Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical
Sistema de Produção, 17
ISSN 1678-8796 Versão eletrônica
Dez/2005

Sistema de Produção para Pequenos Produtores de Citros do Nordeste

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Expediente

 Irrigação

Na maior parte do território nordestino, o volume anual de chuvas é insuficiente para atender as necessidades das plantas cítricas. A distribuição irregular das chuvas propicia a ocorrência de longos períodos de déficit hídrico no solo e conseqüente estresse hídrico às plantas, gerando grandes quebras de produção.

Métodos de Irrigação

Os métodos de irrigação por superfície são considerados de baixa eficiência e demandam grandes volumes de água. A irrigação por aspersão sobrecopa, e subcopa proporciona 100% de molhamento da área cultivada, não impondo nenhuma limitação ao pleno desenvolvimento das raízes. Nesse método não se deve esperar elevados coeficientes de uniformidade de distribuição de água e deve-se tomar cuidado no período de floração, quando o impacto do d’água dos aspersores pode provocar queda de flores. Os sistemas de irrigação localizada como gotejamento e microaspersão são os de mais alta eficiência de aplicação, requerem baixa pressão, apresentam facilidade de operação e bom controle sobre a umidade e aeração do solo. A área molhada sob irrigação, nesse caso deve estar entre 33 e 67%, sendo que, em regiões de precipitação considerável (acima de 1200mm), valores de Pm inferiores a 33% são aceitáveis para solos de textura média a fina, ou seja, solos siltosos e argilosos. Por outro lado, a Pm deve ser mantida inferior a 67% de forma a evitar umedecimento desnecessário entre as linhas de plantio, facilitando portanto as práticas culturais.

Para plantas cítricas, deve-se instalar 2 gotejadores por planta após o plantio e quando mais desenvolvidas (a partir de 12 meses) deve-se instalar pelo menos quatro gotejadores por planta dispostos ao redor do tronco com a linha lateral em anel ou em rabo de porco, sendo que em solos de textura média a arenosa deve-se instalar de cinco a seis gotejadores por planta. A microaspersão se adapta melhor aos solos arenosos, que aparentemente assegura maior área molhada à planta. Os microaspersores podem ser dispostos próximos às plantas ou entre as plantas na fileira.

Necessidades Hídricas

A água deve estar dentro dos padrões de qualidade e livres de qualquer tipo de resíduos que possam contaminar o solo, plantas e frutos. As fontes de captação, quando em nascentes, córregos ou rios devem estar protegidos com mata ciliar e conforme as leis de conservação do meio ambiente. O volume de água necessário à irrigação deve estar de acordo com os estudos de capacitação de água em todo curso, mediante outorga da água.

O consumo anual de água pelas plantas cítricas varia de 600 a 1200 mm. No Estado de São Paulo o consumo de água aproxima-se de 3 mm.dia-1 em pomares irrigados e de 1,5 mm.dia-1 nos não irrigados. Os dados de diferentes regiões do mundo mostram que o consumo dos citros no período de inverno é de 1,5 mm.dia-1 e no período de verão é de 3,2 a 4,7 mm.dia-1.

À semelhança do que ocorre com as culturas agrícolas em geral, as necessidades de água dos citros varia conforme o estádio fenológico das plantas. Na brotação, emissão de botões florais, frutificação e início de desenvolvimento dos frutos há maior demanda de água e as plantas são muito sensíveis ao déficit hídrico nesse período, sendo que o aumento no tamanho dos frutos está altamente relacionado com a absorção de água. Na fase de maturação, colheita e semi-dormência a demanda hídrica é menor.

Manejo da Irrigação

O manejo da irrigação envolve a tomada de decisão sobre quando irrigar e quanta água aplicar. Entre os métodos de manejo da irrigação disponíveis, os mais usados na prática baseiam-se em: medidas do teor ou estado da água no solo e balanço aproximado de água do solo.

Medidas da água no solo

Nesse caso, o momento da irrigação é determinado pelo estado atual da água do solo, por meio de sensores, quer para determinação do conteúdo de umidade quer para determinação do potencial de água do solo.

O tensiômetro indica o potencial matricial da água no solo (y m) em função seu conteúdo de umidade a uma dada profundidade. Portanto, se existe para os citros uma umidade crítica de irrigação (q c) existe também um potencial matricial crítico (y mc) correspondente. Conhece-se q c a partir de y mc com o uso da curva de retenção de água no solo. O y m é expresso em termos de uma altura de coluna de mercúrio (cmHg) ou outra unidade de pressão como atm e kPa.

Os potenciais matriciais mantidos entre -15 e -30 kPa a 30 cm de profundidade proporcionam crescimento adequando à cultura, sendo que valores de -30 a -45 kPa são recomendados como limite para a manutenção de teores adequados de água à cultura, além dos quais deve-se irrigar. O crescimento das raízes é reduzido para potenciais matriciais no solo inferiores a -600 kPa.

Em se usando tensiômetros, recomenda-se instalar de três a quatro baterias por hectare, sendo cada bateria composta por dois tensiômetros instalados nas profundidades de 30 e 60 cm, mas o número de baterias depende da variabilidade espacial do solo, sendo necessário pelo menos uma bateria para cada mancha de solo da área.

Balanço aproximado de água no solo

O balanço aproximado de água no solo, recomendado para sistemas de alta eficiência de irrigação, tal como a microaspersão, consiste em fazer um balanço entre o que entra no sistema solo-planta, considerando a precipitação pluvial efetiva e a irrigação e o que sai do sistema, no caso, a evapotranspiração, uma vez que se considera desprezível as perdas por percolação e escoamento superficial. É um balanço aproximado porque não leva em conta a redução permissível da disponibilidade de água do solo, ou a lamina real necessária para os cálculos, logo deve ser feita avaliações de umidade ou de potencial de água no solo paralelamente para aferir o método.

O calculo da lâmina de irrigação neste método segue os seguintes passos:

1. Coleta de dados da precipitação pluvial ou chuva (PT) e da evapotranspiração potencial (ET) em mm. A ETo pode ser estimada por meio de equações, ou pelo tanque classe A, ou por leituras diretas em estações meteorológicas automáticas. A precipitação efetiva (PE), que atinge o solo, pode ser deduzida da precipitação total (PT) da seguinte forma:

1.1. Calcula-se a redução permissível da água disponível do solo para as plantas, ou (qCC - qPM ) .z .f, que será tomada como valor limite da PE, isto é, se PT> (qCC - qPM ) .z .f, PE = (qCC -qPM ) .z .f. Se PT <(qCC -qPM ) .z .f, PE = PT.

2. Calculo da evapotranspiração da cultura (ETc) em mm. Esse calculo envolve a equação:

ETc = Kc . ETo

onde os coeficientes de cultura, Kc, podem ser obtidos da Tabela 1.

3. Calculo do volume total necessário (VTN) em litros. O volume de água de irrigação será dado pela equação:

 

VTN = (ETc - PE) . Am

           _____________

 

            Ea

Am é a área molhada pelo microaspersor em m2. Ea é a eficiência de irrigação, que pode ser tomada como 85%, na falta dados disponíveis.

O tempo de irrigação é calculado dividindo o volume total (VTN) a ser aplicado pela vazão do microaspersor, ou pela vazão total dos geotejadores para uma determinada planta.

4. Se a precipitação efetiva for superior a evapotranspiração da cultura, isto é, PE>ETc, usa-se a diferença (PE – ETc) como precipitação para ser somada a precipitação total na próxima irrigação, obedecendo o mesmo critério estabelecido em 1.1.

TABELA 1.  Valores do coeficiente de cultura (Kc) para pomares cítricos. Adaptado de Doorenbos & Pruitt (1977). Os dados da FAO referem-se a áreas de poucas chuvas, ventos moderados e grama como cultura de referência.

Fonte

Jan

Fev

Mar

Abr

Mai

Jun

Jul

Ago

Set

Out

Nov

Dez

FAO
(A1)

0,75

0,75

0,65

0,65

0,65

0,60

0,60

0,65

0,70

0,70

0,70

0,70

FAO
(A2)

0,85

0,85

0,80

0,80

0,80

0,75

0,75

0,80

0,80

0,80

0,80

0,85

FAO
(B1)

0,65

0,65

0,60

0,60

0,60

0,55

0,55

0,60

0,60

0,60

0,60

0,65

FAO
(B2)

0,85

0,85

0,80

0,80

0,80

0,75

0,75

0,80

0,80

0,80

0,80

0,85

FAO
(C1)

0,55

0,55

0,50

0,50

0,50

0,45

0,45

0,50

0,50

0,50

0,50

0,55

FAO
(C2)

0,90

0,90

0,85

0,85

0,85

0,85

0,85

0,85

0,85

0,85

0,85

0,90

A = Plantas adultas cobrindo mais de 70% do terreno.
B = Plantas jovens cobrindo 50% do terreno.
C = Plantas jovens cobrindo 20% do terreno.
1- Plantas em terreno limpo, 2 - Plantas em terreno com mato.

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