Mercado de leite e derivados
As mudanças do
início da década de 90, com a abertura da economia, liberação de preços e
o plano de estabilização, trouxeram modificações importantes para toda a
cadeia agroindustrial do leite, aumentando os investimentos no setor. O
novo cenário foi reforçado com a implementação do Plano Real em 1994,
aumentando o mercado consumidor e viabilizando aumentos de produção.
Uma
das mais significativas mudanças ocorrida no mercado de lácteos trata da
importância assumida pelos supermercados como pontos de distribuição, a
partir principalmente da entrada do leite longa vida (ou UHT) no mercado,
que veio atender as exigências de comodidade e conveniência do consumidor,
cada vez mais consciente de seus direitos.
A
demanda por leite e derivados pode ser aumentada por diversos fatores,
entre eles o aumento de população, crescimento de renda, redução de preços
relativos, mormente, de produtos concorrentes ou substitutos, e mudanças
nos hábitos alimentares. Na realidade a demanda é alterada por diversos
fatores que podem ocorrer simultaneamente.
A
queda da renda da população nos últimos 25 anos pode ser mostrada tomando
os valores do salário mínimo como referência. Na média, o salário mínimo
reduziu em cerca de R$ 9,00 ao ano a preços de dezembro de 2001. Isto
representa uma perda real de poder aquisitivo do consumidor com impactos
relevantes no consumo de produtos lácteos, que altera significativamente
com mudanças nos níveis de renda da população. Contudo, no início do
Plano Real houve crescimento do salário mínimo representando maior
potencial de compra e com fortes impactos na demanda por produtos lácteos,
durante 1994 a 1997.
O
aumento populacional configura um aumento de demanda por alimentos,
incluindo o leite e seus derivados. O crescimento da população no período
de 1960 a 1999 foi de 2,32%, muito aquém do crescimento da oferta de leite
e derivados. Uma melhoria de renda proporcionada pelo aumento do salário
mínimo a partir de 1994, ano inicial do Plano Real, proporcionou uma
elevação de consumo de leite. Após a 1998 o consumo de leite se estabiliza
ao redor de 130 l/hab./ano.
Pode-se argumentar ainda que a demanda da indústria de transformação é
dependente do consumidor final e do conjunto de produtos lácteos que ele
consome. No
caso brasileiro, segundo houve mudanças substanciais na demanda e no
conjunto de produtos ofertados e consumidos. Destaca-se o crescimento do
leite longa vida e o crescimento dos produtos de maior valor agregado como
queijos, iogurtes e sobremesas.
Além da mudança no mix dos
produtos ofertados e substancial redução de preços, ocorreu após o Plano
Real e a abertura econômica, que levou a uma elevação dos requerimentos de
qualidade advindos da comparação entre produtos nacionais e importados, e
uma maior conscientização do consumidor a respeito de saúde e segurança
alimentar.
Destaca-se que a redução
dos preços dos produtos lácteos representa a incorporação de parcelas da
população no mercado e estímulo ao consumo daqueles que já participavam
dele. Em outras palavras, representa, em termos agregados, um aumento de
renda real para os consumidores. A mudança do conjunto dos produtos
lácteos consumidos pelos brasileiros, representa uma mudança de hábitos de
consumo ao incorporar produtos de maior valor agregado, com graus de
sofisticação maior e características de conveniência bastante peculiares.
Em
resumo, os agentes que atuam na cadeia de lácteos devem promover
modificações rápidas para se adequar aos requerimentos do mercado
globalizado, inclusive com vistas a exportação . As mudanças mais
importantes são a definição dos requerimentos de qualidade superior,
aumento da oferta de produtos de maior valor agregado, racionalização da
coleta por meio da granelização, concentração da indústria, requerimentos
de escala e profissionalização da produção primária.
Em relação ao
mercado externo, sabe-se que o Brasil é um tradicional importador de
produtos laticínios, chegando a importar até 30% do leite consumido no
País. Em média importou-se cerca de 10% da produção nacional nos últimos
anos. A partir de 1995 observa-se uma clara tendência de redução nos
gastos com importação de lácteos e simultaneamente uma ligeira evolução na
receita com exportações. Tendo em vista a falta de tradição do País neste
mercado, estes são dados que apontam um novo caminho que pode, de certa
forma, revolucionar o setor produtivo do leite nacional.
O potencial
produtivo do setor e suas vantagens comparativas em relação a outros
países produtores e tradicionalmente exportadores é muito grande e deverá
ser trabalhado intensamente, tanto pelo Governo como pela iniciativa
privada, a partir de então. A implementação da Portaria 56/99 do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que regulamenta o
Programa Nacional de Qualidade do Leite deverá ser uma das primeiras
iniciativas do Brasil no sentido de ganhar a credibilidade dos principais
e maiores centros importadores de derivados de leite no mundo.
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