se o método de T invertido. Antes da realização da enxertia, os porta-enxertos, que devem estar com aproximadamente 70 cm de altura e 6 mm de diâmetro, devem sofrer uma toalete, devendo ser retiradas as brotações até uma altura de 30-40 cm. Logo após, procede-se à enxertia. Antes ou durante a enxertia, faz-se o tombamento da copa do porta-enxerto, a 10 cm do ponto de enxertia. Em torno de 20 a 30 dias após a enxertia, faz-se o corte definitivo da copa do porta-enxerto e remoção da fita plástica. Após, efetuam-se os tratos culturais necessários para o bom desenvolvimento das mudas, como adubações, capinas, controle de pragas e doenças e irrigações. Em geral, a muda em raiz nua é comercializada no inverno seguinte.
     Alternativamente, podem ser realizadas as enxertias de gema dormente (durante o outono), ou de garfagem (durante o inverno). Ambos os casos são adotados visando o aproveitamento de porta-enxertos cuja enxertia de primavera-verão não teve êxito, ou que não apresentavam diâmetro adequado, ou ainda para a maximização do uso de material propagativo da cultivar-copa. Na borbulhia de gema dormente, ocorre o pegamento, porém não há brotação, a qual somente ocorrerá após a saída da dormência, durante o ciclo seguinte. O pegamento normalmente é elevado, porém a gema pode morrer durante o inverno, especialmente se, pela ocorrência de temperaturas elevadas durante o outono, ocorrer a brotação antecipada da cultivar-copa. Já a garfagem apresenta o inconveniente de estar associada à ocorrência de gomose na muda, o que pode comprometer a sua sobrevivência.
     Em média, o tempo de produção da muda no Rio Grande do Sul é de 7 meses para a borbulhia de gema ativa (entre novembro e julho), 15 meses para a borbulhia de gema dormente (entre março e julho do ano seguinte) e 12 meses para a garfagem.

Plantio da muda

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    Após definida a cultivar e a forma de obtenção da muda, bem como efetuado o preparo preliminar da área do futuro pomar, deve-se proceder uma análise do solo para as correções de pH e fósforo. Essas correções devem ser realizadas com, no mínimo, 30 dias antes do plantio das mudas e, de preferência, em toda a área do pomar. Em solos com baixo teor de matéria orgânica, pode-se utilizar a aplicação de composto orgânico ou esterco, conforme análise do solo, 30-60 dias antes do plantio.
     Entre o arranquio das mudas do viveiro e o plantio, deve transcorrer o menor intervalo possível. Durante esse período, deve-se manter as mudas umedecidas e em local sombreado, preferencialmente com as raízes em areia úmida.
    A época mais adequada para o plantio é quando as mudas encontram-se em repouso vegetativo. Normalmente, o plantio ocorre entre julho e agosto. Não se recomenda a abertura de covas para o plantio em substituição ao preparo do solo (subsolagem, aração e gradagem), pois isso limita o desenvolvimento das raízes, e por consequência, das plantas.
     

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