Clima
Cultivares
Obtenção e plantio da muda
Preparo do solo, calagem e adubação
Condução,poda e raleio
Principais Pragas
Doenças fúngicas e bacterianas do pessegueiro
Doenças virais do pessegueiro
Doenças causadas por nematóides na cultura do pessegueiro
Cuidados na aplicação de agrotóxicos
Tecnologia de aplicação de agrotóxicos
Manejo e pós-colheita de pêssegos
Custos e rentabilidade
Referências
Glossário
Expediente Autores |
Características
econômicas e sociais da produção de pêssego no Rio Grande do Sul |
O pessegueiro é uma
espécie nativa da China, com registros que remontam a 20 séculos a
C.. Estudos indicam que, provavelmente, teria sido levado da China
para a Pérsia e de lá se espalhado pela Europa. No Brasil, segundo
relatos históricos, o pessegueiro foi introduzido em 1532 por Martim
Afonso de Souza, por meio de mudas trazidas da Ilha da Madeira e plantadas
em São Vicente (no atual estado de São Paulo).
Segundo dados da FAO (1998), a produção mundial de pêssegos é
de aproximadamente 11 milhões de toneladas, sendo os principais produtores
a China, a Itália, os EUA e a Espanha. Embora sendo o maior produtor
mundial, a China não figura na relação dos países exportadores, o
que provavelmente se deve ao grande consumo interno. Ainda com base
nessas mesmas estatísticas, na América do Sul, o Chile e a Argentina
aparecem na oitava e nona posição, respectivamente, com produção de
aproximadamente 280 mil toneladas/ano e o Brasil na 13º, com uma produção
anual de 146 mil toneladas.
Segundo o IBGE, no período entre 1970-1999, a produção brasileira
de pêssego passou de 111 para 159 mil toneladas/ano, assim distribuídas
entre os estados produtores: Rio Grande do Sul: 42%, São Paulo: 22%,
Santa Catarina: 19%, Paraná: 11%, Minas Gerais: 5% e os demais estados:
1%. A área de pomares de pessegueiros, segundo essa mesma estatística,
passou de 16,6 para 20,7 mil hectares, assim distribuídos: Rio Grande
do Sul (51%), Santa Catarina (20%), São Paulo (15%), Paraná (9%),
Minas Gerais (4%) e os outros estados (1%). Levantamentos mais recentes,
efetuados pela Embrapa Clima Temperado, indicam que, no Rio Grande
do Sul, nesse mesmo período, foram agregados mais de 5 mil ha de pomares,
sendo que dois deles já se encontram em produção, embora ainda não
incorporados às estatísticas oficiais.
Estimando-se, a partir dos dados acima, a produtividade média
de cada estado produtor, verifica-se uma disparidade significativa
pois, enquanto o maior estado produtor, o Rio Grande do Sul, apresenta
uma produtividade de 6,4 ton./ha e Santa Catarina, também tradicional
produtor, 7,2 ton./ha, nos estados do Paraná, Minas Gerais e São Paulo
a produtividade é de 9,2; 10,6 e 10,7 ton./ha, respectivamente. Esse
fato, provavelmente, está relacionado ao nível tecnológico empregado
e à idade média dos pomares nas regiões tradicionais.
No Brasil, os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Paraná têm as melhores condições naturais para o produção comercial
do pêssego. É possível, no entanto, produzi-lo em outros estados com
cultivares menos exigentes de frio ou em estações microclimáticas
adequadas às exigências mínimas viáveis, técnica e economicamente.
No Rio Grande do Sul, maior produtor nacional, é possível se
encontrar plantas de pessegueiro em todas as regiões. Entretanto,
a produção comercial está concentrada em três pólos que, juntos, segundo
a Embrapa Clima Temperado, somam cerca de 13 mil hectares de pomares.
O primeiro dos três pólos mais importantes localiza-se na chamada
"Metade Sul" do estado, que compreende 29 municípios e concentra mais
de 90% da produção destinada ao processamento industrial de diversas
formas, com destaque para a compota. Anualmente são produzidas, em
média, 40 milhões de latas de 1kg de compota destinadas ao mercado
interno. Mesmo com um consumo per capita de apenas 0,25 kg,
o país tem importado anualmente cerca de 20 milhões de latas da Grécia,
Espanha, Argentina e Chile. Entretanto, como resultado das taxações
impostas pelo governo às importações, a partir de 1999 houve redução
de cerca de 50% dessas importações, beneficiando e protegendo a cadeia
produtiva.
Essa atividade, em expansão em todo o estado do Rio Grande do
Sul, em função do apoio do Governo Federal com programas de financiamento
a fundo perdido, tem-se apresentado como uma ótima alternativa aos
agricultores da região (Metade Sul). Segundo Madail et al (2002),
o sistema de produção atualmente adotado pelos agricultores de base
familiar apresenta uma Taxa Interna de Retorno - TIR de 43,9% e o
sistema empresarial 38%. Esses valores são superiores às taxas de
juros no mercado financeiro ou qualquer outro ativo especulativo.
O segundo pólo, localizado na Grande Porto Alegre, é composto
por nove municípios e produz, em média, segundo João et al (2001),
4.800 toneladas de pêssegos para o consumo in natura numa área de
312 ha, o que representa uma produtividade média de cerca de 15 toneladas/ha.
Trata-se de uma região que apresenta uma importante vantagem competitiva,
já que está próxima do principal mercado consumidor do estado (Grande
Porto Alegre).
O terceiro pólo está localizado na Encosta Superior do Nordeste,
na região também conhecida como Serra Gaúcha, mais especificamente
nos municípios de Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Veranópolis, Farroupilha,
Flores da Cunha, Nova Pádua, Antônio Prado, Ipê, Pinto Bandeira e
Campestre da Serra. Na safra 2000/2001, a região produziu cerca de
46 mil toneladas de pêssego que, na sua totalidade, são destinadas
ao mercado de consumo in natura, numa área de aproximadamente 3.200
ha, o que representa uma produtividade superior a 14 toneladas/ha.
Por se tratar de uma região produtora de frutas tradicional, com
ênfase especial na viticultura, a ascensão do pêssego passa a ter,
na seqüência, uma abordagem mais detalhada nos seus aspectos técnicos
e econômicos.
A
produção de pêssegos na Região da Serra Gaúcha |
Esse
pólo produtor de pêssego ocupa uma área de aproximadamente 3.200
hectares, envolve cerca de 1.860 famílias que exploram a atividade em
pequenas áreas, que atingem, em média, 2 hectares.
A cultura
de frutas de caroço é de grande importância econômica e social para
essa região, pois com uma estrutura fundiária baseada em minifúndios
e com disponibilidade de mão-de-obra familiar, esses produtores encontram
na fruticultura uma ótima alternativa de diversificação da matriz produtiva,
absorção da mão-de-obra familiar e geração de renda em pequenas áreas.
Segundo pesquisa realizada pela Embrapa Uva e Vinho, no período entre
1985 e 1997, a contribuição da cultura do pessegueiro na formação do valor
bruto da produção desses estabelecimentos evoluiu de cerca de R$ 62,20
para R$ 1.023,06 (valores deflacionados), o que equivale a um aumento
de cerca de 1.600%. Entretanto, paralelamente ao crescimento da área
e volume de produção, começaram a surgir os problemas tecnológicos e
logísticos, típicos dos pólos produtores.
As cultivares
de pêssego produzidas na região são todas de polpa branca, com destaque
para a cultivar Chiripá, que representa 50%, e Marli, com 40% da área total
em produção. Desse fato, surge uma característica marcante e limitante
à competitividade desse pólo produtor que é a concentração da época
de safra dessas duas cultivares, que ocorre entre meados de dezembro
e meados de janeiro, num período de aproximadamente 25 dias. Essa concentração
da produção, dada a precária estrutura de logística existente na região,
principalmente na capacidade de armazenagem em câmaras frias, transforma-se,
por um lado, em excesso de oferta que avilta os preços em nível do produtor
e, por outro lado, provoca a queda da qualidade de grande parte do produto
em nível do consumidor, já que as cultivares produzidas também apresentam
problemas de perecibilidade, estimando-se que mantenham a qualidade
para o consumo por, no máximo, 25 dias em boas condições de armazenamento e
maturação das frutas.
Entretanto, os fatores de
ordem tecnológica relacionados às cultivares de pêssego cultivadas comercialmente
na região (Chiripá e Marli), não se limitam às questões da concentração
da oferta e perecibilidade. Por serem de ciclo tardio, sofrem intensos
ataques de pragas na fase de maturação, exigindo, conseqüentemente,
ações de controle que, em muitos casos, são feitas através da intervenção
com produtos químicos, o que, além dos aspectos ambientais e de saúde
dos produtores, tem um impacto significativo nos custos de produção.
Esses,
entre outros, são fatores que tem dificultado maiores avanços no esforço
desenvolvido pela Embrapa Uva e Vinho no sentido de desenvolver um sistema
de produção integrada de pêssego para a Região da Serra Gaúcha e que
evidenciam a necessidade de uma elevação no patamar tecnológico disponível,
a iniciar pela criação ou adaptação de cultivares às condições edafoclimáticas
da região. Entretanto, a este esforço da pesquisa deverão ser agregados
outros relativos à assistência técnica, políticas creditícias para custeio
e investimentos na produção e em estruturas de logística, a partir do
que, provavelmente, se estará criando as condições para uma maior organização
dos produtores envolvidos com a cultura do pêssego na Serra Gaúcha.
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