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Cultivo
da Mandioca para a Região dos Tabuleiros Costeiros | ||
Importância
econômica |
Mercado e Comercialização |
Apesar da grande diversidade, o sistema produtivo da cadeia da mandioca apresenta três tipologias básicas: a unidade doméstica, a unidade familiar e a unidade empresarial. Essa tipologia leva em consideração a origem da mão-de-obra, o nível tecnológico, a participação no mercado e o grau de intensidade do uso de capital na exploração. A unidade doméstica é caracterizada por usar mão-de-obra familiar, não utilizar tecnologias modernas, pouco participar do mercado e dispor de capital de exploração de baixa intensidade. A unidade familiar já adota algumas tecnologias modernas, tem uma participação significativa no mercado e dispõe de capital de exploração em nível mais elevado. A contratação de mão-de-obra de terceiros é a característica marcante da unidade empresarial que, juntamente com as unidades do tipo familiar, responde pela maior parte da produção de raízes no Brasil. O segmento de processamento da cadeia da mandioca está intimamente relacionado com o uso das raízes: farinha ou fécula. A escala de operação das indústrias de processamento de farinha vai desde as pequenas unidades artesanais de processamento (comunitárias ou privadas), existentes em todo o Brasil, até as unidades de grande porte que processam, em média, 300 sacas de farinha por dia, passando pelas unidades de médio porte (100 sacas por dia). A maioria das fecularias possui capacidade operacional para moer, no mínimo, 150 toneladas de mandioca por dia. Na cadeia da mandioca existem ainda outros produtos de importância econômica regional e que são comercializados de forma informal, como é o caso da raspa de mandioca e da parte aérea. As etapas de processamento e distribuição às vezes são realizadas por um mesmo ator. Esta situação pode acontecer no mercado de farinha, de raízes frescas e de fécula, ou seja, um mesmo produtor/empresa processa e distribui os produtos. Neste caso, a farinha e as raízes frescas (no caso dos “aipins”) são comercializadas diretamente nas feiras livres ou são repassadas para os supermercados. Já no caso da fécula, ocorre a comercialização diretamente com as empresas que irão usá-la como insumo em diversos processos industriais. Apesar do crescimento da comercialização via associações e cooperativas, ainda prevalece a figura do intermediário como principal agente de comercialização na cadeia. Essa função é exercida por agentes esporádicos (caminhoneiros) e por comerciantes regularmente estabelecidos nos centros urbanos. O sistema de embalagem depende do produto (farinha ou fécula) e do mercado a que se destina. A farinha é comercializada nas feiras livres, geralmente, embalada em sacas de 50 kg, ou em supermercados, embalada em pacotes de 500g, um ou dois quilos e comercializada em fardos de 30 kg. No caso da fécula, o produto é embalado em sacas de 25 ou 50 kg, para atender tanto ao mercado atacadista como ao mercado das indústrias; para atender a esse último mercado, a fécula é também comercializada em embalagens de maior capacidade. O segmento de consumo da cadeia da mandioca é caracterizado por consumidores que absorvem a própria produção, ou seja, são agricultores que definem os produtos em função de suas preferências e hábitos regionais. No caso dos demais consumidores, que adquirem os produtos no mercado, o padrão de consumo depende do produto, nível de renda, costumes regionais e hábitos de compra. No tocante à farinha comum, farinhas temperadas, farinha tipo “beijú”, mandioca “fresca” e outros produtos tradicionais, identificam-se, pelo menos, dois tipos de consumidores que podem ser caracterizados em função dos hábitos de compra: “o consumidor de feira livre” e o “consumidor de supermercado”. Com relação aos consumidores de fécula, todos podem ser classificados como consumidores intermediários, isto é, adquirem o produto para ser utilizado como insumo nos diversos processos industriais. Enquadram-se nessa categoria os consumidores que compram pequenas quantidades que podem ser encontradas no comércio varejista e no mercado atacadista, como é o caso das padarias, confeitarias e pequenas indústrias de processamento de carne. Além disso, incluem-se também os consumidores que transacionam grandes volumes, diretamente negociados com as fecularias, visando obter melhores preços e condições de pagamento. Nesse segmento da cadeia inserem-se, também, os importadores.
Quanto à sazonalidade dos preços das raízes, que influencia diretamente o preço dos produtos, é importante considerar, pelo menos, dois principais corredores de comercialização, ou seja, a região de Paranavaí (PR), como centro de produção, e a Região Nordeste, como centro de produção/consumo. Independente do corredor considerado, as flutuações nos preços são diretamente influenciadas por mudanças na oferta, haja vista que as mudanças na demanda se processam mais lentamente. Na região de Paranavaí e em praticamente todo o Centro-Sul, a oferta de mandioca é concentrada nos meses de maio a agosto, em que o preço alcança o nível mínimo. Na Região Nordeste, além das localidades em que o período de maior oferta de raízes coincide com o do Centro-Sul, geralmente onde as chuvas são concentradas no verão, há localidades em que o nível mínimo de preço ocorre nos meses de julho a março, com uma ligeira reação dos preços nos meses de outubro e novembro, sem contudo superar a média anual. Na década de 1990-2000 o nível de preço mais baixo foi observado no mês de agosto. Quanto à formação dos
preços, há uma série de fatores que interferem neste processo: 1) aspectos
relacionados com o ciclo da cultura, que é função direta da combinação
das variedades cultivadas e das condições ambientais; 2) aspectos inerentes
à estrutura de mercado enfrentada pelos produtores de mandioca, em que
o processo de formação de preço se aproxima de uma estratégia concorrencial,
ou seja, os produtores de matéria-prima concorrem em preço. Além disso,
as informações incompletas ou mesmo a falta de informação a respeito
do mercado favorecem à ação dos intermediários, que agem como agentes
determinantes no processo de formação de preço; 3) praticamente não
há barreiras à entrada no mercado de farinha; em função da simplicidade
da tecnologia, os investimentos não precisam ser altos e, inclusive,
a farinha pode ser produzida em nível artesanal. Conseqüentemente, quando
o preço do produto está atrativo, ocorrem entradas de agricultores no
negócio e a produção de raízes e farinha aumenta rapidamente, reduzindo
os preços; 4) a quantidade ofertada de matéria-prima independe de uma
relação mais forte com as agroindústrias, isto é, a oferta de matéria-prima
local não leva em consideração a capacidade instalada das unidades de
processamento, havendo assim períodos de excesso e de escassez, com
reflexos diretos no processo de formação de preços. A inexistência de
contratos de fornecimento de longo prazo nas unidades individuais concorre
para a não existência de volume e regularidade desejada de produção,
fazendo com que a cadeia perca competitividade, dado o inadequado grau
de coordenação entre os seus segmentos; 5) a interdependência entre
os mercados das Regiões Centro-Sul e Nordeste faz com que, no caso de
quebra de safra no Nordeste, haja estímulo ao aumento da produção de
farinha no Centro-Sul, o que acarreta aumento da demanda de raízes para
a produção de farinha e, conseqüentemente, uma competição entre os mercados
de matéria-prima para a produção de farinha e de fécula, com reflexos
diretos no preço da fécula no Centro-Sul, influenciando na sua competitividade
frente ao amido de milho; e 6) os fatores relacionados com questões
culturais de cada localidade influenciam no aumento da oferta de matéria-prima,
como uma necessidade para se fazer caixa, visando a aquisição de bens
e serviços de demanda imediata. Além disso, é importante ressaltar o
aumento de oferta de matéria-prima que geralmente acontece no final
de cada mês, como uma alternativa para recompor a renda, sobretudo dos
agricultores que dependem de fontes de renda tais como a aposentadoria. |
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