Embrapa Gado de Leite
Sistemas de Produção, 1
ISSN 1678-314X Versão eletrônica
Jan./2003
Sistema de Produção de Leite (Zona da Mata Atlântica)
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Início

Importância econômica
Aspectos agro e zooecológicos
Raças
Infra-estrutura
Alimentação
Reprodução
Manejo sanitário
Mercados e comercialização
Coeficientes técnicos
Referências bibliográficas
Glossário
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Aspectos agro e zooecológicos

Solos

A região caracteriza-se, principalmente, pela existência de grandes áreas com topografia acidentada, solos ácidos e de baixa fertilidade natural, que se estende por toda a Zona da Mata de Minas Gerais. Nessa região, a vegetação era constituída originalmente por espécies da Mata Atlântica. Com o desmatamento ao longo de dezenas de anos, essa região sofreu alterações substanciais, com a substituição das matas por pastagens, principalmente capim-gordura (Melinis minutiflora Beauv.), que ainda hoje constitui boa parte da cobertura vegetal dos morros nesta região.

As áreas montanhosas desta região representam cerca de 70% de toda a paisagem, sendo predominantemente formada por podzólicos e latossolos. Os podzólicos em geral são de fertilidade elevada, enquanto os latossolos, em sua quase totalidade, são álicos e distróficos. As áreas de baixadas são ocupadas por solos aluviais eutróficos. A proporção de áreas planas é inferior a 20%, normalmente baixadas às margens dos cursos d’água ou fundo dos vales.

Clima

Geograficamente, o sistema está localizado em Coronel Pacheco – MG, cujas coordenadas são 21º 33’ 22” de latitude sul e 43º 06’ 15” de longitude W Gr, numa altitude de 414 metros. A precipitação média anual é de 1.600 mm aproximadamente, apresentando um período mais seco de maio a outubro, com precipitação média de 350 mm, e um período mais chuvoso, de novembro a abril, com precipitação média de 1.250 mm. A temperatura média anual é de 22,5º C e a média dos meses mais quentes (dezembro a março) de 25º C e a média dos meses mais frios (junho a agosto) de 19,5º C. A umidade relativa média é em torno de 77%.

Em linguagem bem simples, o verão é quente e muito úmido, enquanto o inverno (maio a setembro) é frio e seco. Essa baixa distribuição de chuvas durante esse período do ano, aliada a baixas temperaturas e baixa luminosidade, reduzem drasticamente a taxa fotossintética das culturas, diminuindo a produção de matéria seca e, conseqüentemente, afetam a estabilidade da produção de leite. Essa redução na produção de matéria seca obriga o produtor a utilizar suplementação volumosa nesse período, o que onera o custo de produção de leite.

Exigências Ecológicas

As condições ambientais exercem fortes influências nos bovinos (na verdade, em todos os seres vivos). Diretamente, afetam as funções orgânicas envolvidas na manutenção do equilíbrio interno do organismo (homeostasia). A influência indireta se dá na qualidade e quantidade de volumoso, no favorecimento ou não de doenças infecto-contagiosas, na ocorrência de endo e ectoparasitas etc.

Os principais componentes do meio ambiente que afetam os bovinos são: clima (temperatura do ar, umidade relativa do ar, radiação solar, ventos), solo (fertilidade, topografia), luminosidade, precipitação. Estes fatores agem isoladamente ou em conjunto e interferem na ocorrência de doenças e de ecto e endoparasitas, na alimentação, produção, reprodução, longevidade e conforto térmico dos bovinos.

As raças de origem européia (Bos taurus) foram selecionadas naturalmente ao longo de centenas de anos para viverem e produzirem leite e carne em condições de clima temperado, estando, portanto, bem adaptadas a tal ambiente.

As condições mais adequadas para os bovinos de origem européia correspondem a temperatura média mensal inferior a 20º C em todos os meses e umidade relativa do ar variando entre 50 e 80%. A temperatura crítica sob a qual cai o consumo de alimentos e a produção de leite está entre 24 e 26º C para a raça Holandesa, entre 27 e 29º C para Jersey e acima de 29,5º C para a Suíça-Parda. A zona de conforto térmico está entre -1º C e 21º C, com poucas variações conforme a raça européia, para animais adultos.

Já as raças zebuínas (Bos indicus) foram selecionadas naturalmente para as condições de ambiente tropical da Índia - clima mais quente e até árido. A raça Gir é originária da região ao sul da península de Kathiawar, na costa ocidental da Índia, sob o Trópico de Câncer, em ambiente quente e seco. A raça Guzerá é originária da região norte de Gujarat, território vizinho ao do Gir. A região tem clima muito quente, quase inóspito.

Alguns autores afirmam que os zebuínos desfrutam no Brasil Central de um ambiente mais adequado que o de sua origem na Índia.

A temperatura que limita o conforto térmico dos zebuínos é de 10º C a 32º C, com temperatura crítica máxima de 35º C e mínima de 0º C.

Não existem muitos dados de pesquisa para as raças mestiças Europeu x Zebu. Mas é bem aceito pelos especialistas que os mestiços têm tolerância ao calor intermediária entre as raças parentais. Alguns autores indicam que a zona de conforto térmico está limitada pela temperatura ambiente mínima de 5º C e máxima de 31º C.

Na prática, para gado mais azebuado, pode-se considerar os mesmos limites do zebu. Para os mais holandesados, considerar os limites da raça Holandesa, mas isto depende muito do nível de produção de leite dos animais.

É recomendável o provimento de sombra natural nos pastos, principalmente para os bovinos de origem européia e seus mestiços, principalmente na primavera e no verão.

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