Pragas e métodos de controle
A cultura da mandioca, por ser de ciclo
bianual, está sujeita a diversos ataques de insetos e ácaros, alguns
classificados como pragas de maior importância, que podem causar danos
severos à cultura e resultar em perdas no rendimento. Recomenda-se que
sejam utilizadas práticas de manejo que contribuam para o bom
desenvolvimento das plantas e possam reduzir os danos causados pelas
pragas nas áreas de cultivo, tais como: obtenção de ramas para plantio
em áreas não infestadas, seleção de manivas-semente, plantio em áreas
corrigidas e adubadas conforme a análise de solo, plantio em cultivos múltiplos
ou consorciados e rotação de culturas.
Percevejo-de-renda
Uma das pragas que vem
preocupando a pesquisa no Cerrado é o percevejo-de-renda, Vatiga illudens
(Drake, 1922), que normalmente não causava danos nos cultivos, mas tem-se
constituído num problema, tanto nas áreas de pesquisa como nas áreas de
produtores, aumentando sua ocorrência de ano para ano.
É uma praga de hábito
sugador que ocorre no início da estação seca. O adulto é de cor
cinzenta e a ninfa (fase jovem do inseto) é branca, sendo ambos
encontrados na face inferior das folhas basais e medianas da planta;
quando o ataque é severo, podem chegar até as folhas apicais.
O dano é causado tanto
pelas ninfas como pelos adultos, cujos sinais de ataque manifestam-se por
pontuações amarelas pequenas, que se tornam de cor marrom-avermelhada.
Na face inferior das folhas aparecem inúmeros pontos pequenos, de cor
preta, que correspondem aos excrementos dos insetos. Quando a infestação
é severa, pode ocorrer o desfolhamento da planta.
O dano na folhagem pode
causar redução na fotossíntese e queda das folhas inferiores. Podem
ocorrer perdas no rendimento, a depender da cultivar utilizada, idade da
cultura, intensidade e duração do ataque.
Pode causar perdas
significativas no rendimento da cultura em condições de baixa umidade.
Trabalhos no Cerrado verificaram reduções de 21% e 50%, respectivamente,
na produção de raízes e massa verde do terço superior de diferentes
cultivares de mandioca avaliadas nas condições do Distrito Federal; as
cultivares mansas (Mantiqueira e Jaçanã) foram as mais infestadas,
enquanto as bravas (EAB-670 e IAC 12-829) foram as menos infestadas.
A maior infestação de
insetos ocorre no primeiro semestre do ano, até a desfolha das plantas,
concentrando-se no período de fevereiro a maio, reiniciando uma infestação
crescente até setembro.
O melhor controle consiste
na utilização de cultivares mais tolerantes ao ataque. Essa praga
pode ser controlada com inseticidas organofosforados sistêmicos, resultando
num incremento da produção de raízes e parte aérea da ordem de 23%
e 22%, respectivamente. Embora eficientes, esses inseticidas não estão
registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) para uso na cultura da mandioca.
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Ácaros
Os
ácaros são pragas das mais severas que atacam a mandioca, sendo
encontrados em grande número na face inferior das folhas, freqüentemente
durante a estação seca do ano, podendo causar danos consideráveis,
principalmente nas Regiões Nordeste e Centro-Oeste. Alimentam-se
penetrando o estilete no tecido foliar e succionando o conteúdo celular.
Os sintomas típicos do dano são manchas cloróticas, pontuações e
bronzeamento no limbo, morte das gemas, deformações e queda das folhas,
reduzindo a área foliar e a fotossíntese.
Os
ácaros mais importantes para a cultura da mandioca no Brasil são o ácaro
verde (conhecido como “tanajoá”) e o ácaro rajado.
O
ácaro verde alimenta-se da seiva das folhas que estão brotando e
localiza-se na parte apical da planta, picando as folhas não expandidas e
as hastes. Seu dano é maior no broto, nas gemas e folhas jovens, embora
também ocorra nas partes mais baixas da planta, que são menos afetadas.
Os sintomas iniciais são pequenas pontuações amareladas nas folhas, que
perdem sua cor verde característica, crescendo geralmente deformadas.
Quando o ataque é severo, as folhas embrionárias não alcançam seu
desenvolvimento normal e há uma grande redução foliar, induzindo novas
ramificações; as hastes tornam-se ásperas e de cor marrom, e o
desfolhamento e morte delas se iniciam progressivamente, começando pela
parte superior da planta.
O
ácaro rajado tem preferência pelas folhas que se encontram nas partes
mediana e basal da planta, cujos sintomas iniciais são pontos amarelos na
base das folhas e ao longo da nervura central. Quando as populações
aumentam, os ácaros se distribuem em toda a folha, e as pontuações
amarelas aparecem na totalidade da folha, que adquire uma coloração
marrom-avermelhada ou de ferrugem, à medida que a infestação aumenta.
Em ataques severos, observa-se um desfolhamento intenso nas partes mediana
e basal da planta, que avança progressivamente até a parte terminal,
quando a planta apresenta o broto muito reduzido e com grande quantidade
de teias de aranha. As folhas atacadas secam, caem e, em casos mais
severos, as plantas podem morrer.
Em
geral, os ácaros inicialmente atacam plantas isoladas, logo pequenos
grupos de plantas em determinados locais (focos) e, posteriormente,
invadem toda a cultura, pela dispersão causada pelo próprio
deslocamento, pela ação involuntária do homem e dos animais e pelo
transporte pelo vento, sendo este último o meio mais importante. Outro
meio de dispersão, e a maiores distâncias, é o transporte de material
vegetativo infestado.
Durante
os períodos secos (baixa umidade relativa e alta temperatura) os ácaros
têm uma alta taxa de reprodução. Além da relação com os fatores climáticos,
o aumento da população dos ácaros varia segundo a planta hospedeira, o
seu estado nutricional e a presença de inimigos naturais. A temperatura
é um dos fatores de maior influência na população de ácaros, sendo
que temperaturas baixas ou mudanças bruscas de temperatura reduzem suas
populações. A umidade relativa, quando alta e contínua, provoca redução
na população da praga, por afetar a oviposição, eclosão e sobrevivência
das larvas e aparecimento de inimigos naturais. A precipitação é outro
fator que ajuda a diminuir as populações; as chuvas fortes não somente
causam aumento da umidade relativa, como também lavam as folhas, podendo
ocorrer também a eliminação dos ácaros por afogamento ou pelo golpe
direto das gotas de água.
Para
o controle dos ácaros que atacam a mandioca, recomenda-se a utilização
do controle integrado, que consiste na combinação e integração de
todas as técnicas disponíveis.
O
uso de cultivares de mandioca resistentes e/ou tolerantes é o meio ideal
para controlar ou reduzir os ácaros e minimizar os danos causados à
cultura.
Existem
vários inimigos naturais dos ácaros que exercem um bom controle, dentre
os quais destacam-se alguns coleópteros e diversos ácaros benéficos da
família Phytoseiidae; estes ácaros vivem e ovipositam entre as colônias
dos ácaros-praga e consomem os seus ovos, larvas, ninfas e adultos. Outro
inimigo natural importante é o fungo Neozygites sp., que tem sido
encontrado atacando as fêmeas do ácaro verde.
O
controle cultural dos ácaros deve ser utilizado e consiste na realização
de práticas que dificultam o desenvolvimento populacional da praga e
retardam a sua dispersão, tais como: 1) destruição de plantas
hospedeiras; 2) inspeções periódicas na cultura para localizar focos;
3) destruição dos restos de cultura, prática indispensável naquelas
plantações que apresentaram altas populações de ácaros; 4) seleção
do material de plantio livre de ácaros, insetos e enfermidades; e 5)
distribuição adequada das plantas no campo, para reduzir a disseminação
dos ácaros.
Não
há nenhum produto registrado até o momento para o controle químico de
ácaros da mandioca. Este tipo de controle, além de anti-econômico,
provoca desequilíbrio por eliminar os inimigos naturais (insetos e ácaros
benéficos), muito comuns nos mandiocais.
Mandarová
O
mandarová da mandioca, Erinnyis ello, é considerado uma das pragas mais
importantes desta cultura, pela ampla distribuição geográfica e alta
capacidade de consumo foliar, especialmente nos últimos ínstares
larvais. A lagarta pode causar severo desfolhamento, o qual, durante os
primeiros meses de desenvolvimento da cultura, pode reduzir o rendimento e
até ocasionar a morte de plantas jovens. Este inseto tem-se apresentado
somente nas Américas, onde tem desfolhado grandes plantios de mandioca. O
mandarová da mandioca pode se apresentar em qualquer época do ano, mas
em geral ocorre no início da estação chuvosa ou da seca, entretanto é
uma praga de ocorrência esporádica, podendo demorar até vários anos
antes de surgir um novo ataque.
No
início, a lagarta é difícil de ser vista na planta, devido ao tamanho
diminuto (5 mm) e à coloração, confundindo-se com a da folha. Quando
completamente desenvolvidas, o colorido das lagartas é o mais variado
possível, havendo exemplares de cor verde, castanho-escura, amarela e
preta, sendo mais freqüentes as de cores verde e castanho-escura. A
lagarta passa por cinco estádios que duram aproximadamente de 12 a 15
dias, período em que consome, em média, 1.107 cm² de área foliar,
sendo que 75% dessa área é consumida no quinto ínstar.
A
prática da aração da área para novos plantios contribui entre outras
vantagens, no enterrio profundo de algumas pupas, enquanto outras ficam na
superfície do solo expostas aos raios solares, as quais são eliminadas.
A
eliminação das plantas invasoras, especialmente as euforbiáceas,
presentes na plantação ou em suas imediações, é outra prática
recomendada, as quais servem de hospedeiras à praga.
No
caso de ataques contínuos do mandarová em uma região, recomenda-se a
rotação de culturas, já que ao desaparecer o hospedeiro mais
prolífero, diminui a população da praga. Inspeções periódicas das
lavouras, identificando os focos iniciais, também tornam o controle mais
eficiente.
Em
áreas pequenas, recomenda-se a catação manual e destruição das
lagartas.
O
inseticida biológico seletivo à base de Bacillus thuringiensis tem
mostrado grande eficiência no controle do mandarová, principalmente
quando aplicado em lagartas com tamanho entre 5 mm e 3,5 cm de
comprimento, ou seja, quando as lagartas estão entre o primeiro e
terceiro ínstares.
Outro
agente biológico de grande eficiência no controle do mandarová é o
Baculovirus erinnyis, um vírus que ataca as lagartas. O controle deve ser
feito quando forem encontradas de cinco a sete lagartas pequenas por
planta, embora este número de lagartas por planta seja flexível, a
depender do estágio de desenvolvimento e do vigor das plantas, da
cultivar e das condições ambientais. O B. erinnyis pode ser obtido pela
maceração de lagartas infectadas na lavoura, as quais apresentam-se
descoradas, com perda dos movimentos e da capacidade alimentar,
encontrando-se dependuradas nos pecíolos das folhas. Deve-se levar em
consideração que as lagartas infectadas levam cerca de seis dias para
morrer, porém a partir do quarto dia deixam de se alimentar. Para o
preparo da “calda”, utilizar apenas as lagartas recém-mortas. As
lagartas não usadas de imediato devem ser conservadas em congelador e
descongeladas antes da aplicação. Deve-se proceder da seguinte forma
para o preparo da “calda”: esmagar bem as lagartas infectadas,
juntando um pouco de água para soltar o vírus; coar tudo em um pano
limpo ou passar em peneira fina, para não entupir o bico do pulverizador;
o líquido obtido (coado) está pronto para ser usado. Em cada 200 litros
de água, colocar duas colheres de sopa (20 ml) do líquido coado para
aplicação em um hectare de mandioca. O Baculovirus deve ser aplicado no
final da tarde.
O
mandarová tem ainda uma série de inimigos naturais que são capazes de
exercer um bom controle, não se recomendando aplicações de produtos
químicos, porque ocorre destruição desses insetos benéficos.
Podem
ainda ser utilizadas armadilhas luminosas para capturar adultos, o
que não constitui propriamente um método de controle, mas permitem
diminuir as populações, além de fornecer dados para o conhecimento
da flutuação populacional do mandarová, prevenindo o agricultor contra
ataques intensos, o que ajuda a planejar melhor a aplicação das diferentes
alternativas de controle.
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Mosca-branca
A
mosca-branca pode ser encontrada em muitas plantas cultivadas ou nativas.
Como praga de alimentação direta e vetora de vírus, causa danos
significativos em mandioca nos agroecossistemas das Américas, África e,
em menor grau, na Ásia.
Os
adultos geralmente são encontrados na face inferior das folhas da parte
apical da planta, podendo ser vistos sacudindo-se os brotos da planta para
fazê-los voar. Já as ninfas (fase jovem do inseto) podem ser encontradas
na face inferior das folhas mais velhas. Tanto os adultos como as ninfas
sugam a seiva das folhas. Quando em altas populações, a mosca-branca
pode causar reduções no rendimento das raízes, especialmente se o
ataque é muito prolongado. O dano direto do adulto consiste em
amarelecimento e encrespamento das folhas apicais, enquanto o dano das
ninfas manifesta-se por meio de pequenos pontos cloróticos. O dano
indireto, tanto de adultos como ninfas, devido a seus excrementos, cuja
substância é açucarada e comumente chamada de “mel” ou “mela”
pelo agricultor, consiste na presença de um fungo conhecido como fumagina,
que reduz a capacidade fotossintética da planta.
Na
Bahia, local onde este inseto tem causado sérios problemas à cultura, o
ataque na planta hospedeira causa os seguintes sintomas: as folhas ficam
encarquilhadas, secam e caem, enquanto as hastes começam a secar do ápice
para a base, podendo provocar também a podridão de raízes. Nos municípios
onde ocorre, o ataque afeta o rendimento das raízes e a qualidade da
farinha, que adquire sabor amargo.
O
plantio da mandioca intercalada com outras culturas não hospedeiras tem
demonstrado ser uma prática que reduz a população da praga.
O
uso de cultivares mais tolerantes é o método mais racional de controle.
Trabalhos
estão sendo desenvolvidos no sentido de identificar e avaliar inimigos
naturais. Alguns entomopatógenos apresentam possibilidades para seu
controle
Mosca do broto ou mosca da mandioca
A
fêmea da mosca do broto efetua postura entre folhas não expandidas, no
ponto de crescimento ou em pequenas cavidades feitas pelo ovipositor na
parte mais tenra e macia do broto; as larvas perfuram o tecido e matam o
ponto de crescimento. No broto afetado podem ser encontradas várias
larvas esbranquiçadas. O dano causado pela praga manifesta-se por meio de
uma exsudação amarelada (quando o ataque é recente) ou marrom (quando o
ataque é mais velho), no ponto de crescimento da planta afetada. A morte
do broto pode retardar o crescimento normal das plantas jovens, romper a
dominância apical e induzir a emissão de gemas laterais que também
podem ser atacadas. As plantas mais jovens são mais suscetíveis, sendo
que ataques repetidos podem causar o nanismo da planta.
Recomenda-se
o uso de práticas culturais como a destruição dos brotos atacados,
plantio fora da época de ataque (se realmente a praga é importante na
região) e plantio intercalado com outras culturas para reduzir a incidência
da praga.
As
larvas são difíceis de controlar mas, em casos estritamente necessários,
podem ser usados inseticidas sistêmicos, se ocorrerem ataques severos em
plantas jovens (até dois meses). Entretanto, é interessante salientar
que a aplicação de inseticida destrói insetos benéficos e aumenta a
população de outras pragas, como ácaros.
Broca das hastes
As
larvas da broca das haste são encontradas no interior das hastes, sendo o
ataque detectado pela presença de excrementos e serragem que saem das
galerias feitas pelo inseto. Durante os períodos secos, as plantas
atacadas podem perder suas folhas e secar, reduzindo assim a qualidade do
material para plantio. Quando a infestação é severa, as plantas podem
morrer.
Não
é aconselhável o controle com inseticidas, pois as larvas se alimentam
no interior das hastes. Recomenda-se observar periodicamente a cultura,
especialmente durante o verão, removendo e queimando as partes ou plantas
infestadas, mantendo-se o mandiocal limpo. Recomenda-se também a utilização
de manivas sadias para o plantio, procurando sempre utilizar material
proveniente de plantações onde não houve ataque da praga, e usar ainda
cultivares menos preferidas pela broca.
Cupins
Apresentam
o corpo branco-cremoso e asas maiores que o abdome. Atacam o material de
propagação armazenado, penetrando pela parte seca, podendo destruí-lo
totalmente. Nas plantas novas, constróem galerias entre a medula e o córtex,
impedindo assim o transporte de nutrientes, fazendo com que elas
apresentem um secamento progressivo descendente e logo depois morram.
Quando esses insetos atacam as raízes de plantas desenvolvidas,
observam-se, na epiderme, agregações de terra cristalizada sob as quais
se localizam os cupins. Acredita-se que o maior dano é causado quando
atacam as manivas, embora possam afetar seriamente as plantas adultas,
podendo também afetar o estabelecimento do cultivo, especialmente durante
épocas de secas prolongadas.
É
necessário proteger as manivas por ocasião do plantio, a fim de garantir
boa germinação e bom desenvolvimento das plantas. Recomenda-se
incorporar um inseticida ao solo, abaixo da manivas, no sulco ou na cova,
por ocasião do plantio.
Formigas
Podem desfolhar
rapidamente as plantas quando ocorrem em altas populações e/ou não são
controladas. Fazem um corte semicircular na folha, podendo também atingir
as gemas quando os ataques são severos. Os formigueiros podem ser
distinguidos facilmente no campo, pelos montículos de terra que são
formados em volta do orifício de entrada. O ataque ocorre geralmente
durante os primeiros meses de crescimento da cultura e seus efeitos
provocam perdas de até 22% sobre o rendimento. Além disso, como a
acumulação de carboidratos nas raízes depende da fotossíntese que
ocorre nas folhas, qualquer distúrbio nessa parte da planta pode
prejudicar a quantidade de substâncias amiláceas elaboradas.
Deve-se efetuar o controle
logo que se observem plantas com folhas e pecíolos cortados. Os insetos
podem ser destruídos dentro do ninho, por meio de fumigação feita
nas épocas chuvosas. O uso de isca granulada, colocada ao longo dos
caminhos deixados pelas formigas, faz um bom controle durante épocas
secas. Os inseticidas líquidos devem ser utilizados nas épocas chuvosas,
enquanto os em pó e as iscas granuladas são indicados para as épocas
secas.
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