Embrapa Mandioca e Fruticultura
Sistemas de Produção, 13
ISSN 1678-8796 Versão eletrônica
Jan/2003
Cultivo da Mandioca para o Estado do Pará
Pedro Luiz Pires de Mattos
Eloisa Maria Ramos Cardoso

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Adubação

Adubação e calagem
Conservação do solo

Adubação e calagem

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A mandioca é uma cultura que absorve grandes quantidades de nutrientes e praticamente exporta tudo o que foi absorvido, as raízes tuberosas são destinadas à produção de farinha, fécula e outros produtos, bem como para a alimentação humana e animal; a parte aérea (manivas e folhas), para novos plantios, alimentação humana e animal. Em média, para uma produção de 25 toneladas de raízes + parte aérea de mandioca/ha são extraídos 123 kg de N, 27 kg de P, 146 kg de K, 46 kg de Ca e 20 kg de Mg; assim, a ordem decrescente de absorção de nutrientes é a seguinte: K > N > Ca > P > Mg. 

Os sintomas de deficiência e de toxidez de nutrientes em mandioca são apresentados no Tabela 1

Tabela 1. Sintomas de deficiência e de toxidez de nutrientes em mandioca.

Nutrientes

Sintomas de deficiência

N

crescimento reduzido da planta; em algumas cultivares ocorre amarelecimento uniforme e generalizado das folhas, iniciando nas folhas inferiores e atingindo toda a planta.

P

crescimento reduzido da planta, folhas pequenas, estreitas e com poucos lóbulos, hastes finas; em condições severas ocorre o amarelecimento das folhas inferiores, que se tornam flácidas e necróticas e caem; diferentemente da deficiência de N, as folhas superiores mantêm sua cor verde escura mas podem ser pequenas e pendentes.

K

crescimento e vigor reduzido da planta, entrenós curtos, pecíolos curtos e folhas pequenas; em condições muito severas, ocorrem manchas avermelhadas, amarelecimento e necrose dos ápices e bordas das folhas inferiores, que envelhecem prematuramente e caem; necrose e ranhuras finas nos pecíolos e na parte superior das hastes.

Ca

crescimento reduzido da planta; folhas superiores pequenas, com amarelecimento, queima  e deformação dos ápices foliares; escassa formação de raízes.

Mg

clorose inter-nerval marcante nas folhas inferiores, iniciando nos ápices ou bordas das folhas e avançando até o centro; sob condições severas as margens foliares podem tornar-se necróticas; pequena redução na altura da planta.

S

amarelecimento uniforme das folhas superiores, similar ao produzido pela deficiência de N; algumas vezes são observados sintomas similares nas folhas inferiores.

B

altura reduzida da planta, entrenós e pecíolos curtos, folhas jovens verdes escuras, pequenas e disformes, com pecíolos curtos; manchas cinzas, marrons ou avermelhadas nas folhas completamente desenvolvidas; exsudação gomosa cor de café nas hastes e pecíolos; redução do desenvolvimento lateral da raiz. 

Cu

deformação e clorose uniforme das folhas superiores; ápices foliares tornam-se necróticos e as margens das folhas dobram-se para cima ou para baixo; pecíolos largos e pendentes nas folhas completamente desenvolvidas; crescimento reduzido da raiz.

Fe

clorose uniforme das folhas superiores e dos pecíolos, os quais tornam-se brancos em condições severas; inicialmente as nervuras e os pecíolos permanecem verdes, tornando-se de cor amarela-pálida, quase branca; crescimento reduzido da planta; folhas jovens pequenas porém em formato normal.

Mn

clorose entre as nervuras nas folhas superiores ou intermediárias completamente expandidas; clorose uniforme em condições severas; crescimento reduzido da planta; folhas jovens pequenas porém em formato normal.

Zn

manchas amarelas ou brancas entre as nervuras nas folhas jovens, as quais com o tempo tornam-se cloróticas, com lóbulos muito pequenos e estreitos, podendo crescer agrupadas em roseta; manchas necróticas nas folhas inferiores; crescimento reduzido da planta.

 

Sintomas de toxidez

Al

redução da altura da planta e do crescimento da raiz; amarelecimento entre as nervuras das folhas velhas sob condições severas.

B

manchas brancas ou marrons nas folhas velhas, especialmente ao longo dos bordos foliares, que posteriormente podem tornar-se necróticas.

Mn

amarelecimento das folhas velhas com manchas pequenas escuras de cor marrom ou avermelhada ao longo das nervuras; as folhas tornam-se flácidas e pendentes e caem no solo


No Brasil, de modo geral, não se tem conseguido aumentos acentuados na produção da mandioca em função da aplicação de calcário, mesmo em solos ácidos da região dos cerrados, confirmando a tolerância da mandioca a condições de acidez. No entanto, após cultivos sucessivos na mesma área, é possível que a planta responda à aplicação de calcário, principalmente como suprimento de cálcio e magnésio, respectivamente terceiro e quinto nutrientes mais absorvidos pela cultura.

Quanto à adubação, a mandioca tem apresentado respostas pequenas à aplicação de nitrogênio, mesmo em solos com baixos teores de matéria orgânica. Possivelmente, este fato deve-se à presença de bactérias diazotróficas fixadoras de nitrogênio atmosférico no solo.

Maior importância adquire a aplicação de fósforo, embora não seja extraído em grandes quantidades pela mandioca, pois os solos brasileiros em geral, e em particular os cultivados com mandioca, normalmente classificados como marginais, são pobres neste nutriente. Por esta razão, é grande a resposta da cultura à adubação fosfatada. Quanto ao potássio, nutriente extraído em maior quantidade pela mandioca, seu esgotamento é atingido rapidamente,  após 2 a 4 cultivos sucessivos na mesma área. Eikmbora a resposta à adubação potássica seja baixa torna-se evidente após cultivos sucessivos na mesma área.

A calagem e a adubação em mandioca devem obrigatoriamente ser definidas em função da análise química do solo, devendo a primeira ser realizada com antecedência de pelo menos 60 dias do plantio, tempo necessário para reagir com o solo. Com base na análise do solo são feitas   as recomendações para a cultura:

calagem: calcular a necessidade de calcário dolomítico (NC), em toneladas por hectare (t/ha), empregando as fórmulas:

NC (t/ha) = [2 - (cmolc Ca ++ + Mg++/100cm3)] x f;

NC (t/ha) = f x cmolc Al+++/100cm3

f = 100/PRNT,

após o que deve-se utilizar a maior das quantidades de calcário determinadas pelas fórmulas. Aconselha-se o limite máximo de 1 (uma) tonelada de calcário por hectare, ainda que, pelas fórmulas indicadas, tenham sido encontradas quantidades mais elevadas;

adubação: a tabela a seguir mostra as recomendações de adubos para a mandioca, com base na análise do solo:

 
Nutrientes

Épocas de aplicação

Plantio

Em cobertura, 30 a 60 dias após

a brotação das manivas

       N (kg/ha) 

Nitrogênio: mineral ou orgânico

-

30

 

 

 

Fósforo no solo (Melich) – mg/dm³

      P205 (kg/ha) 

  Até 3

60

-

 4  a   6

40

-

  7  a  10

20

-

 

 

 

Potássio no solo (Melich) – mg/dm³

       K20 (kg/ha) 

  Até  20

40

-

21  a  40

30

-

41  a  60

20

-

 

épocas e modos de aplicação do calcário e dos adubos: 1) calagem - pode ser realizada em qualquer época do ano, devendo-se utilizar o calcário dolomítico, que contem cálcio e magnésio. Ele deve ser aplicado a lanço em toda a área, de modo uniforme, e incorporado  a 20 cm ou mais, sendo importante que anteceda dois meses o plantio, para dar tempo de reagir no solo; 2) adubação nitrogenada - a mandioca responde bem à aplicação de adubos orgânicos (estercos, tortas, compostos, adubos verdes e outros), cujos efeitos favoráveis estão relacionados com o fornecimento de nutrientes e, certamente, com alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. Assim, havendo disponibilidade, deve-se dar preferência aos adubos orgânicos como fonte de nitrogênio, os quais devem ser aplicadas na cova, sulco ou a lanço, no plantio ou com antecedência em função da fermentação, como acontece com a torta de mamona. No caso da aplicação de uréia ou sulfato de amônio, a aplicação deve ser em cobertura ao redor da planta, 30 a 60 dias após a brotação das manivas, com o solo úmido; 3) adubação fosfatada – o superfosfato simples e o superfosfato triplo são os adubos fosfatados mais utilizados e devem ser aplicados no fundo da cova ou do sulco de plantio. O superfosfato simples tem a vantagem de também conter enxofre (na sua composição; 4) adubação potássica – deve ser aplicada na cova ou sulco de plantio, juntamente com o fósforo. Os adubos potássicos mais utilizados são o cloreto de potássio e o sulfato de potássio. Em solos extremamente arenosos fracionar o potássio em duas aplicações, sendo metade da dose no plantio e a outra metade em cobertura, junto com o nitrogênio; e 5) micronutrientes - poucos estudos foram realizados sobre micronutrientes em mandioca. Nos períodos de grandes estiagens, principalmente no litoral do Nordeste, tem-se observado sintomas de deficiências de zinco e de manganês, denominados de chápeu-de-palha e amarelão. Para evitar possíveis limitações na produção, nos locais de ocorrência recomenda-se aplicar 4 kg de zinco e 5 kg de manganês/ha (20 kg de sulfato de zinco e 20 kg de sulfato de manganês/ha), no solo, juntamente com o fósforo e o potássio. Nas lavouras com deficiências já manifestadas deve-se aplicar uma solução contendo 2 a 4%, ou seja 2 a 4 kg de sulfato de zinco e/ou de sulfato de manganês diluído em 100 litros de água.

Realizando-se a calagem e a adubação nas doses, épocas e modos de aplicação recomendados, estima-se um rendimento médio de 20 toneladas de raízes por hectare.

 

Conservação do solo

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Dois aspectos devem ser considerados na conservação do solo em mandioca: 1) ela protege pouco o solo contra a erosão, principalmente no início do ciclo, pois o crescimento inicial é lento e o espaçamento é amplo, dificultando a cobertura do solo e 2) ela é esgotante do solo, pois exporta quase tudo que produz (raízes, folhas e manivas) para produção de farinhas,  e como sementes para novos plantios.

A análise do solo deve ser feita para orientar a correção da acidez e a adubação de acordo com as recomendações para a cultura, o que permitirá o melhor e mais rápido desenvolvimento das plantas, cobrindo mais rapidamente o solo. O preparo do solo e o plantio devem ser feitos em nível (“cortando” as águas). Se o solo necessitar ficar algum tempo sem cultura nenhuma, deve-se semear nesse período uma leguminosa para proteger, incorporar matéria orgânica e nutrientes e melhorar a estrutura do solo. Como meio de evitar o esgotamento dos nutrientes do solo, deve-se proceder a rotação da mandioca com outras culturas, principalmente com leguminosas, como também, quando a mandioca for plantada no sistema de fileiras duplas, utilizar a prática de consórcio, sempre que possível, com culturas adequadamente escolhidas (feijão, milho, amendoim etc.), pois dessa forma ocorrerá uma melhor cobertura do solo.

Em áreas inclinadas, o consórcio é recomendável para melhorar a cobertura do solo e evitar os efeitos erosivos das chuvas e enxurradas; o plantio de mandioca + milho é mais eficiente do que mandioca + feijão ou mandioca + algodão, no aspecto de proteção contra a erosão do solo. Em tais áreas, pode-se optar pelo plantio em camalhão e em nível, pelo excelente controle da erosão que proporciona. Outras práticas conservacionistas recomendadas em áreas  (com declives) são as seguintes: a) a combinação de faixas de plantio de mandioca com faixas de outras culturas (milho, feijão, amendoim etc.) ajuda a melhorar a cobertura do solo e a protegê-lo contra a erosão; b) o enleiramento em nível dos restos culturais ajuda a conter as águas e a reduzir os riscos de erosão; c) sempre que houver disponibilidade de resíduos vegetais, a cobertura do solo com vegetação morta protege contra a erosão, incorpora matéria orgânica e conserva por mais tempo a umidade do solo; c) utilizar plantas de crescimento denso, como o capim vetiver, por exemplo, para formar linhas de vegetação cerrada que quebram a velocidade das águas, quando implantadas em curvas de nível no meio do plantio da mandioca.

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