Embrapa Hortaliças
Sistemas de Produção, 3
ISSN 1678-880x Versão Eletrônica
Nov. / 2007
Berinjela (Solanum melongena L.)
Autores

Sumário

Apresentação
Botânica
Clima
Solos
Cultivares
Produção de mudas
Tratos culturais
Irrigação
Plantas daninhas
Diagnose foliar
Pragas
Doenças
Pós-colheita
Processamento
Produção de sementes
Cultivo protegido
Propriedades nutracêuticas
Coeficientes técnicos
Referências
Glossário



Expediente

Irrigação

A produção de berinjela é altamente influenciada pelas condições de umidade no solo. A falta de água é particularmente prejudicial durante os estádios de florescimento e frutificação, pois pode provocar o abortamento de flores e frutos e reduzir o crescimento dos últimos. No entanto, a falta de água é prejudicial desde o transplante até o estabelecimento de mudas. Além de reduzir a produtividade, a deficiência de água deprecia a qualidade de frutos, pois favorece a má formação e promove a desuniformidade, a podridão apical e o sabor amargo. Assim sendo, a irrigação da cultura da berinjela é essencial em regiões com precipitação deficitária ou mal distribuída.

O excesso de água, do mesmo modo que a falta, também causa sérios prejuízos à produção, pois pode gerar o crescimento exagerado das plantas, bem como dificultar a floração e a frutificação. Portanto, deve-se evitar o encharcamento do solo, pois condições de aeração inadequadas, além de afetarem negativamente o desenvolvimento das plantas, favorecem o aparecimento de várias doenças de solo, e a lixiviação de nutrientes, comprometendo o desempenho produtivo da cultura.

Na prática, todos os sistemas de irrigação podem ser empregados no cultivo da berinjela. No Brasil, a irrigação por aspersão, por meio de sistemas convencionais, é a mais utilizada. Em menor escala são adotados os sistemas por sulco e gotejamento, que apresentam a vantagem de reduzirem a ocorrência de doenças da parte aérea, em razão de não molharem a folhagem da planta. Para a escolha do sistema mais viável, devem ser avaliadas as vantagens e desvantagens que cada um oferece, incluindo os aspectos econômicos envolvidos para uma melhor relação custo/benefício. No caso de dúvidas, o agricultor deve procurar a assistência técnica para auxiliar na escolha daquele mais conveniente.

Por ser a berinjela uma planta de crescimento semi-perene, a manutenção de condições adequadas de umidade no solo ao longo de todo o ciclo de desenvolvimento proporciona, em média, duas colheitas por semana durante até três meses. A reposição de água ao solo por meio de irrigações oportunas e na quantidade adequada requer o conhecimento de parâmetros relacionados ao solo, à planta e ao clima.

Embora o murchamento das folhas no final do período matinal seja uma indicação da necessidade de irrigação, existem critérios mais precisos para indicar quando irrigar. Sensores de umidade, como tensiômetro e Irrigas®, podem ser utilizados para indicar o momento adequado de se irrigar. Níveis ótimos de desenvolvimento de plantas e de produtividade de frutos podem ser alcançados irrigando-se, em geral, quando o tensiômetro indicar leitura entre 30-50 kPa, no caso de irrigação por aspersão ou sulco, ou 10-15 kPa, para gotejamento. Os menores valores de tensão-limite devem ser adotados durante os estádios mais críticos de exigência de água pela cultura, em solos arenosos e/ou condições de alta demanda de evaporação. Os sensores devem ser instalados a 50% da profundidade efetiva do sistema radicular e a cerca de 10-20 cm da planta.

A profundidade efetiva do sistema radicular é aquela onde estão concentradas cerca de 80% das raízes. Por ser afetada pelo tipo e condições do solo, recomenda-se que seja avaliada no local de cultivo para cada estádio de desenvolvimento. A partir da frutificação, a maior parte das raízes responsáveis pela absorção de água e nutrientes encontra-se nos primeiros 40-50 cm de profundidade.

A quantidade de água a ser aplicada por irrigação depende das características do solo e da profundidade de raízes, podendo ser determinada a partir do déficit de água no solo ou da evapotranspiração da cultura. Na Tabela 1 são apresentados valores médios de coeficiente de cultura para estimativa da evapotranspiração.

Vários são os métodos para o manejo de irrigação. Os que permitem melhor controle de água são aqueles realizados em tempo real, utilizando sensores para a medição do status da água no solo e/ou estimativa da evapotranspiração. Todavia, são métodos que requerem investimento para a aquisição de equipamentos e mão-de-obra devidamente treinada. Maiores informações sobre estes métodos podem ser obtidas no livro “Manejo da irrigação em hortaliças”, publicado pela Embrapa Hortaliças.

A seguir é apresentado um procedimento simples para o manejo de irrigação baseado no uso de tabelas. A evapotranspiração e o turno de rega são determinados a partir de uma série histórica de dados climáticos médios diários de temperatura e umidade relativa do ar da região, que podem ser obtidos junto ao serviço de assistência técnica local, observações de dados climáticos médios do local de plantio, da textura do solo e do estádio de desenvolvimento da cultura. Para melhor entendimento, o procedimento é apresentado simultaneamente com um exemplo. Para tal, consideremos a seguinte situação:

  • Textura do solo da área a ser cultivada: franco siltoso
  • Temperatura média: 20°C
  • Umidade relativa média: 60%
  • Estádio de desenvolvimento: frutificação
  • Profundidade efetiva de raízes: 40 cm
  • Sistema de irrigação utilizado: aspersão convencional
    - Vazão do aspersor: 0,96 m3 h-1; espaçamento de instalação: 12 m x 12 m; eficiência de irrigação: 70%


Passo 1:
Determinar, na Tabela 1, o coeficiente de cultura (Kc) para o estádio de desenvolvimento de interesse.
Pela Tabela 1, para irrigação por aspersão e estádio de frutificação, tem-se Kc = 1,15.


Passo 2: Determinar, na Tabela 2, a evapotranspiração de referência(ETo).
Evapotranspiração de um cultivo de referência (grama batatais). Usada para estimar o consumo de água de outras culturas por meio de coeficientes tabelados. Para a temperatura de 20°C e umidade relativa de 60%, obtêm-se na Tabela 2 ETo = 4,9 mm dia-1

Passo 3: Calcular, pela expressão ETc = Kc x ETo, a evapotranspiração da cultura -ETc, mm.dia-1)
Pela equação acima se obtêm: ETc = 1,15 x 4,9 mm dia-1 = 5,6 mm dia-1.

Passo 4: Determinar a profundidade efetiva de raízes para o estádio de interesse. Por meio de avaliação visual em uma trincheira aberta em um cultivo anterior em área adjacente, estimou-se uma profundidade de 40 cm durante o estádio de frutificação.

Passo 5: Determinar, na Tabela 3, o turno de rega (TR) durante o estádio inicial, conforme a ETo, textura do solo e sistema de irrigação. Para os demais estádios, utilizar a Tabela 4, onde o TR é dado em função da ETc, textura do solo, profundidade efetiva de raízes e sistema de irrigação.

Para uma profundidade de raízes de 40 cm, solo de textura franco siltosa (tipo II) e ETc de 5,6 mm dia-1, obtêm-se na Tabela 4, por interpolação linear, TR = 4 dias.


Passo 6: Determinar pela expressão LRN = TR x ETc a lâmina real de água necessária (LRN) em mm por irrigação.

Para o presente exemplo, LRN = 4 dias x 5,6 mm dia-1 = 22,4 mm.

Passo 7: Calcular o tempo de irrigação necessário para aplicar a lâmina requerida. Para irrigação convencional, o tempo de irrigação (min) é calculado por:

 

onde Ea = espaçamentos entre aspersores (m), El = espaçamentos entre laterais (m), Q = vazão do aspersor (m3 h-1) e Ei = eficiência de irrigação (%).

Para pivô central, selecionar a velocidade de deslocamento suficiente para aplicar uma lâmina igual ou imediatamente superior a LRN, considerando-se a eficiência do sistema.

Para irrigação por sulco, o tempo de irrigação é igual ao tempo necessário para a água atingir o final do sulco mais o tempo suficiente para infiltrar a LRN. O comprimento do sulco e a velocidade de infiltração são dependentes da textura do solo, recomendando-se que ambos sejam avaliados previamente.

Para gotejamento, o tempo de irrigação (min) pode ser calculado por:

onde Sl = espaçamento entre laterais (m), Sg = espaçamento entre emissores (m) e Vg = vazão do gotejador (L h-1).

A eficiência de irrigação depende das características e manutenção do sistema, dentre outros fatores. Valores comumente observados variam de 30-70% para sulco, 60-75% para aspersão convencional, 70-90% para pivô central e 80-90% para gotejamento.

Em regiões áridas e semi-áridas, podem ocorrer problemas de salinidade da água e/ou do solo. Caso haja risco de salinização, é necessário aplicar uma fração adicional de água para manter o adequado balanço de sais no solo. Para tal, deve-se procurar um técnico da extensão rural para maiores esclarecimentos.

Pela equação para aspersão convencional tem-se que o tempo de irrigação necessário para aplicar a lâmina de 27,8 mm será de:


Tabela 1. Coeficiente de cultura (Kc) para berinjela, conforme o sistema de irrigação utilizado e “mulching” com plástico preto.

Estádio1/ Aspersão/sulco Gotejamento Gotejamento + “mulching”

Inicial

0,95

0,40

0,20

Vegetativo

0,85

0,75

0,55

Frutificação

1,15

1,10

0,90

Final

0,85

0,75

0,60


1/Inicial: transplante até pegamento de mudas (1o até 7o dia); Vegetativo: pegamento de mudas até início de frutificação (8o até 30o dia); Frutificação: início de frutificação até antepenúltima colheita; Final: antepenúltima até a última colheita.
Fonte: Marouelli, 2001 .

Tabela 2.Evapotranspiração de referência (mm dia-1) conforme a média histórica diária de temperatura e umidade relativa do ar.

URm
(%)
Temperatura
10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

40

4,4

4,9

5,5

6,1

6,7

7,3

8,0

8,6

9,4

10,1

10,9

50

3,7

4,1

4,6

5,0

5,5

6,1

6,6

7,2

7,8

8,4

9,1

60

2,9

3,3

3,7

4,0

4,4

4,9

5,3

5,8

6,2

6,7

7,3

70

2,2

2,5

2,7

3,0

3,3

3,6

4,0

4,3

4,7

5,1

5,4

80

1,5

1,6

1,8

2,0

2,2

2,4

2,7

2,9

3,1

3,4

3,6

90

0,7

0,8

0,9

1,0

1,1

1,2

1,3

1,4

1,6

1,7

1,8

Fonte: Marouelli, 2001 .

Tabela 3. Turno de rega (dias) durante o estádio inicial, conforme a textura do solo, evapotranspiração de referência (ETo) e sistema de irrigação.

ETo < 5 mm dia-1

ETo > 5 mm dia-1

Textura do solo1/
Textura do solo1/

I

II

III

I

II

III

Aspersão/sulco

1

2

3

2 x dia

1

2

Gotejamento

2 x dia

1

1

3 x dia

2 x dia

1

1/Tipo I: Textura grossa, capacidade de retenção de água de 0,5 mm cm-1 de solo. Exemplos: areia, areia franca, franco arenoso.
1/Tipo II: Textura média, capacidade de retenção de água de 1,2 mm cm-1 de solo. Exemplo: franco, franco siltoso, franco argilo-arenoso, silte, argiloso de cerrado.
1/Tipo III: Textura fina, capacidade de retenção de água de 2,0 mm cm-1 de solo. Exemplo: franco argilo-siltoso, franco argiloso, argila arenosa, argila siltosa, argila, muito argiloso.

Fonte: Marouelli, 2001 .

Tabela 4. Turno de rega (dias) conforme a evapotranspiração da cultura, profundidade de raízes, tipo de solo e sistema de irrigação.

ETc

(mm dia-1)

Profundidade efetiva de raízes (cm)

10

30

50

Textura do solo

Textura do solo

Textura do solo

I

II

III

I

II

III

I

II

III

Aspersão/sulco

1

3

6

9

10

20

25

--

--

--

2

1

3

5

5

10

14

8

16

22

3

1

2

3

3

6

9

5

10

15

4

1

1

2

2

5

6

4

8

10

5

1

1

2

2

4

5

3

6

9

6

--

--

--

2

3

5

2

5

7

7

--

--

--

1

3

4

2

5

6

8

--

--

--

1

2

3

2

4

6

9

--

--

--

1

2

3

2

4

5

10

--

--

--

1

2

3

1

3

4

Gotejamento

1

2 x dia

1

3

2

5

9

--

--

--

2

3 x dia

1

1

1

2

4

1

4

7

3

4 x dia

2 x dia

1

2 x dia

1

3

1

2

5

4

4 x dia

2 x dia

1

2 x dia

1

2

1

2

4

5

5 x dia

3 x dia

2 x dia

2 x dia

1

2

2 x dia

1

3

6

5 x dia

3 x dia

2 x dia

3 x dia

1

1

2 x dia

1

2

7

--

--

--

3 x dia

2 x dia

1

2 x dia

1

2

8

--

--

--

4 x dia

2 x dia

1

2 x dia

1

2

9

--

--

--

4 x dia

2 x dia

1

3 x dia

1

1

10

--

--

--

4 x dia

2 x dia

1

3 x dia

1

1

Fonte: Marouelli, 2001
Obs.: considerar os tipos de solo conforme descrito na Tabela 3..

Todosos direitos reservados, conforme Lei n° 9.610.