Embrapa Florestas
Sistemas de Produção, 6
ISSN 1678-8281 Versão Eletrônica
Out./2003
Cultivo da bracatinga

Paulo Ernani Ramalho Carvalho

Início

Apresentação
Taxonomia
Descrição da espécie
Biologia reprodutiva e fenologia
Ocorrência natural
Aspectos econômicos e ambientais
Aspectos ecológicos
Clima
Solos
Sementes
Produção de mudas
Características silviculturais
Melhoramento genético
Crescimento e produção
Principais pragas e doenças
Características da madeira
Produtos e utilizações
Espécies afins
Sistemas agroflorestais
Referências
Glossário

Expediente
Autores

Produtos e Utilizações


Madeira serrada e roliça

A madeira de bracatinga pode ser usada, principalmente, em vigamentos, escoras em construção civil, partes não aparentes de móveis, em caixotaria, embalagens leves; compensados, laminados e aglomerados. O sub-bosque dos bracatingais tradicionais tem potencial para produzir madeira para cabos de ferramentas e utensílios domésticos, além de peças para artesanato e marcenaria em geral (Baggio & Carpanezzi, 1998).

Energia

A madeira de bracatinga proporciona uma lenha muito boa e um carvão de excelente qualidade. Há diferenças entre as variedades branca e vermelha; a lenha da bracatinga-vermelha é melhor e o carvão da bracatinga-branca é também melhor. Poder calorífico da madeira de 4.569 a 4.830 Kcal/kg (Silva et al., 1982); teor de lignina de 25,8 a 28,0%; carvão com rendimento de 32,6 a 35,0%; carbono fixo de 83,2 a 84,9; poder calorífico do carvão de 7.239 a 7.554 Kcal/kg.

A secagem da madeira de bracatinga, destinada à lenha, propicia um ganho substancial em termos de produção energética, decorrente da perda de umidade (Sturion & Tomaselli, 1990). A secagem por quatro meses, pode reduzir a área de corte em aproximadamente 60%, o que representa uma grande contribuição para a preservação das florestas.

Em Curitiba - PR, e arredores, o cultivo da bracatinga para produção de lenha remonta à primeira década deste século (Martins, 1944). Atualmente, com poucas modificações, ele estende-se por cerca de 60.000 ha na Região Metropolitana de Curitiba, tendo importantes papéis econômico, social e ambiental (Carpanezzi & Carpanezzi, 1992).

Celulose e papel

Espécie adequada para celulose, no processo sulfato branqueado, destinada a papéis de escrita e impressão que não requerem alta resistência física (Barrichelo & Brito, 1982). Deve ser considerada como uma fonte alternativa de fibras curtas em regiões onde o plantio do eucalipto apresenta fatores limitantes (Barrichelo & Foelkel, 1975). Comprimento da fibra de 0,84 a 1,17 mm e lignina e cinza de 28,27% (Wasjutin, 1958).

Outros Produtos

Goma

Das sementes da bracatinga, se obtêm açúcares e um novo composto, o trigalactosil pinitol e um alto teor de galactomanana, o que possibilita sua aplicação racional na melhoria da qualidade de produtos industrializados, como alimentos, fármacos, cosméticos, explosivos e outros (Ganter, 1991; Buckeridge et al. , 1995).

Substâncias tanantes

A bracatinga apresenta tanino na casca, em quantidades variáveis, desde baixa a alta concentração (Körbes, 1995).

Outros Usos

Alimentação animal

A forragem de bracatinga apresenta 13 a 22% de proteína bruta e 8% de tanino (Mattos & Mattos, 1980; Leme et al., 1994). Sua qualidade como forragem não é alta, sendo de baixa digestibilidade. Contudo, as folhas são consumidas por animais domésticos e particularmente valiosas nos períodos frios, quando os pastos secam. O uso intensivo da bracatinga como espécie forrageira tem como restrição a ausência de rebrota.

Apícola

Importante espécie apícola, fornecendo néctar e pólen no inverno e produzindo mel rico em glicose, com cristalização muito rápida (Barros, 1960; Embrapa, 1988; Pirani & Cortopassi-Laurino, 1993). A concentração média de açúcar do néctar, encontrada por Pegoraro (1988), para a espécie, foi 24,16% e a produção média do mel de 119 kg/ha. A bracatinga é uma boa opção para a produção de pólen, já que seu mel é de cor escura e de difícil comercialização, atualmente.

Medicinal

Os índios de várias etnias do Paraná e de Santa Catarina, usam a casca do caule da bracatinga para combater coceiras (Marquesini, 1995).

Paisagístico

A árvore é bastante ornamental, principalmente quando há presença de flores. Pode ser empregada, com sucesso, no paisagismo, principalmente na arborização de ruas estreitas (Lorenzi, 1992). Como restrição, apresenta baixa longevidade.

Reflorestamento para recuperação ambiental

Como espécie facilitadora, a bracatinga, por regeneração natural ou sendo plantada, recobre rapidamente terrenos queimados, inibindo a vegetação herbáceo-arbustiva e criando condições de microclima favoráveis para espécies tolerante ao sombreamento (Carpanezzi, 1997).

Esta espécie é empregada há anos, por grandes empresas, na revegetação de terrenos profundamente alterados, em regiões frias, com efeitos comprovadamente benéficos sobre o solo. Ela é recomendada para a conservação de solos e na recuperação e reabilitação de solos degradados, tais como: solos com superfícies alteradas pela terraplenagem, solos modificados pela exploração do xisto betuminoso (Poggiani & Monteiro, 1990) e pela exploração da bauxita, solos erodidos e área de empréstimo, às margens de reservatório de hidroelétrica, já que, através da deposição de biomassa e de nutrientes, fertiliza o solo.

Chega a depositar até 8.490 kg de matéria orgânica seca, 253 kg de nitrogênio e 15 kg/ha.ano de potássio (Carpanezzi et al., 1984). Em solo alterado pela exploração do xisto betuminoso, o povoamento de bracatinga depositou sob o solo 6.300 kg/ha.ano de folhedo, enquanto no de eucalipto foi de apenas 3.000 hg/ha.ano-1 (Chiaranda et al., 1983).

Segundo Carpanezzi (1997) a deposição anual de folhedo total nos arredores de Curitiba - PR, situou-se entre 4.800 kg/ha e 7.200 kg/ha. Contudo, nos três exemplos citados, as quantidades depositadas variam muito com a idade. Testada no Departamento de Eldorado, na Argentina, ela apresentou aos quatro anos de idade um rendimento de 364 t/ha de peso de material seco (Volkart et al.,1998). O reflorestamento com bracatinga é eficiente para a reocupação do solo por microorganismos e vegetação autóctones, que constituem elos importantes de cadeias biológicas (Maschio et al., 1992). A espécie é recomendada para reposição de mata ciliar em locais com ausência de inundação e encharcamento (Ferreira, 1983).


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