João Maria Charchar
Nuno R. Madeira
Os nematóides de galhas (Meloidogyne spp.) são os agentes causadores de doenças que, provavelmente, provocam mais danos à mandioquinha-salsa no Brasil. A infecção por nematóides deprecia qualitativa e quantitativamente as raízes de mandioquinha-salsa para a comercialização e o consumo, podendo ocorrer perdas de até 100% na produção de raízes comerciais.
Dentre os nematóides do gênero Meloidogyne que ocorrem em cultivos de mandioquinha-salsa, M. incognita e M. javanica são as espécies mais freqüentes em todo país. As espécies M. arenaria e, em regiões mais frias, M. hapla foram também relatadas em mandioquinha-salsa.
Os sintomas causados por nematóides do gênero Meloidogyne são a formação de galhas e deformações nas raízes (Figura 1). Por vezes, quando a elevação da população acima de níveis críticos ocorre no estágio inicial de desenvolvimento da lavura, chega a não haver a formação de raízes comerciais. As plantas intensamente atacadas apresentam ainda amarelecimento, raquitismo e apodrecimento de raízes pelo ataque de bactérias, especialmente do gênero Erwinia, ou fungos.
Foto: Nuno Rodrigues Madeira
Fig. 1. Nematóides das galhas (Meloidogyne spp.)
Existem relatos de nematóides das lesões do gênero Pratylenchus causando danos em mandioquinha-salsa em algumas áreas restritas das regiões Sul e Sudeste do Brasil. A espécie de nematóides das lesões mais freqüente é Pratylenchus penetrans.
As espécies do gênero Pratylenchus causam lesões necróticas enegrecidas nas raízes de mandioquinha-salsa (Figura 2). No Brasil, sua incidência tem sido bem menos drástica em comparação aos nematóides de galhas, mas quando de sua ocorrência também se verifica a depreciação qualitativa e quantitativa na produção. Também pode ocorrer amarelecimento de plantas e apodrecimento de raízes pelo ataque de bactérias ou fungos.
Foto: Nuno Rodrigues Madeira
Fig. 2. Nematóides das lesões (Pratylenchus spp.)
Em função do longo ciclo, de 8 a 12 meses, não se pode efetuar o plantio sucessivo de mandioquinha-salsa na mesma área, mesmo que no primeiro cultivo não sejam observados sintomas de nematóides nas raízes. A manutenção de cultura altamente suscetível a nematóides no campo por dois ciclos eleva muito o nível populacional de nematóides no solo.
Deve-se conhecer o histórico da área de cultivo, as lavouras precedentes e os problemas fitosanitários observados. No Sul de Minas, região de grande produção, assim como em algumas outras, é comum o plantio em sucessão à pastagem, o que é muito interessante, visto que a braquiária atua como supressora de pragas e doenças.
Também é muito comum o plantio em sucessão à cultura da batata em áreas anteriormente de pastagem, de modo a aproveitar a adubação residual da batata. Neste caso, há que se observar se não houve incidência de nematóides, assim como de outros agentes causadores de doença como fungos e bactérias de solo.
A rotação de culturas é prática indispensável. É recomendável o plantio de mandioquinha-salsa após gramíneas como milho, sorgo e braquiária. Em áreas com elevados níveis de infestação, pode-se utilizar a Crotalaria spectabilis ou Tagetes spp., comumente conhecido como cravo-de-defunto. Enquanto a primeira atua como planta isca, permitindo a adesão das fêmeas de nematóides em suas raízes mas não sua multiplicação, Tagetes é planta não hospedeira.
O pousio da área pode auxiliar no manejo do ponto de vista agrícola, porém o descontrole quanto ao desenvolvimento de espécies de plantas suscetíveis a nematóides não assegura a redução de sua população a níveis satisfatórios. Já o alqueive é uma prática que tem sido usada com algum sucesso em alguns casos. Consiste em manter a área livre de vegetação por um determinado período.
Podem ser adotados períodos de até 90 dias no campo, com o uso da aração e gradagem sucessivas, a intervalos de aproximadamente 20 dias, para eliminação de plantas invasoras da área. Entretanto, na prática, períodos de 40 dias vem apresentando resultados altamente satisfatórios, efetuando-se a aração e/ou gradagem 40 dias antes do plantio, seguindo-se uma nova gradagem 20 dias após a primeira e, finalmente, próximo ao plantio, o enleiramento.
Com isso, a cada movimentação do solo, reduz-se a população de nematóides, formas juvenis, em cerca de 90%. Contudo os ovos não são afetados. Para se obter eficiência com a prática do alqueive, é necessário haver água e temperaturas adequadas ao desenvolvimento de nematóides, isto é, acima de 20ºC, para que haja a germinação do banco de sementes de plantas espontâneas.
Assim, proporciona-se um ambiente propício à eclosão dos ovos e seu desenvolvimento até as fases juvenis. Então, uma nova gradagem reduz novamente a população remanescente, antes que ocorra sua multiplicação.
O ciclo de Meloidogyne é de cerca de 22 dias nas épocas mais quentes do ano, aumentando sob temperaturas mais amenas. Deve-se atentar para o fato de que a prática do alqueive pode causar severa erosão, devendo-se evitar o período mais chuvoso e utilizar curvas de nível ou terraços como prática de conservação.
Em pequenas áreas, a exemplo do local dos canteiros de pré-enraizamento, a solarização pode ser uma alternativa, especialmente em épocas de maior radiação, pela eliminação de ovos e juvenis dos nematóides pelo aquecimento do solo.
O uso de matrizes com baixa infestação por nematóides e o tratamento de mudas com solução de hipoclorito de sódio a 0,5 % (recomendado para o tratamento de pragas e doenças fúngicas e bacterianas) são práticas importantes para evitar a disseminação dos nematóides no campo.
Na verdade, para nematóides, a simples lavação dos filhotes de mandioquinha-salsa com água corrente, desde que retirando o solo aderido aos filhotes, já é suficiente para desinfestá-los quanto a nematóides, visto que estes não têm capacidade de penetração na parte aérea das plantas, de onde se retiram os propágulos.
Todavia, é comum a disseminação de nematóides nas formas de ovos e de juvenis de segundo estádio (J2) em solo aderido às mudas (filhotes).
O pré-enraizamento de mudas em substratos esterilizados pode ser utilizado para garantir a não disseminação de nematóides e outros patógenos.
Mudas de mandioquinha-salsa sem a infecção por nematóides e outras doenças apresentam desenvolvimento vegetativo mais vigoroso após o transplante no campo (SANTOS; CARMO, 1998).
No Brasil, são ainda escassas fontes de resistência em cultivares comerciais de mandioquinha-salsa de raízes amarelas. Alguns clones de raízes brancas apresentam altos níveis de resistência aos nematóides de galhas, porém sua aceitação comercial é restrita. A cultivar Amarela de Senador Amaral, de raízes amarelas, apresenta resistência moderada aos nematóides de galhas Meloidogyne incognita e M. javanica. A maior precocidade da ‘Amarela de Senador Amaral’ reduz consideravelmente o número de gerações de nematóides durante o ciclo da cultura, o que leva a uma menor população ao final do cultivo.
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