Embrapa

Embrapa Uva e Vinho
Sistema de Produção, 3
ISSN 1678-8761 Versão Eletrônica
Jan/2003

Sistema de Produção de Pêssego de Mesa na Região da Serra Gaúcha

José Fernando da Silva Protas
João Carlos M. Madail

Clima
Cultivares
Obtenção e plantio da muda
Preparo do solo, calagem e adubação
Condução,poda e raleio
Principais Pragas
Doenças fúngicas e bacterianas do pessegueiro
Doenças virais do pessegueiro
Doenças causadas por nematóides na cultura do pessegueiro
Cuidados na aplicação de agrotóxicos
Tecnologia de aplicação de agrotóxicos
Manejo e pós-colheita de pêssegos

Custos e rentabilidade

Referências
Glossário


Expediente
Autores
Características econômicas e sociais da produção de pêssego no Rio Grande do Sul

    O pessegueiro é uma espécie nativa da China, com registros que remontam a 20 séculos a C.. Estudos indicam que, provavelmente, teria sido levado da China para a Pérsia e de lá se espalhado pela Europa. No Brasil, segundo relatos históricos, o pessegueiro foi introduzido em 1532 por Martim Afonso de Souza, por meio de mudas trazidas da Ilha da Madeira e plantadas em São Vicente (no atual estado de São Paulo).
     Segundo dados da FAO (1998), a produção mundial de pêssegos é de aproximadamente 11 milhões de toneladas, sendo os principais produtores a China, a Itália, os EUA e a Espanha. Embora sendo o maior produtor mundial, a China não figura na relação dos países exportadores, o que provavelmente se deve ao grande consumo interno. Ainda com base nessas mesmas estatísticas, na América do Sul, o Chile e a Argentina aparecem na oitava e nona posição, respectivamente, com produção de aproximadamente 280 mil toneladas/ano e o Brasil na 13º, com uma produção anual de 146 mil toneladas.
     Segundo o IBGE, no período entre 1970-1999, a produção brasileira de pêssego passou de 111 para 159 mil toneladas/ano, assim distribuídas entre os estados produtores: Rio Grande do Sul: 42%, São Paulo: 22%, Santa Catarina: 19%, Paraná: 11%, Minas Gerais: 5% e os demais estados: 1%. A área de pomares de pessegueiros, segundo essa mesma estatística, passou de 16,6 para 20,7 mil hectares, assim distribuídos: Rio Grande do Sul (51%), Santa Catarina (20%), São Paulo (15%), Paraná (9%), Minas Gerais (4%) e os outros estados (1%). Levantamentos mais recentes, efetuados pela Embrapa Clima Temperado, indicam que, no Rio Grande do Sul, nesse mesmo período, foram agregados mais de 5 mil ha de pomares, sendo que dois deles já se encontram em produção, embora ainda não incorporados às estatísticas oficiais.
     Estimando-se, a partir dos dados acima, a produtividade média de cada estado produtor, verifica-se uma disparidade significativa pois, enquanto o maior estado produtor, o Rio Grande do Sul, apresenta uma produtividade de 6,4 ton./ha e Santa Catarina, também tradicional produtor, 7,2 ton./ha, nos estados do Paraná, Minas Gerais e São Paulo a produtividade é de 9,2; 10,6 e 10,7 ton./ha, respectivamente. Esse fato, provavelmente, está relacionado ao nível tecnológico empregado e à idade média dos pomares nas regiões tradicionais.
     No Brasil, os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná têm as melhores condições naturais para o produção comercial do pêssego. É possível, no entanto, produzi-lo em outros estados com cultivares menos exigentes de frio ou em estações microclimáticas adequadas às exigências mínimas viáveis, técnica e economicamente.
     No Rio Grande do Sul, maior produtor nacional, é possível se encontrar plantas de pessegueiro em todas as regiões. Entretanto, a produção comercial está concentrada em três pólos que, juntos, segundo a Embrapa Clima Temperado, somam cerca de 13 mil hectares de pomares.
     O primeiro dos três pólos mais importantes localiza-se na chamada "Metade Sul" do estado, que compreende 29 municípios e concentra mais de 90% da produção destinada ao processamento industrial de diversas formas, com destaque para a compota. Anualmente são produzidas, em média, 40 milhões de latas de 1kg de compota destinadas ao mercado interno. Mesmo com um consumo per capita de apenas 0,25 kg, o país tem importado anualmente cerca de 20 milhões de latas da Grécia, Espanha, Argentina e Chile. Entretanto, como resultado das taxações impostas pelo governo às importações, a partir de 1999 houve redução de cerca de 50% dessas importações, beneficiando e protegendo a cadeia produtiva.
     Essa atividade, em expansão em todo o estado do Rio Grande do Sul, em função do apoio do Governo Federal com programas de financiamento a fundo perdido, tem-se apresentado como uma ótima alternativa aos agricultores da região (Metade Sul). Segundo Madail et al (2002), o sistema de produção atualmente adotado pelos agricultores de base familiar apresenta uma Taxa Interna de Retorno - TIR de 43,9% e o sistema empresarial 38%. Esses valores são superiores às taxas de juros no mercado financeiro ou qualquer outro ativo especulativo.
     O segundo pólo, localizado na Grande Porto Alegre, é composto por nove municípios e produz, em média, segundo João et al (2001), 4.800 toneladas de pêssegos para o consumo in natura numa área de 312 ha, o que representa uma produtividade média de cerca de 15 toneladas/ha. Trata-se de uma região que apresenta uma importante vantagem competitiva, já que está próxima do principal mercado consumidor do estado (Grande Porto Alegre).
     O terceiro pólo está localizado na Encosta Superior do Nordeste, na região também conhecida como Serra Gaúcha, mais especificamente nos municípios de Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Veranópolis, Farroupilha, Flores da Cunha, Nova Pádua, Antônio Prado, Ipê, Pinto Bandeira e Campestre da Serra. Na safra 2000/2001, a região produziu cerca de 46 mil toneladas de pêssego que, na sua totalidade, são destinadas ao mercado de consumo in natura, numa área de aproximadamente 3.200 ha, o que representa uma produtividade superior a 14 toneladas/ha.
     Por se tratar de uma região produtora de frutas tradicional, com ênfase especial na viticultura, a ascensão do pêssego passa a ter, na seqüência, uma abordagem mais detalhada nos seus aspectos técnicos e econômicos.

A produção de pêssegos na Região da Serra Gaúcha

     Esse pólo produtor de pêssego ocupa uma área de aproximadamente 3.200 hectares, envolve cerca de 1.860 famílias que exploram a atividade em pequenas áreas, que atingem, em média, 2 hectares.
     A cultura de frutas de caroço é de grande importância econômica e social para essa região, pois com uma estrutura fundiária baseada em minifúndios e com disponibilidade de mão-de-obra familiar, esses produtores encontram na fruticultura uma ótima alternativa de diversificação da matriz produtiva, absorção da mão-de-obra familiar e geração de renda em pequenas áreas. Segundo pesquisa realizada pela Embrapa Uva e Vinho, no período entre 1985 e 1997, a contribuição da cultura do pessegueiro na formação do valor bruto da produção desses estabelecimentos evoluiu de cerca de R$ 62,20 para R$ 1.023,06 (valores deflacionados), o que equivale a um aumento de cerca de 1.600%. Entretanto, paralelamente ao crescimento da área e volume de produção, começaram a surgir os problemas tecnológicos e logísticos, típicos dos pólos produtores.
     As cultivares de pêssego produzidas na região são todas de polpa branca, com destaque para a cultivar Chiripá, que representa 50%, e Marli, com 40% da área total em produção. Desse fato, surge uma característica marcante e limitante à competitividade desse pólo produtor que é a concentração da época de safra dessas duas cultivares, que ocorre entre meados de dezembro e meados de janeiro, num período de aproximadamente 25 dias. Essa concentração da produção, dada a precária estrutura de logística existente na região, principalmente na capacidade de armazenagem em câmaras frias, transforma-se, por um lado, em excesso de oferta que avilta os preços em nível do produtor e, por outro lado, provoca a queda da qualidade de grande parte do produto em nível do consumidor, já que as cultivares produzidas também apresentam problemas de perecibilidade, estimando-se que mantenham a qualidade para o consumo por, no máximo, 25 dias em boas condições de armazenamento e maturação das frutas.
    Entretanto, os fatores de ordem tecnológica relacionados às cultivares de pêssego cultivadas comercialmente na região (Chiripá e Marli), não se limitam às questões da concentração da oferta e perecibilidade. Por serem de ciclo tardio, sofrem intensos ataques de pragas na fase de maturação, exigindo, conseqüentemente, ações de controle que, em muitos casos, são feitas através da intervenção com produtos químicos, o que, além dos aspectos ambientais e de saúde dos produtores, tem um impacto significativo nos custos de produção.
     Esses, entre outros, são fatores que tem dificultado maiores avanços no esforço desenvolvido pela Embrapa Uva e Vinho no sentido de desenvolver um sistema de produção integrada de pêssego para a Região da Serra Gaúcha e que evidenciam a necessidade de uma elevação no patamar tecnológico disponível, a iniciar pela criação ou adaptação de cultivares às condições edafoclimáticas da região. Entretanto, a este esforço da pesquisa deverão ser agregados outros relativos à assistência técnica, políticas creditícias para custeio e investimentos na produção e em estruturas de logística, a partir do que, provavelmente, se estará criando as condições para uma maior organização dos produtores envolvidos com a cultura do pêssego na Serra Gaúcha.
      

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