Embrapa Mandioca e Fruticultura
Sistemas de Produção, 8
ISSN 1678-8796 Versão eletrônica
Jan/2003
Cultivo da Mandioca para a Região do Cerrado
Luciano da Silva Souza
Josefino de Freitas Fialho

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Glossário


Expediente

Doenças

Bacteriose Podridão radicular e Superalongamento
Superbrotamento, Viroses e Outras doenças

Bacteriose Podridão radicular e Superalongamento 


Bacteriose

A bacteriose, causada por Xanthomonas axoponodis pv. manihotis, é a principal doença da mandioca, sobretudo no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Nas condições de Cerrado essa doença adquiri grande expressão econômica, podendo provocar perdas totais. 

Os sintomas da bacteriose caracterizam-se por manchas angulares, de aparência aquosa, nos folíolos, murcha das folhas e pecíolos, morte descendente e exsudação de goma nas hastes, além de necrose dos feixes vasculares e morte da planta. Os prejuízos causados pela bacteriose variam com as condições climáticas, suscetibilidade ou tolerância das variedades, práticas culturais empregadas, épocas de plantio e nível de contaminação do material de plantio. A variação brusca de temperatura entre o dia e a noite é o fator mais importante para a manifestação severa da doença, sendo que a amplitude diária de temperatura superior a l0ºC durante um período maior que cinco dias é a condição ideal para o pleno desenvolvimento da doença. As perdas de produção estão em torno de 30% em cultivos usando variedades suscetíveis e, em locais com condições favoráveis para a doença, os prejuízos podem ser totais. Por outro lado, usando variedades tolerantes, mesmo com a ocorrência de condições favoráveis as perdas de produção chegam no máximo a 30%.

A utilização de variedades resistentes é a medida mais eficiente para o controle da bacteriose; mas, também, contribuem as práticas culturais como a utilização de manivas sadias e a adequação das épocas de plantio. As variedades atualmente em uso nas áreas de ocorrência da bacteriose caracterizam-se por apresentar uma tolerância aceitável à doença. Na Região Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal e Tocantins), as variedades recomendadas são IAC-12, IAC-13, IAC-14, Mantiqueira, Branca de Santa Catarina, IAC 352-6, IAC 352-7, IAC 12-829, IAC 7-127, Sonora, EAB 81 e EAB 653.


Podridão radicular

A podridão radicular é a doença de pouca expressão nas Região do Cerrado, sendo mais limitante na Região Nordeste, cujas perdas de produtividade de raízes nas áreas de maior ocorrência estão em torno de 30%. Na Região Norte ela é particularmente importante nos ecossistemas de Várzea e de Terra Firme, nos quais as perdas chegam a ser superiores a 50% no primeiro e atingem até 30% no segundo. Em alguns casos têm-se observado prejuízos totais, principalmente em áreas com solos adensados e sujeitos a constantes encharcamentos.

Os mais importantes agentes causadores da podridão radicular são os fungos Phytophthora sp. e Fusarium sp., não somente pela abrangência geográfica, mas, principalmente, pelas severas perdas na produção. Alguns estudos mostram que a ocorrência de Phytophthora sp. é mais acentuada em plantios de mandioca implantados em áreas sujeitas a encharcamento, com textura argilosa e de pH neutro ou ligeiramente alcalino. No caso de Fusarium sp., acredita-se que sua sobrevivência está relacionada a solos ácidos e adensados. Outros agentes causais como Diplodia sp., Sytalidium sp. e Botriodiplodia sp. podem, em áreas favorecidas por microclima, tornar-se patógenos prejudiciais à cultura.

Os sintomas da podridão radicular são bastante distintos em função dos agentes causais. Normalmente, Phytophthora sp. ataca a cultura na fase adulta, causando podridões “moles” nas raízes, com odores muito fortes, semelhantes ao de matéria orgânica em decomposição; mostram uma coloração acizentada que se constitui dos micélios ou mesmos esporos do fungo nos tecidos afetados. O aparecimento de sintomas visíveis é mais freqüente em raízes maduras; entretanto, existem casos de manifestação de sintomas na base das hastes jovens ou em plantas recém-germinadas, causando murcha e morte total. No caso do Fusarium sp., os sintomas podem ocorrer em qualquer fase do desenvolvimento da planta e raramente causam danos diretos nas raízes. O ataque ocorre no ponto da haste junto ao solo, causando infecções e muitas vezes obstruindo totalmente os tecidos vasculares, impedindo a livre circulação da seiva e, conseqüentemente, provocando podridão indireta das raízes. Ao contrário de Phytophthora sp., os sintomas provocados nas raízes pelo ataque de Fusarium sp. são caracterizados por uma podridão de consistência seca e sem o aparente distúrbio dos tecidos.

As medidas de controle da podridão radicular envolvem a integração do uso de variedades tolerantes, associado a práticas culturais como rotação de culturas, manejo físico e químico do solo, sistemas de cultivo e outras. Na Região Norte, trabalhos de pesquisa executados nas várzeas mostraram que o uso de variedade tolerante, associado à rotação de culturas e sistemas de plantio, reduziu a podridão em cerca de 60%. As variedades consideradas tolerantes até então conhecidas são: Osso Duro, Cedinha, Bibiana, clone 148/02, Aramaris e Kiriris, para o Nordeste, e Zolhudinha, Mãe Joana e Embrapa 8, para o Norte.


Superalongamento

O superalongamento, causado por Sphaceloma manihoticola, é uma das doenças causadas por fungos mais importantes da cultura da mandioca. A sua ocorrência no Brasil foi constatada pela primeira vez em 1977 na Região Norte, no Amazonas e Pará; após quase dez anos foi detectado no Mato Grosso, atacando grandes cultivos comerciais, e mais recentemente também foi observado no Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e, por último, na Bahia. Atualmente a doença encontra-se sob controle, não constituindo problema para a mandioca.

Os principais sintomas caracterizam-se pelo alongamento exagerado das hastes tenras ou em desenvolvimento, formando ramas finas com longos entrenós. Em casos severos as plantas afetadas podem ser identificadas pelas lesões típicas de verrugoses nas hastes, pecíolos e nervuras; também é comum observar retorcimento das folhas, desfolhamento e morte dos tecidos. A disseminação da doença é bastante rápida durante a estação chuvosa, pois os esporos são facilmente transportados a longas distâncias pelo vento e chuva. O estabelecimento da doença em áreas livres da mesma ocorre principalmente por meio de manivas-semente contaminadas.

Os prejuízos causados pelo superalongamento dependem da quantidade de inóculo inicial, da suscetibilidade das cultivares utilizadas e das condições climáticas. Em cultivar suscetível originada de plantação afetada, e com ocorrência de condições ambientais favoráveis à da doença, as perdas de produção podem atingir até 70%, enquanto que em cultivar tolerante, sob as mesmas condições, a perda chega no máximo a 30%.

As medidas de controle do superalongamento são basicamente a seleção de manivas sadias para o plantio, eliminação de plantas infectadas, uso de cultivares tolerantes ou resistentes e rotação de culturas nas áreas anteriormente afetadas.

Superbrotamento, Viroses e Outras doenças


Superbrotamento

O superbrotamento é uma doença causada por fitoplasma, que tem sido encontrada atacando a cultura da mandioca no Brasil, sendo particularmente importante na microrregião da Serra da Ibiapaba, no Ceará, apesar da sua ocorrência ser registrada em quase todas as regiões produtoras de mandioca.

Em condições altamente favoráveis ao desenvolvimento da doença, pode provocar uma redução de até 70% no rendimento de raízes, e acentuada diminuição nos teores de amido, que chega a 80% em cultivares suscetíveis. O superbrotamento também pode causar perdas na produção de manivas-semente, tendo em vista que, nas plantas afetadas, as hastes apresentam-se com um tamanho muito reduzido e excesso de brotação das gemas.

Os sintomas da doença caracterizam-se pela emissão exagerada de hastes a partir da haste principal, também chamados de envassouramento ou flocos, além de provocar raquitismo e amarelecimento generalizado das plantas afetadas. Acredita-se que a disseminação da doença ocorra por meio de vetores transmissores, normalmente insetos que têm o hábito sugador, além de manivas-semente contaminadas utilizadas para o plantio.

O controle do superbrotamento pode ser efetuado preventivamente, evitando a introdução de material de plantio de áreas afetadas, seleção rigorosa do material de plantio em áreas de ocorrência da doença e eliminação de plantas doentes dentro do cultivo. A utilização de variedades resistentes é o método mais eficiente de controle da doença; em trabalho realizado no Ceará foram identificados os genótipos Embrapa 54–Salamandra, Embrapa 55–Tianguá, Embrapa 56–Ubajara e Embrapa 57–Ibiapaba, resistentes à doença e com características agronômicas e industriais desejáveis.


Viroses

O mosaico das nervuras apresenta ampla abrangência geográfica, embora seja particularmente importante no ecossistema do Semi-Árido Nordestino, não somente pela severa manifestação produzida, como também pela influência negativa na qualidade dos produtos obtidos. Não existe definição clara do seu efeito na produção pois, enquanto alguns acreditam que o ataque severo pode reduzir a produtividade em até 30%, outros afirmam que ela não é afetada pelo vírus, e sim a qualidade do produtos, especialmente o teor de amido na raiz. Os sintomas caracterizam-se pela presença de cloroses intensas entre as nervuras primárias e secundárias, nas plantas afetadas. Em casos severos da doença é comum observar um forte retorcimento do limbo foliar.

O “couro de sapo” tem sido observado de modo muito restrito em algumas lavouras localizadas no Amazonas, Pará e Bahia. Entretanto, a doença é considerada como potencialmente importante, pois sua manifestação severa em plantios de mandioca pode inviabilizar economicamente a produção. O ataque severo do vírus pode provocar redução em torno de 70% na produtividade ou até mesmo perdas totais em variedades suscetíveis. O vírus pode também reduzir drasticamente a qualidade do produto, especialmente os teores de amido nas raízes, cuja diminuição pode variar de 10 a 80%.

O mosaico comum ocorre normalmente em regiões com temperaturas mais amenas, no Sul e Sudeste do Brasil. A manifestação severa da doença em variedades suscetíveis pode causar perdas de produção entre 10 a 20%; o vírus também prejudica a qualidade dos produtos, causando reduções nos teores de amido que variam entre 10 a 50%. Os sintomas são clorose da lâmina foliar e retorcimento dos bordos das folhas, especialmente em folhas em formação. Em alguns casos tem-se observado que, quando as folhas vão se desenvolvendo, os sintomas desaparecem por completo, notadamente quando as condições ambientais tornam-se adversas para o desenvolvimento da doença.

Como métodos de controle das viroses são sugeridos a seleção de material de plantio, uso de variedades resistentes e eliminação de plantas afetadas dentro do cultivo.


Outras doenças

Em alguns casos, dependendo das condições ambientais e da suscetibilidade das variedades utilizadas, a antracnose causada por Colletotrichum gloeosporioides pode causar prejuízos esporádicos ou temporários na mandioca; em determinadas épocas ela ocorre de maneira mais intensiva, causando perdas significativas na produção de raízes e redução da qualidade dos produtos.

As cercosporioses em mandioca são bem conhecidas, apesar de não causarem maiores prejuízos para a cultura; portanto, não são motivo de preocupação para os produtores.

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