Solos
A região
caracteriza-se, principalmente, pela existência de grandes áreas com
topografias acidentada, solos ácidos e de baixa fertilidade natural, que
se estende por toda a Zona da Mata de Minas Gerais. Nessa região, a
vegetação era constituída originalmente por espécies da Mata Atlântica.
Com o desmatamento ao longo de dezenas de anos, essa região sofreu
alterações substânciais, com a substituição das matas por pastagens,
principalmente capim-gordura (Melinis minutiflora Beauv.), que
ainda hoje constitui boa parte da cobertura vegetal dos morros, nesta
região
As áreas
montanhosas desta região representam cerca de 70% de toda a paisagem,
sendo predominantemente formada por podzólicos e latossolos. Os podzólicos
em geral são de fertilidade elevada, enquanto os latossolos, em sua quase
totalidade, são álicos e distróficos. As áreas de baixadas são ocupadas
por solos aluviais eutróficos. A proporção de áreas planas é inferior a
20%, normalmente baixadas às margens dos cursos d’água ou fundo dos vales
Clima
Geograficamente, o sistema está localizado em Coronel Pacheco – MG, cujas
coordenadas são 21º 33’ 22” de latitude sul e 43º 06’ 15” de longitude WGr,
numa altitude de 414 metros. A precipitação média anual é de 1.600 mm
aproximadamente, apresentando um período mais seco de maio a outubro, com
precipitação média de 350 mm, e um período mais chuvoso, de novembro a
abril, com precipitação média de 1.250 mm. A temperatura média anual é de
22,5º C e a média dos meses mais quentes (dezembro a março) de 25º C e a
média dos meses mais frios (junho a agosto) de 19,5º C. A umidade relativa
média é em torno de 77%.
Em linguagem bem
simples, o verão é quente e muito úmido, enquanto o inverno (maio a
setembro) é frio e seco. Essa baixa distribuição de chuvas durante esse
período do ano, aliada às baixas temperaturas e baixa luminosidade,
reduzem drasticamente a taxa fotossintética das culturas, diminuindo a
produção de matéria seca e, conseqüentemente, afetam a estabilidade da
produção de leite. Essa redução na produção de matéria seca obriga o
produtor a utilizar suplementação volumosa nesse período, o que onera o
custo de produção de leite.
Exigências
Ecológicas
As condições
ambientais exercem fortes influencias nos bovinos (na verdade, em todos os
seres vivos). Diretamente afetam as funções orgânicas envolvidas na
manutenção do equilíbrio interno do organismo (homeostasia). A influência
indireta se dá na qualidade e quantidade de volumoso, no favorecimento ou
não de doenças infecto-contagiosas, na ocorrência do endo e ectoparasitas
etc.
Os principais
componentes do meio ambiente que afetam os bovinos são: clima (temperatura
do ar, umidade relativa do ar, radiação solar, ventos), solo (fertilidade,
topografia), luminosidade, precipitação. Estes fatores agem isoladamente
ou em conjunto e interferem na ocorrência de doenças e de ecto e
endoparasitas, na alimentação, produção, reprodução, longevidade e
conforto térmico dos bovinos.
As condições
mais adequadas para os bovinos de origem européia correspondem à
temperatura média mensal inferior a 20º C em todos os meses e umidade
relativa do ar variando entre 50 e 80 %. A temperatura critica sob a qual
cai o consumo de alimentos e a produção de leite, está entre 24 e 26º C
para a raça Holandesa, entre 27 e 29º C para Jersey e acima de 29,5º C
para a Suiça-Parda. A zona de conforto térmico está entre -1º C e 21º C,
com poucas variações conforme a raça européia, para animais adultos.
Já as raças
zebuínas (Bos indicus) foram selecionadas naturalmente para as
condições de ambiente tropical da India - Clima mais quente e até árido. A
raça Gir é originária da região ao sul da península de Kathiawar, na costa
ocidental da India, sob o Trópico de Câncer, em ambiente quente e seco. A
raça Guzerá é originária da região norte de Gujarat, território vizinho ao
do Gir. A região tem clima muito quente, quase inóspito.
A temperatura
que limita o conforto térmico dos zebuínos é de 10º C a 32º C, com
temperatura crítica máxima de 35º C e mínima de 0º C.
Não existem muitos
dados de pesquisa para as raças mestiças Europeu x Zebú. Mas é bem aceito
pelos especialistas que os mestiços tem tolerância ao calor intermediária
entre as raças parentais. Alguns autores indicam que a zona de conforto
térmico está limitada pela temperatura ambiente mínima de 5º C e máxima
de 31º C.
Arborização de pastagens
A arborização de pastagens
é uma modalidade de SSP que prioriza o produto animal. Esses sistemas são
também conhecidos como sistemas agroflorestais pecuários e se caracterizam
por integrar componentes lenhosos (árvores e arbustos), herbáceos
(gramíneas e leguminosas) e animais herbívoros.
a - Conseqüências
benéficas para as pastagens
A inclusão de árvores e
arbustos em pastagens de gramíneas pode acarretar vários efeitos benéficos
para o ecossistema, em alguns casos ocorrendo externalidades positivas que
ultrapassam os limites da pastagem ou da propriedade. Entre esses efeitos
destacam-se:
i)
Conforto para os animais;
ii)
Controle de erosão e melhoramento da fertilidade do solo;
iii)
Melhor
aproveitamento da água das chuvas;
iv)
Aumento na disponibilidade de forragem em certas épocas do ano e maiores
teores de proteína bruta na forragem sombreada;
v)
Incremento da rentabilidade da propriedade rural, com redução nos gastos
com insumos, e algumas vezes, com a obtenção de pelo menos dois produtos
comercializáveis (leite, carne, madeira, frutas etc.);
vi)
Aumento e conservação da biodiversidade;
vii)
Proteção dos mananciais de água.
Vários impactos positivos
podem resultar da obtenção desses benefícios em diversas regiões do País,
entre os quais se incluem: a) Em associação com outras práticas de manejo,
contribuir para o uso sustentado de pastagens cultivadas evitando a sua
degradação; b) Recuperação e desenvolvimento de pastagens e de áreas
degradadas; c) Melhoramento das condições econômicas de produtores rurais;
d) Preservação dos recursos naturais, contribuindo para valorização das
propriedades rurais; e) Embelezamento da paisagem, contribuindo para
desenvolver o turismo rural.
b - Efeitos da arborização sobre os animais a pasto
Além de contribuírem para
atenuar as temperaturas extremas em pastagens, as árvores reduzem o
impacto de chuvas e ventos, promovendo conforto e servindo de abrigo para
os animais. Esses fatores de conforto se refletem também no desempenho
produtivo e reprodutivo dos animais.
Em regiões quentes, a
existência de sombra nas pastagens influencia positivamente os hábitos de
pastejo dos animais (Daly, 1984), permitindo uma distribuição mais
apropriada da ruminação durante o dia e garantindo mais tempo de descanso.
Em pastagens manejadas extensivamente, a presença de árvores distribuídas
por toda a área deve contribuir para facilitar o acesso dos animais aos
locais mais distantes da pastagem.
O estresse pelo calor
afeta a fertilidade do rebanho, reduzindo a taxa de concepção e peso ao
nascer dos bezerros (Daly, 1984). Sabe-se também que o sombreamento é
fator de grande importância para a produtividade bovina, principalmente na
pecuária de leite. Segundo Baccari (1998), a melhor sombra é aquela
fornecida pelas árvores. O autor recomenda que o sombreamento deve ser
parte obrigatória em piquetes para vacas leiteiras, para que elas possam
ser aliviadas da carga térmica radiante proveniente da radiação solar
direta.
c - Efeitos sobre as
condições de solo
A conservação do solo em
pastagens depende da manutenção de adequada cobertura vegetal. Quando essa
condição é observada, as pastagens são uma das formas mais eficientes de
controle de erosão (Lombardi Neto, 1993). Em pastagens degradadas ou em
início de degradação, a cobertura vegetal deficiente expõe o solo aos
efeitos da erosão hídrica e eólica. As árvores mantidas ou introduzidas
nas pastagens constituem um estrato adicional de vegetação e podem
exercer um importante papel na conservação do solo e no melhoramento da
sua fertilidade.
d - Conservação do solo e da água
A parte aérea das árvores
(copa e fuste) pode constituir-se em proteção física para a pastagem,
reduzindo a velocidade dos ventos e o impacto da chuva sobre a superfície
do solo. Uma das conseqüências do controle da erosão hídrica, é o aumento
na infiltração de água no solo, com melhor aproveitamento da água das
chuvas. Isso é facilitado pelo desenvolvimento do sistema radicular das
árvores, que favorece as condições físicas do solo, melhorando sua
estrutura, aumentando a porosidade e a capacidade de retenção de água (Hernandéz,
1998). De acordo com Dagang & Nair (2001), em condições de baixa
disponibilidade de água no solo, as árvores podem bombear água de camadas
mais profundas do solo e distribuí-la na superfície.
e - Melhoramento da fertilidade do solo
Diversas informações da literatura indicam enriquecimento do solo de
pastagens em áreas sob a influência das copas de árvores. As árvores,
principalmente as que possuem sistema radicular profundo, podem aproveitar
nutrientes de camadas do solo que estão fora do alcance das raízes das
plantas forrageiras, que são geralmente mais superficiais, tornando esses
nutrientes disponíveis às forrageiras. Outro meio de enriquecimento do
solo é a incorporação gradativa de nutrientes ao sistema solo/pastagem,
por meio da biomassa das árvores (Ovalle & Avendaño, 1984; Nair, 1999).
Esse efeito é maior no caso de leguminosas arbóreas que possuem a
capacidade de fixar o nitrogênio (N) do ar atmosférico.
Aumentos nos teores de
fósforo (P), potássio (K) e outros nutrientes foram observados em amostras
de solo coletadas sob copa de árvores em relação àquelas coletadas em
áreas de pastagem sem árvores (Joffre et al., 1988; Velasco et al., 1999).
A deposição gradual de biomassa no solo, sob a influência de árvores,
aumenta também a matéria orgânica (MO) do solo (Ovalle & Avendaño, 1984;
Mahecha et al., 1999). No Chile, Ovalle & Avendaño (1984) observaram que
os teores de MO nos primeiros 5 cm do solo, coletado sob a copa da
leguminosa Acacia caven, aumentou em 2,5 unidades percentuais
quando o índice de recobrimento da pastagem nativa com essa espécie
aumentou de 30 para 50%. No Vale do Cauca, Colômbia, Mahecha et al. (1999)
estudaram o efeito de dois SSP (capim-estrela + leucena + algaroba e
capim-estrela + algaroba) comparados com capim-estrela em monocultura,
sobre algumas propriedades químicas do solo, e verificaram que nas
profundidades de 0-10 e 10-20 cm, os teores de N e de MO foram menores no
solo do capim-estrela em monocultura do que nos sistemas com leguminosas.
O efeito das árvores sobre
a fertilidade do solo em pastagens é mais evidente em solos de baixa
fertilidade do que em solos de fertilidade mediana a alta. Além disso, o
efeito parece ser maior com espécies leguminosas do que com
não-leguminosas. No Cerrado brasileiro, Oliveira et al. (2000) examinaram
o efeito de árvores isoladas de baru (Dipterix alata) e de pequi (Caryocar
brasiliense) sobre as características do solo sob pastagem de
Brachiaria decumbens e observaram que a concentração de C orgânico foi
maior sob as duas espécies arbóreas do que em área sem árvores, porém o Ca,
Mg e K trocáveis foram mais altos apenas sob as árvores da leguminosa baru
(Tabela 1).
Tabela 1 - Características
químicas de um solo de cerrado, na camada de 0-30 cm, em pastagem de B.
decumbens, sob as copas de baru e pequi e a pleno sol.
Características do solo |
Em área aberta |
Sob Pequi |
Sob Baru |
pH |
4,95 a |
4,95 a |
5,20 a |
Al (cmolc/dm3) |
0,74 a |
0,79 ab |
0,51 a |
C orgânico (mg/kg) |
7,11 a |
9,65 b |
13,36 c |
Ca (cmolc/dm3) |
0,13 a |
0,15 a |
0,31 b |
Mg (cmolc/dm3) |
0,27 a |
0,29 a |
0,53 b |
K (cmolc/dm3) |
0,29 a |
0,39 ab |
0,68 b |
Fonte:
Oliveira et al. (2000).
Na
Tabela 2 podem ser observados os efeitos positivos de diferentes
porcentagens de sombreamento sobre algumas características do solo, tendo
como forrageira herbácea a Brachiaria decumbens.
Tabela 2 -
Efeito da densidade arbórea sobre as características do solo em pastagem
de B. decumbens (amostras coletadas a duas profundidades).
Densidade arbórea(%) |
pH em água |
Ca |
Mg |
K |
P
mg/dm3 |
MO
(%) |
cmolc/dm3 |
|
------------------ 0-10 cm de
profundidade ------------------- |
12 |
4,6 a1 |
0,45 b |
0,15 b |
0,11 a |
2,89 ab |
2,48 a |
22 |
4,6 a |
0,92 a |
0,47 a |
0,31 a |
4,15 a |
3,24 a |
30 |
4,5 a |
0,49 b |
0,35 ab |
0,24 a |
5,07 a |
3,18 a |
|
|
|
|
|
|
|
|
-------------------10-20 cm de
profundidade ------------------- |
12 |
4,5 a |
0,36 a |
0,11 a |
0,05 b |
1,20 b |
1,86 b |
22 |
4,5 a |
0,41 a |
0,21 a |
0,17 a |
1,59 ab |
2,32 a |
30 |
4,4 a |
0,25 a |
0,11 a |
0,10 ab |
1,97 a |
2,19 a
|
1
Médias seguidas por
letras diferentes na mesma coluna diferem significativamente pelo
teste Newman-Keuls
f
- Efeitos sobre a disponibilidade de forragem e nutrientes
A redução na luminosidade
normalmente diminui o crescimento das plantas, porém, no caso dos SSP, as
mudanças que as árvores podem promover nas áreas de pastagem sob sua
influência, principalmente na fertilidade do solo e nas condições
microclimáticas, podem alterar as respostas esperadas.
Algumas das modificações
microclimáticas mais importantes que as árvores promovem em áreas sob sua
influência são: reduções na temperatura do ar e do solo, e manutenção de
maior teor de umidade no solo. Essas alterações nas condições ambientais
no solo e na interface solo/serrapilheira contribuem para incrementar as
atividades biológicas do solo, e, como conseqüência, aumentar a
mineralização de N em comparação com as áreas não-sombreadas da pastagem (Joffre
et al., 1988; Hang et al., 1995; Wilson, 1996). Em sistemas silvipastoris
naturais do Chaco árido argentino, Hang et al. (1995) verificaram que o N
mineralizado, disponível e imobilizado na biomassa microbiana, foi mais
alto sob as copas das árvores do que nos espaços abertos.
A temperatura ambiente nas
áreas sombreadas das pastagens é geralmente mais amena em comparação com
áreas à céu aberto. No entanto, o efeito do sombreamento sobre as
temperaturas do solo é ainda mais marcante. Em área subtropical da
Austrália, Wilson (1996) observou que as temperaturas máximas medidas no
nível da serrapilheira de quatro gramíneas foram de 7-11,5°C
mais baixas em áreas submetidas a sombreamento artificial (50%) do que nas
áreas a pleno sol, onde em alguns casos as temperaturas atingiram valores
superiores a 40°C.
O sombreamento teve pouco efeito sobre as temperaturas mínimas durante o
verão, porém essas foram elevadas no inverno.
Todos esses aspectos podem
contribuir para minimizar o efeito prejudicial do sombreamento sobre a
produtividade das pastagens, porém outros fatores, entre os quais as
condições ambientais no ecossistema considerado e as características das
espécies forrageiras herbáceas e das arbóreas, podem influenciar
significativamente na resposta das pastagens ao sombreamento. |