Embrapa Meio-Norte
Sistemas de Produção, 1
ISSN 1678-8818 Versão Eletrônica
Jan/2003
Agricultura Familiar
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Produtividade da Mandioca e Agregação de Valores

Na tabela 9 são apresentados alguns dados de produtividade de raízes e de farinha de mandioca. Observa-se, pelos dados, que os valores de produtividade foram menores no segundo ano agrícola, em comparação com os do ano anterior. Tal fato teve como causa um período de estiagem relativamente longo que ocorreu na região e que comprometeu, em parte, a produtividade da lavoura da mandioca.

Tabela 9. Médias referentes à produção de raízes tuberosas e de farinha de mandioca cultivada na Comunidade Boi Manso, Regeneração, PI, nos anos agrícolas 2000/2001 e 2001 e 2002.

As raízes tuberosas de mandioca colhidas nos sistemas de produção agrícola consorciados podem ser transformadas em farinha e/ou goma. Tal processo demanda uma mão-de-obra de cerca de 12 homens/dia para cada tonelada de raízes transformadas (Tabela 9). Dessa forma, recomenda-se, também, avaliar o custo de transformação da matéria-prima (raiz de mandioca) nos referidos produtos, a fim de verificar a viabilidade do processo. O custo referente ao processo de transformação de 1.000 kg de raízes frescas em farinha de mandioca, realizado na Comunidade Boi Manso, encontra-se na Tabela 10.

Tabela 10. Custo de transformação de 1.000kg de mandioca em farinha e goma, na Comunidade Boi Manso, Regeneração, PI, em 2001.


As raízes, colhidas e descascadas, devem ser levadas ao ralador para serem transformadas em massa. O ralador utilizado consiste em modelo composto de um cilindro de madeira, provido de lâminas de aço serrilhadas, fixadas paralelamente entre si e no sentido do eixo. As raízes são empurradas contra o cilindro, que gira a uma velocidade de 1.200 a 1.500 rpm, acionado por um motor.

Cada 100 kg de massa de raízes de mandioca raladas contêm, aproximadamente, 60-70 kg de água, que deverão ser eliminados antes do processo de secagem, a fim de facilitar a operação e evitar a formação de goma. Dessa forma, procede-se à operação de prensagem, que é executada em prensa manual de parafuso de madeira.

A massa prensada apresenta-se na forma de um bloco. Dessa forma, após a prensagem, a massa deve ser esfarelada com o uso de uma peneira (Figura 6) e levada ao forno para grolagem.

 
Figura 6. Peneiramento da massa para grolagem, na Comunidade Boi Manso, Regeneração, PI, em 2001.

A grolagem consiste na pré-secagem da massa, em camadas que devem ser reviradas lentamente até a formação de pequenos aglomerados, os quais podem ser esfarelados, posteriormente, em um triturador de forragem munido de peneira.

Após o esfarelamento, a massa deve ser distribuída em camadas finas sobre a chapa aquecida do forno e mexida sem interrupção até a secagem conveniente, de onde é retirada e passada em uma peneira, para homogeneização da farinha. A partir dessa operação, a farinha deve ser retirada para resfriamento e ensacada. O tamanho e a uniformidade dos grânulos de farinha são determinados pelo tamanho da malha da peneira utilizada, sendo muito freqüente o uso de peneiras com malha 06/22.

Após a secagem e resfriamento, recomenda-se que a farinha seja pesada e dividida em quantidades menores, em embalagens plásticas com capacidade para 1,0 kg e enfardada em sacos com capacidade para 25 kg (Figura 7).  Esse tipo de embalagem preserva a qualidade da farinha, protegendo-a contra o ataque de insetos e contra a contaminação com substâncias estranhas, além de facilitar a comercialização do produto.

 
Figura 7. Pesagem e acondicionamento da farinha de mandioca em embalagens de 1,0 kg, na Comunidade Boi Manso, Regeneração, PI, em 2001.

Após os cursos de capacitação, realizados na Comunidade Boi Manso, produziu-se farinha de boa qualidade, tanto branca quanto amarela, as quais foram classificadas como do tipo 1 e vendidas ao preço de R$ 0,70 a R$ 0,80 por kg, aproximadamente o dobro do preço do produto que era comercializado antes da intervenção da Embrapa Meio-Norte na comunidade.

O processamento das raízes tuberosas de mandioca gera, além da farinha e/ou goma, alguns resíduos (subprodutos), tais como cascas, crueiras e aparas (Tabela 11). Esses subprodutos, embora impróprios para o consumo humano, podem ser secados, moídos e, juntamente com os resíduos agrícolas da parte aérea da mandioca (folhagem), transformados em ração para animais.

Tabela 11. Rendimento do processamento de 1.000 kg de raízes frescas de mandioca, na Comunidade Boi Manso, Regeneração, PI. 2001.

A parte aérea da mandioca (folhas e ramos tenros) apresenta elevados teores de proteína, açúcares, vitaminas e sais minerais, sendo apreciada por bovinos, caprinos e ovinos. Esta porção da planta apresenta valor nutritivo superior ao de algumas forrageiras, atingindo teores de proteína bruta freqüentemente superiores a 30% sendo, portanto, de grande valor alimentar e não devendo ser desperdiçada. Além do uso da parte aérea da mandioca na alimentação de animais ruminantes, há a possibilidade de uso desse material, também, na formulação de ração para aves.

Embora a parte aérea da mandioca apresente um grande potencial para uso na alimentação animal, logo que é retirada da planta, se caracteriza por apresentar uma substância tóxica, o ácido cianídrico, que pode causar envenenamento, caso seja consumida ainda fresca. Em algumas cultivares de mandioca, o teor de ácido cianídrico é alto, ao passo que em outras, como as macaxeiras, a quantidade dessa substância é baixa, tornando-as inofensivas. Para evitar que ocorra o envenamento dos animais, o material deve ser picado e transformado em feno, que é obtido por exposição ao sol durante cerca de 24 horas. Esse tempo é suficiente para eliminar, quase que totalmente, o ácido cianídrico presente no material, podendo, o mesmo, a partir deste processo, ser imediatamente fornecido aos animais, ou ser guardado ensacado ou a granel, para ser utilizado quando necessário.

As raízes tuberosas de mandioca e seus subprodutos (cascas, crueiras e aparas), resultantes da fabricação da farinha, são ricos em energia e também podem ser aproveitadas na alimentação animal. Estes materiais também são tóxicos e, portanto, podem causar envenamento dos animais, caso não estejam devidamente secos.

 

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