Como o principal produto da mandioca são as raízes, ela necessita de
solos profundos e friáveis (soltos), sendo ideais os solos arenosos
ou de textura média, por possibilitarem um fácil crescimento das raízes,
pela boa drenagem e pela facilidade de colheita. Os solos muito argilosos
devem ser evitados, pois são mais compactos, dificultando o crescimento
das raízes, apresentam maior risco de encharcamento e de apodrecimento
das raízes e dificultam a colheita, principalmente se ela coincide com
a época seca. Os terrenos de baixada, com topografia plana e sujeitos
a encharcamentos periódicos, são também inadequados para o cultivo da
mandioca, por provocarem um pequeno desenvolvimento das plantas e o
apodrecimento das raízes. É importante observar o solo em profundidade,
pois a presença de uma camada argilosa ou compactada imediatamente abaixo
da camada arável pode limitar o crescimento das raízes, além de prejudicar
a drenagem e a aeração do solo.
Com
relação à topografia, deve-se buscar terrenos planos ou levemente
ondulados, com declividade menor que 5%, podendo ir até 10%. Em ambos os
casos, deve-se utilizar práticas conservacionistas do solo, pois os
plantios de mandioca estão sujeitos a acentuadas perdas de solo e água
por erosão.
A
faixa favorável de pH é de 5,5 a 7, sendo 6,5 o ideal, embora a mandioca
seja menos afetada pela acidez do solo do que outras culturas. Ela produz
muito bem em solos de alta fertilidade, embora rendimentos satisfatórios
sejam obtidos em solos degradados fisicamente e com baixos teores de
nutrientes, onde a maioria dos cultivos tropicais não produziria satisfatoriamente.
Os solos de cerrado, desde que melhorados por calagem e adubações oferecem
condições ótimas ao cultivo da mandioca.
Preparo do solo
Além
do controle do mato, o preparo do solo visa melhorar as suas condições físicas
para a brotação das manivas e crescimento das raízes e, conseqüentemente,
das partes vegetativas, pelo aumento da aeração e infiltração de água
e redução da resistência do solo ao crescimento radicular.
Se
for necessário desmatamento e destoca para a instalação do mandiocal,
quando feitos mecanicamente deve-se evitar muita movimentação da camada
superficial do solo, pela desestruturação que causa compactação, além
de remover a matéria orgânica; quando feitos manualmente, no caso de áreas
para pequenos plantios, esses problemas são mínimos. Em ambos os casos,
deve-se deixar faixas de vegetação natural na área, bem como efetuar o
enleiramento em nível (“cortando” as águas) dos restos vegetais que
não apresentem valor econômico e que não justifiquem a sua retirada do
terreno desmatado.
O
preparo do solo deve ser o mínimo possível, apenas o suficiente para a
instalação da cultura e para o bom desenvolvimento do sistema radicular,
e sempre executado em curvas de nível, orientação esta que também deve
ser seguida no plantio. A aração deve ser na profundidade de 40 cm e, 30
dias depois, executadas duas gradagens em sentido cruzado, a segunda em
curva de nível, deixando-se o solo bem destorroado para ser sulcado e
plantado. Nos plantios em fileiras duplas pode-se executar o preparo do
solo apenas nas linhas duplas de plantio. No caso de pequenos produtores,
o preparo do solo manual restringe-se à limpeza da área, coveamento e
plantio.
Vale
lembrar que o solo deve ser revolvido o mínimo possível, devendo ser
preparado nem muito úmido e nem muito seco, com umidade suficiente
para não levantar poeira e nem aderir aos implementos; além disso,
deve-se alternar o tipo de implemento (por exemplo, arado de discos,
arado de aiveca etc.) e a profundidade de trabalho, usando máquinas
e implementos menos pesados possíveis, acompanhar as curvas de nível
do terreno e deixar o máximo de resíduos vegetais na superfície.
Calagem e adubação
A
mandioca absorve grandes quantidades de nutrientes e praticamente exporta
tudo o que foi absorvido, quase nada retornando ao solo sob a forma de resíduos
culturais: as raízes tuberosas são destinadas à produção de farinha,
fécula e outros produtos, bem como para a alimentação humana e animal;
a parte aérea (manivas e folhas), para novos plantios, alimentação
humana e animal. Em média, para uma produção de 25 toneladas de raízes
+ parte aérea de mandioca por hectare são extraídos 123 kg de N, 27 kg
de P, 146 kg de K, 46 kg de Ca e 20 kg de Mg; assim, a ordem decrescente
de absorção de nutrientes é a seguinte: K > N > Ca > P >
Mg.
Os
sintomas de deficiência e de toxidez de nutrientes em mandioca são
apresentados na Tabela 1.
No
Brasil, de modo geral, não se tem conseguido aumentos acentuados na produção
da mandioca pela aplicação de calcário, confirmando a tolerância da
cultura à acidez do solo. No entanto, após vários cultivos na mesma área,
a planta pode responder à aplicação de calcário, principalmente como
suprimento de cálcio e magnésio, que são o terceiro e quinto nutrientes
mais absorvidos pela cultura. Nos solos ácidos da Região dos Cerrados
tem-se obtidos boas produtividades da mandioca com a aplicação de calcário
para elevar a saturação por bases do solo para 25%.
A
adubação da mandioca prevê a reposição dos principais nutrientes
extraídos pela cultura como cálcio, magnésio, nitrogênio, fósforo e
potássio. O cálcio e o magnésio são adicionados em quantidade
suficiente com o calcário. Quanto ao nitrogênio, a mandioca tem
apresentado respostas pequenas à sua aplicação, em solos com baixos
teores de matéria orgânica, embora ele seja o segundo nutriente
absorvido em maior quantidade pela planta. Possivelmente, esse fato
deve-se à presença de bactérias diazotróficas, fixadoras de nitrogênio
atmosférico, no solo da rizosfera, nas raízes absorventes, nas raízes
tuberosas e nas manivas da mandioca. Embora o fósforo não seja extraído
em grandes quantidades pela mandioca, a resposta da cultura à adubação
fosfatada tem sido significativa em solos de Cerrado, com aumentos
expressivos de produtividade. Deve-se salientar que os solos brasileiros
em geral e, em particular os cultivados com mandioca, normalmente
classificados como marginais, são pobres nesse nutriente. O potássio é
o nutriente extraído em maior quantidade pela mandioca, sendo que a
resposta da cultura à adubação potássica tem sido baixa nos primeiros
cultivos, acentuando-se nos cultivos subseqüentes. Os solos cultivados
apresentam normalmente teores baixos a médios deste nutriente, que se vai
esgotando por meio de cultivos sucessivos na mesma área. Quanto aos
micronutrientes, foram realizados poucos estudos com a cultura da
mandioca. Nos períodos de grandes estiagens, principalmente no litoral do
Nordeste, tem-se observado sintomas de deficiências de zinco e de manganês,
denominados de “chapéu-de-palha” e “amarelão”.
A
calagem e adubação em mandioca devem ser definidas em função da análise
química do solo, realizada com antecedência, para que haja tempo
suficiente para aquisição dos insumos e para sua aplicação. Com a
utilização de calcário e fertilizantes, estima-se a obtenção de um
rendimento médio de 20 toneladas de raízes por hectare, sendo que a média
nacional é de cerca de 13 t/ha. Adicionalmente, deve-se salientar que a
eficiência dos corretivos e fertilizantes utilizados, principalmente dos
adubos fosfatados, é incrementada por processos biológicos naturais como
a micorriza arbuscular.
As
recomendações para calagem e adubação para a cultura da mandioca são
feitas com base na análise do solo, como se segue:
Calagem
1)
Calcular a necessidade de calcário (NC), em toneladas por hectare (t/ha),
em função da análise do solo, considerando os teores de cálcio, magnésio
e alumínio trocáveis em cmolc/dm3, de acordo com as fórmulas 01 ou 02.
Utilizar aquela que recomenda maior quantidade de calcário.
Tabela
1. Sintomas de deficiência e de toxidez de nutrientes em mandioca. |
Nutrientes |
Sintomas de deficiência |
N |
crescimento reduzido da planta; em algumas
cultivares ocorre amarelecimento uniforme e generalizado das folhas,
iniciando nas folhas inferiores e atingindo toda a planta. |
P |
crescimento reduzido da planta, folhas pequenas,
estreitas e com poucos lóbulos, hastes finas; em condições
severas ocorre o amarelecimento das folhas inferiores, que se tornam
flácidas e necróticas e caem; diferentemente da deficiência de N,
as folhas superiores mantêm sua cor verde escura, mas podem ser
pequenas e pendentes. |
K |
crescimento e vigor reduzido da planta, entrenós
curtos, pecíolos curtos e folhas pequenas; em deficiência muito
severa ocorrem manchas avermelhadas, amarelecimento e necrose dos
ápices e bordas das folhas inferiores, que envelhecem
prematuramente e caem; necrose e ranhuras finas nos pecíolos e na
parte superior das hastes. |
Ca |
crescimento reduzido da planta; folhas superiores
pequenas, com amarelecimento, queima e deformação dos ápices
foliares; escassa formação de raízes. |
Mg |
clorose internerval marcante nas folhas
inferiores, iniciando nos ápices ou bordas das folhas e avançando
até o centro; em deficiência severa as margens foliares podem
tornar-se necróticas; pequena redução na altura da planta. |
S |
amarelecimento uniforme das folhas superiores,
similar ao produzido pela deficiência de N; algumas vezes são
observados sintomas similares nas folhas inferiores. |
B |
altura reduzida da planta, entrenós e pecíolos
curtos, folhas jovens verdes escuras, pequenas e disformes, com
pecíolos curtos; manchas cinzas, marrons ou avermelhadas nas folhas
completamente desenvolvidas; exsudação gomosa cor de café nas
hastes e pecíolos; redução do desenvolvimento lateral da raiz. |
Cu |
deformação e clorose uniforme das folhas
superiores; ápices foliares tornam-se necróticos e as margens das
folhas dobram-se para cima ou para baixo; pecíolos largos e
pendentes nas folhas completamente desenvolvidas; crescimento
reduzido da raiz. |
Fe |
clorose uniforme das folhas superiores e dos
pecíolos, os quais se tornam brancos em deficiência severa;
inicialmente as nervuras e os pecíolos permanecem verdes,
tornando-se de cor amarela-pálida, quase branca; crescimento
reduzido da planta; folhas jovens pequenas, porém em formato
normal. |
Mn |
clorose entre as nervuras nas folhas superiores
ou intermediárias completamente expandidas; clorose uniforme em
deficiência severa; crescimento reduzido da planta; folhas jovens
pequenas, porém em formato normal. |
Zn |
manchas amarelas ou brancas entre as nervuras nas
folhas jovens, as quais com o tempo tornam-se cloróticas, com
lóbulos muito pequenos e estreitos, podendo crescer agrupadas em
roseta; manchas necróticas nas folhas inferiores; crescimento
reduzido da planta. |
|
Sintomas de toxidez |
Al |
redução da altura da planta e do crescimento da
raiz; amarelecimento entre as nervuras das folhas velhas sob
condições severas. |
B |
manchas brancas ou marrons nas folhas velhas,
especialmente ao longo dos bordos foliares, que posteriormente podem
tornar-se necróticas. |
Mn |
amarelecimento das folhas velhas, com manchas
pequenas escuras de cor marrom ou avermelhada ao longo das nervuras;
as folhas tornam-se flácidas e pendentes e caem no solo. |
Fonte:
Howeler (1981)
|
NC
(t/ha) = [2 - (Ca2+ + Mg2+)] x f |
(01) |
NC
(t/ha) = 2 x Al3+ |
(02) |
f
= 100/PRNT, |
|
onde
f = fator de correção do calcário para PRNT 100%. |
2)
Calcular a necessidade de calcário (NC), em toneladas por hectare (t/ha),
de acordo com a análise do solo, para elevar a saturação por bases do
solo para 25%, empregando a fórmula 03. V1 é a saturação por bases
existente no solo; S é a soma de bases; T é a CTC do solo a pH 7,0 e o
teor de (H + Al) é determinado na análise do solo com acetato de cálcio
a pH 7,0.
NC
(t/ha) = (25-V1) x (T/100) x f, |
(03) |
onde
V1= S/T x100, S= (Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+) e T= S + (H + Al). |
Recomenda-se
a utilização de calcário dolomítico ou magnesiano, podendo ser utilizada
também uma mistura de calcários, desde que seja mantida a relação Ca:Mg
no calcário na faixa entre 1:1 a 6:1. O calcário deve ser aplicado a
lanço em toda a área, de modo uniforme, e incorporado até a profundidade
de 20 cm, com antecedência de um a dois meses do plantio, para dar tempo
de reagir no solo. A reação do calcário vai depender da disponibilidade
de água no solo.
|