Sistema de Produção de Graspa

Luiz Antenor Rizzon

Custos de produção

Viabilidade financeira

A análise financeira de uma agroindústria de processamento de uva inicia pela definição do volume de produção que a empresa pretende fabricar. Depois, calcula-se o investimento físico, definem-se e calculam-se os custos fixos, estimam-se os custos variáveis, projetam-se os custos totais, identificam-se os custos de comercialização e a margem de lucro, calcula-se o preço de venda, apuram-se as receitas e os resultados operacionais, projeta-se o investimento inicial, para finalmente, analisar a viabilidade financeira do empreendimento.

Como você deve ter percebido, para fazer a análise financeira o empreendedor vai precisar de um bom volume de informações e fazer uma série de cálculos matemáticos. Por isso, se você deseja realmente abrir sua própria agroindústria de processamento de uva, fique atendo ao roteiro, para análise financeira que iremos apresentar, a seguir.

Objetivos da análise financeira

A análise financeira tem como objetivos:

  • identificar o investimento físico e financeiro do empreendimento
  • estimar o volume de produção da agroindústria
  • definir os custos dos materiais diretos e da mão-de-obra da empresa
  • calcular os custos fixos e de produção
  • projetar as receitas operacionais do negócio
  • montar a tabela de resultados operacionais
  • conhecer o valor do investimento inicial
  • avaliar a viabilidade financeira do empreendimento

Além disso, os dados apurados na análise financeira, combinados com as demais informações já vistas anteriormente, dão condições ao futuro empresário para:

  • aprimorar a idéia do negócio, tornando-a clara, precisa e de fácil entendimento
  • obter informações completas e detalhadas sobre o negócio que se pretende implementar
  • estabelecer, com base na explicitação da idéia, os pontos fortes e fracos do futuro empreendimento
  • proceder à negociação mais eficiente com fornecedores, financiadores ou futuros sócios, em conseqüência dessas definições.

Para realizar a análise financeira da agroindústria, é importante ter em mãos as seguintes informações:

  • o tamanho do mercado consumidor, para projetar o volume de produção do futuro negócio
  • a noção clara dos preços, prazos de entrega e de pagamento dos insumos a serem utilizados no processo produtivo, para determinar o custo médio de processamento e comercialização dos produtos
  • a concepção clara do modelo de negócio, para determinar e orçar o montante de investimentos físicos e financeiros necessários à implantação do empreendimento
  • o mapeamento do mercado e quais os preços médios dos concorrentes potenciais, para se ter certeza sobre as possibilidades de implantação do negócio

Riscos da atividade empresarial

É importante dizer que os procedimentos e os cálculos, que propagamos nesta parte de nosso estudo, não eliminarão os riscos inerentes a qualquer atividade empresarial, uma vez que a capacidade de assumir riscos é uma característica importante do perfil do empreendedor de sucesso.

Antes de passarmos para nossa análise financeira, vale um lembrete: os dados, informações, valores e situações criados não equivalem à realidade. Isso porque as mudanças verificadas, periodicamente, na economia brasileira, e o tempo decorrido entre o momento em que foram realizados os estudos e o momento em que você os utilizará, inviabilizam seu desenvolvimento em bases realistas.

Assim, os conceitos, cálculos matemáticos e o processo de desenvolvimento da análise financeira, apesar de identificarem o tipo de empresa, devem ser adaptados às necessidades de cada situação específica. Para isso, será necessário que o empresário realize uma pesquisa cuidadosa e identifique os valores reais, para os diferentes itens da análise financeira.

Os valores foram calculados em R$ 1,00 (excluímos os centavos) e foram arredondados para mais aqueles iguais ou acima de R$ 0,50 e para menos os abaixo de R$ 0,50.

A partir de agora, você acompanhará o desenvolvimento da análise financeira de nossa pequena agroindústria.

Volume de produção e investimento físico

O ponto de partida para o planejamento financeiro de nossa agroindústria de processamento de uva foi a definição de quanto pretendemos produzir. E essa não é uma definição aleatória, mas que depende do mercado que queremos atingir, da disponibilidade de matéria-prima e da concorrência que vamos enfrentar.

Além disso, é preciso avaliar, com cuidado, a disponibilidade de capital próprio e de terceiros. Depois, calculamos quanto precisaremos gastar na montagem de nossa agroindústria, ou seja, o custo das máquinas, equipamentos, ferramentas, veículos, mobiliário, imóveis e outros materiais permanentes que compõem o investimento fixo.

O que e quanto produzir

A análise financeira começa com a estimativa do plano de produção, que é a identificação do volume de produtos que pretendemos comercializar num determinado período de tempo. Depois, calculamos o valor do investimento físico - equipamentos e instalações necessários para o cumprimento das metas de produção - onde relacionamos as quantidades e os custos das máquinas, equipamentos, veículos, ferramentas e demais materiais permanentes.

Para definir o volume de produção de nossa agroindústria, consideramos os seguintes fatores:

  • capacidade nominal dos recursos materiais, ou seja, capacidade nominal de produção das máquinas, equipamentos e instalações, além dos recursos financeiros;
  • disponibilidade de matérias-primas, materiais secundários e embalagens;
  • disponibilidade de recursos humanos na região.

O volume anual de produção de graspa para a nossa agroindústria é de 4.500 garrafas de 300 mL (7% de participação).

Custo de investimento

Nesta etapa da análise financeira, vamos saber quanto precisaremos gastar na montagem da agroindústria. Isso inclui as máquinas e os equipamentos utilizados na produção, as ferramentas, os veículos, os mobiliários e outros materiais permanentes.

Chama-se esse conjunto de investimento físico, porque são gastos feitos de uma só vez e que ficam agregados ao patrimônio da empresa.

Quem pretende entrar no ramo agroindustrial de processamento de uva para fabricar graspa precisa escolher cuidadosamente os equipamentos, instalações e materiais permanentes que vai adquirir. Em primeiro lugar, o maquinário deve ser de qualidade e ter a garantia de assistência técnica eficiente, para evitar que a produção fique suspensa, caso aconteça algum problema. Uma máquina quebrada ou mal regulada pode acarretar enormes prejuízos no momento em que as matérias-primas estão sendo processadas.

As máquinas também devem ter uma capacidade de produção adequada às necessidades iniciais da empresa, com uma folga que possibilite uma expansão futura.

De modo geral, os fabricantes dos equipamentos fornecem as especificações técnicas das obras civis necessárias para a instalação das máquinas. A partir delas, o procedimento ideal é encomendar a um profissional especializado - arquiteto ou engenheiro - a planta baixa e hidráulica (dos encanamentos de água e esgoto) e elétrica (das fiações) do imóvel) que atendam às especificações tanto para a área de produção como para as áreas de armazenamento e administração.

Para o processamento da graspa, são necessários somente um destilador e os recipientes para armazenagem. Além desses equipamentos foi prevista a construção de um galpão industrial para o funcionamento da cantina, com 140 m² de área útil.

Para fechar a tabela dos investimentos físicos, acrescentamos uma reserva técnica de 10% dos custos totais.

Veja na Tabela 1, qual a necessidade de investimento físico do nosso projeto.

Tabela 1. Investimento físico.

Descrição Quantidade Custo unitário (R$ 1,00) Custo total (R$ 1,00)
Equipamentos e instalações 17.000
Destilador de cobre equipado (caldeira, capitel, pescoço-de-cisne, condensador e porta-alcoômetro) com 500 L de capacidade. 1 8.000 8.000
Recipiente de aço inoxidável, para armazenar a graspa, com capacidade para 2.000 L. 3 3.000 9.000
Obras civis: construção de galpão para cantina rural 140 450 63.000
Reserva técnica (10%) 8.000
TOTAL 88.000

Custos diretos

Os custos diretos estão relacionados com a produção e a venda. Esses custos apresentam particularidades em razão do tipo de atividade que a empresa exerce. Numa pequena agroindústria de processamento de uva, estão incluídos, nesses custos, os materiais diretos - matérias-primas, materiais secundários e embalagens - e a mão-de-obra direta - salários e encargos sociais dos recursos humanos ligados diretamente à produção.

Materiais diretos

O que se convencionou chamar tecnicamente de materiais diretos são as matérias-primas, materiais secundários, embalagens e demais materiais utilizados na fabricação de um produto, até o estágio em que ele chega ao consumidor final.

No caso de nossa agroindústria de processamento de uva eles são fundamentais para o bom resultado final dos produtos. Não há processo de fabricação e técnicas de comercialização que façam o milagre de suprir os requisitos de qualidade, se as matérias-primas empregadas na fabricação forem de má qualidade. Isso quer dizer que boa parte do sucesso do empreendimento vai depender dos seus fornecedores de matéria-prima. É importante que eles sejam idôneos, confiáveis e que garantam a qualidade constante nos fornecimentos.

Os custos dos materiais diretos variam muito de produto para produto.

Veja, na Tabela 2, a seguir, o custo anual dos materiais diretos necessários para a produção de 4,5 mil garrafas de graspa.

Tabela 2. Custo anual dos materiais diretos.

Descrição Quantidade Custo unitário (R$ 1,00) Custo total (R$ 1,00)
Garrafas de 300 mL (unidade). 3.000 2,00 6.000
Rolhas (unidade). 3.000 0,80 2.400
Cápsulas (unidade). 3.000 0,20 600
Rótulos (unidade). 3.000 0,30 900
Contra-rótulos (unidade). 3.000 0,20 600
Caixas de papelão (unidade). 3.000 1,00 3.000
TOTAL 13.500

Mão-de-obra direta

Como em qualquer empresa, os recursos humanos são fundamentais para o sucesso de uma agroindústria de processamento de uva.

Você verá que, nesta parte de nosso estudo, não trataremos de todos os funcionários da nossa empresa, mas apenas daqueles que trabalham diretamente no setor de produção. Essa divisão pode ser uma novidade para você, mas é feita para permitir melhor planejamento e administração da empresa. Isso porque o trabalho dos operários está diretamente relacionado ao volume de produção de uma agroindústria, o que não aconteceu com o pessoal que trabalha na área administrativa. Uma secretária, por exemplo, trabalha oito horas por dia, quer a agroindústria esteja processando 100 kg ou 10.000 kg de uva.

É dos operários ou dos funcionários que trabalham diretamente na área de produção, que estamos tratando nesta parte de nosso estudo. Eles compõem o que chamamos de mão-de-obra direta de uma agroindústria de processamento de uva.

Para quantificar o número de pessoas para atender às necessidades da fábrica, é preciso um pouco de prática.

De acordo com empresários do ramo, para o volume de produção definido no nosso plano de produção, são necessários um técnico um ecologista e um auxiliar de produção, trabalhando em tempo integral, mas três empregados temporários, trabalhando três meses por ano.

O piso salarial dos funcionários é definido regionalmente pelos sindicatos da classe. Neste estudo, utilizamos o salário médio mensal para o enologista, de R$ 1.200,00, para o auxiliar de produção R$ 700,00 e para a mão-de-obra temporária R$ 500,00. É claro que esses valores são ilustrativos. Veja, na Tabela 3, como ficou o custo anual da mão-de-obra direta.

Tabela 3. Custo anual da mão-de-obra direta.

Discriminação Valores
Quantidade (R$ 1,00)
Técnico em enologia 1 14.400
Auxiliar de produção 1 8.400
Mão-de-obra temporária 3 4.500
Subtotal 5 27.300
Encargos sociais - 20.420
TOTAL 5 47.720

Depois de definido o número de empregados e os salários de cada um, vamos calcular a despesa anual com a folha de pagamento, acrescentando um percentual de 74,8%, correspondente aos encargos sociais, que são distribuídos como apresentado na Tabela 4.

Tabela 4. Composição dos encargos sociais.

Discriminação %
Contribuição da empresa 20,00
FGTS 8,00
Sesi 1,50
Senai 1,00
Incra 0,20
Sebrae 0,03
Salário-educação 2,50
Seguro sobre acidente de trabalho 2,00
Férias 13,67
Feriados 4,00
Auxílio-enfermidade 0,60
Aviso prévio 1,20
Faltas justificadas 3,00
13º salário 12,20
Dispensa sem justa causa 4,90
TOTAL 74,80

É importante informar que alguns desses índices são variáveis como o número de faltas justificadas, o índice de rotatividade dos empregados, das férias, do número de feriados por ano, do índice de acidente de trabalho, de auxílio-doença, do Sistema ¿S¿ (Senac, Sesc, Senai, Sei e Sebrae), entre outros.

Custos fixos

Depois de calcular o custo anual dos materiais diretos e o valor da folha de pagamento, devemos nos preparar para arcar com os custos fixos do negócio, ou seja, aqueles que ocorrem independentemente da produção ou das vendas. Geralmente eles são compostos dos salários e dos respectivos encargos sociais do pessoal administrativos, e dos gastos gerais de administração.

O preço para manter o negócio

Nesta etapa da análise financeira, já conhecemos uma série de dados e informações importantes:

  • o volume anual de produção;
  • a quantidade e os volumes das máquinas, equipamentos e demais matérias permanentes que formam o investimento físico;
  • as quantidades e os custos anuais dos materiais diretos;
  • o quadro de pessoal e o valor anual da folha de pagamento, incluindo salários e encargos sociais.

Agora, vamos calcular os custos fixos anuais da agroindústria, isto é, as despesas de manutenção, necessárias para manter o empreendimento funcionando.

Os custos fixos são aqueles que não estão associados às quantidades de produtos processados, mantendo-se dentro de um mesmo patamar, independentemente, do aumento ou queda da produção ou das vendas. Esses custos ocorrem mesmo que a agroindústria não venda ou produza nenhum bem, sendo necessários para a manutenção do negócio em funcionamento, daí serem também denominados de custos de funcionamento ou custos de estrutura.

Geralmente, os custos fixos são compostos pelos salários e pelos encargos sociais do pessoal administrativo (secretárias, contínuos, vigilantes, gerente-administrativo, etc.; gastos com aluguéis; retirada pró-labore dos sócios; materiais de limpeza e conservação; materiais de expediente ou de escritório; honorários profissionais(contador, advogado, engenheiro, etc.); além dos gastos com depreciação, seguro e manutenção do investimento físico.

Para fins do nosso estudo, utilizamos uma média de valores para os custos fixos, já que eles variam muito de região para região. Eles dependem também, do estilo gerencial que o empresário imprime no seu negócio e do nível de simplicidade ou sofisticação da empresa.

Os custos mensais de depreciação, manutenção e seguros são calculados utilizando-se percentuais definidos em lei, que incidem sobre o valor do investimento físico. Para o gasto de depreciação dos equipamentos, por exemplo, o percentual é igual a 15% por ano. Assim, para se saber qual será o custo anual de depreciação dos equipamentos, por exemplo, aplicamos esse percentual sobre o seu valor, ou seja, 15% de R$ 131.100,00 = R$ 19.665,00.

Confira, na Tabela 5, a seguir, os custos mensais de depreciação, manutenção e seguros e, na Tabela 6, como ficam os custos fixos anuais do empreendimento.

Tabela 5. Custo anual de depreciação, manutenção e seguro.

Discriminação Valores
% (R$ 1,00)
Depreciação
Equipamentos 15,0 19.665
Obras civis 3,5 2.205
Soma 21.870
Manutenção
Equipamentos 4,5 5.900
Obras civis 1,5 945
Soma 6.845
Seguros
Equipamentos 3,5 4.589
Obras civis 1,5 945
Soma 5.534

Tabela 6. Custos fixos anuais.

Discriminação Valores
Tarifa de água, energia elétrica e telefone. 960
Retirada pró-labore 12.000
Honorários profissionais 3.000
Fretes e transportes 1.080
Combustíveis e lubrificantes 720
Materiais de expediente e de limpeza 360
Depreciação 21.870
Manutenção 6.845
Seguros 5.334
Outros custos 600
TOTAL 52.769

Custos de produção

Agora, que já conhecemos o custo anual dos materiais diretos, o quanto vamos gastar com a mão-de-obra direta e com os custos fixos, já temos todas as condições para calcular o custo de produção.

Veja, a seguir, os principais fatores que compõem o custo anual de produção da nossa agroindústria de processamento de uva.

Quanto custam os produtos finais

É muito freqüente considerar que os custos de produção de um determinado bem são compostos exclusivamente pela matéria-prima, embalagem e outros materiais diretos utilizados em sua fabricação, esquecendo-se de agregar àqueles preços outros custos, como o de mão-de-obra direta e os custos fixos.

Para não incorrer no mesmo erro, lembre-se de que o custo de produção é, por definição, igual à soma dos custos dos materiais diretos, com o rateio dos custos fixos e dos custos da mão-de-obra direta.

Assim, se quisermos saber o Custo de Produção (CP), isto é, quanto vai custar produzir cada garrafa de vinagre, basta somar esses três itens: Materiais Diretos (MD), Mão-de-obra Direta (MO) e Custo Fixo (CF), e dividir o resultado pelo Volume de Produção (VP), ou seja:

CP = (MD + MO + CF) : VP

Os rateios são calculados proporcionalmente às quantidades fabricadas de cada produto, utilizando-se, para isso, o percentual de participação apresentado anteriormente: Assim, se quisermos saber o valor do rateio dos custos da mão-de-obra e dos custos fixos da graspa, por exemplo, basta aplicar o percentual de participação do produto (7%) sobre os valores do custo anual da mão-de-obra e do custo fixo para o mesmo caso.

Depois, somando-se o custo dos materiais diretos para o mesmo produto, com o rateio do custo de mão-de-obra direta e o rateio do custo fixo, temos como resultado o custo anual de produção.

Finalmente, para calcular o custo unitário de produção, basta dividir o custo anual de produção pela quantidade fabricada de cada produto. Assim, o custo unitário de produção é obtido pelo custo mensal de produção dividido pela quantidade anual de produção.

Veja, na Tabela 7, como ficaram nossas contas.

Tabela 7. Custos de produção.

Discriminação Materiais diretos Mão-de-obra direta Custos fixos Total
Custo anual (R$ 1,00) 13.500 3.340 3.694 20.534
Quantidade 4.500 4.500 4.500 4.500
Custo unitário (R$) 3,00 0,74 0,82 4,56
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