Na maior parte do
território nordestino, o volume anual de chuvas é insuficiente para atender
as necessidades das plantas cítricas. A distribuição irregular das
chuvas propicia a ocorrência de longos períodos de déficit hídrico no
solo e conseqüente estresse hídrico às plantas, gerando grandes quebras
de produção.
Métodos de
Irrigação
Os métodos de irrigação
por superfície são considerados de baixa eficiência e demandam grandes
volumes de água. A irrigação por aspersão sobrecopa, e subcopa
proporciona 100% de molhamento da área cultivada, não impondo nenhuma
limitação ao pleno desenvolvimento das raízes. Nesse método não se
deve esperar elevados coeficientes de uniformidade de distribuição de
água e deve-se tomar cuidado no período de floração, quando o impacto
do d’água dos aspersores pode provocar queda de flores. Os sistemas de
irrigação localizada como gotejamento e microaspersão são os de mais
alta eficiência de aplicação, requerem baixa pressão, apresentam
facilidade de operação e bom controle sobre a umidade e aeração do
solo. A área molhada sob irrigação, nesse caso deve estar entre 33 e
67%, sendo que, em regiões de precipitação considerável (acima de
1200mm), valores de Pm inferiores a 33% são aceitáveis para solos de
textura média a fina, ou seja, solos siltosos e argilosos. Por outro
lado, a Pm deve ser mantida inferior a 67% de forma a evitar umedecimento
desnecessário entre as linhas de plantio, facilitando portanto as
práticas culturais.
Para plantas cítricas,
deve-se instalar 2 gotejadores por planta após o plantio e quando mais
desenvolvidas (a partir de 12 meses) deve-se instalar pelo menos quatro
gotejadores por planta dispostos ao redor do tronco com a linha lateral em
anel ou em rabo de porco, sendo que em solos de textura média a arenosa
deve-se instalar de cinco a seis gotejadores por planta. A microaspersão
se adapta melhor aos solos arenosos, que aparentemente assegura maior
área molhada à planta. Os microaspersores podem ser dispostos próximos
às plantas ou entre as plantas na fileira.
Necessidades
Hídricas
A água deve estar dentro
dos padrões de qualidade e livres de qualquer tipo de resíduos que
possam contaminar o solo, plantas e frutos. As fontes de captação,
quando em nascentes, córregos ou rios devem estar protegidos com mata
ciliar e conforme as leis de conservação do meio ambiente. O volume de
água necessário à irrigação deve estar de acordo com os estudos de
capacitação de água em todo curso, mediante outorga da água.
O consumo anual de água
pelas plantas cítricas varia de 600 a 1200 mm. No Estado de São Paulo o
consumo de água aproxima-se de 3 mm.dia-1 em pomares irrigados
e de 1,5 mm.dia-1 nos não irrigados. Os dados de diferentes
regiões do mundo mostram que o consumo dos citros no período de inverno
é de 1,5 mm.dia-1 e no período de verão é de 3,2 a 4,7
mm.dia-1.
À semelhança do que
ocorre com as culturas agrícolas em geral, as necessidades de água dos
citros varia conforme o estádio fenológico das plantas. Na brotação,
emissão de botões florais, frutificação e início de desenvolvimento
dos frutos há maior demanda de água e as plantas são muito sensíveis
ao déficit hídrico nesse período, sendo que o aumento no tamanho dos
frutos está altamente relacionado com a absorção de água. Na fase de
maturação, colheita e semi-dormência a demanda hídrica é menor.
Manejo
da Irrigação
O manejo da irrigação
envolve a tomada de decisão sobre quando irrigar e quanta água aplicar.
Entre os métodos de manejo da irrigação disponíveis, os mais usados na
prática baseiam-se em: medidas do teor ou estado da água no solo e
balanço aproximado de água do solo.
Medidas
da água no solo
Nesse caso, o momento da
irrigação é determinado pelo estado atual da água do solo, por meio
de sensores, quer para determinação do conteúdo de umidade quer para
determinação do potencial de água do solo.
O tensiômetro indica o
potencial matricial da água no solo (y m) em função seu
conteúdo de umidade a uma dada profundidade. Portanto, se existe para
os citros uma umidade crítica de irrigação (q c) existe
também um potencial matricial crítico (y mc)
correspondente. Conhece-se q c a partir de y mc
com o uso da curva de retenção de água no solo. O y m é
expresso em termos de uma altura de coluna de mercúrio (cmHg) ou outra
unidade de pressão como atm e kPa.
Os potenciais matriciais
mantidos entre -15 e -30 kPa a 30 cm de profundidade proporcionam
crescimento adequando à cultura, sendo que valores de -30 a -45 kPa
são recomendados como limite para a manutenção de teores adequados de
água à cultura, além dos quais deve-se irrigar. O crescimento das
raízes é reduzido para potenciais matriciais no solo inferiores a -600
kPa.
Em se usando tensiômetros,
recomenda-se instalar de três a quatro baterias por hectare, sendo cada
bateria composta por dois tensiômetros instalados nas profundidades de
30 e 60 cm, mas o número de baterias depende da variabilidade espacial
do solo, sendo necessário pelo menos uma bateria para cada mancha de
solo da área.
Balanço
aproximado de água no solo
O balanço aproximado de
água no solo, recomendado para sistemas de alta eficiência de
irrigação, tal como a microaspersão, consiste em fazer um balanço
entre o que entra no sistema solo-planta, considerando a precipitação
pluvial efetiva e a irrigação e o que sai do sistema, no caso, a
evapotranspiração, uma vez que se considera desprezível as perdas por
percolação e escoamento superficial. É um balanço aproximado porque
não leva em conta a redução permissível da disponibilidade de água
do solo, ou a lamina real necessária para os cálculos, logo deve ser
feita avaliações de umidade ou de potencial de água no solo
paralelamente para aferir o método.
O calculo da lâmina de
irrigação neste método segue os seguintes passos:
1. Coleta de dados da
precipitação pluvial ou chuva (PT) e da evapotranspiração potencial
(ET) em mm. A ETo pode ser estimada por meio de equações, ou pelo
tanque classe A, ou por leituras diretas em estações meteorológicas
automáticas. A precipitação efetiva (PE), que atinge o solo, pode ser
deduzida da precipitação total (PT) da seguinte forma:
1.1. Calcula-se a
redução permissível da água disponível do solo para as plantas, ou
(qCC
-
qPM
) .z
.f,
que será tomada como valor limite da PE, isto é, se PT> (qCC
-
qPM
) .z
.f,
PE = (qCC
-qPM
) .z
.f.
Se PT <(qCC
-qPM
) .z
.f,
PE = PT.
2. Calculo da
evapotranspiração da cultura (ETc) em mm. Esse calculo envolve a
equação:
ETc = Kc .
ETo
onde os coeficientes de
cultura, Kc, podem ser obtidos da Tabela 1.
3. Calculo do volume total
necessário (VTN) em litros. O volume de água de irrigação será dado
pela equação:
VTN = (ETc -
PE) . Am
_____________
Ea
Am é a área
molhada pelo microaspersor em m2. Ea é a eficiência de
irrigação, que pode ser tomada como 85%, na falta dados disponíveis.
O tempo de irrigação é
calculado dividindo o volume total (VTN) a ser aplicado pela vazão do
microaspersor, ou pela vazão total dos geotejadores para uma
determinada planta.
4. Se a precipitação
efetiva for superior a evapotranspiração da cultura, isto é,
PE>ETc, usa-se a diferença (PE – ETc) como precipitação para ser
somada a precipitação total na próxima irrigação, obedecendo o
mesmo critério estabelecido em 1.1.
TABELA 8.
Valores do coeficiente de cultura (Kc) para pomares cítricos. Adaptado de Doorenbos & Pruitt (1977). Os dados da FAO referem-se a áreas de poucas chuvas, ventos moderados e grama como
cultura de referência.
|
Fonte |
Jan |
Fev |
Mar |
Abr |
Mai |
Jun |
Jul |
Ago |
Set |
Out |
Nov |
Dez |
FAO
(A1)
|
0,75 |
0,75 |
0,65 |
0,65 |
0,65 |
0,60 |
0,60 |
0,65 |
0,70 |
0,70 |
0,70 |
0,70 |
FAO
(A2)
|
0,85 |
0,85 |
0,80 |
0,80 |
0,80 |
0,75 |
0,75 |
0,80 |
0,80 |
0,80 |
0,80 |
0,85 |
FAO
(B1)
|
0,65 |
0,65 |
0,60 |
0,60 |
0,60 |
0,55 |
0,55 |
0,60 |
0,60 |
0,60 |
0,60 |
0,65 |
FAO
(B2)
|
0,85 |
0,85 |
0,80 |
0,80 |
0,80 |
0,75 |
0,75 |
0,80 |
0,80 |
0,80 |
0,80 |
0,85 |
FAO
(C1)
|
0,55 |
0,55 |
0,50 |
0,50 |
0,50 |
0,45 |
0,45 |
0,50 |
0,50 |
0,50 |
0,50 |
0,55 |
FAO
(C2)
|
0,90 |
0,90 |
0,85 |
0,85 |
0,85 |
0,85 |
0,85 |
0,85 |
0,85 |
0,85 |
0,85 |
0,90 |
A = Plantas adultas cobrindo mais de 70% do terreno.
B = Plantas jovens cobrindo 50% do terreno.
C = Plantas jovens cobrindo 20% do terreno.
1- Plantas em terreno limpo, 2 - Plantas em terreno com mato.
|