A mandioca é uma cultura que absorve grandes quantidades de nutrientes
e praticamente exporta tudo o que foi absorvido, as raízes tuberosas
são destinadas à produção de farinha, fécula e outros produtos, bem
como para a alimentação humana e animal; a parte aérea (manivas e folhas),
para novos plantios, alimentação humana e animal. Em média, para uma
produção de 25 toneladas de raízes + parte aérea de mandioca/ha são
extraídos 123 kg de N, 27 kg de P, 146 kg de K, 46 kg de Ca e 20 kg
de Mg; assim, a ordem decrescente de absorção de nutrientes é a seguinte:
K > N > Ca > P > Mg.
Os
sintomas de deficiência e de toxidez de nutrientes em mandioca são
apresentados no Tabela 1
Tabela
1. Sintomas de deficiência e de toxidez de nutrientes em mandioca. |
Nutrientes |
Sintomas
de deficiência |
N |
crescimento reduzido da planta;
em algumas cultivares ocorre amarelecimento uniforme e generalizado
das folhas, iniciando nas folhas inferiores e atingindo toda a
planta. |
P |
crescimento reduzido da planta,
folhas pequenas, estreitas e com poucos lóbulos, hastes finas;
em condições severas ocorre o amarelecimento das folhas inferiores,
que se tornam flácidas e necróticas e caem; diferentemente da
deficiência de N, as folhas superiores mantêm sua cor verde escura
mas podem ser pequenas e pendentes. |
K |
crescimento e vigor reduzido
da planta, entrenós curtos, pecíolos curtos e folhas pequenas;
em condições muito severas, ocorrem manchas avermelhadas, amarelecimento
e necrose dos ápices e bordas das folhas inferiores, que envelhecem
prematuramente e caem; necrose e ranhuras finas nos pecíolos e
na parte superior das hastes. |
Ca |
crescimento reduzido da planta;
folhas superiores pequenas, com amarelecimento, queima
e deformação dos ápices foliares; escassa formação de raízes. |
Mg |
clorose inter-nerval marcante
nas folhas inferiores, iniciando nos ápices ou bordas das folhas
e avançando até o centro; sob condições severas as margens foliares
podem tornar-se necróticas; pequena redução na altura da planta. |
S |
amarelecimento uniforme das
folhas superiores, similar ao produzido pela deficiência de N;
algumas vezes são observados sintomas similares nas folhas inferiores. |
B |
altura reduzida da planta,
entrenós e pecíolos curtos, folhas jovens verdes escuras, pequenas
e disformes, com pecíolos curtos; manchas cinzas, marrons ou avermelhadas
nas folhas completamente desenvolvidas; exsudação gomosa cor de
café nas hastes e pecíolos; redução do desenvolvimento lateral
da raiz. |
Cu |
deformação e clorose uniforme
das folhas superiores; ápices foliares tornam-se necróticos e
as margens das folhas dobram-se para cima ou para baixo; pecíolos
largos e pendentes nas folhas completamente desenvolvidas; crescimento
reduzido da raiz. |
Fe |
clorose uniforme das folhas
superiores e dos pecíolos, os quais tornam-se brancos em condições
severas; inicialmente as nervuras e os pecíolos permanecem verdes,
tornando-se de cor amarela-pálida, quase branca; crescimento reduzido
da planta; folhas jovens pequenas porém em formato normal. |
Mn |
clorose entre as nervuras nas
folhas superiores ou intermediárias completamente expandidas;
clorose uniforme em condições severas; crescimento reduzido da
planta; folhas jovens pequenas porém em formato normal. |
Zn |
manchas amarelas ou brancas
entre as nervuras nas folhas jovens, as quais com o tempo tornam-se
cloróticas, com lóbulos muito pequenos e estreitos, podendo crescer
agrupadas em roseta; manchas necróticas nas folhas inferiores;
crescimento reduzido da planta. |
|
Sintomas
de toxidez |
Al |
redução da altura da planta
e do crescimento da raiz; amarelecimento entre as nervuras das
folhas velhas sob condições severas. |
B |
manchas brancas ou marrons
nas folhas velhas, especialmente ao longo dos bordos foliares,
que posteriormente podem tornar-se necróticas. |
Mn |
amarelecimento das folhas velhas
com manchas pequenas escuras de cor marrom ou avermelhada ao longo
das nervuras; as folhas tornam-se flácidas e pendentes e caem
no solo |
No Brasil, de modo geral, não se tem conseguido aumentos acentuados
na produção da mandioca em função da aplicação de calcário, mesmo em
solos ácidos da região dos cerrados, confirmando a tolerância da mandioca
a condições de acidez. No entanto, após cultivos sucessivos na mesma
área, é possível que a planta responda à aplicação de calcário, principalmente
como suprimento de cálcio e magnésio, respectivamente terceiro e quinto
nutrientes mais absorvidos pela cultura.
Quanto
à adubação, a mandioca tem apresentado respostas pequenas à aplicação
de nitrogênio, mesmo em solos com baixos teores de matéria orgânica.
Possivelmente, este fato deve-se à presença de bactérias diazotróficas
fixadoras de nitrogênio atmosférico no solo.
Maior
importância adquire a aplicação de fósforo, embora não seja extraído
em grandes quantidades pela mandioca, pois os solos brasileiros em geral,
e em particular os cultivados com mandioca, normalmente classificados como
marginais, são pobres neste nutriente. Por esta razão, é grande a
resposta da cultura à adubação fosfatada. Quanto ao potássio,
nutriente extraído em maior quantidade pela mandioca, seu esgotamento é
atingido rapidamente, após 2
a 4 cultivos sucessivos na mesma área. Eikmbora a resposta à adubação
potássica seja baixa torna-se evidente após cultivos sucessivos na mesma
área.
A
calagem e a adubação em mandioca devem obrigatoriamente ser definidas em
função da análise química do solo, devendo a primeira ser realizada
com antecedência de pelo menos 60 dias do plantio, tempo necessário para
reagir com o solo. Com base na análise do solo são feitas
as recomendações para a cultura:
calagem:
calcular a necessidade de calcário dolomítico (NC), em toneladas por
hectare (t/ha), empregando as fórmulas:
NC
(t/ha) = [2 - (cmolc Ca ++ + Mg++/100cm3)]
x f;
NC
(t/ha) = f x cmolc Al+++/100cm3
f = 100/PRNT,
após o que deve-se utilizar a maior das
quantidades de calcário determinadas pelas fórmulas. Aconselha-se o
limite máximo de 1 (uma) tonelada de calcário por hectare, ainda que,
pelas fórmulas indicadas, tenham sido encontradas quantidades mais
elevadas;
adubação:
a tabela a seguir mostra as recomendações de adubos para a mandioca,
com base na análise do solo:
|
Nutrientes |
Épocas
de aplicação |
Plantio |
Em
cobertura, 30 a 60 dias após
a
brotação das manivas |
|
N (kg/ha) |
Nitrogênio:
mineral ou orgânico |
- |
30 |
|
|
|
Fósforo
no solo (Melich) – mg/dm³ |
P205 (kg/ha) |
Até
3 |
60 |
- |
4
a 6 |
40 |
- |
7 a 10 |
20 |
- |
|
|
|
Potássio
no solo (Melich) – mg/dm³ |
K20 (kg/ha) |
Até 20 |
40 |
- |
21
a 40 |
30 |
- |
41
a 60 |
20 |
- |
épocas
e modos de aplicação do calcário e dos adubos:
1) calagem - pode ser
realizada em qualquer época do ano, devendo-se utilizar o calcário
dolomítico, que contem cálcio e magnésio. Ele deve ser aplicado a lanço
em toda a área, de modo uniforme, e incorporado
a 20 cm ou mais, sendo importante que anteceda dois
meses o plantio, para dar tempo de
reagir no solo; 2) adubação
nitrogenada - a mandioca responde bem à aplicação de adubos orgânicos
(estercos, tortas, compostos, adubos verdes e outros), cujos efeitos
favoráveis estão relacionados com o fornecimento de nutrientes e,
certamente, com
alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas
do solo. Assim, havendo disponibilidade, deve-se dar preferência aos
adubos orgânicos como fonte de nitrogênio, os quais devem ser
aplicadas na cova, sulco ou a lanço, no plantio ou com antecedência em
função da fermentação, como acontece com a torta de mamona. No caso
da aplicação de uréia ou sulfato de amônio, a aplicação deve ser
em cobertura ao redor da planta, 30 a 60 dias após a brotação das
manivas, com o solo úmido; 3) adubação
fosfatada – o superfosfato simples e o superfosfato triplo são os
adubos fosfatados mais utilizados e devem ser aplicados no fundo da cova
ou do sulco de plantio. O superfosfato simples tem a vantagem de também
conter enxofre (na sua composição; 4) adubação
potássica – deve ser aplicada na cova ou sulco de plantio,
juntamente com o fósforo. Os adubos potássicos mais utilizados são o
cloreto de potássio e o sulfato de potássio. Em solos extremamente
arenosos fracionar o potássio em duas aplicações, sendo metade da
dose no plantio e a outra metade em cobertura, junto com o nitrogênio;
e 5) micronutrientes - poucos
estudos foram realizados sobre micronutrientes em mandioca. Nos períodos
de grandes estiagens, principalmente no litoral do Nordeste, tem-se
observado sintomas de deficiências de zinco e de manganês, denominados
de chápeu-de-palha e amarelão. Para evitar possíveis limitações na
produção, nos locais de ocorrência recomenda-se aplicar 4 kg de zinco
e 5 kg de manganês/ha (20 kg de sulfato de zinco e 20 kg de sulfato de
manganês/ha), no solo, juntamente com o fósforo e o potássio. Nas
lavouras com deficiências já manifestadas deve-se aplicar uma solução
contendo 2 a 4%, ou seja 2 a 4 kg de sulfato de zinco e/ou de sulfato de
manganês diluído em 100 litros de água.
Realizando-se
a calagem e a adubação nas doses, épocas e modos de aplicação
recomendados, estima-se um rendimento médio de 20 toneladas de raízes
por hectare.
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Dois aspectos devem ser considerados na conservação do solo em mandioca:
1) ela protege pouco o solo contra a erosão, principalmente no início
do ciclo, pois o crescimento inicial é lento e o espaçamento é amplo,
dificultando a cobertura do solo e 2) ela é esgotante do solo, pois
exporta quase tudo que produz (raízes, folhas
e manivas) para produção de farinhas,
e como sementes para novos plantios.
A
análise do solo deve ser feita para orientar a correção da acidez e a
adubação de acordo com as recomendações para a cultura, o que permitirá
o melhor e mais rápido desenvolvimento das plantas, cobrindo mais
rapidamente o solo. O preparo do solo e o plantio devem ser feitos em nível
(“cortando” as águas). Se o solo necessitar ficar algum tempo sem
cultura nenhuma, deve-se semear nesse período uma leguminosa para
proteger, incorporar matéria orgânica e nutrientes e melhorar a
estrutura do solo. Como meio de evitar o esgotamento dos nutrientes do
solo, deve-se proceder a rotação da mandioca com outras culturas,
principalmente com leguminosas, como também, quando a mandioca for
plantada no sistema de fileiras duplas, utilizar a prática de consórcio,
sempre que possível, com culturas adequadamente escolhidas (feijão,
milho, amendoim etc.), pois dessa forma ocorrerá uma melhor cobertura do
solo.
Em áreas
inclinadas, o consórcio é recomendável para melhorar a cobertura do
solo e evitar os efeitos erosivos das chuvas e enxurradas; o plantio
de mandioca + milho é mais eficiente do que mandioca + feijão ou mandioca
+ algodão, no aspecto de proteção contra a erosão do solo. Em tais áreas,
pode-se optar pelo plantio em camalhão e em nível, pelo excelente controle
da erosão que proporciona. Outras práticas conservacionistas recomendadas
em áreas (com declives) são as seguintes: a) a combinação de faixas
de plantio de mandioca com faixas de outras culturas (milho, feijão,
amendoim etc.) ajuda a melhorar a cobertura do solo e a protegê-lo contra
a erosão; b) o enleiramento em nível dos restos culturais ajuda a conter
as águas e a reduzir os riscos de erosão; c) sempre que houver disponibilidade
de resíduos vegetais, a cobertura do solo com vegetação morta protege
contra a erosão, incorpora matéria orgânica e conserva por mais tempo
a umidade do solo; c) utilizar plantas de crescimento
denso, como o capim vetiver, por exemplo, para formar linhas de vegetação
cerrada que quebram a velocidade das águas, quando implantadas em curvas
de nível no meio do plantio da mandioca.
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