Embrapa Hortaliças
Sistemas de Produção, 4
ISSN 1678-880X Versão Eletrônica
Jun./2008
Mandioquinha-salsa (Arracacia xanthorrhiza)
Autores

Sumário

Apresentação
Introdução
Botânica
Clima
Produção de mudas
Plantio
Correção do solo
Adubação e nutrição
Tratos culturais
Irrigação
Doenças
Pragas
Colheita
Nematóides
Processamento
Comercialização
Receitas
Cultivares
Coeficientes técnicos
Referências

Expediente

Plantio

Nuno R. Madeira
Fausto F. dos Santos

O espaçamento entre os camalhões é determinado no enleiramento, devendo ser de 70 a 80 cm. Entre plantas nas leiras, o espaçamento ideal varia de 30 a 40 cm, conforme a variedade, o local de plantio e a época. Assim, o estande pode variar de 31.250 a 47.619 plantas por hectare, considerando respectivamente o espaçamento de 80 x 40 cm ou 70 x 30 cm.

Deve-se evitar condição de fechamento excessivo da lavoura em épocas chuvosas, aumentando-se o espaçamento. Os clones de raízes brancas, extremamente viçosos, exigem espaçamento maior, de pelo menos 1m entre leiras e 50cm entre plantas.

Deve-se atentar para a profundidade de plantio, mantendo a região do coleto na interface solo-ar. O plantio profundo tende a proporcionar crescimento excessivo da cepa, direcionando o acúmulo de reservas para esta região, vulgarmente chamada de pescoço, em detrimento das raízes comerciais.

Há diferentes métodos de plantio: diretamente no local definitivo (plantio convencional) ou com o pré-enraizamento em canteiros (viveiros) ou com o pré-enraizamento em água.

Plantio convencional, diretamente no local definitivo

O plantio convencional é realizado diretamente no local definitivo, usando-se mudas com a brotação cortada e grande tamanho de reserva (2 a 3 cm). Em função das diferentes idades fisiológicas de mudas dentro de uma mesma touceira, observa-se grande desuniformidade de emergência e, por conseguinte, desuniformidade também no ponto de colheita, além de elevado percentual de falhas no campo (Figura 1). O plantio é efetuado no centro das leiras, à profundidade de cerca de 5cm.

 

Foto: Nuno Rodrigues Madeira

Fig. 1. Falhas em campo de plantio diretamente
no local definitivo.

Como opção para minimizar a desuniformidade de brotação e aumentar o índice de pegamento, pode-se utilizar a técnica de pré-brotação, recomendada quando não há possibilidade de irrigação. A técnica consiste na abertura de valas com cerca de 20cm de profundidade, colocação das mudas em camadas com ± 5 a 10cm dentro de sacos de aniagem, cobertura com palhada, seguida de terra.

Deve-se manter a umidade do solo. As mudas são, então, amostradas periodicamente após cerca de 10 a 15 dias e, quando bem brotadas, efetua-se seu desenterrio e o plantio no local definitivo. As mudas devem ser sadias e tratadas, dispostas em camadas não muito altas; o solo não deve estar muito molhado e o desenterrio deve ser realizado na época certa, quando as mudas estiverem iniciando a brotação (brotos com no máximo 2cm) e o enraizamento inexistente ou em fase inicial de desenvolvimento.

O plantio deve ser feito em solo úmido, de modo a garantir bom pegamento das mudas pré-brotadas, e sob clima ameno. Trata-se portanto, de técnica que exige cuidado redobrado, caso contrário, pode haver perda das mudas pelo apodrecimento nos sulcos ou no campo, após o plantio. Envolve, ainda, um certo risco pois, a ausência de chuvas logo após o plantio reduz o índice de pegamento e o estabelecimento inicial da lavoura.

Pré-enraizamento em canteiros (viveiros)

A técnica consiste basicamente em promover o enraizamento das mudas em canteiros devidamente preparados por cerca de 45 a 60 dias, para então realizar o transplantio para o local definitivo (Figura 2). Neste caso, deve-se utilizar mudas com menor quantidade de reservas, entre 1 e 2 cm. A base dos perfilhos pode ser aproveitada, exigindo, porém, novo corte na base, tendo-se o cuidado de não inverter a posição no momento do plantio (Figura 3).

Fotos: Nuno Rodrigues Madeira

 


Fig. 2. Canteiros para pré-enraizamento.

 

 

Fig. 3. Mudas cortadas para plantio pelo pré-enraizamento, parte apical e parte basal.

 

São necessários de 150 a 400 m² de canteiros para 1 ha de plantio, conforme o espaçamento utilizado nos viveiros, que pode variar de 5 a 10cm entre linhas e entre plantas conforme a época do ano, e o espaçamento a ser utilizado no campo definitivo. Nos viveiros, o espaçamento pode ser mais adensado sob temperaturas amenas.

É interessante o uso de cobertura morta com palhada sem semente, especialmente necessária para a base dos perfilhos pois estes apresentam grande propensão ao ressecamento devido ao corte na parte superior.

Os canteiros para pré-enraizamento, por vezes chamados de viveiros, devem possuir solo leve, com cerca de 20cm de altura e largura em torno de 1m. É recomendável a adubação orgânica na base de 5 a 10l.m-²  de esterco curtido ou 1,5 a 3l.m-² de cama de frango e adubação química em torno de 100g.m-² de NPK 8-28-16 ou similar. Podem ser realizadas adubações foliares complementares, conforme recomendação técnica.

A irrigação é indispensável, sendo normalmente realizada por aspersão. Deve-se molhar em profundidade os canteiros previamente ao plantio. A camada superficial do solo deve permanecer úmida até que se inicie o enraizamento das mudas, por meio de uma ou duas irrigações diárias durante 10 a 15 dias iniciais. A partir de então, pode-se irrigar a cada dois dias, conforme as condições climáticas. Também, o controle de plantas daninhas é fundamental.

Essa técnica não impede que hajam falhas no viveiro, porém permite maior controle climático pela maior facilidade de irrigação e possibilidade de cobertura, seja para o aquecimento no inverno, ou para a proteção contra as chuvas no verão. Dessa forma, no momento do transplantio apenas as mudas sadias e vigorosas irão para o campo definitivo. Pode-se, conforme o tamanho da lavoura, recomendar a seleção de classes de mudas, baseados em seu tamanho e vigor, transplantando-as separadamente de modo a proporcionar maior uniformidade no campo.

No caso de plantios após a época fria e seca, quando há risco de altos índices de florescimento precoce, deve-se usar mudas juvenis, pois estas, por não estarem fisiologicamente maduras, apresentam menores índices de pendoamento. Aquelas que, ainda assim, florescerem devem ser descartadas, não sendo transplantadas para o local definitivo.

Quando as mudas estão bem enraizadas, entre 45 e 60 dias, procede-se ao arranquio com enxadão e transplantio à altura do coleto para o local definitivo, que deve ser previamente irrigado. Após o transplantio, a irrigação deve ser diária até o pegamento, sendo comum ocorrer murcha e perda de folhas.

O pré-enraizamento de mudas em canteiros apresenta as seguintes vantagens em relação ao plantio convencional:

  • maximização do índice de pegamento;
  • redução de custos com tratos culturais, com maior controle da fase inicial da produção;
  • eliminação da ocorrência de florescimento precoce no campo definitivo;
  • possibilidade de seleção apurada de mudas;
  • uniformização da colheita devido ao estresse causado à muda pelo transplante;
  • possibilidade de escalonamento da produção.

O transplantio, no caso de mudas pré-enraizadas, deve ser feito entre 45 e 60 dias após o encanteiramento (Figura 4). No verão, observa-se maior precocidade na formação de mudas, devido ao metabolismo mais intenso. O estresse no momento do transplantio é tanto menor quanto mais precoce for realizado, tendo-se por limite mínimo quando as raízes apresentam-se bem estabelecidas e com cerca de 1 cm de comprimento, o que ocorre a partir de, aproximadamente, 35 dias. Um ligeiro estresse é interessante para promover o desenvolvimento uniforme da nova brotação após o transplantio (Figura 5). Inclusive, quando se efetua o enraizamento das mudas em bandejas de poliestireno expandido (isopor), perde-se esta vantagem de uniformidade da rebrota e, consequentemente, do desenvolvimento e da colheita.

Fotos:Nuno Rodrigues Madeira

 


Fig. 5. Transplante de mudas pré-enraizadas - arranquio das mudas nos canteiros  

Fig. 4. Mudas cortadas para plantio pelo pré-enraizamento, parte apical e parte basal.

 

  

Pré-enraizamento em água

Está técnica está em fase de validação e, basicamente, consiste em promover o enraizamento das mudas em recipientes com água por cerca de 20 a 30 dias, para então realizar o transplantio para o local definitivo. Cabe citar que a técncia foi primeiramente testada pelo produtor Roberto Akira Tanji, em Araguari, MG, passando por pequenas adaptações.

O preparo das mudas é semelhante ao anteriormente apresentado, para o pré-enraizamento em canteiros, devendo-se atentar somente para a utilização de mudas com pecíolo mais comprido, cerca de 3cm, o que facilita seu manuseio. As mudas são dispostas em recipientes, geralmente circulares (semelhantes a potes de manteiga de 200g), dispondo-se de 12 a 18 mudas, conforme seu tamanho, até que elas estejam bem firmes em cada recipiente.

Para controle do nível de água, de modo a não afogar as mudas, são feitos furos nos recipientes de modo a deixar uma lâmina de água em torno de 1,5cm. Deve-se repor água conforme a necessidade com regador, mangueira ou microaspersão.

São necessários de 30 a 40 m2 para 1 ha de plantio, conforme o tamanho das mudas e o espaçamento a ser utilizado no campo definitivo, e considerando que os recipientes possuem cerca de 10cm de diâmetro. O transplantio é feito quando do início do enraizamento, quando se verifica o entumescimento da parte basal das mudas, até quando estas têm cerca de 1cm de comprimento.

Após o transplantio, a irrigação deve ser diária até o pegamento. Adicionalmente às vantagens já citadas para o pré-enraizamento de mudas em canteiros, o pré-enraizamento de mudas em água apresenta as seguintes vantagens:

  • redução da área necessária para a produção de mudas;
  • redução do tempo para a produção de mudas;
  • eliminação do contato com solo, reduzindo a ocorrência de doenças;
  • eliminação da competição por plantas infestantes.

Na prática, pode-se conciliar diferentes sistemas de plantio. Desde que em época adequada de plantio, visando a minimizar a necessidade de mão-de-obra, pode ser viável efetuar o plantio convencional no local definitivo e, em menor escala, o pré-enraizamento em canteiros ou em água, de modo a reduzir a ocorrência de falhas no campo.

Entretanto, o que se tem observado em campo é a desuniformidade no desenvolvimento entre as mudas plantadas diretamente no local definitivo e aquelas transplantadas posteriormente nas falhas. Normalmente, estas têm a produção prejudicada, possivelmente em função das diferenças fisiológicas existentes e das distintas demandas por água e nutrientes.

Finalmente, uma boa muda é a base para um campo saudável e produtivo. A produção de mudas é fase primordial e deve ser tratada com redobrada atenção. No futuro, cada vez mais atenção será destinada à produção de mudas de qualidade, visto ser esse um dos fatores primordiais para o sucesso do empreendimento. Provavelmente, o produtor de mandioquinha-salsa possuirá área própria para esse fim, com manejo específico para tal. É possível, ainda, que existam produtores especializados na produção de mudas.(Figura 6)

Foto: Nuno Rodrigues madeira

Fig. 6. Campo de plantio pelo pré-enraizamento de
muda, destacando-se sua uniformidade.

 

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