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Cultivares
Obtenção e plantio da muda
Preparo do solo, calagem e adubação
Condução,poda e raleio
Principais Pragas
Doenças fúngicas e bacterianas do pessegueiro
Doenças virais do pessegueiro
Doenças causadas por nematóides na cultura do pessegueiro
Cuidados na aplicação de agrotóxicos
Tecnologia de aplicação de agrotóxicos
Manejo e pós-colheita de pêssegos
Custos e
rentabilidade
Referências
Glossário
Expediente Autores |
Manejo pós-colheita de pêssegos |
As práticas
de manejo pós-colheita, bem como as pesquisas nessa área, têm como objetivo
principal proporcionar que as frutas cheguem à mesa do consumidor em
condições satisfatórias para consumo. O aumento de importância das cadeias
de comercialização, dos super e hipermercados, na distribuição e venda
de frutos, vem gerando maiores requisitos de qualidade e exigências
sobre a diferenciação da origem, baixos níveis de resíduos de agroquímicos
e transparência nos processos de produção. Considerando que a tendência
que os mercados mundiais de frutas apontam para um cenário onde, cada
vez mais, será valorizado o aspecto qualitativo da fruta, é fundamental
um profundo conhecimento do comportamento fisiológico dos frutos, permitindo
assim uma manipulação cada vez mais precisa, visando à manutenção da
qualidade pelo maior período de tempo possível.
Desenvolvimento
e maturação de pêssegos
Colheita
Pré-resfriamento
Fatores que afetam a taxa de deterioração de pêssegos
Ponto de colheita e armazenamento
Armazenamento de pêssegos cv. Chiripá em
atmosfera modificada e controlada
Classificação
Ao
atingir a completa polinização e fertilização do óvulo, o ovário começa
a aumentar de tamanho, marcando o início do crescimento e desenvolvimento
da fruta. Pêssegos, assim como as demais frutas de caroço têm uma dupla
curva sigmóide de crescimento (Figura 1), que inclui três estádios distintos
de crescimento:
Estádio 1: Ocorre logo após
o início do desenvolvimento do fruto, com predomínio da divisão e multiplicação
celular, durando aproximadamente quatro semanas.
Estádio 2: Nesta fase ocorre
crescimento lento do fruto. Neste estádio ocorre lignificação do endocarpo
(endurecimento do caroço) e crescimento do endosperma (Figura 2).
Estádio 3: Fase em que a
expansão celular recomeça na polpa (mesocarpo). A fruta continua a aumentar
de tamanho até alcançar a completa maturidade, depois da qual o crescimento
diminui marcadamente e, finalmente, pára (LaHUE & JOHNSON, 1989).
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Fig. 1. Curva de desenvolvimento de frutas do pessegueiro. Fonte: Adaptato de LaHUE & JOHNSON, 1989. (Diâmetro não sutural). |
A duração de cada estádio de crescimento depende da variedade,
condições climáticas e algumas práticas culturais como o raleio ou
carga de frutas por árvore, umidade do solo e nutrição. Do ponto de
vista da pós-colheita, o Estádio 3 é o que mais interessa, já que
a maturação, amadurecimento e senescência iniciam após este estádio.
Um pêssego colhido em estádio imaturo pode ainda apresentar um pequeno
amadurecimento depois de colhida, mas esta será de baixa qualidade.
Por outro lado, quando colhido após seu completo desenvolvimento,
terá boa qualidade. Pêssegos são normalmente colhidos maduro-firmes
e amadurecidos mais tarde, antes do consumo.
O amadurecimento envolve alterações que transformam a fruta completamente
desenvolvida em uma fruta pronta para consumo. As alterações associadas
com o amadurecimento incluem perda da cor verde e desenvolvimento
das cores amarela, vermelha e outras tonalidades características de
cada variedade. Com o amadurecimento, a fruta perde firmeza, sua acidez
decresce, e ela produz certos compostos voláteis que lhe dão o aroma
característico. O aumento da respiração e da velocidade de produção
de etileno estão entre as alterações associadas com o amadurecimento.
Uma vez amadurecida, a fruta começa a sua senescência. Alterações
físicas e químicas continuam depois que o amadurecimento e "flavor"
(sabor e aroma) ótimo são alcançados, incluindo um amolecimento adicional
e perda do paladar desejável. A última conseqüência das alterações
pós-amadurecimento é a completa perda da integridade culminando na
morte dos tecidos (LaHUE & JOHNSON, 1989).
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Fig. 2. Corte transversal de um pêssego.
Fonte: Adaptado de LaHUE & JOHNSON, 1989. |
Evolução das características físico-químicas
Tamanho e
peso: Observa-se, em pêssegos,
um comportamento crescente e linear no ganho de peso e diâmetro nas
frutas com o decorrer do tempo. Conforme já mencionado, esses dois parâmetros
são influenciados por fatores climáticos e de manejo (raleio, adubação
e irrigação). Normalmente, em uma mesma planta são encontrados pêssegos
que variam bastante quanto ao tamanho e estádio de maturação, devendo
ser colhidos em repasses. As frutas de maior tamanho devem ser as primeiras
a serem colhidas, visto que provavelmente foram as primeiras a serem
fecundadas durante a floração, completando seu desenvolvimento antes
das demais frutas. Geralmente essas frutas localizam-se na periferia
da copa, sofrendo uma maior exposição solar e, consequentemente, um
maior acúmulo de açúcares.
Sólidos
solúveis totais (SST) e acidez total titulável (ATT):
Esses dois parâmetros são importantes em relação ao sabor, sendo
que o aumento no teor de açúcar de uma fruta está condicionado à manutenção
da mesma na planta, sendo influenciada positivamente por algumas práticas
culturais como a adubação e a poda verde. Quando colhe-se uma fruta
verde, com baixo teor de sólidos solúveis totais, esta não sintetizará
novos açúcares, tornando-se de baixa qualidade. Por outro lado, o alto
conteúdo de ácidos orgânicos presentes em frutas verdes também interfere
negativamente na qualidade final do produto, visto que afetam indiretamente
a percepção da doçura. Normalmente, em todas as frutas de caroço, as
alterações que ocorrem durante o amadurecimento, incluem a redução da
acidez.
Como determinar sólidos
solúveis totais: A determinação
dos SST é realizada com auxílio de um refratômetro (Fig. 3) (escala
0 - 32 %). O refratômetro determina o índice refratométrico ou grau
brix do suco da fruta. Antes de iniciar a medição, deve-se calibrar
o aparelho colocando-se água destilada sobre o prisma, de modo que
a escala marque zero. Após, deve-se secar o prisma com papel absorvente,
tomando cuidado para não riscar o mesmo, colocando em seguida uma
gota do suco da fruta. É importante que após cada leitura proceda-se
a limpeza e secagem do mesmo. O índice refratométrico varia com a
temperatura, devendo corrigir-se o valor obtido com tabelas apropriadas,
em função da temperatura ambiente, visto que os aparelhos são regulados
para 20 oC. Alguns aparelhos fazem esta correção automaticamente.
É importante que o suco seja límpido, evitando a presença de (restos)
tecido em suspensão que podem induzir erros na leitura.
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Fig. 3. Refratômetros para determinação de SST. (Foto: C. L. Girardi). |
Como determinar acidez total titulável: Realizada através de
titulometria de neutralização, utilizando-se 10 mL do suco da fruta,
que são colocados em erlenmeyer de 250 mL. Adiciona-se, também,
90 mL de água destilada e 2 a 3 gotas de fenolftaleina a 1 %. A
titulação é realizada com bureta de 25 ou 50 mL (manual ou automática)
(Figura 4), utilizando hidróxido de sódio 0,1 N, sendo que a velocidade
de escoamento deverá ser constante e uniforme até a solução ficar
com tonalidade rósea. O volume gasto, em mL, representa a acidez
expressa em meq/100 mL ou cmol/L. É importante ressaltar que, para
uma mesma cultivar, a acidez é influenciada por condições climáticas,
estádio de maturação e localização do fruto na planta, sendo também
variável de ano para ano.
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Fig.
4. Buretas para determinação da ATT. (Foto: C. L. Girardi). |
Cor de
fundo e de cobrimento:
A mudança que ocorre na cor da epiderme do pêssego é um dos principais
atributos que o consumidor utiliza para avaliar a qualidade da fruta.
Essa transformação também é um dos principais critérios para estabelecer
o momento de colheita, principalmente quando o destino é o armazenamento,
visto que as principais mudanças fisiológicas que ocorrem em pêssegos,
manifestam-se quando a cor de fundo passa da tonalidade verde (fruta
imatura) para verde esbranquiçado. É um índice de colheita subjetivo,
porém a experiência do produtor, associada ao acompanhamento das demais
análises, pode ao longo dos anos, estabelecer critérios confiáveis de
colheita. A mudança de cor ocorre devido à degradação da clorofila (pigmento
verde) e síntese e revelação de carotenóides (pigmentos amarelos e laranjas),
manifestando-se a partir do momento em que a fruta está fisiologicamente
desenvolvida, quando o crescimento pára, passando a ocorrer apenas o
ganho de peso.
É importante salientar que, associada às transformações
na cor de fundo, isto é, degradação da clorofila, ocorre a síntese de
antocianinas, pigmentos (de cor vermelha) que são responsáveis pela
chamada cor de cobrimento ou de superfície. A percentagem de cor vermelha
encontrada nas diferentes variedades é um fator regulado geneticamente.
Essa característica não pode ser utilizada como critério de colheita
quando objetiva-se o armazenamento, visto que a cor de cobrimento desenvolve-se
com o avanço da maturação, sendo influenciada pela maior ou menor exposição
dos pêssegos ao sol, sendo recomendado a realização de poda verde para
uma boa exposição solar das frutas.
Firmeza
de polpa (FP): A firmeza de polpa
(FP) é um dos principais indicadores para avaliar a maturação de frutas,
sendo que, associada à cor de fundo, fornece critérios confiáveis para
estabelecer o momento ideal de colheita para pêssegos. Sabe-se que,
com o avanço da maturação, ocorre uma diminuição na FP, tornado as frutas
mais susceptíveis a danos mecânicos. Essa diminuição ocorre devido a
transformações nas substâncias pécticas presentes nas paredes celulares
dos tecidos vegetais, chamadas de protopectinas ou pectatos de cálcio.
Quimicamente, as protopectinas são insolúveis em água e constituídas
de cadeias de ácidos galacturônicos polimerizados com outras hexoses.
O cálcio funciona como cimento celular, ligando as cadeias pécticas.
No amadurecimento ou mesmo no armazenamento, as pontes de cálcio entre
as pectinas são desfeitas devido à ação de enzimas que atuam na despolimerização
das mesmas, tornando-as mais solúveis. Essa transformação diminui a
força coesiva que mantém as células unidas, resultando na diminuição
da FP. Os pêssegos de caroço aderente a polpa são os preferidos pela
indústria de conservas, porque além da cor amarela da polpa, também
apresentam um pequeno percentual de solubilização das protopectinas,
sendo normalmente denominados de polpa não fundente. Já os pêssegos
de mesa para consumo "in natura", apresentam caroço
solto e alto percentual de solubilização e maciez da polpa.
Como determinar a firmeza
de polpa: Os valores de firmeza
de polpa são obtidos com auxílio de um penetrômetro (Figura 5) que,
através da compressão exercida, mede a força equivalente para vencer
a resistência dos tecidos da polpa. A determinação é realizada retirando-se
a casca em duas faces opostas da região equatorial, posicionando o
pistão perpendicularmente à polpa. Normalmente em pêssegos de mesa,
ocorre uma variação significativa de leituras em uma mesma fruta,
principalmente quando estão maduras. Por isso é importante ter amostragem
representativa, tomando como válido o valor médio de várias frutas.
Outro fator importante é a execução da medida sempre da mesma maneira:
fruto posicionado firmemente e a mesma velocidade de penetração.
Os modelos de penetrômetro mais usados expressam
os resultados em libras ou quilos (1 libra equivale a 0,454 Kg ou
4,44 N), utilizando ponteiras de 8 mm de diâmetro. Na determinação
com modelos manuais deve-se segurar a fruta com uma das mãos, apoiando-a
em uma superfície firme. Não se deve apoiar a fruta contra o próprio
corpo para não ocorrer erros de leitura. A pressão deve ser aplicada
de forma constante. O pistão deve penetrar no tecido da polpa até
a ranhura circular, devendo então cessar a pressão. Essa operação
é mais precisa e menos sujeita a erros utilizando-se modelos de bancada
(Figura 6). É recomendável que a execução seja realizada em frutas
de mesmo tamanho, à temperatura ambiente, evitando porém, que as mesmas
percam sua turgescência ou mesmo possam vir a murchar.
O aparelho deve ser calibrado periodicamente,
pressionando o mesmo, sem o pistão de penetração, perpendicularmente
ao prato de uma balança de fácil leitura. Recomenda-se pressionar
o mesmo até obter 3 kg na balança, comparando com o valor correspondente
no aparelho.
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Fig. 5. Penetrômetro com ponteira de 8mm. (Foto: G. Barros) |
Fig. 6. Bancada utilizada para auxiliar na medição da firmeza de polpa. (Foto: G. Barros) |
A colheita de pêssegos
deve ser programada para que ocorra no momento correto, organizando
equipes de trabalho (colhedores), transporte e embalagens em função
da área e estimativa de produção, visto que praticamente toda produção
de uma mesma cultivar, é colhida em apenas 5 a 10 dias.
A colheita deve ser realizada em repasses, procurando colher
as frutas que apresentam características satisfatórias para um armazenamento
adequado. Portanto, antes de iniciar a colheita, deve-se realizar
amostragens de frutas para acompanhar a evolução da maturação, determinando
assim o momento exato de iniciar a mesma. Essa amostragem deve ser
realizada em 8 a 10 plantas representativas do pomar, as quais devem
ser localizadas em diferentes pontos da área. Em cada planta, deve-se
colher 4 pêssegos que sejam representativos da produção da planta.
É importante que seja sempre a mesma pessoa que realize essa operação,
de modo que possa acompanhar as mudanças que ocorrem na cor de fundo
dos pêssegos, associando com as modificações nas características físico-químicas,
especialmente a firmeza da polpa. Essa pessoa deve treinar os demais
colhedores antes do início da colheita, reunindo os mesmos para demonstrar
o tipo de pêssego que deverá ser colhido e supervisionando periodicamente
as embalagens de colheita para corrigir eventuais problemas.
Cuidados
na colheita:A colheita deve ser realizada preferencialmente nas horas mais
frescas do dia, mantendo as frutas colhidas à sombra, sendo transportadas
para a central de embalamento ("packing house") com a maior
brevidade possível. Essas frutas devem ser rapidamente pré-resfriadas.
O pré-resfriamento retira o calor que os pêssegos trazem do campo, estabelecendo
assim, condições mais favoráveis de armazenamento, garantindo maior
sobrevida após a colheita.
Conforme já comentado, os colhedores devem
ser devidamente treinados para identificar as frutas que deverão ser
colhidas, abordando os seguintes cuidados na manipulação:
- As frutas devem ser colhidas com
a palma da mão através de um leve torção, tomando o cuidado para
não causar compressão (apertar) na mesma;
- Os colhedores devem estar com
as unhas devidamente aparadas;
- Não se deve colocar junto das
embalagens de colheita as frutas que foram recolhidas do chão.
Estes, além de apresentarem prováveis danos, podem estar contaminadas
por fungos;
- Os pêssegos deverão ser colocados
com todo cuidado nas embalagens, procurando não encher demasiadamente
as mesmas;
- Lavar com jato de água as sacolas
e embalagens utilizados na colheita, eliminando restos de terra
e sujeira, enxaguando posteriormente com solução à base de cloro
(1 litro de água sanitária em 100 litros de água);
- O carregamento e transporte das
frutas do campo para a central de embalamento, deve ser realizado
com cuidado, evitando danos mecânicos e de vibrações nas frutas.
Isto requer também uma boa manutenção das estradas.
O pré-resfriamento visa a rápida remoção do calor que a fruta traz do
campo, procurando diminuir a velocidade das transformações metabólicas
que ocorrem nos pêssegos após a colheita. Essa operação também tem como
objetivo reduzir a transpiração da fruta, bem como a ação de microrganismos.
Deve ser realizada o mais rápido possível, sendo ideal baixar a temperatura
da polpa a 0ºC em um período inferior a 12 horas. Normalmente, isso
pode ser obtido quando utiliza-se ar forçado ou água fria ("hidrocooler"),
sendo que atualmente todo pêssego que é armazenado sofre o pré-resfriamento
na própria câmara fria.
Resfriamento
com água ou "hidrocooler":
Consiste em resfriar as frutas com água fria, entre 0,5 e 1ºC, mediante
imersão, aspersão ou túneis com duchas. É um sistema de resfriamento
rápido. A temperatura da fruta pode baixar de 25-30 ºC para 2 °C em
20-30 minutos. Nesse sistema a água deve ser tratada, sendo que as frutas
vindas do campo podem trazer esporos de fungos, contaminando as demais
frutas e aumentando a incidência de podridões.
Resfriamento
por ar forçado: Consiste em
produzir uma corrente de ar refrigerado que circula através das caixas
ou pallets. A velocidade do ar e o empilhamento são aspectos críticos
nesse sistema. O sistema mais simples consiste em fazer duas pilhas
de caixas ou pallets, deixando um espaço livre entre elas, cobertas
com uma lona para fazer um túnel. Em um extremo se coloca um exaustor
que retira o ar quente do interior do túnel, provocando um diferencial
de pressão. O ar frio que passa, em alta velocidade, entre as frutas
acelera o resfriamento. Nesse sistema, é possível baixar a temperatura
da fruta de 25-30 ºC para 3 a 4 ºC em 2 a 6 horas. É necessário que
as caixas tenham uma superfície perfurada de 4 a 5 % para permitir a
passagem de ar pelas frutas, sendo que a quantidade de ar a circular
deve ser de 1,5 a 3 m3 hora-1kg-1 de
fruta.
Resfriamento
em câmara: Nesse sistema
os pêssegos são resfriados na própria câmara frigorífica à uma temperatura
de 0 ºC. É um método lento, pois para baixar a temperatura da fruta
de 25-30 ºC para 3 a 4 ºC, normalmente são necessárias no mínimo 24
horas, sendo este tempo dependente da capacidade de remoção de calor
do sistema e da velocidade do ar. Normalmente, nessas câmaras os ventiladores
funcionam com duas velocidades (alta e baixa), sendo que o evaporador
deve ter uma maior superfície, para reduzir a transpiração das frutas,
sendo necessário realizar degelos mais frequentes, visto que deve-se
manter uma alta umidade do ar para evitar desidratação das frutas.
Injúrias pelo frio em pêssegos ocorrem em temperaturas acima do ponto
de congelamento e abaixo de 10 ºC. Os sintomas da injúria pelo frio
podem se manifestar como escurecimento interno, lanosidade (tecido seco
e farinoso), falha no amadurecimento, polpa translúcida, falha no desenvolvimento
normal da cor da polpa (às vezes ficando avermelhada) e, normalmente,
uma completa perda de odor e sabor característicos. Em frutas de caroço,
a injúria pelo frio ocorre com maior intensidade nas temperaturas entre
2,2 ºC e 7,8 ºC. Os sintomas também se manifestam com armazenamento
a 0 ºC ou menos, mas ocorrem mais lentamente e são menos severos do
que em temperaturas mais elevadas (LaHUE & JOHNSON, 1989).
Lanosidade:
A lanosidade, também chamada de polpa farinhenta, é um distúrbio
associado à temperatura de armazenagem, sendo que sua causa não está
relacionada com a desidratação, e sim com a retenção de água na fruta.
O problema está ligado com os mecanismos de liberação do suco. A ocorrência
desse distúrbio está associada à formação de uma espécie de gel que
retém a água, ocasionado pela baixa atividade de enzimas poligalacturonase
(PG) e uma constante atividade da pectinametilesterase (PME). É um problema
interno, que normalmente pode ser detectado ao partir a fruta (Fig.
7c), sendo muito difícil a identificação pela visualização externa (LAGOS,
2000). Em casos severos, pode-se identificar a presença de lanosidade
pela compressão da epiderme, a qual fica emborrachada (Figuras 7a e
7b). O sintoma em frutas armazenadas, manifesta-se normalmente após
a fruta permanecer por um determinado período (mais de 1 dia) em temperatura
ambiente. Ou seja, será detectada apenas pelo consumidor no momento
em que este for consumir a fruta.
As cultivares de polpa branca produzidas na
região da Serra Gaúcha, são altamente susceptíveis a esse distúrbio,
tem sido observado através de resultados de pesquisa que após 20 dias
de armazenamento, praticamente todos os frutos mostravam-se lanosos.
Também se constatou que a incidência aumenta quando as frutas são colhidas
verdes.
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Fig. 7. Lanosidade em pêssego da cultivar Chiripá. (Foto:C. L. Girardi) |
Escurecimento interno:
É uma alteração fisiológica que ocorre na pós-colheita e afeta a
maioria das frutas de caroço. Ela se caracteriza por um escurecimento da
polpa (Figura 8), após um determinado período de armazenamento
refrigerado, estando associado a injúrias por baixas temperaturas.
Manifesta-se de forma mais severa na faixa de temperatura entre 2 a 5 ºC,
e em menor proporção a 0 ºC ou acima de 5 ºC. Em nível celular, as
baixas temperaturas alteram a permeabilidade das membranas, afetando sua
fluidez e funcionalidade. O problema ocorre durante o armazenamento
refrigerado e se agrava após a retirada das frutas da câmara fria,
principalmente em frutas colhidas em estádios de maturação avançados.
Normalmente as cultivares de polpa amarela têm uma maior suscetibilidade
ao escurecimento do que as de polpa branca.
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Fig. 8. Pêssego da cultivar Chiripá sem escurecimento interno (esquerda) e com escurecimento (direita). (Foto: C. L. Girardi) |
O
ponto de colheita está relacionado com o destino que se deseja dar à
fruta colhida, ou seja, pêssegos colhidos em estádios menos avançados
de maturação preservam a firmeza de polpa, mas aumentam a ocorrência
de problemas fisiológicos quando armazenados, apresentando também uma
baixa qualidade sensorial. Por outro lado, frutas colhidas tardiamente,
melhoram a qualidade sensorial (gosto e aroma), porém reduzem o período
de conservação. Portanto, é necessário, para cada cultivar e em cada
região de produção, determinar as características das frutas no momento
da colheita, visando o armazenamento a curto, médio e longo prazo.
Na Figura 9a podem-se ver pêssegos "Chiripá"
colhidos num estádio inadequado, com maturação incompleta; essas frutas
mantêm altos valores de FP durante o armazenamento, porém terão uma
qualidade sensorial inaceitável. As frutas apresentadas na Figura 9b
são pêssegos Chiripá colhidos num estádio de maturação adequado, os
quais terão uma conservabilidade satisfatória e irão desenvolver adequadamente
suas características sensoriais (sabor, odor, textura) após a colheita.
É importante frisar que, além da qualidade da fruta durante o armazenamento,
deve-se levar em consideração a qualidade do produto que chegará à mesa
do consumidor.
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Fig. 9. Pêssegos Chiripá colhidos num estádio inadequado (9a) e num estádio adequado de maturação (9b). (Foto: C. L. Girardi). |
Em trabalhos de pesquisa foi determinado que, pêssegos da variedade
Chiripá colhidos com uma cor de fundo verde opaca e firmeza de
polpa na faixa de 18 a 16 Lbs pol-2, mantiveram uma
FP acima de 5 Lbs durante os 42 dias de armazenamento refrigerado
e após 72 horas. Embora seja importante manter elevada a firmeza de
polpa, este comportamento indica que, provavelmente, os pêssegos ainda
não apresentavam capacidade de amadurecer. Essas mesmas frutas
apresentaram, na colheita, altos teores de acidez (10 a 12 cmol/L)
e baixos teores de sólidos solúveis totais (12 ºBrix). Esses índices
determinaram que os painelistas atribuíssem notas baixas nas avaliações
sensoriais. Em termos de distúrbios fisiológicos, observou-se que
as frutas avaliadas, após permanecerem 21 dias em armazenamento refrigerado
e 72 horas em temperatura ambiente, manifestaram índices de lanosidade
superiores aos 10 % estabelecidos. Portanto, não se recomenda colher
pêssegos nesse estádio, visto que ainda estão em pré-maturação, não
possuindo condições satisfatórias de armazenamento e comercialização.
No mesmo trabalho,observou-se que os pêssegos colhidos com
cor de fundo verde-esbranquiçada, FP variando de 16 a 14 Lbs, acidez
de 8 a 10 cmol/L e teor de sólidos solúveis totais em torno de 13,5
ºBrix, mantiveram elevados valores FP, sempre acima de 5 Lbs durante
o armazenamento refrigerado. Entretanto, quando retiradas da câmara
fria, houve significativa redução da mesma, atingindo valores aceitáveis
após 21 dias de armazenamento refrigerado e 3 dias a 20 ºC. Os valores
de incidência de distúrbios fisiológicos (lanosidade e escurecimento
da polpa) também foram considerados satisfatórios após esse período
de armazenamento, sendo que essas frutas tiveram uma boa aceitação
na avaliação sensorial visto que apresentaram um bom equilíbrio entre
acidez (6 cmol/L) e açúcar (13,5 ºBrix). Portanto, para um armazenamento
prolongado, recomenda-se colher pêssegos da cultivar Chiripá com essas
características, podendo prolongar sua conservação por no máximo
20 dias, sendo que esse dados foram confirmados em avaliações
realizadas em outros anos.
Os pêssegos colhidos com uma cor de fundo verde esbranquiçada
transparente, firmeza de polpa entre 14 e 12 lbs, 14 ºBrix de açúcar
e 6 a 8 cmol/L de acidez, tiveram notas muito boas em termos de
avaliação sensorial, visto que apresentavam uma baixa acidez e alto
teor de açúcar. Essas frutas mantiveram uma FP acima de 5 Lbs até
o 21º dia de armazenamento, porém a manutenção acima de 5Lbs após
permanecerem 72 horas em temperatura ambiente, só foi possível com
14 dias de armazenamento refrigerado, sendo esse o limite de conservação
para se obter uma comercialização adequada. A incidência de lanosidade
e escurecimento de polpa foi baixa durante esse período. Portanto,
pêssegos colhidos nesse estádio de maturação devem ser armazenados
por um período máximo de 10 a 15 dias.
Os pêssegos colhidos com FP entre 11 e 8 Lbs sólidos solúveis
totais de 14 a 15,5 ºBrix e acidez de 4 a 6 cmol/L, não apresentaram
condições de armazenamento, devido à elevada perda de firmeza de polpa,
recomendando-se comercialização/consumo
imediatamente após a colheita.
O armazenamento em baixas
temperaturas tem sido considerado como o método mais eficiente para
manter a qualidade da maioria das frutas e verduras, devido aos seus
efeitos na redução da respiração, na transpiração e na produção de etileno.
O armazenamento refrigerado também diminui a velocidade do amadurecimento,
atrasando o início da senescência e o desenvolvimento de podridões.
Em pêssegos, a redução da temperatura retarda o pico climatérico e a
velocidade do amadurecimento. Entretanto, em alguns casos, somente a
baixa temperatura pode ser insuficiente para retardar as alterações
na qualidade da fruta. Além disso, a baixa temperatura por períodos
prolongados pode conduzir ao aparecimento de injúrias fisiológicas.
O aparecimento de injúrias causadas pelas baixas temperaturas de armazenamento
("chilling") também constitue um fator que limita o
armazenamento de pêssegos.
Os principais sintomas do "chilling"
em pêssego são a lanosidade (polpa seca) e o escurecimento interno,
e surgem, conforme já relatado, após duas ou três semanas de armazenamento
em temperaturas inferiores a 10oC.
A partir desses problemas existentes em pós-colheita
de frutas, surgiram algumas técnicas complementares ao armazenamento
refrigerado, dentre elas a utilização de atmosfera modificada (AM) e
atmosfera controlada (AC).
Conceitos
de atmosfera modificada e controlada:
Os termos AM e AC são geralmente utilizados para definir modificações
na composição dos gases da atmosfera de armazenamento, que passa a ser
diferente da composição da atmosfera. Os níveis de oxigênio (O2),
dióxido de carbono (CO2), nitrogênio (N2), etileno
(C2H4) e monóxido de carbono (CO) podem ser manipulados
de modo a reduzir a taxa de deterioração da maioria das frutas e hortaliças
(LANA & FINGER, 2000).
A concentração de O2 no ar ambiente
é de 21 % e de CO2 é de 0,03 %. Tanto no armazenamento em
AM como AC há redução na concentração de O2 e aumento da
concentração do CO2. Os limites mínimos para concentração
final de O2 e máximos para a concentração final de CO2
são determinados pela fisiologia do produto armazenado: a concentração
mínima de O2 é delimitada pelo risco de anaerobiose e a concentração
máxima de CO2 o delimita pelo risco de injúria de CO2.
Na AC, os níveis dos gases da atmosfera
são monitorados constantemente e são ajustados de modo a manterem-se
as concentrações desejadas.
Por sua vez, em AM os níveis dos gases não
são controlados completamente. A presença de uma barreira artificial
à difusão dos gases em torno do produto resulta em redução do nível
de O2, aumento do nível de CO2 e alterações das
concentrações de etileno e vapor de água, devido ao metabolismo do produto.
A intensidade dessas alterações depende do tipo e da espessura do material
usado como barreira aos gases, da taxa respiratória da fruta, da relação
entre a massa do produto e a área superficial da barreira, temperatura
e umidade.
Vantagens:
Segundo ROMOJARO et al. (1996)
as principais vantagens que a AM e a AC oferecem são:
a) Redução da intensidade
respiratória;
b) Retardamento da senescência, o que permite colher e armazenar frutas
com maturação mais próxima da maturação de consumo;
c) Limitação da perda de peso e diminuição dos processos de murchamento;
d) Manutenção da firmeza de polpa do produto;
e) Degradação mais lenta dos açúcares, ácidos orgânicos e vitaminas;
f) Limitação das alterações fisiológicas, como danos por frio (lanosidade
e escurecimento);
g) Redução do desenvolvimento de microrganismos, como conseqüência da
ação fungistática e bactericida do CO2.
Além desses efeitos benéficos derivados da modificação dos níveis de
O2 , CO2 e água no interior da embalagem, existem
outros que são devidos ao uso do filme como embalagem AM, que são os
seguintes:
a) Redução de danos superficiais devido à eliminação do contato entre
o produto e o recipiente utilizado para o transporte;
b) Melhoria da segurança sanitária, reduzindo os riscos de contaminação
dos produtos durante a comercialização e distribuição;
c) Facilidade de identificação do produto.
A AC apresenta a vantagem de permitir um controle bastante rigoroso
da concentração dos gases, permitindo atingir as concentrações ideais
para cada cultivar e, com isso, maximizar o potencial de armazenamento.
Inconvenientes:
Tanto em AM quanto em AC, a exposição
de frutas frescas a níveis de O2 e CO2 fora dos
limites de tolerância de cada espécie vegetal, pode induzir a ocorrência
de desordens fisiológicas relacionadas com maturação anormal em frutas
climatéricas, escurecimento interno e manchas marrons na epiderme. Os
mecanismos responsáveis por eses processos não foram explicados até
o momento, mas parecem estar ligados, em alguns casos, à indução de
determinadas enzimas.
No caso da AM, o excesso de umidade relativa
que pode se formar no interior da embalagem, como conseqüência da respiração
do produto e a maior ou menor permeabilidade do filme ao vapor d'água,
pode favorecer o desenvolvimento de microrganismos devido à película
de água que se forma por condensação no interior da embalagem (ROMOJARO
et al, 1996).
No caso da AC, o principal inconveniente é
o alto custo para obtenção dos equipamentos necessários para o controle
dos gases da câmara frigorífica.
Uso comercial da atmosfera
modificada:
Para a obtenção de AM pode-se recorrer a diversos métodos, tais
como: manter o produto em embalagens de plástico, como filmes de PVC
e sacos de polietileno ou utilizar ceras ou similares. Todos esses métodos
reduzem a concentração de O2 disponível ao produto e aumentam
a concentração de CO2, diminuindo a sua taxa respiratória
e o ritmo de sua senescência. A magnitude com que os níveis de O2
são diminuídos e os de CO2 aumentados depende do método de
obtenção da atmosfera modificada. Quando se utilizam embalagens plásticas,
as concentrações de O2 e CO2 obtidas dentro da
embalagem dependem das características do material utilizado e do consumo
de O2 e liberação de CO2 por parte do produto
embalado.
A embalagem plástica adequada é aquela que
propicia uma concentração de O2 suficientemente baixa para
retardar a respiração acima da concentração crítica, a partir da qual
inicia a respiração anaeróbica (respiração que não utiliza o oxigênio),
o que produz sabor e aroma estranhos na fruta. Além disso, uma boa embalagem
deve impedir o acúmulo excessivo de CO2, o qual pode provocar
danos no produto embalado (KLUGE et al, 1999).
Os filmes plásticos usados no acondicionamento
de produtos hortícolas apresentam diferentes permeabilidades ao O2
e ao CO2, de acordo com sua composição e espessura, como
se pode observar na Tabela 1.
Tabela
1. Permeabilidade
de filmes plásticos com potencial de uso em atmosfera modificada.
Tipo de filme |
Permeabilidade |
*O2 |
*CO2 |
Vapor de água** |
Polietileno de baixa densidade |
3900 - 13000 |
7700 - 77000 |
6 - 23,2 |
Polietileno linear de baixa densidade |
7000 - 9300 |
- |
16 - 31 |
Polietileno de média densidade |
2600 - 8293 |
7700 - 38750 |
8 - 15 |
Polietileno de alta densidade |
520 - 4000 |
3900 - 10000 |
4 - 10 |
Polipropileno |
1300 - 6400 |
7700 - 21000 |
4 - 10,8 |
Polivinilcloreto |
77 - 7500 |
770 - 55000 |
mais de 8 |
Poliestireno |
2000 - 7700 |
10000 - 26000 |
108,5 - 155 |
Copolímero de etileno vinil acetato |
8000 - 13000 |
35000 - 53000 |
60 |
Ionomer |
3500 - 7500 |
9700 - 17800 |
22 - 30 |
* A permeabilidade ao O2 e CO2 é expressa em cm3 m -2dia-1 sob pressão de 1atm, numa temperatura entre 22 e 25 °C a várias umidades relativas.
** A taxa de transmissão de vapor de H2O é expressa em g m-2dia-1 a 37,8°C e 90% de umidade relativa.
Fonte: SCHLIMME & ROONEY, 1994, citados por LANA & FINGER, 2000.
É importante que a permeabilidade ao CO2
seja de 3 a 5 vezes maior do que a permeabilidade ao O2,
de modo que a redução do O2 não seja acompanhada pelo acúmulo
excessivo de CO2 dentro da embalagem (ZAGORY & KADER,
1998; EXAMA et al., 1993, citados por LANA & FINGER 2000).
Para que haja uma diminuição da respiração, é preciso que a concentração
de O2 seja reduzida a níveis inferiores a 8%. Porém, é
necessário manter no mínimo 1-3% de O2 ao redor do produto
para que não ocorra o processo de fermentação no interior das frutas,
o qual origina sabor e aroma estranhos pela produção de acetaldeído
e etanol. Já o CO2, para vários produtos, deve atingir
no máximo 2-5% para não causar injúrias por excesso de CO2.
A maioria das cultivares de pêssego toleram um mínimo de 2% de O2
e um máximo de 5% de CO2.
O equilíbrio da atmosfera, isto é, o momento a partir do qual
as concentrações dos gases permanecem constantes, é conseguido em
aproximadamente uma semana. O momento e a concentração de equilíbrio
dependem do volume livre do envoltório ou quantidade de fruta colocada
nesse envoltório, sendo que quanto maior o volume livre, maior será
o tempo necessário para atingir esse equilíbrio.
Na prática, o sistema de AM é aplicado embalando-se as frutas
com sacos de polietileno ou de PVC, de espessuras variadas. Antes
de ser embalada, é indispensável que a fruta seja resfriada. No caso
do pêssego, esse resfriamento pode ser de 24 horas ou mais, numa câmara
com temperatura de 0ºC e umidade relativa de aproximadamente 90%.
Após o resfriamento, as frutas normalmente são acondicionadas em bandejas
plásticas. As bandejas protegem a fruta de injúrias mecânicas provenientes
da manipulação, facilitam a identificação e proporcionam uma boa apresentação,
aumentando a aceitação da fruta pelo consumidor. O produtor pode optar
por colocar uma única bandeja em cada embalagem, embalar várias bandejas
juntas, ou ainda fazer uma embalagem única da caixa.
Após colocar as frutas no interior da embalagem de polietileno,
é preciso fechá-la de maneira que fique completamente vedada. Essa
etapa deve ser realizada cuidadosamente, visto que, se houver uma
falha na vedação, os efeitos benéficos da AM não serão alcançados.
Essa operação normalmente é realizada com o auxílio de seladoras elétricas
que utilizam o calor para fundir as bordas da embalagem plástica,
como pode ser visto na Figura 10. Após o fechamento da embalagem,
as frutas devem ser levadas para a câmara frigorífica o mais rápido
possível.

Fig. 10. Pêssegos "Chiripá" acondicionados em bandejas e embalados em sacos de polietileno. (Foto: C. L. Girardi). |
Ao deixar o ambiente refrigerado (câmara frigorífica
ou caminhão frigorífico), a embalagem deve ser aberta, pois, em condições
de temperatura ambiente, ocorrerá acúmulo da água liberada na respiração
da fruta no interior da embalagem, o que pode aumentar a ocorrência
de podridão. Além de podridões pode ocorrer fermentação do fruto, que
responde ao aumento de temperatura elevando sua taxa respiratória, podendo
consumir rapidamente todo oxigênio do interior da embalagem, caso essa
permaneça fechada.
Verificou-se para a cultivar Chiripá que, filmes
de polietileno de baixa densidade (22µm de espessura) associados ao armazenamento
refrigerado, proporcionas efeitos positivos na manutenção da qualidade
da fruta, como redução da perda de peso, manutenção da firmeza de polpa
e diminuição da ocorrência de lanosidade e escurecimento interno. Mas,
apesar dos benefícios, esse sistema não tem sido utilizado para conservação
do pêssego em escala comercial. Os principais motivos para isso são
a falta de informação dos produtores e a necessidade de investimento
em material para embalagem (sacos de polietileno ou PVC e seladora)
e mão-de-obra (embalar, selar, retirar a fruta da embalagem quando retira
da refrigeração).
Para superar essas dificuldades, recomenda-se
que o produtor busque informação e orientação técnica e inicie a utilização
do sistema de AM em pequena escala.
Uso
comercial da atmosfera controlada: O efeito da AC na conservação
utilizando 1,5% de O2 e 5% de CO2 associado
a uma temperatura de 0 °C, mantiveram em condições de comercialização
e consumo durante os 45 dias de armazenamento, pêssego da cultivar
Chiripá. Verificou-se que a AC reduziu significativamente a ocorrência
de lanosidade e o escurecimento, além de preservar melhor as características
sensoriais, prolongado em, no mínimo, 50% o período de estocagem proporcionado
pelo armazenamento refrigerado.
Os pêssegos
são normalmente classificados pelo tamanho em calibres de 22, 24, 26,
28, 33, 36, 40 e 44 pêssegos/caixa, os quais são colocados em bandejas
e acondicionados em caixas de madeira, papelão ou plástica de 5.5, 6
e 7 Kg. Essa classificação é estabelecida em função da adequação de
mercado, podendo sofrer modificações no tamanho e peso da embalagem,
dependendo do comprador. O Ministério da Agricultura e do Abastecimento
está estudando a modificação da portaria 274 de 05/12/1983 que estabelece
critérios de classificação de pêssegos, procurando adequá-la à nova
realidade, de forma a harmonizar uma linguagem comum nos diferentes
elos da cadeia produtiva (do produtor ao consumidor).
Segundo
SIGRIST (2000), o estabelecimento de padrões de qualidade e sistemas
de classificação para comercialização de frutas no mercado interno deve
ser paulatino, permitindo um tempo adequado para que todos os elos da
cadeia produtiva realmente estejam envolvidos. Regulamentos e Normas
Técnicas existentes, e não praticadas comercialmente, devem ser revistas,
sendo que as novas propostas não oficiais devem ser amplamente testadas
e modificadas antes de se constituírem em legislação, assegurando que
estejam de acordo com o requerido pelo setor como um todo. Em São Paulo,
encontra-se em fase experimental uma proposta de adesão voluntária de
classificação para pêssegos, elaborada pelo Programa Paulista para Melhoria
dos Padrões Comerciais e Embalagens de Hortigrangeiros, que classifica
pêssegos por grupo (cor da polpa), calibre (diâmetro transversal da
fruta) e características dos defeitos. Dessa forma, pêssegos são classificados
como Extra, Categoria 1 (CAT 1) e Categoria 2 (CAT 2). Essa proposta
já foi adotada pela empresa Holambra/SP na safra de 1999.
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