Embrapa Gado de Leite
Sistemas de Produção, 1
ISSN 1678-314X Versão eletrônica
Jan./2003
Sistema de Produção de Leite (Zona da Mata Atlântica)
Autores

Início

Importância econômica
Aspectos agro e zooecológicos
Raças
Infra-estrutura
Alimentação
Reprodução
Manejo sanitário
Mercados e comercialização
Coeficientes técnicos
Referências bibliográficas
Glossário
Editores


Expediente

Infra-estrutura
Introdução
Caracterização da Propriedade
  Identificação da Propriedade
  Estrutura Física
Tecnologia Preconizada (utilizada)
  Produção de Alimentos - SISPAL
  Produção Animal - SISPAN
Gerenciamento Técnico, Administrativo e Financeiro – SISGER
Estrutura Organizacional
Planejamento das Instalações
  Anteprojeto
  Projeto
Definição das Instalações
Dependência das características dos sistemas produtivos
Fatores que afetam a escolha das instalações
Gerenciamento Técnico, Administrativo e Financeiro - SISGER

Detalhar a forma de gerenciamento da propriedade quanto a:

  • Gerenciamento do rebanho
  • Descrever o sistema de registro de dados, se por fichas ou com auxilio de programas especiais (softwares) para o controle zootécnico do rebanho.

  • Acompanhamento econômico e financeiro

    Análise financeira de unidade de produção de leite. Coronel Pacheco - MG, EMBRAPA - CNPGL, 1994 15p EMBRAPA - CNPGL, Documento, 58.

  • Comercialização

  • Informar os critérios e procedimentos adotados para a comercialização de leite e animais.

É importante ressaltar que diversos sistemas (softwares) de gerenciamento estão disponíveis no mercado e que são ferramentas fundamentais para este gerenciamento.

Estrutura Organizacional

Estabelecer o número mínimo de pessoas necessário ao desenvolvimento do empreedimento, bem como elaborar o plano de treinamento e qualificação, delegar responsabilidades, estabelecer o plano de cargos e salários e definir as funções inerentes a cada cargo/atividade.

  • Equipe de Assessoramento e Apoio Técnico

  • Coordenação/Administração Geral e Responsáveis pelos Setores

  • Quadro de Pessoal

    • mão-de-obra para produção de alimentos
    • mão-de-obra para manejo do rebanho

Planejamento das Instalações

De posse das informações levantadas e estabelecido o conceito e forma do sistema de produção, passa-se à fase do planejamento propriamente dito, que é dividido em duas fases distintas, porém interativas:

Anteprojeto

Para que o planejamento de uma construção rural ou de um conjunto de instalações para animais seja bem elaborado, há necessidade de que todos os fatores de produção envolvidos sejam econômica e tecnicamente analisados pelo engenheiro projetista. Detalhes técnicos, construtivos e as características de cada tipo de construção devem ser levantados e considerados na fase de anteprojeto. Neste particular, projetar instalações para animais não significa apenas dimensionar estruturas e definir espaços, mas dimensioná-las em função das necessidades próprias do animal e de sua interação com o meio ambiente e o homem.

Projeto

A definição de uma estrutura física de uma propriedade destinada à produção de bovinos de leite deve ser considerada sob duas fases. A primeira concerne à área disponível e o programa de uso do solo, para, a partir deste referencial, determinar o dimensionamento/tamanho e a evolução do rebanho, que é determinante para a segunda fase, que consiste no planejamento das instalações, benfeitorias e a quantidade de máquinas, motores e equipamentos necessários à condução do sistema de produção.

Definição das Instalações

A intensificação dos sistemas de produção de leite tem evoluído para um sistema de exploração no qual o uso de tecnologia e capital passam a exigir do produtor melhor gerenciamento sobre os recursos produtivos. Esta tendência afeta o sistema de produção como um todo, onde os investimentos realizados precisam ser analisados com efetividade. Assim, a adoção da exploração tecnificada poderá ser dirigida para o manejo animal em regime de pasto associado à estabulação parcial (semiconfinamento) ou estabulação completa (confinamento total). Estes tipos de manejo requerem o planejamento de instalações funcionais visando aumentar a eficiência da mão-de-obra, oferecer condição de conforto aos animais, reduzir o número de acidentes, bem como reduzir os custos de produção de leite. Deste modo, torna-se essencial dar atenção ao planejamento dos componentes que constituem uma instalação típica para a exploração de bovinos de leite.

O detalhamento do manejo é, sem dúvida, o requisito fundamental para o projetista desenvolver o projeto global das instalações, devendo ser cuidadosamente estudado para atender às necessidades preconizadas para o manejo adotado. Havendo falhas na concepção desse manejo, dificilmente se consegue projetar boas instalações, podendo comprometer o desempenho dos animais e inviabilizar o sistema de produção. Além disso, as instalações e os equipamentos desempenham função estratégica nas decisões do planejamento, pois elas representam uma parcela significativa do investimento produtivo, sendo que a vida útil das instalações é de 20 a 40 anos e a dos equipamentos, de 5 a 15 anos.

Dependência das características dos sistemas produtivos

Definido o sistema de produção a ser adotado e o manejo detalhado do sistema produtivo, o projetista inicia a elaboração do anteprojeto das instalações, verificando o arranjo físico (“layout”) mais adequado ao conjunto das instalações no local previamente determinado e preparado. Após a definição desse “layout” juntamente com o proprietário e demais membros de decisão, será elaborado o projeto global das instalações, com todas as informações e detalhes necessários para a edificação:

a) Plantas

- Planta baixa, cortes e fachadas (escala 1:50 ou 1:100)
- Detalhes (escala 1:10, 1:20 ou 1:25)
- Planta de cobertura (escala 1:200)
- Planta de situação (escala 1:200)

b) Memorial descritivo das construções ou especificações técnicas

As informações deverão ser claras e concisas com as descrições dos serviços, modo e processo de execução, materiais, aparelhos e peças a serem utilizados de acordo com o projeto arquitetônico, estrutural, elétrico, hidráulico e outros que se fizerem necessários.

c) Orçamento

Deverá estimar o custo provável da obra a ser executada, considerando: materiais, mão-de-obra, encargos sociais, manutenção de equipamentos e ferramentas, benefícios e despesas indiretas (BDI).

O orçamento pode ser feito de duas maneiras: pela relação total de materiais e mão-de-obra (tabelas para composição de custos) e por unidade e custo (preços de unidades construtivas, obtido em revistas especializadas).

d) Cronograma físico-financeiro

Numa tabela planejam-se os serviços a serem executados, o período de execução (mensal ou trimestral), o tempo gasto para cada atividade (serviço) e a previsão de custo ou faturamento no período e o custo total do serviço. Um cronograma físico-financeiro bem elaborado facilita muito na administração da obra, trazendo economia de tempo e dinheiro.

Fatores que afetam a escolha das instalações

As instalações destinadas a alojar o gado leiteiro devem ser simples, eficientes, de baixo custo e proporcionar aos animais condições de conforto, espaço e proteção de um ambiente limpo, seco e de boas condições sanitárias para evitar doenças e permitir uma produção higiênica do leite.

Fatores econômicos e técnicos precisam ser considerados na escolha do tipo de instalação. Alguns princípios básicos devem ser seguidos quando do planejamento e escolha das instalações para um sistema de produção.

Localização

As instalações devem ser localizadas em área ampla, de fácil acesso, boa drenagem e relativamente distante de construções particulares, para evitar possíveis problemas com doenças, moscas e odores. Água de boa qualidade e eletricidade devem ser supridas.

Tamanho ou capacidade

As instalações devem ser suficientes para alojar o número de animais (jovens e adultos) existentes e que serão mantidos na propriedade. Também devem oferecer condições para que os animais sejam mantidos sob conforto físico e térmico quando são alimentados, ordenhados ou outra atividade de manejo.

Tipo de instalação

A escolha do tipo de instalação depende, entre outros fatores, do capital disponível, maior ou menor intensidade de mecanização, quantidade e qualidade da mão-de-obra e da preferência do produtor. A instalação escolhida deve proporcionar alto grau de eficácia da mão-de-obra, que está envolvida diretamente com a movimentação de alimentos, esterco, leite e animais. O volume de cada uma dessas atividades é considerável, e movimentar, em linha reta, o alimento, dejetos e animais, aumenta grandemente a eficiência e eficácia da mão-de-obra. Evitando-se os cantos, os corredores afunilados, degraus e pisos escorregadios, melhora-se a locomoção de animais e minimiza-se o risco de traumatismos, principalmente dos membros e úbere.

Indiferente do tipo de instalação adotado, componentes essenciais do sistema precisam ser incluídos nas instalações centrais. Estes componentes ou áreas são destinados a:

  • alojar os animais;
  • alimentar os animais;
  • armazenar volumosos e concentrados;
  • ordenha
    • maternidade, enfermaria e tratamento, locais para realizar inseminação artificial e outras áreas de serviço;
  • área para cria e recria dos animais; e
  • abrigo de máquinas e equipamentos.

Alojamento dos animais

As instalações destinadas a alojar as diversas categorias de animais de um rebanho são projetadas de acordo com o sistema de exploração a ser adotado: pasto ou confinamento.

O manejo em pasto requer estruturas mais simples e são em geral mais baratas do que as utilizadas em confinamento. Neste caso, currais, sala de ordenha, sala de leite, escritório, bezerreiro convencional ou abrigos individuais, baias para touros, silos, abrigos rústicos para novilhas e cochos cobertos para minerais, construídos nos pastos. Tronco para contenção dos animais, depósito para alimentos e preparo de rações, reservatório de água, bebedouros e galpão para abrigo de máquinas e equipamentos. (O sistema de produção implantado na Embrapa Gado de Leite. EMBRAPA - CNPGL. Documentos, 1.)

Outro tipo de instalação que pode ser utilizada é o chamado Miniestábulo ou Sistema de sala de ordenha, que é um estábulo de tamanho reduzido, destinado a comportar de 4 a 12 animais por vez, variando com o tamanho do rebanho, podendo a ordenha ser manual ou mecânica. A principal vantagem é a redução do custo de construção. É de fácil manejo, pois as vacas são manejadas em lotes. Antes da ordenha, as vacas ficam no curral-de-espera; depois de ordenhadas vão para o curral-de-descanso e alimentação, ou diretamente para o pasto.

Ilustrando este tipo de instalação, para um rebanho estabilizado com 48 vacas em lactação, deve-se, primeiramente, projetar a composição média do rebanho (número e categoria de animais) e o manejo a ser adotado. Para manter, em média, esse número de fêmeas lactantes, devem ocorrer, durante o ano, aproximadamente, cinco nascimentos por mês. Desse modo, são necessários 13 abrigos individuais para alojar os bezerros(as) até aos 70 dias, quando serão transferidos para os pastos (piquetes).

Exemplo hipotético

Tabela 7. Composição média do rebanho (exemplo hipotético).

Categoria

Número de cabeças

Local de manejo e de
alimentação suplementar

Vacas em lactação
48
Estábulo e pasto
Vacas secas
12
Pasto
Novilhas gestantes
22
Pasto
Fêmeas de 1 a 2 anos
22
Pasto
Fêmeas até 1 ano
24
Abrigos individuais até os 70 dias.
Pasto após 70 dias.
Machos até 1 ano*
24
Abrigos individuais até os 70 dias.
Pasto após 70 dias.
Total
152
 

* Quando se faz recria de machos.

Considerando o rebanho descrito, as instalações a serem projetadas poderão ser assim distribuídas, no caderno de plantas:

  • Conjunto A: 3 currais, para 16 vacas cada um, cocho para minerais, curral-de-espera, sala de ordenha para seis vacas, pedilúvio, sala de leite, escritório, depósito de ração e farmácia.

  • Conjunto B: Sala para picadeira e depósito de ração.

  • Estrutura para conservação de forragens (silos-trincheira ou de superfície, 320 t).

  • Conjunto de abrigos individuais para bezerros (0 a 70 dias de idade).

  • Conjunto C: seringa, tronco coletivo, tronco individual e embarcadouro opcional.

O manejo em confinamento total exige maior investimento em instalações, máquinas e equipamentos, além de apresentar uma complexidade maior para o planejamento, porque necessita uma interação entre a movimentação de animais, alimentos e dejetos produzidos. Outro aspecto de grande importância é o sincronismo na realização e o monitoramento dessas operações, fato este que requer mão-de-obra qualificada. Também, o gerenciamento técnico e econômico-financeiro precisa ser intensificado.

Sistema de alimentação

A necessidade de área para galpões de armazenamento de alimentos (volumosos e grãos) e área para confecção de ração (moinho desintegrador, misturador, etc.), se esta for produzida na fazenda, depende do sistema de alimentação. Silos devem ser localizados próximos da área de alimentação.

Sistema de ordenha

Depende do número de vacas em lactação, nível de produção do rebanho, tempo desejado para a ordenha e, principalmente, pelo seu custo inicial.

Descarte das fezes e urina

Na exploração de leite, em que os animais são mantidos em regime de semi ou estabulação completa, talvez este seja o maior problema. A movimentação do esterco para armazenamento pode ser na forma sólida (esterqueira e distribuição direta nos campos de culturas ou pastos) ou líquida (lagoa, utilizando-se a água da lavagem como veículo), sendo posteriormente descartado.

Recentemente, foi introduzido na Embrapa Gado de Leite (CNPGL) o manejo de esterco, no qual esterco e urina são depositados em tanques para aeração e homogeneização, acrescidos da água utilizada para limpeza automática dos galpões de confinamento. Após a estabilização, este esterco líquido (biofertilizante) é utilizado nas áreas de cultura por meio de sistema de irrigação.

Outra interessante é a compostagem, um processo biológico de transformação da matéria orgânica crua em substâncias húmicas, estabilizadas, com propriedades e características completamente diferentes do material que lhe deu origem. É uma técnica idealizada para se obter mais rapidamente e em melhores condições a desejada estabilização da matéria orgânica.

A compostagem é um processo de digestão aeróbia da matéria orgânica por microrganismos em condições favoráveis de temperatura, umidade, aeração, pH e qualidade da matéria-prima disponível. A eficiência do processo baseia-se na perfeita interação desses fatores.

Os principais tipos de compostagem utilizados, dependendo da quantidade da matéria-prima disponível, são: em leiras, pilhas aeradas, pilhas estáticas, caixas de alvenaria ou madeira, etc.

Atualmente, os sistemas de compostagem têm recebido muita atenção dos pecuaristas pela oportunidade de venda do composto para produção orgânica, agregando valor à atividade leiteira. (Embrapa: Instrução Técnica para o Produtor de Leite - Sustentabilidade da Atividade Leiteira nº 52. Tratamento e manejo de dejetos de bovinos.)

Flexibilidade de local

Novas instalações devem ser previstas de modo a permitir expansão futura e adaptação de novas tecnologias.

Exigências legais

As instalações devem preencher todos os requerimentos legais para a produção e comercialização do leite. (Normas de produção do M.A., exemplo: Leite B e Leite A.)

Orientação

A orientação das instalações é fator intimamente relacionado com o clima do local. Uma boa orientação tem maior importância em alojamentos abertos, onde, além de permitir uma máxima insolação interna no inverno, deve garantir a proteção contra os ventos dominantes e frios.

Em condições de clima tropical e subtropical, como ocorre em nosso hemisfério, as coberturas são orientadas, normalmente, no sentido leste-oeste, para que no verão haja menor incidência de radiação solar no interior das instalações e maior insolação da face norte no inverno.

Os cochos cobertos para volumosos, cuja geometria da cobertura é geralmente estreita e alongada, a melhor orientação é a leste-oeste, permitindo máximo sombreamento durante o verão e maior exposição da face norte no inverno. Nestas instalações, o cocho de alimentação deve ser locado na face sul, onde permanece sombreado durante o ano todo, evitando o ressecamento da forragem e dando maior conforto aos animais.

Em abrigos exclusivos para sombreamento dos animais, onde não há limitação de espaço nas laterais para movimentação dos animais, a melhor orientação é a norte-sul. Desta forma, os animais se movimentam juntamente com o deslocamento da sombra do abrigo, permitindo maior exposição solar do piso, reduzindo a formação de lama e mantendo-o mais seco, além de usufruir do poder germicida da radiação solar na desinfecção do piso.

Nos bezerreiros, as baias individuais devem ser orientadas de modo que recebam o sol da manhã, devido aos efeitos benéficos dos raios solares sobre a saúde dos animais. Deste modo, os bezerreiros são projetados com todas as baias individuais do lado leste, as coletivas do lado oeste e a cobertura no sentido norte-sul.

No caso dos abrigos individuais (gaiolas) para bezerros, a abertura principal deve ficar exposta para o leste, permitindo a entrada do sol da manhã no interior deles, mantendo assim a cama mais seca e o sombreamento da lateral sul do abrigo, já que os bezerros têm livre acesso à sombra.

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