Embrapa Hortaliças
Sistemas de Produção, 3
ISSN 1678-880x Versão Eletrônica
Nov. / 2007
Berinjela (Solanum melongena L.)
Autores

Sumário

Apresentação
Botânica
Clima
Solos
Cultivares
Produção de mudas
Tratos culturais
Irrigação
Plantas daninhas
Diagnose foliar
Pragas
Doenças
Pós-colheita
Processamento
Produção de sementes
Cultivo protegido
Propriedades nutracêuticas
Coeficientes técnicos
Referências
Glossário



Expediente

Botânica


A berinjela, botanicamente classificada como Solanum melongena L., pertence à família Solanaceae, assim como o tomate, pimenta, pimentão, batata e jiló. Foi introduzida à dieta brasileira por emigrantes árabes, sendo consumida principalmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná.

Os frutos cozidos são usados como verdura ou hortaliça nos trópicos. Podem, também, ser fervidos, fritos, recheados, grelhados ou refogados. As variedades que apresentam frutos pequenos baby são utilizadas para produção de conservas/picles.

Os frutos imaturos são, algumas vezes, utilizados em molhos (PURSEGLOVE, 1968). O gênero Solanum é predominantemente originário das Américas Central e do Sul (cerca de 2.000 espécies), porém existem apenas cerca de 40 espécies nativas da Ásia, e entre elas, 27 na Índia englobando a berinjela (S. melongena) e seus parentes silvestres.

Embora não tenha sido completamente elucidada ainda, a maior parte das evidências indica que a berinjela (S. melongena) teve origem na Ásia. Regiões como o Oriente Médio, a região Indo-Burma, Japão e China têm sido indicadas como prováveis centros de origem por diversos autores. Entretanto, mesmo tendo-se registros de cultivo há mais de 1500 anos, em determinadas regiões da China, Khan (1979) e Kalloo (1993) consideram a Índia como provável lugar de origem da berinjela devido às inúmeras referências encontradas em documentos escritos em sânscrito, linguagem ancestral desse país. Autores como Martin e Pollack (1979) consideram a China e África como centros secundários de dispersão.

Quanto às características botânicas, a planta apresenta porte arbustivo, com caule do tipo semi-lenhoso, ereto ou prostrado, podendo atingir 0,5 a 1,8 m de altura. Trata-se de uma planta perene que, muitas vezes, comporta-se como anual, pois a morte dos indivíduos ainda no primeiro ano é freqüente, devido a doenças. Quando podadas no primeiro ano de produção geralmente rebrotam e produzem novamente no segundo. A intensa formação de ramos laterais confere à planta o aspecto de arbusto bem copado. O sistema radicular pode atingir profundidades superiores a 1,0 m. As folhas são alternas, simples; pecíolos de 2-10 cm de comprimento; limbo foliar de formato ovado ou oblongo-ovado, com densa pilosidade acinzentada; margens sinuosamente lobadas, ápice agudo ou obtuso, base arredondada ou cordada, geralmente desiguais. Dependendo da cultivar, podem apresentar espinhos nos ramos, pecíolos, folhas, pedicelos e cálices. As flores são solitárias ou distribuídas em inflorescência do tipo cimeira com 2-7 flores, de tamanho que varia de 3 a 5 cm de diâmetro, em posição oposta ou sub-oposta às folhas. Pedicelos de 1-3 cm de comprimento. O cálice, com 2 cm de comprimento, é persistente, com 5 a 7 sépalas. A corola é do tipo gamopétala, com 5 a 6 pétalas fundidas na base formando tubo, de coloração lilás a violeta. Os 5 a 6 estames são livres, eretos, amarelos e com filamentos bem curtos; as anteras alongadas, apresentam 2 poros apicais; estilete simples com estigma lobado, capitado, levemente acima dos estames. Os frutos são grandes, pendentes, do tipo baga, de formato variável (oval, oblongo, redondo, oblongo-alongado, alongado etc.), normalmente brilhantes, de coloração branca, rosada, zebrina, amarela, púrpura ou preta.

No Brasil, o tipo mais comum é a berinjela de formato oblongo, de coloração roxo-escuro, brilhante e pedúnculo (cabinho) verde.

A berinjela propaga-se geralmente por sementes, entretanto ramos axilares podem apresentar enraizamento se forem enterrados. Segundo Purseglove (1969), em regiões onde existem doenças bacterianas relacionadas, como em Porto Rico por exemplo, as plantas de berinjela são enxertadas em plantas de Solanum torvum, que apresentam resistência à murcha bacteriana.

A berinjela reproduz-se preferencialmente por autofecundação. O percentual de polinização cruzada natural varia com a cultivar e com outros fatores ambientais, com média estimada em 6 a 7%, podendo, no entanto, chegar próximo a 50%. A taxa de polinização cruzada aumenta em locais onde ocorrem populações de insetos polinizadores, como a mamangava.

O fruto de berinjela é uma boa fonte de sais minerais e vitaminas e seu valor nutricional total pode ser comparado ao do tomate. Análises têm mostrado que o peso fresco dos frutos apresenta a seguinte composição: 96,3% de água, 1,9% de fibras e 19% de calorias. Em 100 g de berinjela crua encontram-se os minerais: 1,1 mg de cobre, 100 mg de enxofre, 90 mg de magnésio, 3,8 mg de manganês, 2,7 mg de zinco, 112,7 mg de potássio, 38,2 mg de sódio, 17 mg de cálcio, 0,4 mg de ferro e 29 mg de fósforo. As vitaminas são encontradas nas seguintes proporções: 5 µg de vitamina A (retinol), 60 µg de vitamina B1 (tiamina), 45 µg de vitamina B2 (riboflavina), 0,6 µg de vitamina B3 (niacina) e 1,2 mg de vitamina C (ácido ascórbico).

Há relatos do uso de berinjela em tratamentos de asma, diabetes, cólera e bronquite. Porém, entre as propriedades medicinais, destaca-se o controle de colesterol no sangue. Khan (1979) relata que, na medicina ayurvédica, as variedades que apresentam frutos brancos são utilizadas para o combate a diabetes e que as raízes são consideradas como antiasmáticas. O mesmo autor relata ainda que, na Guiana o suco das raízes serve para o combate à otite e dor de dente. As folhas são tidas também como narcóticas. Extratos das plantas inibem vários tipos de bactérias sendo que a polpa dos frutos é mais efetiva que o suco das folhas.

A berinjela é suscetível a várias doenças e pragas que causam perdas econômicas significativas. Entretanto, esses problemas têm sido contornados pela utilização de técnicas convencionais de melhoramento utilizando-se espécies silvestres resistentes de Solanum.

Materiais selvagens, incluindo cultivares e espécies primitivas, são de interesse para trabalhos de melhoramento por possuírem genes de resistência a muitas doenças e pragas importantes. Algumas tentativas de hibridação entre berinjela e espécies de Solanum spp. já foram registradas, entretanto resultaram em progênie estéril ou parcialmente férteis. Já foram reportados cruzamentos interespecíficos entre S. melongena e S. incanum, S. xanthocarpum, S. zuccagnianum, S. integrifolium, S. anomalum, S. sodomaeum, S. macrocarpon, S. gilo, S. indicum e S. hispidum. Segundo Khan (1979), essas dez espécies mostram algum tipo de relacionamento genético com a berinjela, pois apresentam híbridos com diferentes valores de fertilidade.

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