Embrapa Uva e
Vinho Sistemas de Produção, 17 ISSN 1678-8761 Versão Eletrônica Nov./2008 |
SumárioApresentaçãoIntrodução Elaboração Cultivares recomendadas Insumos para engarrafamento Legislação brasileira Características analíticas Avaliação sensorial Possíveis defeitos e alterações Custos de produção Referências Glossário Autores Expediente |
Custos de produçãoCustos de produção Viabilidade financeiraA análise financeira de uma agroindústria de processamento de uva inicia pela definição do volume de produção que a empresa pretende elaborar. Depois, calcula-se o investimento físico, definem-se e calculam-se os custos fixos, estimam-se os custos variáveis, projetam-se os custos totais, identificam-se os custos de comercialização e a margem de lucro, calcula-se o preço de venda, apuram-se as receitas e os resultados operacionais, projeta-se o investimento inicial, para finalmente, analisar a viabilidade financeira do empreendimento. Como você deve ter percebido, para fazer a análise financeira o empreendedor precisa de um bom volume de informações e deve fazer uma série de cálculos matemáticos. Por isso, se você deseja realmente abrir sua própria agroindústria de processamento de uva para elaboração de espumantes moscatéis, fique atento ao roteiro, para análise financeira que será apresentada a seguir. Objetivos da análise financeiraA análise financeira tem como objetivos:
Além disso, os dados apurados na análise financeira, combinados com as demais informações já vistas anteriormente, dão condições ao futuro empresário para:
Para realizar a análise financeira da agroindústria para elaboração do espumante moscatel, é importante ter as seguintes informações:
Riscos da atividade empresarialÉ importante salientar que os procedimentos e os cálculos, recomendados nesse estudo, não eliminam os riscos inerentes a qualquer atividade empresarial, uma vez que a capacidade de assumir riscos é uma característica importante do perfil do empreendedor de sucesso. Antes de passarmos para a análise financeira, vale um lembrete: os dados, informações, valores e situações criados são somente exemplos. Isso porque as mudanças verificadas, periodicamente, na economia brasileira, e o tempo decorrido entre o momento em que foram realizados os estudos e o momento em que você os utilizará, inviabilizam seu desenvolvimento em bases realistas. Assim, os conceitos, cálculos matemáticos e o processo de desenvolvimento da análise financeira, apesar de identificarem o tipo de empresa, devem ser adaptados às necessidades de cada situação específica. Para isso, será necessário que o empresário realize uma pesquisa cuidadosa e identifique os valores reais, para os diferentes itens da análise financeira. Os valores foram calculados em R$ 1,00 (excluímos os centavos) e foram arredondados para mais aqueles iguais ou acima de R$ 0,50 e para menos os abaixo de R$ 0,50. A partir de agora, você acompanhará o desenvolvimento da análise financeira de nossa pequena agroindústria. Volume de produção e investimento físicoO ponto de partida para o planejamento financeiro da agroindústria para processamento de uva para elaboração de espumantes moscatéis foi a definição do volume de produção. E essa não é uma definição aleatória, mas que depende do mercado que queremos atingir, da disponibilidade de matéria-prima e da concorrência que vamos enfrentar. Além disso, é preciso avaliar, com cuidado, a disponibilidade de capital próprio e de terceiros. Depois, calculamos quanto precisaremos gastar na montagem de nossa agroindústria, ou seja, o custo das máquinas, equipamentos, ferramentas, veículos, mobiliário, imóveis e outros materiais permanentes que compõem o investimento fixo. O que e quanto produzirA análise financeira começa com a estimativa do plano de produção, que é a identificação do volume de produtos que pretendemos comercializar num determinado período de tempo. Depois, calculamos o valor do investimento físico - equipamentos e instalações necessárias para o cumprimento das metas de produção - onde relacionamos as quantidades e os custos das máquinas, equipamentos, veículos, ferramentas e demais materiais permanentes. Para definir o volume de produção de nossa agroindústria, consideramos os seguintes fatores:
O volume anual de produção de espumante moscatel da agroindústria é de 25.000 garrafas de 750 mL. Custo de investimentoNesta etapa da análise financeira, vamos saber quanto precisaremos gastar na montagem da agroindústria. Isso inclui as máquinas e os equipamentos utilizados na produção, as ferramentas, os veículos, os mobiliários e outros materiais permanentes. Chama-se esse conjunto de investimento físico, porque são gastos feitos de uma só vez e que ficam agregados ao patrimônio da empresa. Quem pretende entrar no ramo agroindustrial de processamento de uva para elaborar espumantes moscatéis precisa escolher cuidadosamente os equipamentos, instalações e materiais permanentes que vai adquirir. Em primeiro lugar, o maquinário deve ser de qualidade e ter a garantia de assistência técnica eficiente, para evitar que a produção fique suspensa, caso aconteça algum problema. Uma máquina quebrada ou mal regulada pode acarretar enormes prejuízos no momento em que as matérias-primas estão sendo processadas. As máquinas também devem ter uma capacidade de produção adequada às necessidades iniciais da empresa, com uma folga que possibilite uma expansão futura. De modo geral, os fabricantes dos equipamentos fornecem as especificações técnicas das obras civis necessárias para a instalação das máquinas. A partir delas, o procedimento ideal é encomendar a um profissional especializado - arquiteto ou engenheiro - a planta baixa e hidráulica (dos encanamentos de água e esgoto) e elétrica (das fiações) do imóvel) que atendam às especificações tanto para a área de produção como para as áreas de armazenamento e administração. Os equipamentos mais importantes para o processamento dos espumantes moscatéis são: desengaçadeira/esmagadeira, Prensa, bombas para transporte de uva e de vinho, recipientes utilizados para clarificação e armazenamento de mosto, filtro, autoclaves para fermentação enchedora isobarométrca e arrolhadora e gabietadora para engarrafamento do espumante e a capsuladora para garrafas. Além desses equipamentos foi prevista a construção de um prédio industrial para o funcionamento da cantina, com 160 m² de área útil. Para a tabela dos investimentos físicos, acrescentamos uma reserva técnica de 10% dos custos totais ( Tabela 1). Tabela 1. Investimo físico.
Fonte: Embrapa Uva e Vinho, 2007. Custos diretosOs custos diretos estão relacionados com a produção e a venda. Esses custos apresentam particularidades em razão do tipo de atividade que a empresa exerce. Numa pequena agroindústria de processamento de uva, estão incluídos, nesses custos, os materiais diretos - matérias-primas, materiais secundários e embalagens - e a mão-de-obra direta - salários e encargos sociais dos recursos humanos ligados diretamente à produção. Materiais diretosO que se convencionou chamar tecnicamente de materiais diretos são as matérias-primas, materiais secundários, embalagens e demais materiais utilizados na elaboração de um produto, até o estágio em que ele chega ao consumidor final. Não há processo de elaboração e técnicas de comercialização que façam o milagre de suprir os requisitos de qualidade, se as matérias-primas empregadas na elaboração forem de má qualidade. Isso quer dizer que boa parte do sucesso do empreendimento depende dos fornecedores de matéria-prima. É importante que eles sejam idôneos, confiáveis e que garantam a qualidade constante nos fornecimentos. Os custos dos materiais diretos variam muito de produto para produto. Para produzir 25 mil garrafas de espumantes moscatéis, por exemplo, necessitamos de 40.000 kg de uvas de cultivares moscatéis como Moscato Branco, Moscato Giallo, que atualmente têm um custo médio de R$ 1,00 o Kg. Outros insumos - enzima, metabissulfito de potássio, levedura e açúcar - entram na composição do vinho espumante, além das embalagens, cartuchos para filtro, rolhas, gaiolas, cápsulas, rótulos, contra-rótulos, papel, cola e caixa de papelão. O custo anual dos materiais diretos necessários para a produção de 25 mil garrafas de vinho moscatel espumante está indicado na Tabela 2. Tabela 2. Custo anual dos materiais diretos
Fonte: Embrapa Uva e Vinho, 2007. Mão-de-obra diretaComo em qualquer empresa, os recursos humanos são fundamentais para o sucesso de uma agroindústria de processamento de uva. Nesta parte de nosso estudo, não trataremos de todos os funcionários da nossa empresa, mas apenas daqueles que trabalham diretamente no setor de produção. Essa divisão pode ser uma novidade para você, mas é feita para permitir melhor planejamento e administração da empresa. Isso porque o trabalho dos operários está diretamente relacionado ao volume de produção de uma agroindústria, o que não aconteceu com o pessoal que trabalha na área administrativa. Uma secretária, por exemplo, trabalha oito horas por dia, quer a agroindústria esteja processando 100 kg ou 10.000 kg de uva. Por isso, nessa parte do trabalho será tratado somente dos funcionários que trabalham diretamente na área de produção. Eles compõem a mão-de-obra direta utilizada numa agroindústria de processamento de uva. Para quantificar o número de pessoas para atender às necessidades da fábrica, é preciso um pouco de prática. De acordo com empresários do ramo em enologia, para o volume de produção definido no plano de produção, são necessários um Técnico e um auxiliar de produção, em tempo integral, empregados temporários, trabalhando em apenas um trimestre por ano. O piso salarial dos funcionários é definido regionalmente pelos sindicatos da classe. Neste estudo, o salário médio mensal para o enólogo, de R$ 1.200,00, para o auxiliar de produção R$ 700,00 e para a mão-de-obra temporária R$ 500,00. A Tabela 3 indica os gastos previstos com mão-de-obra para a elaboração do vinho moscatel espumante. Tabela 3. Custo anual da mão-de-obra.
Fonte: Embrapa Uva e Vinho, 2007. Depois de definido o número de empregados e os salários calcula-se a despesa anual com a folha de pagamento, acrescentando um percentual de 78,3%, correspondente aos encargos sociais, que são distribuídos como apresentado na Tabela 4. É importante informar que alguns desses índices são variáveis como, o índice de rotatividade dos empregados, das férias, do número de feriados por ano, do índice de acidente de trabalho, de auxílio-doença, do Sistema "S" (Senac, Sesc, Senai, e Sebrae), entre outros. Tabela 4. Composição dos encargos sociais.
Fonte: Embrapa Uva e Vinho, 2007. Custos fixosDepois de calcular o custo anual dos materiais diretos e o valor da folha de pagamento, preparar para arcar com os custos fixos do negócio, ou seja, aqueles que ocorrem independentemente da produção ou das vendas. Geralmente eles são compostos dos salários e dos respectivos encargos sociais do pessoal administrativos, e dos gastos gerais de administração. O preço para manter o negócioNesta etapa da análise financeira, já conhecemos uma série de dados e informações importantes:
Agora, vamos calcular os custos fixos anuais da agroindústria, isto é, as despesas de manutenção, necessárias para manter o empreendimento funcionando. Os custos fixos são aqueles que não estão associados às quantidades de produtos processados, mantendo-se dentro de um mesmo patamar, independentemente, do aumento ou queda da produção ou das vendas. Esses custos ocorrem mesmo que a agroindústria não venda ou produza nenhum bem, sendo necessários para a manutenção do negócio em funcionamento, daí serem também denominados de custos de funcionamento ou custos de estrutura. Geralmente, os custos fixos são compostos pelos salários e pelos encargos sociais do pessoal administrativo (secretárias, contínuos, vigilantes, gerente-administrativo, etc.; gastos com aluguéis; retirada pró-labore dos sócios; materiais de limpeza e conservação; materiais de expediente ou de escritório; honorários profissionais(contador, advogado, engenheiro, etc.)); além dos gastos com depreciação, seguro e manutenção do investimento físico. Para fins do estudo, utilizamos uma média de valores para os custos fixos, já que eles variam muito de região para região. Eles dependem também, do estilo gerencial que o empresário imprime no seu negócio e do nível de simplicidade ou sofisticação da empresa. Os custos mensais de depreciação, manutenção e seguros são calculados utilizando-se percentuais que incidem sobre o valor do investimento físico. Para o gasto de depreciação dos equipamentos, por exemplo, o percentual é igual a 5% por ano. Assim, para se saber qual será o custo anual de depreciação dos equipamentos, por exemplo, aplicamos esse percentual sobre o seu valor, ou seja, 5% de R$ 565.500,00= R$ 28.275,00. Confira, na Tabela 5, a seguir, os custos mensais de depreciação, manutenção e seguros e, na Tabela 6, como ficam os custos fixos anuais do empreendimento. Tabela 5. Custo anual de depreciação, manutenção e seguro.
Fonte: Embrapa Uva e Vinho. Tabela 6. Custos fixos anuais.
Fonte: Embrapa Uva e Vinho, 2007. Custos de produçãoAgora, que conhecemos o custo anual dos materiais diretos, o quanto vamos gastar com a mão-de-obra direta e com os custos fixos, temos condições para calcular o custo de produção. Veja, a seguir, os principais fatores que compõem o custo anual de produção da nossa agroindústria de processamento de uva para elaboração de vinho espumante moscatel. Quanto custam os produtos finaisÉ muito freqüente considerar que os custos de produção de um determinado bem são compostos exclusivamente pela matéria-prima, embalagem e outros materiais diretos utilizados em sua elaboração, esquecendo-se de adicionar outros custos, como o de mão-de-obra direta e os custos fixos. Para não incorrer no mesmo erro, lembre-se que o custo de produção é, por definição, igual à soma dos custos dos materiais diretos, com o rateio dos custos fixos e dos custos da mão-de-obra direta. Assim, para o Custo de Produção (CP), isto é, quanto vai custar produzir cada garrafa de vinho espumante moscatel, basta somar esses três itens: Materiais Diretos (MD), Mão-de-obra Direta (MO) e Custo Fixo (CF), e dividir o resultado pelo Volume de Produção (VP), ou seja: CP = (MD + MOD + CF) / VP Os rateios são calculados proporcionalmente às quantidades fabricadas de cada produto, utilizando-se, para isso, o percentual de participação apresentado anteriormente: Assim, para saber o valor do rateio dos custos da mão-de-obra e dos custos fixos do vinho, por exemplo, basta aplicar o percentual de participação do produto sobre os valores do custo anual da mão-de-obra e do custo fixo para o mesmo caso. A seguir, somando-se o custo dos materiais diretos para o mesmo produto, com o rateio do custo de mão-de-obra direta e o rateio do custo fixo, temos como resultado o custo anual de produção. Finalmente, para calcular o custo unitário de produção, basta dividir o custo anual de produção pela quantidade elaborada de cada produto. Assim, o custo unitário de produção é obtido pelo custo mensal de produção dividido pela quantidade anual de produção. A Tabela 7 indica os valores do custo de produção do vinho espumante moscatel. Tabela 7. Custos de produção.
Fonte: Embrapa Uva e Vinho, 2007. |