Embrapa Mandioca e Fruticultura
Sistemas de Produção, 2
ISSN 1678-8796 Versão eletrônica
Jan/2003
Cultivo da Mandioca para o Estado do Amapá
Pedro Luiz Pires de Mattos
Valéria Saldanha Bezerra

Início

Importância econômica
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Cultivares
Mudas e sementes
Plantio
Irrigação
Tratos culturais
Plantas daninhas
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Pragas
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Colheita e pós-colheita
Mercado e comercialização
Coeficientes técnicos
Referências bibliográficas
Glossário


Expediente

Mercado e Comercialização

Sazonalidade


Caracterização da cadeia produtiva: mercado e comercialização

Apesar da grande diversidade, o sistema produtivo da cadeia da mandioca apresenta três tipologias básicas: a unidade doméstica, a unidade familiar e a unidade empresarial. Essa tipologia está levando em consideração as interconexões entre a origem da mão-de-obra, o nível tecnológico, a participação no mercado e o grau de intensidade do uso de capital na exploração.

No Amapá predomina a unidade doméstica que é caracterizada por usar mão-de-obra familiar, não utilizar tecnologias modernas, pouco participar do mercado e dispor de capital de exploração de baixa intensidade.

O segmento de processamento da cadeia da mandioca no Amapá está intimamente relacionado com a transformação das raízes em farinha. A escala de processamento de farinha vai desde as pequenas unidades artesanais de processamento conhecidas por "retiros" (comunitários ou familiares) existentes no Brasil como um todo, até as unidades agroindustriais comunitárias de pequeno porte que processam, em média, 20 sacas de farinha por dia. Na cadeia da mandioca existem ainda outros produtos de importância econômica e que são comercializados de forma informal, como é o caso da "goma" e do "tucupi".

As etapas de distribuição e processamento são realizadas por um mesmo ator, ou seja, um mesmo produtor processa e distribui os produtos. Neste caso, a farinha e as raízes frescas (macaxeira), são comercializadas diretamente nas feiras livres ou são repassadas para os atravessadores. Apesar do crescimento da comercialização via associações e cooperativas, ainda prevalece a figura do intermediário, como principal agente de comercialização na cadeia. Essa função é exercida por agentes esporádicos (caminhoneiros) e por comerciantes regularmente estabelecidos nos centros urbanos.

No mercado de Macapá e Santana, a farinha do Pará embalada pelas duas empresas de Macapá – A.P.R. Menezes e J.A.A. Rodrigues Distribuidora, tem a sua origem no nordeste paraense, principalmente os municípios de Castanhal e Santa Maria do Pará; e no baixo amazonas. É uma farinha do grupo seca de razoável a boa qualidade, destacando-se a marca "Farinha gostosa", que possui qualidade bastante superior as demais. O produto é adquirido pelas duas cerealistas em sacos de 50 kg e que embalam em sacos plásticos de 1 kg. Para distribuição é feito o enfardamento em embalagens de 30 kg.

A farinha do Pará comercializada pelos demais atacadistas de Macapá e Santana tem, também, sua origem no nordeste paraense, mais precisamente nos municípios de Santa Maria do Pará, São Miguel do Guamá e Irituia. É uma farinha do grupo d’água, em sua maioria de baixa qualidade, vem embalada em sacos de 30 kg e não possui classificação e registro. É comercializada na orla portuária da cidade de Macapá (Perpétuo Socorro, Igarapé da Mulheres e Rampa da Santa Inês), e na orla portuária de Santana, locais onde se localizam os armazéns atacadistas. A comercialização é feita diretamente pelos barqueiros que trazem o produto para os armazenistas locais, que posteriormente fazem a venda aos pequenos varejistas de Macapá, e Santana.

A farinha local comercializada no mercado de Macapá e Santana, vem dos municípios de Macapá, Santana, Laranjal do Jari, Mazagão, Cutias do Araguari, Itaubal do Piririm, Porto Grande, Pedra Branca do Amapari, Ferreira Gomes e Tartarugalzinho (SEAF, 2001), comercializada diretamente pelos produtores nas feiras, e/ou trazida por intermediários que adquirem o produto nas localidades e vendem para varejistas de Macapá e Santana (alguns comércios varejistas pertencem a estes intermediários).

No caso do mercado de Laranjal do Jari, a farinha do Pará vem dos municípios de Almeirim em sua maior parte (principalmente da localidade denominada Estrada Nova), e de Santarém e Monte Alegre, o restante. É comercializada por intermediários a comerciantes atacadistas/varejistas localizados no Beiradão. A farinha embalada é comercializada por vendedores credenciados pela cerealista, e atende especificamente ao segmento de supermercados.

Um fato interessante levantado na pesquisa, é que, a farinha local, que abastece cerca de 20% do mercado de Laranjal do Jari (ver Tabela 1), em sua maior totalidade é trocada pelo produtor com outros gêneros como açúcar, óleo e etc., junto aos supermercados locais. O que significa a reprodução da economia do escambo com este produto no município, a semelhança do que caracterizou o ciclo regional da borracha em décadas passadas, e ainda se mantêm atualmente com a castanha-do-brasil,

Os municípios de Macapá e Santana são abastecidos de farinha de mandioca através de dois canais de comercialização. O primeiro é da oferta local que se inicia com a transformação das raízes em farinha diretamente pelos produtores nas "casas de farinha", que é depois comercializada nas propriedades junto aos atravessadores e/ou vendida aos consumidores nas feiras de produtores de Macapá. Se a venda for realizada para atravessadores, estes revendem para varejistas de Macapá e Santana. Este canal possui basicamente níveis de preços semelhantes ao nível de agricultores/atravessadores e agricultores/consumidores nas feiras de produtores de Macapá.

O segundo canal de distribuição da farinha em Macapá e Santana é representado pela oferta do produto vindo do Estado do Pará, que se apresenta de duas formas: a) Para a farinha que é posteriormente embalada e adicionado código de barras, tem inicio com a negociação de preço dos atacadistas de Macapá com as agroindústrias e/ou intermediários localizados no Estado do Pará, o produto assim adquirido é embalado com as marcas destes atacadistas, e distribuídos para supermercados, que assim fazem a comercialização final; b) Para a farinha de baixa qualidade, tem inicio com a negociação de preço dos atacadistas de Macapá com os intermediários que trazem o produto do Estado do Pará até a zona portuária de Macapá e Santana e outros municípios do interior, que assim fazem a comercialização final.

O mercado de Laranjal do Jari também é abastecido de farinha de mandioca através de dois canais de comercialização. O primeiro é da oferta local, que é comercializada diretamente pelos produtores com os consumidores nas feiras de produtores de Macapá; e/ou trocada por mercadorias (economia do escambo) com comerciantes da sede do município.

O outro canal de distribuição da farinha é representado pela oferta do produto vindo do Estado do Pará, que apresenta-se de duas formas: para a farinha que é comercializada na forma embalada e com código de barras, tem inicio com a negociação de preço pelos supermercados locais, com os vendedores credenciados das cerealistas do Pará, o produto assim adquirido é feito a comercialização final; para a farinha de Almeirim e restante do médio amazonas paraense, tem inicio com a negociação de preço pelos comerciantes locais com os intermediários que trazem o produto do Pará até o Beiradão; o produto assim adquirido é vendido no "retalho" pelos feirantes e/outros pequenos varejistas; ou embalado em embalagens de 1 e 2 kg sem registro ou código de barras, por varejistas de maior porte, que assim fazem a comercialização final.

O crescimento populacional é o fator de maior influência na demanda doméstica por farinha de mandioca. O incremento médio da população urbana de Macapá, Santana e Laranjal do Jari no período 96/99 foi de 5,08% ao ano, passando de 296.591 em 96 para 344.126 em 1999 (IBGE, 2001). No ano de 1996 para uma população de 296.591 habitantes, a demanda estimada, calculada a partir de um consumo per capita de 37,787 kg de farinha/hab./ano (PNFC, 1997), foi de 11.207 toneladas, e, no ano de 1999 para uma população estimada de 344.126 habitantes (IBGE, 2001), foi de 13.003 toneladas.

A renda "per capita" é outro fator que influencia a demanda por farinha de mandioca. A elevação da renda altera a composição alimentar fazendo com que a população substitua a farinha por outros alimentos de origem protéica (SANTANA, 1998). No Estado do Amapá no período 96/99, a renda teve um acréscimo de 3,16%, passando de R$ 3.288,00 em 1996, para R$ 3.392,00 em 1999 (IBGE, 2000). Todavia esta elevação não foi suficiente para modificar o crescimento da demanda, que acompanhou o aumento da população.

Fonte: DIP/SEPLAN

A explicação pode ser devido o aumento do custo de vida em Macapá no mesmo período, que em valores percentuais, foi bem superior ao aumento da renda (Gráfico 9), o que fez a demanda por farinha de mandioca no período, acompanhasse o crescimento da população.

Fonte: DIP/SEPLAN

O crescimento populacional, juntamente com o fato da baixa renda da população local, tiveram a maior influência na demanda doméstica por farinha de mandioca. Tanto o impacto da renda disponível, como o do acréscimo de população, se refletiram integralmente no crescimento da demanda.

Outro fator que influencia a demanda é o preço. O preço da farinha de mandioca no comércio varejista de Macapá no período 96/99 manteve-se praticamente o mesmo, ao redor de R$ 1,00/kg (Gráfico 10). Na pesquisa de preços realizada em maio/2002, o mercado varejista local na média cobrava R$ 1,22/kg de farinha de mandioca, preço em torno de 8% superior à média do mês de maio no período 96/99, aumento este devido a escassez de matéria prima no Pará, onde os plantios foram severamente atacados pela praga mandarová.

Fonte: DIP/SEPLAN

Mesmo não havendo elevação no preço da farinha de mandioca e a demanda por farinha ter aumentado na mesma ordem do crescimento populacional que foi de 5,08% ao ano (IBGE, 2001). Todavia houve um acréscimo de 14,3% ao ano na oferta local de raízes de mandioca no período 96/99, passando de 25.550 toneladas em 1996, para 40.141 toneladas em 1999 (Gráfico 11), o que consolida a tese de crescimento da produção com o foco no autoconsumo. Certamente o crédito diferenciado para a reforma agrária, teve papel preponderante neste comportamento.

Fonte: SEAF

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Sazonalidade

É entendida como o período ou época do ano em que por causas naturais, como por exemplo a pluviosidade, ocorre uma redução na oferta de mandioca, e, por conseguinte, é o período de maiores preços pagos pelo produto no mercado. Nas condições locais as chuvas iniciam no final de dezembro, se intensificam entre março/abril, diminuem entre maio/junho, e tornam-se pouco freqüentes entre outubro/novembro (SUDAM, 1984).

No nordeste paraense, maior fornecedor de farinha de mandioca para o mercado de Macapá e Santana, o regime de chuvas é o mesmo do Amapá (SUDAM, 1984). Porém, já é comum para a grande maioria dos produtores desta região paraense, principalmente àqueles que cultivam mandioca para atender as agroindústrias, o escalonamento de plantios em dois períodos do ano (dezembro e maio), o uso de novas variedades e a colheita integral das lavouras em função do ciclo dessas variedades.

O comportamento dos preços no mercado varejista de farinha de mandioca em Macapá, no ano de 2001, apresentou os maiores valores no período abril/maio, e o menores no período agosto/novembro (Gráfico 12). A elevação do preço no período abril/maio deve-se a pouca oferta de raízes nas proximidades das agroindústrias localizadas na região nordeste do Pará, o que aumenta o custo de produção da farinha, forçando o mercado local a ofertar um preço mais compensador para ter o produto.

Fonte: DIP/SEPLAN

Historicamente, também, é nesse período que ocorre a maior oferta local do produto no mercado doméstico, conforme pode ser observado no gráfico 12, fato que creditamos mais ao tradicionalismo da tipologia de produção local, do que o conhecimento do mercado, pois a segunda maior oferta do produto local ocorre em outubro, época de menor preço da farinha no mercado.

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