Produção de Morangos no Sistema Semi-Hidropônico

Adalécio Kovaleski
Noeli Juarez Ferla
Marcos Botton
Silvia Marisa Jeisen Pinent

Controle de pragas

Ácaros fitófagos

Os ácaros fitófagos atacam principalmente as folhas do morangueiro, provocando mosqueamento ou clorose, bronzeamento, perda de vigor, redução na produção, desfolhamento, murchamento permanente, atrofiamento podendo causar a morte das plantas. As espécies mais importantes pertencem às famílias Tetranychidae e Tarsonemidae.

A família Tetranychidade compreende as espécies mais importantes. O ácaro-rajado Tetranychus urticae Koch, 1836, é o mais comum, seguido de Tetranychus desertorum Banks, 1900 e Tetranychus ludeni Zacher, 1913, conhecidos comumente como ácaros vermelhos.

Na família Tarsonemidade é encontrado o ácaro do enfezamento ou das gemas Phytonemus pallidus (Banks, 1899) e o ácaro branco dos ponteiros Polyphagotarsonemus latus (Banks, 1904).

Da família Tenuipalpidae, foi encontrado em morangueiro o ácaro da leprose dos citros Brevipalpus phoenicis Geijskes, 1939.

  1. Ácaro rajado - A fêmea adulta tem forma ovalada, com o dorso revestido de pequenos espinhos. A cor varia do amarelo pálido ao esverdeado até o avermelhado nas formas hibernantes. Apresentam manchas escuras no dorso e um par de ocelos vermelhos na região dorso-lateral. Os ovos são esféricos sendo depositados na face inferior dos folíolos. O ciclo de ovo adulto pode se completar em sete dias. O aumento populacional é favorecido com clima quente e seco. A espécie está presente em quase todos os países, alimentando-se de grande diversidade de plantas. Atacam as folhas do morangueiro na face inferior onde tecem teia, ocasionando manchas branco-prateadas. Na face superior, áreas de início cloróticas, tornam-se bronzeadas. Quando o ataque é intenso, as folhas secam e caem, podendo causar a morte da planta;
  2. Ácaros vermelhos - Apresentam cor vermelha intensa, sendo freqüentemente confundidos, pela semelhança biológica e comportamento, com o ácaro rajado. Caracterizam-se por tecer abundante teia que cobre as populações e às vezes as plantas atacadas. Também ocupam a face inferior dos folíolos;
  3. Ácaro do enfezamento do morangueiro - São ácaros de pequeno porte, com cerca de 0,3 mm de comprimento. As fêmeas são escuras e os machos são de cor amarela. Abrigam-se entre as folhas enroladas da planta. Quando o morangueiro está em brotação, atacam as folhas novas. Quando ocorrem em baixa infestação, observa-se apenas um ondulado na face superior das folhas e um pequeno aglomerado destas. Ataques mais severos ocasionam nanismo na parte central da planta. As folhas novas não abrem, ficando com pecíolos mais curtos, perdem a cor, amarelecem, ficam quebradiças, seguidas de bronzeamento e morte. Em ataques intensos, podem causar perda total da lavoura.

Dentre os principais fatores responsáveis pelo aumento populacional dos ácaros fitófagos em morangueiros, destacam-se:

  • Utilização de mudas infestadas;
  • Ausência ou baixo nível populacional de inimigos naturais;
  • Adubação nitrogenada em excesso;
  • Uso de inseticidas/acaricidas e fungicidas (principalmente ditiocarbamatos) não seletivos aos inimigos naturais.

Uso de ácaros predadores no controle biológico

Ácaros predadores das famílias Erythraeidae, Cunaxidae, Phytoseiidae e Stigmaeidae foram observados na cultura do morangueiro no Estado do Rio Grande do Sul. Os fitoseídeos são os ácaros mais comuns e os mais importantes no controle dos ácaros fitófagos sendo que onze espécies de Phytoseiidae foram relatadas associadas à cultura do morangueiro no RS com destaque para Neoseiulus californicus (McGregor, 1954) e Phytoseiulus macropilis (Banks, 1904).

Neoseiulus californicus - Quando adulto, apresenta cor amarelo-palha e corpo alongado. Observado normalmente na face inferior dos folíolos sob a teia do ácaro rajado ou próximo da nervura principal. Exerce um controle efetivo sobre as populações do ácaro-rajado e do ácaro do enfezamento. Este predador é criado em estufas para realizar a liberação massal e controlar os ácaros-praga da cultura do morangueiro.

Phytoseiulus macropilis - Quando adulto apresenta cor avermelhada e o corpo forma ovóide. Também é encontrado na face inferior dos folíolos do morangueiro sob a teia do ácaro rajado ou próximo da nervura principal. Pode ser visualizado sem o uso de lupa como um ponto vermelho de rápida movimentação. Quando tocado movimenta-se rapidamente. Ocorre naturalmente em plantações de morango sem o uso de agrotóxicos. Alguns agricultores conseguem controlar de forma satisfatória o ácaro rajado somente com o emprego deste predador, sem a necessidade de intervenção química. Devido a seu alto consumo de presas e desconhecimento de presas alternativas, é de difícil criação massal.

Os dois gêneros são importantes agentes de controle biológico adquirindo a cor das presas nas quais se alimentam. Deslocam-se com muita rapidez em toda a superfície foliar e predam preferencialmente ácaros tetraniquídeos. Na falta desses passam a se alimentar de outros ácaros, ninfas de cochonilhas, fungos, grãos de pólen e de sucos celulares. Os fitoseídeos podem ser multiplicados, com facilidade, em ambientes controlados, com a finalidade de desenvolver o controle biológico nas lavouras.

Criação de ácaros predadores

Em geral os ácaros predadores ocorrem naturalmente em todos os ambientes, apenas precisam de alimento para se multiplicar. Portanto, é conveniente que antes do estabelecimento do morangueiro, seja semeada em uma estufa própria para isto, uma cultura que seja atacada pelo ácaro rajado para obter a multiplicação dos predadores nas imediações (Ex.: feijão). O predador será transferido para os morangueiros se for constatada infestação do ácaro rajado. Assim, é provável que o primeiro ataque cause dano a cultura mas, posteriormente observar-se-á o equilíbrio.

A forma mais simples de multiplicar os ácaros predadores é através da criação do ácaro rajado sobre feijão da seguinte forma:

  1. Plantar feijão, em potes ou sacos plásticos, em alta densidade;
  2. Cerca de 14 dias após o plantio infestar as plantas com ácaro rajado;
  3. Quando observar que todas as folhas já estão atacadas pelo ácaro rajado, liberar o ácaro predador;
  4. Caso não tenha uma colônia do predador, trazer folhas do campo com alta população do rajado. Geralmente há uma associação de ácaros predadores onde existe oferta de alimento. O ideal é manter uma colônia isolada de predadores;
  5. Após a infestação com material do campo, analisar periodicamente as folhas do feijoeiro e quando tiver mais predadores do que o ácaro rajado é o momento de levar as folhas para a lavoura.

Medidas auxiliares do controle biológico de ácaros do morangueiro

  1. Produção de mudas em áreas isentas de ácaros fitófagos;
  2. Plantar mudas sadias, livres de ácaros fitófagos e isentas de doenças;
  3. Descartar e eliminar as mudas com problemas fitossanitários;
  4. Realizar poda fitossanitária das folhas e constatada a presença de ovos ou formas móveis de ácaros realizar uma desinfestação das mudas por imersão no pré-plantio com um dos acaricidas permitidos (Quadro 2);
  5. Plantar as mudas em áreas não-contaminadas por ácaros fitófagos ou outros problemas fitossanitários;
  6. Efetuar adubações orgânicas e minerais equilibradas, com antecedência, de acordo com as análises de solo e foliar;
  7. Em áreas endêmicas e com microclimas favoráveis, antecipar o plantio utilizando cultivares precoces e resistentes às doenças foliares para maximizar a produção antes dos picos ascendentes do ácaro rajado;
  8. Monitorar as populações de ácaros fitófagos;
  9. Manter criações de ácaros fitoseídeos, em ambientes controlados, para a liberação desses predadores em lavouras e viveiros infestados de ácaros nocivos;
  10. Liberar ácaros fitoseídeos nos ecossistemas infestados pelos ácaros nocivos para manter esses organismos em níveis de equilíbrio;
  11. Promover associações de vegetais cultivados e nativos com morangueiros para possibilitar a implantação de fitoseídeos e outros inimigos naturais nesta cultura.

Controle químico

Ocorrendo ácaros fitófagos no período vegetativo e não sendo suficientes as medidas preventivas e biológicas de controle, podem ser usados acaricidas registrados para uso na cultura do morangueiro (Quadro 1). Quando a infestação ocorre no período de frutificação, observar a carência dos produtos. Procurar realizar o controle de forma localizada, nos focos de infestação, tratando toda a lavoura somente se necessário. Procurar rotacionar os acaricidas com diferentes modos de ação.

Quadro 1. Inseticidas e acaricidas recomendados para o controle de pragas do morangueiro.

Praga Ingrediente ativo Produto comercial Dose (g ou mL de produto
comercial / 100L)
Classe Toxicológica Carência (dias)
Pulgões
Captophorus
fragaefolii
Malatol Malathion 1000 CE Cheminova 100 II 7
Malathion 500 CE Cheminova 200 II 7
Malathion 500 CE Sultox 200 II 7
Cerosipha
forbes
Thiamethoxan Actara 250 WGR 10 III 1
Dimetoato Tiomet 400 CE 3 I 3
Ácaros
Tetranychus
urticae

Tetranychus
desertorum

Tetranychus
ludeni

Tetranychus
pallidus

Brevipalpus
phoenicis
Fenpropatrin Dinimen 300 CE 65 I 3
Abamectin Acaristop 40 III 11
Vertimec 18 CE 50-75 III 3
Abamectin Nortox 75 III 3
Kraft 25 a 30 I 3
Potenza 50 a 75 I 3
Ciofentezina Acaristop 40 III 11
Propargite Omite 720 CE 30 II 4
Fenpiroximate Ortus 50 SC 100 II 5
Cihexatin Cihexatin 500 50 III 14
Fenpropatrina Meotrin 65 I 3
Sumirody 300 54 I 3

SR Sem restrições.
Fonte: Agrofit, 2006.

Insetos

Broca-dos-Frutos - Lobiopa insularis (Castelnau, 1840) (Coleoptera: Nitidulidae)

Os adultos da broca dos frutos são atraídos para o interior da lavoura devido ao odor (fermentação) dos frutos maduros com algum dano que muitas vezes são abandonados na estufa. Os besouros também podem espalhar fungos ampliando as perdas. Normalmente o ataque da broca dos frutos e maior no morango cultivado no solo. O inseto danifica além do morango, o tomate, pêssego, goiaba, maçã, laranja, melão e melancia.

Controle: De forma preventiva, devem ser eliminados sempre que possível os frutos hospedeiros da broca localizados próximos à estufa. De forma geral, a eliminação dos frutos sobremaduros (refugados) dentro da área de cultivo reduz a infestação da praga.

Besouros e Lagartas

Besouros e lagartas de diferentes espécies e famílias podem cortar as plantas rente ao solo, tornando necessário o replantio ou ao se alimentarem das folhas, reduzirem a atividade fotossintética das plantas. No geral, dificilmente causam danos econômicos ao cultivo.

Pulgões - Icapitophorus fragaerolli (Cockerell, 1901) e Cerosipha forbes (Weed, 1889)

Além dos danos físicos e fisiológicos na planta, os pulgões podem ser vetores de vírus. Na cultura do morangueiro as espécies se localizam na face inferior das folhas mais novas podendo estar associados a formigas doceiras.

Controle: A população de pulgões geralmente é mais elevada quando existe disponibilidade de nitrogênio livre nas plantas. Caso seja necessário o controle químico, empregar os produtos indicados no Quadro 2.

Tripes Frankliniella occidentalis (Perg.)

Os tripes são insetos minúsculos, cujos indivíduos adultos medem de 0,5 a 1,5 mm de comprimento. Possuem corpo alongado, asas franjadas e aparelho bucal picador sugador. Pertencem à ordem Thysanoptera que é subdividida em duas subordens: Tubulifera (abdome em forma de tubo, sem ovipositor externo) e Terebrantia (ovipositor externo = Terebra) Quase todos são fitófagos, sugadores de seiva, mas podem atuar como predadores, polinizadores, fungívoros (50%) e ectoparasitos.

A reprodução ocorre de forma sexuada, sendo que em muitas espécies as fêmeas são mais numerosas que os machos podendo ocorrer reprodução partenogenética. Os machos são, via de regra, menores do que as fêmeas. A postura dos tripes fitófagos é endofítica. Dos ovos eclodem larvas (dois ínstares ativos), que se transformam em dois (Terebrantia) ou três (Tubulifera) ínstares pupais relativamente inativos, de onde emergirão os adultos (remetabolia).

Os tripes atacam sempre as partes aéreas das plantas (folhas, flores, frutos, órgãos internos). São sugadores de seiva, como conseqüência as folhas perdem a coloração e surgem pontos escuros nos locais das picadas. Os adultos fazem as posturas dentro dos tecidos vegetais (Terebrantia) e nas axilas e/ou sobre as folhas (Tubulifera), frutos e preferencialmente nas flores. Ataques intensos causam inicialmente lesões de brilho prateado, posteriormente as folhas secam e caem. Nas flores, afetam os órgãos reprodutivos, embora às vezes possam auxiliar na polinização. Podem provocar a queda dos frutos recém-formados ou causar manchas e cicatrizes (dano qualitativo) nos frutos em desenvolvimento.

A espécie de tripes mais comum associada à cultura do morangueiro na Região da Serra Gaúcha é a Frankliniella occidentalis. O monitoramento da espécie deve ser realizado avaliando-se as flores. Não existe nível de controle estabelecido para a cultura.

Controle: Eliminação das plantas hospedeiras próximas da estufa; colocação de armadilhas adesivas de cor azul entre as plantas. Não existem inseticidas registrados para o controle de tripes na cultura do morangueiro.

Outras Pragas

Lesmas e Caracóis

As lesmas (Vaginula sp) e os caracóis da espécie Helix aspersa (Muller, 1774), Strophocheilus oblongus Noricand, Bradybaena similaris (Fer., 1921), entre outras, podem constituir um problema sério em situações de alta umidade podendo danificar as plantas e também os frutos, depreciando-os comercialmente. Estes moluscos alimentam-se geralmente à noite.

Controle: Os moluscos, principalmente as lesmas, são ávidos por farelo e sensíveis ao Metaldeído. No comércio encontram-se iscas granuladas atrativas à base de Metaldeído que são eficientes no controle de lesmas e caracóis, devendo-se, ao aplicar, evitar o contato direto desse produto com a planta.

Também é recomendado distribuir, nas bordas do canteiro, uma faixa de 15 cm de largura com pó de cal ou cinza, que se adere ao corpo dos moluscos imobilizando-os e evitando que consigam se alimentar das plantas.

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