Embrapa Embrapa Uva e Vinho
Sistema de Produção, 6
ISSN 1678-8761 Versão Eletrônica
Dez./2005
Sistema de Produção de Morango para Mesa na Região da Serra Gaúcha e Encosta Superior do Nordeste
Rosa Maria Valdebenito Sanhueza
Alexandre Hoffmann
Luís Eduardo C. Antunes
Japiassú de Melo Freire
Importância da cultura

Importância Nutricional

O morango é um alimento importante (Tabela 1), rico em frutose e sacarose e pobre em carbohidratos. Quando o morango é consumido numa refeição bem balanceada, há uma reação química que triplica os índices de absorção de ferro presentes nos vegetais, ovos e carnes. É também levemente laxativo e diurético. Supre a carência de minerais e vitaminas do Complexo B e possui quercitina, que é capaz de neutralizar a ação dos radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento das células.

Tabela 1. Valor nutricional do morango (em 100 g)
Calorias (Kcal): 39 Glicídios (g) 7,4 Proteína (g) 1 Lipídios (g) 0,6 Cálcio (mg) 22
Fósforo (mg) 22 Ferro (mg) 0,90 Sódio (mg) 31,5 Potássio (mg) 155,2 Cobre (mg) 0,20
Enxofre (mg) 11,5 Zinco (mg) 0,23 Iodo (µg) 0,16 Vitamina A (µg) 3 Vitamina B1 (µg) 30
Vitamina B2 (µg) 040 Niacina (µg) 0,400 Vitamina C (mg) 72,8
Fonte: Embrapa Uva e Vinho

O morango é conhecido como "frutilla" ou "fresa" na América do Sul, "fresa" ou "freson", na Espanha, "fraisier" na França, "strawberry", nos países de língua inglesa, "eerdbeere" na Alemanha, "aardbei" na Holanda e "fragola" na Itália.
O consumo de morangos é citado em épocas remotas conhecendo-se como "fragum" ou "fraga", devido ao seu sabor doce. Há relatos da cultura do morangueiro das espécies Fragaria vesca e F. moschata já no século XV na França e Inglaterra. No século XVII cultivou-se, em fileiras alternadas, F. chiloensis, trazida do Chile e F virginiana, a partir do que se obtiveram híbridos classificados como F. ananassa.
Chegando ao Brasil, a cultura espalhou-se por diversas regiões. No Rio Grande do Sul, a cultura teve grande impulso comercial no início da década de 1970, concentrando-se no Vale do Rio Caí e a Serra Gaúcha que são as principais áreas produtoras de morangos de mesa. No presente, verifica-se o surgimento de outros pólos de produção no Estado. A região de Pelotas destaca-se na produção de morangos para indústria.
O morango é uma das frutas de maior importância econômica em regiões da Serra Gaúcha e Encosta Superior do Nordeste. Trata-se de uma cultura já consolidada e tradicional em municípios como Feliz, Bom Princípio e Farroupilha. Destaca-se, com importância crescente, o cultivo em Vacaria e Flores da Cunha, dentre outros. O interesse pelo cultivo é devido à elevada rentabilidade da cultura, ao amplo conhecimento e aceitação da fruta pelo consumidor e pela diversidade de opções de comercialização e processamento do morango.
Segundo dados da EMATER-RS (Emater, 2004), no Rio Grande do Sul foram cultivados em 2003, 680,70 hectares com morango, dos quais cerca de 66% encontram-se na região de Pelotas, na qual a produção é predominantemente destinada para processamento em indústrias locais. Segundo este mesmo levantamento, a produção anual foi de 11.541,50 t e a produtividade, de 16,96 t/ha.
Na região da Serra Gaúcha e Encosta Superior do Nordeste, a produção é destinada essencialmente para mesa, visando abastecer tanto o mercado local quanto estadual, com freqüentes destinos da fruta para outros estados. Nos últimos anos, ações de produtores com apoio do SEBRAE-RS têm permitido iniciar a exportação de frutas especialmente para a Itália, França e Estados Unidos. Na Tabela 2, são apresentados dados referentes aos principais municípios produtores de morango desta região, na qual praticamente toda a área conta com irrigação e cobertura plástica. Nesta região, as principais cultivares são Camarosa, Oso Grande, Aromas, Sweet Charlie, Dover, entre outras (Emater, 2004). O cultivo de morango em regiões mais frias como as da Serra Gaúcha, em especial dos Campos de Cima da Serra, aliado ao uso de cultivares indiferentes ao fotoperíodo (neutras) tem possibilitado a ampliação do período da oferta de morangos, com benefícios diretos sobre a qualidade da fruta colocada no mercado e sobre a rentabilidade da atividade produtiva. A elevada sensibilidade do morangueiro a doenças e pragas tem estimulado produtores, extensionistas e pesquisadores a testarem sistemas alternativos de produção, como é o caso do sistema de produção orgânica e o sistema semi-hidropônico, que poderá ser a base para um sistema de produção integrada de morangos.

Tabela 2. Área comercial, produção e produtividade dos principais municípios produtores de morango da Serra Gaúcha e Encosta Superior do Nordeste, 2003.
Município Área atual (ha) Produção 2003 (t) Produtividade 2003 (t/ha)
Feliz 40,00 1.000,00 25,00
Bom Princípio 30,00 1.050,00 35,00
Farroupilha 30,00 1.750,00 58,33
Flores da Cunha 18,00 756,00 42,00
São Sebastião do Caí 15,00 450,00 30,00
Caxias do Sul 12,00 480,00 40,00
Ipê 10,00 450,00 45,00
São José do Hortêncio 6,00 150,00 25,00
Alto Feliz 3,00 120,00 40,00
Fonte: Embrapa Uva e Vinho

Botânica

O morangueiro pertence à família Rosaceae, subfamília Rosoidea, tribo Potentilla e gênero Fragaria. As espécies comercialmente importantes são as européias Fragaria vesca L.(diplóide), F. moschata Duch (hexaplóide) e F. viridis Duch (diplóide), as americanas F. virginiana Duch (octoplóide) e F. chiloensis L (octoplóides), as híbridas F. virginiana x F. chiloensis = F. ananassa (octoplóide) e as remontantes F. ananassa x F. vesca.
O morangueiro é uma planta herbácea estolonífera, perene, com caule semi-subterrâneo, conhecido como coroa (caule modificado). A coroa apresenta um tecido condutor periférico em espiral nos dois sentidos unido às folhas. A medula é proeminente e muito suscetível às geadas. Na medida que a coroa envelhece pode originar de 8 a 10 novas coroas.
As folhas se originam da coroa de forma helicoidal com forma e cor variando conforme a cultivar. Em geral, são trifoliadas com um par de estípulas triangulares na base. Às vezes, apresentam um par de pequenos folíolos abaixo dos normais. Os folíolos são dentados, de cor verde escuro na face superior e acinzentada e pilosa na inferior. As folhas têm entre 300 a 400 estômatos/mm², um número bem maior que os de outras culturas, como por exemplo, da macieira, que possui 246 estômatos/mm². Esta característica faz que a cultura seja muito sensível à falta de água, baixa umidade relativa, alta temperatura e intensidade e duração da luz.
O morangueiro possui estolões ou caules que se desenvolvem a partir das gemas basais das folhas, crescem sobre a superfície do solo e tem a capacidade de emitir raízes e dar origem a novas plantas. O pedúnculo floral é ereto curvando-se após a polinização. As flores são hermafroditas e hemicíclicas. O cálice é formado por brácteas unidas na base. As pétalas são livres, lobuladas, brancas ou avermelhadas, dispostas ao redor do receptáculo proeminente o qual, após a fecundação dos pistilos, se transforma no "morango". Desta forma, os "morangos" são frutos falsos, sobre os quais se encontram os aquênios, que são os frutos verdadeiros (Figura 1).
Os estames são em número superior a 20, são numerosos e estão localizados ao redor do receptáculo. Os estames possuem filamentos longos ou curtos, que podem apresentar anteras férteis ou estéreis. Os pistilos são numerosos (entre 200 e 400), tem ovário com um só óvulo e dispostos em forma de espiral.
As raízes originam-se das coroas na forma de um sistema fasciculado. As raízes crescem principalmente nas épocas de dias curtos, menor do que 12 horas de luz. No outono e no início do inverno, é necessário utilizar cobertura plástica para elevar a temperatura do solo, condição que favorece o crescimento radicular.
A cultura responde de forma diferente às combinações de temperatura e de comprimento do dia. Assim, a formação de estolões e o desenvolvimento de folhas são favorecidos sob condições de dias longos e temperatura elevada, a indução floral ocorre com temperatura baixa e dias curtos e a frutificação, em dias longos e temperaturas amenas.


Detalhamento do fruto do morango.
Fonte: Alexandre Hoffmann (2003)

Polinização

A polinização do morangueiro depende do transporte do pólen pelo vento e por insetos, e é crítica para a produção econômica. Em condições naturais, geralmente a polinização é deficiente. Pistilos com problemas de polinização originam frutos deformados. O pólen é liberado durante dois ou três dias, entre 9 e 17 horas. Para que ocorra a polinização, a temperatura mínima deve ser de 12°C e a umidade relativa inferior a 94%.
Recomenda-se colocar conjuntos, de no mínimo, 4 caixas de abelhas próximo a área de plantio. Utiliza-se, como atrativo para as abelhas, principalmente no início da floração, mel, água e açúcar, dando ênfase a essa prática nos períodos desfavoráveis para atividade das abelhas (temperatura baixa).

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