Embrapa Hortaliças
Sistemas de Produção, 1 - 2ª Edição
ISSN xxxx-xxxx Versão Eletrônica
Dez./2006
Cultivo de Tomate para Industrialização
Autores

Sumário


Apresentação

Importância econômica
Composição nutricional
Clima
Solos
Adubação
Deficiências nutricionais
Cultivares
Produção de mudas
Plantio
Irrigação
Plantas daninhas
Doenças
Pragas
Colheita e pós-colheita
Processamento
Produção de sementes
Coeficientes técnicos
Referências
Glossário


Autores
Expediente

Irrigação
Da semeadura à emergência das plântulas, as irrigações devem ser leves e freqüentes, de modo a manter os primeiros 10 cm do solo sempre umedecidos. Nessa fase, o turno de rega deve ser de 1 a 2 dias, dependendo do tipo de solo e das condições climáticas. Em solos arenosos e/ou em regiões de temperatura elevada e de baixa umidade relativa do ar, o turno de rega deve ser diário. Irrigações freqüentes também são recomendadas por ocasião do transplante. Neste caso, deve-se irrigar preferencialmente pela manhã, quando a temperatura é mais amena e as plantas estão geralmente túrgidas.

Dependendo do tipo de solo e do clima da região, as irrigações devem ser paralisadas 20 a 30 dias antes do início da colheita, quando as plantas apresentarem cerca de 20% de frutos maduros. Essa medida visa concentrar a maturação de frutos e aumentar a concentração de sólidos solúveis. Entretanto, em termos de produção de frutos, maiores produtividades podem ser obtidas irrigando-se até a ocasião em que cerca de 50% dos frutos estiverem maduros.

Dentre os vários critérios existentes para o manejo da irrigação, nenhum pode ser considerado padrão nem indicado para todas as situações. Métodos clássicos que permitem um controle bastante criterioso da irrigação – como o do balanço hídrico e da tensão de água no solo –, baseiam-se no conhecimento das características fisico-hídricas do solo, das necessidades específicas da cultura e de fatores climáticos relacionados à evapotranspiração. Dependem ainda do uso de equipamentos para o monitoramento da umidade do solo (tensiômetros, blocos de resistência elétrica, etc.) ou de equipamentos para a estimativa da evapotranspiração (tanque Classe A, termômetros, higrômetros, etc.). Essas informações e equipamentos, além de não estarem, em geral, ao alcance do irrigante, exigem conhecimentos técnicos específicos para seu manuseio.

Um método aproximado e que dispensa o uso de equipamentos é o do turno de rega. A seguir é apresentada uma seqüência de passos que permitem a determinação da freqüência e da lâmina de água a ser aplicada por irrigação, em cada estádio de desenvolvimento do tomateiro. Simultaneamente, é apresentado um exemplo de sua utilização, considerando-se a seguinte situação:

° Solo: Latossolo Vermelho-Escuro, textura argilosa;
° Clima: temperatura de 20,5 °C, umidade relativa de 54% (média para o mês de julho no Planalto Central);
° Estádio: frutificação;
° Profundidade efetiva do sistema radicular: 40 cm;
° Eficiência de irrigação: 70 % (aspersão convencional).

Passo 1: Utilizando a Tabela 1, determinar a evapotranspiração de referência (ETo) em função de dados históricos de temperatura e média mensal da umidade relativa do ar, para os meses em que o tomateiro será cultivado. Esses dados podem ser obtidos no Serviço de Extensão Rural (Emater).

Pela Tabela 1, para a temperatura de 20,5 ºC e 54% de umidade relativa, tem-se que a ETo é de 6,1 mm/dia.

Passo 2: Determinar a evapotranspiração do tomate (ETc), para cada estádio de desenvolvimento, pela seguinte equação:

ETc = Kc. Eto

em que ETc é dado em mm/dia, e Kc é obtido na Tabela 2. Na fase de frutificação, Kc é igual a 0,85.

Assim:

ETc = 0,85 x 6,1 = 5,2 mm/dia

Passo 3: Determinar a disponibilidade real de água no solo (DRA), em função de sua textura, através da Tabela 3.

Para solo argiloso de cerrado, tem-se que DRA é de 0,8 mm/cm3.

Passo 4: Determinar o turno da rega (TR) para cada estádio da cultura, sendo:

x

onde TR é dado em dias, e a profundidade efetiva do sistema radicular (Z) – obtida na tabela 2 –, em cm. Para o presente exemplo e dados obtidos, tem-se que:

x

Passo 5: Determinar a lâmina de água real necessária por irrigação (LRN), pela seguinte expressão:

LRN = TR . Etc

em que LRN é dada em mm.

No exemplo em questão, tem-se que:

LRN = 6 x 5,2 = 31,2 mm

Passo 6: Corrigir o valor de LRN em função da eficiência do sistema de irrigação (Ei), de modo a obter a lâmina de água total necessária (LTN), fazendo:

x

onde LRN é dada em mm e Ei em % (Ex.: pivô-central: 80-90 %; aspersão convencional: 60% - 70%).

A lâmina de água a ser aplicada no estádio de frutificação será:

x

De modo geral, as irrigações na região do Cerrado são feitas por aspersão, utilizando-se o pivô-central. No Vale do São Francisco, usa-se a irrigação por sulco, que consiste na distribuição de água por meio de sulcos paralelos às fileiras de plantio. A água é geralmente conduzida por um canal principal, de onde é derivada para os sulcos, utilizando-se tubos plásticos denominados de sifões, com diâmetro de uma a duas polegadas. A distribuição da água pode ser feita também por tubos janelados, que possuem diversas aberturas reguláveis que permitem o controle da quantidade de água aplicada em cada sulco de irrigação.

O comprimento dos sulcos e sua declividade são determinados em função da textura do solo.

Os sulcos devem ter 15 a 20 cm de profundidade e 25 a 30 cm de largura. As maiores dimensões são utilizadas para solos de baixa velocidade de infiltração.

Tabela 1. Evapotranspiração de referência (ETo), em mm/dia, em função da temperatura e umidade relativa média mensal do ar.

Temperatura
(°C)

Umidade relativa (%)

40 a 50

50 a 60

60 a 70

70 a 80

80 a 90

10 a 15

4,6

3,8

3,0

2,1

1,3

15 a 20

5,9

4, 9

3,8

2,7

1,6

20 a 25

7,4

6,1

4,7

3,4

2,0

25 a 30

9,1

7,4

5,8

4,1

2,5

30 a 35
10,9
8,9
6,9
5,0
3,0
Fonte: Obtido a partir da equação de Ivanov (JENSEN, 1973).
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Tabela 2. Coeficiente de cultura (Kc), profundidade efetiva média do sistema radicular (Z) e problemas associados à irrigação inadequada nos diferentes estádios de desenvolvimento da cultura do tomateiro.

Estádio de desenvolvimento(10)

Duração
(dias)

Kc

Z (2)
(cm)

Problemas associados à irrigação

Inicial

10-20

0,55

10

Irrigações deficitárias ou em excesso reduzem o 'estande'

Vegetativo

30

0,65

20 a 30

Irrigações abundantes favorecem o crescimento excessivo e a maior incidência de doenças

Frutificação

40

0,85

40

A falta de água reduz o peso e o número de frutos. O excesso favorece a maior incidência de doenças

Maturação

30

0,65

40

Irrigações neste estádio prejudicam a qualidade dos frutos e reduzem o Brix

(1) Inicial: do plantio até dois pares de folhas ou pegamento de mudas. Vegetativo: até o início do florescimento. Frutificação: até o início da maturação de frutos. Maturação: até a colheita. (2) Avaliar de preferência no próprio local de cultivo.

Fonte: Adaptado de Marouelli et al. (1996).

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Tabela 3. Disponibilidade real média de água no solo para tomateiro, para diferentes tipos de solos.

Textura

Classe textural
(exemplos)

Disponibilidade real
(mm/cm3)

Grossa

Areia, areia franca

0,5

Média

Franco-arenoso
Franco, franco-siltoso
Franco-argilo-arenoso

0,8

Fina

Muito argiloso
Argila, argila-siltosa
Franco-argilo-siltoso

1,0

Obs.: Em geral, mesmo os solos de cerrado com textura fina apresentam disponibilidade real de cerca de 0,8 mm/cm3.

Fonte: Adaptado de Marouelli et al. (1996).

 

 

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