Embrapa Uva e Vinho |
Sistema de Produção de Pêssego de Mesa na Região da Serra Gaúcha |
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O pessegueiro é atacado por diversos patógenos, porém menos do que uma dezena são de grande importância na região da Serra Gaúcha. Caso medidas adequadas de controle não sejam tomadas, sérias perdas poderão ocorrer e comprometer economicamente a produção. O controle não deve ser restrito à aplicação de fungicidas, mas sim complementado com adoção de outras medidas visando reduzir as fontes de inóculo e o bom manejo das plantas. Podridão Parda
A podridão parda é a principal doença das frutas de caroço, ocorrendo em praticamente todos os pomares, causando perdas severas, caso medidas adequadas de controle não sejam tomadas. Sintomatologia: Duas fases de maior suscetibilidade do pessegueiro à podridão parda são amplamente reconhecidas: floração e pré-colheita. Inicialmente a infecção começa durante a fase de floração, infectando os capulhos florais, ocasionando a necrose das anteras, prosseguindo para o ovário e pedúnculo. As infecções podem se estender internamente até o ramo, resultando no desenvolvimento de cancros, anelando-o e conseqüentemente ocasionando a morte da parte terminal. Flores infectadas murcham, tornam-se marrons e fixadas ao ramo por uma goma. Já durante a fase de pré-colheita, frutos infectados apresentam o desenvolvimento de lesões pequenas pardacentas que evoluem para manchas marrons com a colonização dos tecidos vizinhos pelo fungo. Frutificações acinzentadas das estruturas do patógeno são facilmente vistas no campo, sobre a podridão. Com o passar do tempo os frutos infectados tornam-se completamente cobertos de esporos, que contribuem para novas infecções no pomar. Frutos maduros infectados pelo patógeno podem apresentar podridão visível dentro de 48 horas (Fig. 1 e 2). Infecções quiescentes podem ocorrer nos frutos verdes, mas sua manifestação ocorrerá durante a maturação, a menos que os frutos sejam lesionados por insetos ou granizo.
Condições predisponentes: A sobrevivência do fungo de uma safra para outra ocorre nas múmias, pedúnculos, flores murchas em ramos e cancros. Os conídios são disseminados pelo vento e chuva e germinam rapidamente sob condições favoráveis. Epidemias de podridão parda ocorrem em tempo chuvoso. A temperatura ótima é de 25°C e o período de infecção exige um mínimo de 18 horas a 10°C e de 5 horas a 25°C. Medidas de controle:
A época de aplicação é crítica para o controle da doença durante a fase de floração. Os fungicidas devem ser aplicados quando partes suscetíveis da flor são expostas e antes ou tão logo depois da ocorrência de períodos de molhamento e temperatura favorável à infecção (Tabela 1). Os fungicidas não necessitam ser aplicados nos frutos verdes, a menos que condições de umidade favorável à infecção ocorram, ou injúrias por insetos ou granizo aconteçam.
A crespeira ataca principalmente as folhas, embora outros órgãos da planta também podem ser infectados. A utilização do controle químico tem sido eficiente em outros países, tornando esta doença de importância secundária (Ogawa et al., 1995). Sintomatologia: A doença se desenvolve nas folhas de ramos do ano e raramente nos frutos. Durante o final do inverno e início da primavera, folhas jovens apresentam engrossamento e hipertrofia que conduz a deformação do limbo foliar (Fig. 3). As áreas encrespadas podem desenvolver uma cobertura branca de esporos. Folhas infectadas podem cair prematuramente ou algumas vezes podem persistir na árvore e com o passar do tempo adquirem uma coloração marrom-escura. Ataques precoces originam folhas pequenas, enquanto no ataque tardio, o enrugamento da folha é parcial, e o tecido torna-se arroxeado.
Condições predisponentes: A fase de maior suscetibilidade é no início do desenvolvimento do botão floral, associado a períodos de frio e tempo úmido A temperatura ótima para o desenvolvimento do fungo é de 20°C e a máxima entre 26 e 30°C. O fungo sobrevive por meio de micélio, nos ramos e brotos, ou esporos que permanecem sobre a planta. O patógeno penetra diretamente pela cutícula, desde o inchamento das gemas e se estabelece no parênquima como micélio intercelular. À medida que as folhas ficam mais velhas, tornam-se mais resistentes. Medidas de controle: Os tratamentos com fungicidas a base de cobre durante o outono e inverno reduzem o inóculo primário no pomar. Durante a fase de inchamento das gemas deve-se utilizar fungicidas para evitar a ocorrência de infecção por crespeira (Tabela 1). Também é recomendado a destruição dos restos culturais que foram podados durante o inverno.
A antracnose é causada por Glomerella cingulata, uma importante espécie de fungo presente nas regiões tropicais e subtropicais do mundo. Causa perdas significativas em várias espécies de plantas, principalmente em fruteiras, caso medidas de controle não sejam tomadas. Sintomatologia: A antracnose é caracterizada inicialmente pelo aparecimento de lesões marrom-claras sobre os frutos, que com o passar do tempo transformam-se em lesões necróticas marrom, circular e com anéis concêntricos. Massas de esporos alaranjados freqüentemente ocorrem no centro (Fig. 4). Estas lesões são profundas e aumentam rapidamente. Frutos atacados tendem a cair.
Condições predisponentes: O fungo pode penetrar diretamente no fruto verde. A disseminação dos esporos ocorre por meio de gotas de chuva. O desenvolvimento da doença é favorecido por temperaturas de 25 a 30°C e umidade relativa alta. Medidas de controle: As medidas de controle da antracnose são a destruição de restos culturais infectados da safra anterior; evitar a presença de plantas hospedeiras do patógeno nas proximidades do pomar, como uva, maçã, banana, mamão a fim de evitar a produção de inóculo primário; caso a doença já esteja presente medidas sanitárias devem ser executadas, ou seja, controle da doença também nestas espécies; utilização de fungicida (Tabela 1) no início dos primeiros focos (Ogawa et al., 1995).
A sarna ocorre com freqüência em regiões quentes e úmidas. Sua importância é secundária em muitos pomares da região. Sintomatologia: Tanto brotações como folhas e frutos podem ser infectados pelo patógeno, entretanto, o sintoma nos frutos causa os maiores danos. Os sintomas costumam aparecer quando os frutos estão em crescimento. Pequenas manchas circulares, verde-oliva são formadas na superfície dos frutos. Com o desenvolvimento da lesão, a mancha torna-se preta (Fortes & Martins, 1998). Condições predisponentes: O fungo sobrevive durante o inverno na forma de micélio em lesões nos ramos ou como clamisdosporos na superfície da casca. Os esporos são produzidos duas semanas antes da queda das sépalas e é favorecido pela alta umidade relativa. A temperatura ótima para germinação dos esporos é de 25 a 30°C. A infecção dos frutos raramente ocorre após 30 dias da queda das pétalas. Medidas de controle: Poda verde melhora a aeração e entrada dos raios solares na parte interna da planta o que é desfavorável para o desenvolvimento do fungo. Pomares com problemas de sarna devem lançar mão de pulverizações com fungicidas iniciando-se durante a queda das sépalas e nos estádios iniciais do desenvolvimento dos frutos. Pulverizações a base de enxofre durante o período de dormência contribuem para a redução do inóculo no pomar.
A doença é popularmente conhecida por queima dos ramos ou cancros de Fusicoccum. O agente causal é Phomopsis amygdali (= Fusicoccum amygdali). Sua ocorrência se dá nos meses de novembro e dezembro, quando é facilmente notado pelo sintoma característico. Sintomatologia: Nos ramos, lesões (cancros) alongadas de coloração marrom a marrom-avermelhadas são formadas em um gema infectada ou nó do ano. As primeiras lesões tornam-se visíveis inicialmente na primavera, e com o desenvolvimento, causam o anelamento e a seca do ramo (Fig. 5). O aumento no número de ramos secos pode continuar até o verão. As lesões de Fusicoccum são algumas vezes confundidas com as lesões de Monilinia fructicola. As diferenças são: Fusicoccum - lesões profundas e formadas em uma gema ou nó, com zonas de crescimento vistas na superfície e no floema dos tecidos infectados, enquanto que as lesões de M. Fructicola são formadas em uma flor infectada, permanecendo muitas vezes aderida no ramo por meio de uma goma.
Condições predisponentes:
As infecções ocorrem no outono através dos ferimentos ocasionados pela queda das folhas no início da primavera. A invasão ocorre através de gemas, cicatrizes de gemas, espículas, frutos, ou flores ou ainda diretamente através de brotações novas. Infecções de verão podem ocorrer se injúrias mecânicas coincidirem com o tempo úmido. O desenvolvimento de lesões e velocidade de infecção são interrompidas por temperaturas frias no inverno. O fungo secreta uma toxina que estimula as células guardas dos estômatos a permanecerem abertas, acelerando a seca das folhas. Medidas de controle: Alguns fungicidas podem prevenir a seca dos ramos se aplicados antes da infecção. Fungicidas a base de cobre são efetivos se aplicados antes da diferenciação das gemas ou durante o outono. Cuidados durante a poda e destruição dos ramos infectados da safra anterior ajudam a diminuir as fontes de inóculo no pomar. Após a poda efetuar a aplicação de fungicidas a base de tebuconazole, captan ou mancozeb, para proteção dos ferimentos. Durante o aparecimento dos sintomas de murcha e seca dos ramos, o controle químico não tem mais qualquer efeito.
A ferrugem do pessegueiro ocorre principalmente nas folhas após a colheita nos pomares da Serra Gaúcha, podendo ocasionar o desfolhamento precoce conduzindo à redução no vigor ou produtividade na safra seguinte. Sintomatologia: Os sintomas começam a se desenvolver como manchas verde-amareladas em ambas faces da folha. Na face inferior da folha se desenvolve uma massa amarela (uredosporos) (Fig. 6).
Condições predisponentes: O fungo sobrevive na forma de micélio em brotos ou uredosporos em folhas que permaneceram na planta. A viabilidade dos uredosporos na superfície de brotação é fortemente reduzida durante os meses de inverno. Sua germinação ocorre numa faixa larga de temperatura (8 a 38°C), sendo que a temperatura ótima situada entre 13 e 26°C e são disseminados pelo vento seco. Assim, a umidade e a disponibilidade de uredosporos viáveis são os fatores limitantes para infecção. Medidas de controle: O controle é realizado basicamente por meio de pulverizações com fungicidas após a colheita (Tabela 1).
Esta doença tem ocorrido com uma certa freqüência nos pomares de pêssego da região, debilitando as plantas com o decorrer do tempo e caso medidas de controle não sejam tomadas, pode levar a planta à morte. É causada pelo fungo Botryosphaeria dothidea. Sintomas: Os sintomas iniciais aparecem como bolhas pequenas nas lenticelas da casca do tronco e pernadas durante o outono ou na primavera. Pelas lesões formadas nas lenticelas é exsudada uma resina (goma) (Fig. 7). Lesões com mais de 2 cm de diâmetro no tronco podem formar cancros afetando o floema e o cortex , podendo chegar até ao xilema.
Condições predisponentes: O fungo sobrevive durante o inverno na casca e em tecidos secos do tronco. A forma de disseminação acontece por meio das gotas de chuva que, ao caírem sobre os esporos, espalham os mesmos para outros tecidos. As infecções ocorrem no outono e na primavera (Ogawa et al., 1995). Medidas de controle: Todos os tecidos mortos (tronco ou pernadas) da planta devem ser retirados por meio da poda de inverno e destruídos para redução do inóculo primário no pomar. Deve-se evitar o estresse por falta d'água e nutrientes através de uma adubação equilibrada. Recomenda-se também pulverizações com fungicidas tebuconazole, cúpricos ou mancozeb sobre o tronco das plantas nas épocas de maior infecção (após a queda das folhas e na primavera). Aplicação de fungicidas logo após a poda para evitar a entrada do fungo pelos ferimentos.
A bacteriose do pessegueiro é bastante disseminada e principalmente comum em áreas com solos arenosos, clima quente e úmido durante a estação de crescimento das plantas. Sintomas: A doença pode se desenvolver nas folhas, ramos e frutos. Nas folhas observa-se inicialmente a formação de manchas de 1 a 3 mm de diâmetro, aquosas, com bordos angulares e de coloração púrpura, geralmente rodeadas por um halo verde-amarelado. Com o passar do tempo, o centro da lesão torna-se escuro, formando uma camada de abscisão e acarretando o desprendimento do tecido infectado. Na face inferior das manchas mais velhas observam-se pequenas escamas secas, que correspondem ao exsudato bacteriano. Nos ramos há formação de cancros durante a primavera e verão. Já nos frutos observam-se, após cinco semanas das quedas das pétalas, manchas pequenas, circulares, aquosas de coloração marrom (Fig. 8 e 9). As manchas tornam-se deprimidas, escuras e com exsudação de goma, quando há alta umidade relativa. Provoca rachaduras e, conseqüentemente, a depreciação dos frutos.
Condições predisponente: Durante o outono, o patógeno penetra através de cicatrizes deixadas pela queda das folhas, expressando os sintomas durante a primavera. A bactéria sobrevive durante o inverno em cancros nos ramos e gemas terminais. A ocorrência de infecções primárias está ligada às condições ambientais, com alta umidade durante o final da floração e poucas semanas depois da queda das pétalas. A severidade da doença nas plantas é aumentada pelo vento associado à chuva. Durante o desenvolvimento vegetativo das plantas, infecções secundárias poderão ocorrer caso haja umidade relativa alta. Medidas de controle: Cuidados devem ser tomados para evitar a entrada da bacteriose no pomar, por meio de mudas infectadas e ferramentas contaminadas. Deve-se efetuar adubação equilibrada para evitar o crescimento vegetativo excessivo (ramos ladrões) ou debilitação da planta pela carência nutricional. Como a incidência e severidade da bacteriose é favorecida pelo vento, recomenda-se a utilização de quebra-ventos antes da instalação do pomar, nos locais altos ou sujeitos a ventos freqüentes. O sucesso do controle químico depende principalmente da época crítica, ou seja, da época adequada para pulverização. Depois que a doença é observada no campo, durante a primavera, será difícil o seu controle. Deve-se pulverizar as plantas com produtos a base de cobre durante o outono para proteção dos ferimentos deixados nos ramos com a queda das folhas, evitando infecções bacterianas, reduzindo assim o inóculo primário que poderá sobreviver durante o período de inverno.
No universo abrangente do controle químico, as causas mais freqüentes do insucesso dos fungicidas no controle de doenças têm sido, segundo Azevedo (2001):
Tabela 1. Relação de fungicidas registrados para a cultura do pessegueiro. Agrofit 2002.
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