Sumário
Apresentação
Botânica
Clima
Solos
Cultivares
Produção de mudas
Tratos culturais
Irrigação
Plantas daninhas
Diagnose foliar
Pragas
Doenças
Pós-colheita
Processamento
Produção de sementes
Cultivo protegido
Propriedades nutracêuticas
Coeficientes técnicos
Referências
Glossário
Expediente
|
Irrigação |
A produção de berinjela é altamente influenciada pelas condições de umidade no solo. A falta de água é particularmente prejudicial durante os estádios de florescimento e frutificação, pois pode provocar o abortamento de flores e frutos e reduzir o crescimento dos últimos. No entanto, a falta de água é prejudicial desde o transplante até o estabelecimento de mudas. Além de reduzir a produtividade, a deficiência de água deprecia a qualidade de frutos, pois favorece a má formação e promove a desuniformidade, a podridão apical e o sabor amargo. Assim sendo, a irrigação da cultura da berinjela é essencial em regiões com precipitação deficitária ou mal distribuída.
O excesso de água, do mesmo modo que a falta, também causa sérios prejuízos à produção, pois pode gerar o crescimento exagerado das plantas, bem como dificultar a floração e a frutificação. Portanto, deve-se evitar o encharcamento do solo, pois condições de aeração inadequadas, além de afetarem negativamente o desenvolvimento das plantas, favorecem o aparecimento de várias doenças de solo, e a lixiviação de nutrientes, comprometendo o desempenho produtivo da cultura.
Na prática, todos os sistemas de irrigação podem ser empregados no cultivo da berinjela. No Brasil, a irrigação por aspersão, por meio de sistemas convencionais, é a mais utilizada. Em menor escala são adotados os sistemas por sulco e gotejamento, que apresentam a vantagem de reduzirem a ocorrência de doenças da parte aérea, em razão de não molharem a folhagem da planta. Para a escolha do sistema mais viável, devem ser avaliadas as vantagens e desvantagens que cada um oferece, incluindo os aspectos econômicos envolvidos para uma melhor relação custo/benefício. No caso de dúvidas, o agricultor deve procurar a assistência técnica para auxiliar na escolha daquele mais conveniente.
Por ser a berinjela uma planta de crescimento semi-perene, a manutenção de condições adequadas de umidade no solo ao longo de todo o ciclo de desenvolvimento proporciona, em média, duas colheitas por semana durante até três meses. A reposição de água ao solo por meio de irrigações oportunas e na quantidade adequada requer o conhecimento de parâmetros relacionados ao solo, à planta e ao clima.
Embora o murchamento das folhas no final do período matinal seja uma indicação da necessidade de irrigação, existem critérios mais precisos para indicar quando irrigar. Sensores de umidade, como tensiômetro e Irrigas®, podem ser utilizados para indicar o momento adequado de se irrigar. Níveis ótimos de desenvolvimento de plantas e de produtividade de frutos podem ser alcançados irrigando-se, em geral, quando o tensiômetro indicar leitura entre 30-50 kPa, no caso de irrigação por aspersão ou sulco, ou 10-15 kPa, para gotejamento. Os menores valores de tensão-limite devem ser adotados durante os estádios mais críticos de exigência de água pela cultura, em solos arenosos e/ou condições de alta demanda de evaporação. Os sensores devem ser instalados a 50% da profundidade efetiva do sistema radicular e a cerca de 10-20 cm da planta.
A profundidade efetiva do sistema radicular é aquela onde estão concentradas cerca de 80% das raízes. Por ser afetada pelo tipo e condições do solo, recomenda-se que seja avaliada no local de cultivo para cada estádio de desenvolvimento. A partir da frutificação, a maior parte das raízes responsáveis pela absorção de água e nutrientes encontra-se nos primeiros 40-50 cm de profundidade.
A quantidade de água a ser aplicada por irrigação depende das características do solo e da profundidade de raízes, podendo ser determinada a partir do déficit de água no solo ou da evapotranspiração da cultura. Na Tabela 1 são apresentados valores médios de coeficiente de cultura para estimativa da evapotranspiração.
Vários são os métodos para o manejo de irrigação. Os que permitem melhor controle de água são aqueles realizados em tempo real, utilizando sensores para a medição do status da água no solo e/ou estimativa da evapotranspiração. Todavia, são métodos que requerem investimento para a aquisição de equipamentos e mão-de-obra devidamente treinada. Maiores informações sobre estes métodos podem ser obtidas no livro “Manejo da irrigação em hortaliças”, publicado pela Embrapa Hortaliças.
A seguir é apresentado um procedimento simples para o manejo de irrigação baseado no uso de tabelas. A evapotranspiração e o turno de rega são determinados a partir de uma série histórica de dados climáticos médios diários de temperatura e umidade relativa do ar da região, que podem ser obtidos junto ao serviço de assistência técnica local, observações de dados climáticos médios do local de plantio, da textura do solo e do estádio de desenvolvimento da cultura. Para melhor entendimento, o procedimento é apresentado simultaneamente com um exemplo. Para tal, consideremos a seguinte situação:
- Textura do solo da área a ser cultivada: franco siltoso
- Temperatura média: 20°C
- Umidade relativa média: 60%
- Estádio de desenvolvimento: frutificação
- Profundidade efetiva de raízes: 40 cm
- Sistema de irrigação utilizado: aspersão convencional
- Vazão do aspersor: 0,96 m3 h-1; espaçamento de instalação: 12 m x 12 m; eficiência de irrigação: 70%
Passo 1: Determinar, na Tabela 1, o coeficiente de cultura (Kc) para o estádio de desenvolvimento de interesse.
Pela Tabela 1, para irrigação por aspersão e estádio de frutificação, tem-se Kc = 1,15.
Passo 2: Determinar, na Tabela 2, a evapotranspiração de referência(ETo).
Evapotranspiração de um cultivo de referência (grama batatais). Usada para estimar o consumo de água de outras culturas por meio de coeficientes tabelados. Para a temperatura de 20°C e umidade relativa de 60%, obtêm-se na Tabela 2 ETo = 4,9 mm dia-1
Passo 3: Calcular, pela expressão ETc = Kc x ETo, a evapotranspiração da cultura -ETc, mm.dia-1)
Pela equação acima se obtêm: ETc = 1,15 x 4,9 mm dia-1 = 5,6 mm dia-1.
Passo 4: Determinar a profundidade efetiva de raízes para o estádio de interesse.
Por meio de avaliação visual em uma trincheira aberta em um cultivo anterior em área adjacente, estimou-se uma profundidade de 40 cm durante o estádio de frutificação.
Passo 5: Determinar, na Tabela 3, o turno de rega (TR) durante o estádio inicial, conforme a ETo, textura do solo e sistema de irrigação. Para os demais estádios, utilizar a
Tabela 4, onde o TR é dado em função da ETc, textura do solo, profundidade efetiva de raízes e sistema de irrigação.
Para uma profundidade de raízes de 40 cm, solo de textura franco siltosa (tipo II) e ETc de 5,6 mm dia-1, obtêm-se na Tabela 4, por interpolação linear, TR = 4 dias.
Passo 6: Determinar pela expressão LRN = TR x ETc a lâmina real de água necessária (LRN) em mm por irrigação.
Para o presente exemplo, LRN = 4 dias x 5,6 mm dia-1 = 22,4 mm.
Passo 7: Calcular o tempo de irrigação necessário para aplicar a lâmina requerida. Para irrigação convencional, o tempo de irrigação (min) é calculado por:
onde Ea = espaçamentos entre aspersores (m), El = espaçamentos entre laterais (m), Q = vazão do aspersor (m3 h-1) e Ei = eficiência de irrigação (%).
Para pivô central, selecionar a velocidade de deslocamento suficiente para aplicar uma lâmina igual ou imediatamente superior a LRN, considerando-se a eficiência do sistema.
Para irrigação por sulco, o tempo de irrigação é igual ao tempo necessário para a água atingir o final do sulco mais o tempo suficiente para infiltrar a LRN. O comprimento do sulco e a velocidade de infiltração são dependentes da textura do solo, recomendando-se que ambos sejam avaliados previamente.
Para gotejamento, o tempo de irrigação (min) pode ser calculado por:
onde Sl = espaçamento entre laterais (m), Sg = espaçamento entre emissores (m) e Vg = vazão do gotejador (L h-1).
A eficiência de irrigação depende das características e manutenção do sistema, dentre outros fatores. Valores comumente observados variam de 30-70% para sulco, 60-75% para aspersão convencional, 70-90% para pivô central e 80-90% para gotejamento.
Em regiões áridas e semi-áridas, podem ocorrer problemas de salinidade da água e/ou do solo. Caso haja risco de salinização, é necessário aplicar uma fração adicional de água para manter o adequado balanço de sais no solo. Para tal, deve-se procurar um técnico da extensão rural para maiores esclarecimentos.
Pela equação para aspersão convencional tem-se que o tempo de irrigação necessário para aplicar a lâmina de 27,8 mm será de:
Tabela 1. Coeficiente de cultura (Kc) para berinjela, conforme o sistema de irrigação utilizado e “mulching” com plástico preto.
Estádio1/ |
Aspersão/sulco |
Gotejamento |
Gotejamento + “mulching” |
|
0,95
|
0,40
|
0,20
|
|
0,85
|
0,75
|
0,55
|
|
1,15
|
1,10
|
0,90
|
Final
|
0,85
|
0,75
|
0,60
|
1/Inicial: transplante até pegamento de mudas (1o até 7o dia);
Vegetativo: pegamento de mudas até início de frutificação (8o até 30o dia);
Frutificação: início de frutificação até antepenúltima colheita;
Final: antepenúltima até a última colheita.
Fonte: Marouelli, 2001 .
Tabela 2.Evapotranspiração de referência (mm dia-1) conforme a média histórica diária de temperatura e umidade relativa do ar.
URm
(%) |
Temperatura |
10 |
12 |
14 |
16 |
18 |
20 |
22 |
24 |
26 |
28 |
30 |
40
|
4,4
|
4,9
|
5,5
|
6,1
|
6,7
|
7,3
|
8,0
|
8,6
|
9,4
|
10,1
|
10,9
|
50
|
3,7
|
4,1
|
4,6
|
5,0
|
5,5
|
6,1
|
6,6
|
7,2
|
7,8
|
8,4
|
9,1
|
60
|
2,9
|
3,3
|
3,7
|
4,0
|
4,4
|
4,9
|
5,3
|
5,8
|
6,2
|
6,7
|
7,3
|
70
|
2,2
|
2,5
|
2,7
|
3,0
|
3,3
|
3,6
|
4,0
|
4,3
|
4,7
|
5,1
|
5,4
|
80
|
1,5
|
1,6
|
1,8
|
2,0
|
2,2
|
2,4
|
2,7
|
2,9
|
3,1
|
3,4
|
3,6
|
90
|
0,7
|
0,8
|
0,9
|
1,0
|
1,1
|
1,2
|
1,3
|
1,4
|
1,6
|
1,7
|
1,8
|
Fonte: Marouelli, 2001 .
Tabela 3. Turno de rega (dias) durante o estádio inicial, conforme a textura do solo, evapotranspiração de referência (ETo) e sistema de irrigação.
ETo <
5 mm
dia-1
|
ETo >
5 mm
dia-1
|
Textura do solo1/
|
Textura do solo1/
|
I
|
II
|
III
|
I
|
II
|
III
|
Aspersão/sulco
|
1
|
2
|
3
|
2 x dia
|
1
|
2
|
Gotejamento
|
2 x dia
|
1
|
1
|
3 x dia
|
2 x dia
|
1
|
1/Tipo I: Textura grossa, capacidade de retenção de água de 0,5 mm cm-1 de solo. Exemplos: areia, areia franca, franco arenoso.
1/Tipo II: Textura média, capacidade de retenção de água de 1,2 mm cm-1 de solo. Exemplo: franco, franco siltoso, franco argilo-arenoso, silte, argiloso de cerrado.
1/Tipo III: Textura fina, capacidade de retenção de água de 2,0 mm cm-1 de solo. Exemplo: franco argilo-siltoso, franco argiloso, argila arenosa, argila siltosa, argila, muito argiloso.
Fonte: Marouelli, 2001 .
Tabela 4. Turno de rega (dias) conforme a evapotranspiração da cultura, profundidade de raízes, tipo de solo e sistema de irrigação.
ETc
(mm dia-1)
|
Profundidade
efetiva de raízes (cm)
|
10
|
30
|
50
|
Textura do solo
|
Textura do solo
|
Textura do solo
|
I
|
II
|
III
|
I
|
II
|
III
|
I
|
II
|
III
|
Aspersão/sulco
|
1
|
3
|
6
|
9
|
10
|
20
|
25
|
--
|
--
|
--
|
2
|
1
|
3
|
5
|
5
|
10
|
14
|
8
|
16
|
22
|
3
|
1
|
2
|
3
|
3
|
6
|
9
|
5
|
10
|
15
|
4
|
1
|
1
|
2
|
2
|
5
|
6
|
4
|
8
|
10
|
5
|
1
|
1
|
2
|
2
|
4
|
5
|
3
|
6
|
9
|
6
|
--
|
--
|
--
|
2
|
3
|
5
|
2
|
5
|
7
|
7
|
--
|
--
|
--
|
1
|
3
|
4
|
2
|
5
|
6
|
8
|
--
|
--
|
--
|
1
|
2
|
3
|
2
|
4
|
6
|
9
|
--
|
--
|
--
|
1
|
2
|
3
|
2
|
4
|
5
|
10
|
--
|
--
|
--
|
1
|
2
|
3
|
1
|
3
|
4
|
Gotejamento
|
1
|
2 x dia
|
1
|
3
|
2
|
5
|
9
|
--
|
--
|
--
|
2
|
3 x dia
|
1
|
1
|
1
|
2
|
4
|
1
|
4
|
7
|
3
|
4 x dia
|
2 x dia
|
1
|
2 x dia
|
1
|
3
|
1
|
2
|
5
|
4
|
4 x dia
|
2 x dia
|
1
|
2 x dia
|
1
|
2
|
1
|
2
|
4
|
5
|
5 x dia
|
3 x dia
|
2 x dia
|
2 x dia
|
1
|
2
|
2 x dia
|
1
|
3
|
6
|
5 x dia
|
3 x dia
|
2 x dia
|
3 x dia
|
1
|
1
|
2 x dia
|
1
|
2
|
7
|
--
|
--
|
--
|
3 x dia
|
2 x dia
|
1
|
2 x dia
|
1
|
2
|
8
|
--
|
--
|
--
|
4 x dia
|
2 x dia
|
1
|
2 x dia
|
1
|
2
|
9
|
--
|
--
|
--
|
4 x dia
|
2 x dia
|
1
|
3 x dia
|
1
|
1
|
10
|
--
|
--
|
--
|
4 x dia
|
2 x dia
|
1
|
3 x dia
|
1
|
1
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
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Fonte: Marouelli, 2001
Obs.: considerar os tipos de solo conforme descrito na Tabela 3..
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