Cultivares
comerciais
Composição
físico-química de cultivares de melancia
Cultivares
de melancia sem sementes (triploides)
Presença
de sementes verdadeiras e rudimentos de sementes em cultivares
triploides
O centro de origem de uma espécie corresponde à região
que apresenta grande diversidade genética de tipos primitivos e parentes
silvestres da espécie. Foi encontrado em diversos trabalhos de pesquisa
com acessos do Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de Cucurbitaceae mantido
na Embrapa Semiárido (dissertações de mestrado e teses
de doutorado), genes de resistência a doenças, que determinam
diferenças no teor de açúcar, prolificidade, tamanho,
cor da casca, formato de fruto, cor e textura da polpa, etc. Essa diversidade
de genes encontrada também está descrita na literatura em
materiais primitivos e parentes silvestres da melancia.
O Nordeste brasileiro é considerado um centro secundário de
diversidade genética da melancia baseado em hipóteses que
consideram os espanhóis como responsáveis por levar a melancia
aos nativos das Américas no século 16 e que os escravos tiveram
importante papel na introdução de muitas sementes de melancia
no Brasil. Posteriormente, na década de 1950, houve nova introdução
de variedades americanas e japonesas.
Além do exposto anteriormente, é importante ressaltar que:
a) Como essa espécie apresenta muita rusticidade, encontrou condições
edafoclimáticas necessárias ao seu desenvolvimento em muitas
partes do Nordeste brasileiro. Entre as cucurbitáceas, a melancia é uma
espécie tipicamente de clima quente, intolerante ao frio e à geada.
Apesar de ser uma espécie resistente à seca, proporciona boas
produções e qualidade quando cultivada sob irrigação.
b) A melancia é alógama (polinização cruzada),
cujo principal agente polinizador é a abelha. Assim, há muitos
cruzamentos entre diferentes tipos de melancia (raças crioulas x
variedades melhoradas, por exemplo).
c) Nas sementes mais próximas às silvestres, há alguns
mecanismos que favorecem a sobrevivência das espécies, como
dormência das sementes, menor dependência de água e de
insumos agrícolas.
d) As aves e outros animais (bovinos, suínos, etc.) comem os frutos
de um local e seus excrementos levam as sementes para outra região,
sendo um importante elemento de dispers ão
da melancia.
Os cultivos comerciais de melancia no Brasil são com cultivares
de origem americana ou japonesa, que se adaptaram bem às
nossas condições edafoclimáticas. No entanto,
deve-se considerar que entre estas, a mais plantada é a
cv. Crimson Sweet e tipos semelhantes, que é de origem americana,
respondendo praticamente por mais de 90% do fornecimento ao mercado
consumidor. Mas, considerando o mercado internacional, há diversas
cultivares, que diferem entre si quanto à forma e ao tamanho
do fruto, à coloração externa e da polpa,
sem considerar a variabilidade genética das raças
crioulas na agricultura tradicional. Na escolha da cultivar para
o plantio, deve-se considerar o tipo de fruto preferido pelo mercado
consumidor, sua resistência ao transporte, a adaptação
da cultivar à região, a tolerância a doenças
e a distúrbios fisiológicos.
A indústria de sementes tem, nos últimos anos, se
dedicado ao desenvolvimento de híbridos de melancia, por
causa do seu maior retorno comercial aos programas de melhoramento,
o que pode ser verificado pelo grande número de cultivares
lançadas em todo o mundo (Tabela 1).
Os híbridos, cujas sementes são mais caras, geralmente
possuem maior precocidade, produtividade e maior uniformidade.
Pode ser uma boa alternativa de cultivo, desde que o investimento
na compra de sementes seja recompensado pela obtenção
de preços diferenciados na venda dos frutos. Em escala mundial,
apenas 22% das cultivares de melancia lançadas são
de polinização aberta e as demais são de polinização
controlada (híbridos diploides, triploides e linhas tetraploides)
(Tabela 1).
Tabela.
1.Número de cultivares de diferentes ploidias
de melancia lançadas no mercado mundial. |
Ploidia de
cultivares de melancia |
N° de
cultivares no mercado mundial |
Híbrido
diploide |
189 |
Híbrido
triploide |
163 |
Tetraploide |
2 |
Polinização
aberta |
118 |
Não
identificada |
44 |
Total |
516 |
|
Fonte: Adaptado
de Lane Agriculture Center (2009). |
Na Tabela 2, são descritas informações sobre o ciclo,
a caracterização externa, a tolerância a doenças,
etc. das principais cultivares de melancia plantadas no mundo,
especificadas pelos principais distribuidores das sementes.
Tabela.
2.Ciclo, caracterização externa,
interna, sólidos solúveis, tolerância
a doenças de cultivares de melancia citadas pelos
principais distribuidores de sementes. |
Cultivares |
Tipo¹ |
Ciclo
(dias) |
Massa
média do fruto (kg) |
Formato
do fruto |
Cor
da casca |
Cor
da polpa |
Tolerância
a doença |
Au-Sweet
Scarlet |
PA |
80-85 |
9-10 |
Arredondado |
Verde-pálido
com listras médias e escuras |
Vermelho |
Antracnose
Fusariose |
BRS
Kuarah |
PA |
65-70 |
4-6 |
Arredondado
|
Verde-médio
com estrias finas |
Amarelo intenso |
____ |
BRS
Opara |
PA |
75-85 |
11-13 |
Eliptico |
Verde-claro
com listras escuras e largas |
Vermelho |
Oídio |
BRS
Soleil |
PA |
65-70 |
4-6 |
Arredondado |
Verde-médio
com listras escuras e médias |
Amarelo
intenso |
____ |
Charleston
Gray |
PA |
85 |
10-14 |
Alongado |
Verde-claro |
Vermelho |
Antracnose,
Fusariose |
Congo |
PA |
90 |
10-14 |
Alongado |
Verde-médio
com listras verde-escuras |
Vermelho |
Antracnose,
Fusariose |
Crimson
Sweet |
PA |
75-85 |
11
|
Elíptico |
Verde-claro
com listras escuras e largas |
Vermelho |
Antracnose,
Fusarium |
Dixielee |
PA |
90 |
9-14 |
Redondo |
Verde-clara
com listras escuras |
Vermelho-intenso |
Antracnose
raça 1, Fusarium raça 1 |
Early
Jubilee (PSX 33484) |
HD |
87 |
11-14 |
Alongado |
Verde-clara
com listras verde-escuras |
Vermelho |
Fusariose,
Antracnose |
Fairfax |
PA |
85-90 |
13-18 |
Alongado |
Verde-claro
com listras largas escuras |
Vermelho
claro |
Antracnose,
Fusarium raça 0 |
Jetstream |
HD |
85-90 |
11 |
Elíptico
largo (tipo bloco) |
Verde-claro
com listras largas escuras |
Vermelho |
Antracnose,
Fusariose |
Jubilee
II |
PA |
95 |
11-14 |
Alongado |
Verde-claro
com listras escuras |
Vermelho
intenso |
Fusarium
raça 2 |
Madera |
D |
80 |
6-10 |
Redondo |
Verde-claro
com listras escuras |
Vermelho |
Fusarium
raça 1 |
Pérola |
PA |
75-85 |
5-8 |
Elíptico
largo |
Verde-acinzentado |
Vermelho
intenso |
____ |
Shadow |
T |
70 |
ND |
Circular
a ovalado |
Verde-médio
com listas escuras |
Vermelho |
____ |
Starbrite |
HD |
85-90 |
13 |
Elíptico
largo (tipo bloco) |
Verde
claro com listras escuras e largas |
Vermelho |
Fusarium
raça 1, Antracnose |
Sugar
Baby |
PA |
70-75 |
3-5 |
Redondo |
Verde-escuro |
Vermelho |
____ |
Tiffany |
HT |
75 |
6-10 |
Redondo |
Verde-claro
com listras escuras |
Vermelho |
____ |
TopGun |
HD |
70-80 |
7-8 |
Globular |
Verde-claro
com listras escuras e largas |
Vermelho |
____ |
Yellow
Doll |
HD |
68 |
2-3 |
Oval |
Verde-médio
com listras verde-escuras |
Amarelo |
____ |
1 PO
= polinização aberta ou variedade;
HD= híbrido diploide (com sementes); T= híbrido
triplóide (sem
sementes); ²ND= Não disponível |
Fonte:
Dados da Embrapa Semiárido
e adaptação de Lane Agriculture Center
(2009) e Souza (2008) |
|
|
Composição
físico-química de cultivares de melancia |
|
A composição físico-química da melancia
varia em função das cultivares. Nas Tabelas 3 e 4,
são apresentados a composição nutricional
das cultivares Pérola, Crimson Sweet e Jubilee.
Os valores obtidos foram os seguintes: 90,55% a 92,71% de umidade;
6,73% a 7,22% de açúcares totais (soma de frutose,
glicose e sacarose para as cultivares Pérola e Crimson Sweet);
3,71% a 4,66% de açúcares redutores (soma de frutose
e glucose para as cultivares Pérola e Crimson Sweet); 2,86%
a 2,94% de frutose; 1,56% a 1,80% de glucose; 2,07% a 2,72% de
sacarose; 0,14% a 0,31% de cinzas; 0,43% a 0,71% de proteína;
0,0070% a 0,036% de lipídeos; 0,01% a 0,14% de fibras; 0,0074%
a 0,0700% de pectina; 8 °Brix a 9,4 °Brix; 5,35 de pH;
4,12 mg/100g a 5,89 mg/100g de licopeno, e energia em torno de
30 calorias.
Em termos de teor de cinzas, ‘Crimson Sweet’ e ‘Pérola’ se
equivaleram, e ‘Jubilee’ apresentou o mais baixo conteúdo
(0,45%). Os teores de proteína, fibras e lipídios
são bastante baixos nas diferentes cultivares de melancia.
Os teores de pectina foram maiores na cultivar Pérola (0,07%)
em relação às demais. Quanto à acidez
total, esta foi mais elevada na cv. Crimson Sweet (14,6). Os valores
de pH se situaram na faixa de 5,3 a 5,4 para a cv. Crimson Sweet,
sendo todas de baixo valor calórico.
Verificou-se que o suco de melancia integral (polpa) apresentou
teor de umidade em torno de 91% e pH de 5,3; o que caracteriza
um produto de baixa acidez. Os teores de açúcares
encontrados no suco constituem 77% da matéria seca. Dos
açúcares presentes, 4,05% correspondem aos açúcares
redutores, dos quais 2,64% são constituídos de frutose
e 1,41% de glicose. Os teores médios de licopeno, pigmento
responsável pela cor vermelha do suco, foram de 3,66 mg/100g
no suco integral e de 16,7 mg/100g no concentrado.
A melancia é uma das frutas mais ricas em vitaminas vendidas
no Brasil, com altos teores de pró-vitamina A e de vitaminas
C, B1 (tiamina), B2 (riboflavina), B6, B12, niacina, ácido
fólico e biotina. A pigmentação vermelha da
polpa é dada pelo licopeno, um carotenoide com atividade
antioxidante. Nas cultivares de polpa amarela, a cor é em
função dos carotenoides, do ß-caroteno (pró-vitamina
A) e das xantofilas. Na Tabela 4, é apresentada a composição
química da melancia por diferentes autores.
Tabela.
3.Composição nutricional de 100g
de polpa das cultivares Pérola, Crimson Sweet e
Jubilee de diferentes origens (média ? desvio padrão). |
Componente |
‘ Crimson
Sweet’
São
Paulo |
‘ Pérola’
Goiás |
‘ Jubilee’
São
Paulo |
Umidade
(%) |
90,79
±
0,02 |
90,55
±
0,43 |
92,71
±
0,03 |
Frutose
(%) |
2,86
±
0,12 |
2,94
±
0,11 |
- |
Glucose
(%) |
1,80
±
0,03 |
1,586
±
0,07 |
- |
Sacarose
(%) |
2,07
±
0,04 |
2,72
±
0,13 |
- |
Açúcares
totais (%) |
6,73 |
7,22 |
6,25
±
0,08 |
Açúcares
redutores (%) |
4,66 |
4,50 |
3,71
±
0,01 |
Cinzas
(%) |
0,30
±
0,01 |
0,31
±
0,02 |
0,14
±
0,003 |
Proteínas
(%)* |
0,71
±
0,0 |
0,43
±
0,02 |
- |
Lipídeos
(%) |
0,036
±
0,004 |
0,007
±
0,02 |
- |
Fibra
(%) |
0,14
±
0,003 |
0,12
±
0,0 |
- |
Pectina
(%)** |
0,0095
±
0,0005 |
0,07
±
0,004 |
0,001
±
0,003 |
Acidez
total*** |
14,6
±
0,08 |
9,38
±
1,56 |
Não
detectada |
Sólidos
solúveis |
9,4
±
0,03 |
- |
8 |
pH
|
5,35
±
0,02 |
- |
- |
Licopeno
(mg) |
4,12
±
0,09 |
- |
5,89 |
Calorias |
30,08 |
30,66 |
- |
|
*% N x 6,25; **Calculado como pectato de cálcio;
***ml NaOH 0,1mol/L/100g.
Obs.: Total de calorias determinado pela equação: % lipídeos
x 9 + % proteína x 4 + % de
açúcares totais x 4. |
Fonte: Mori (1996). |
Estudos realizados com o objetivo de quantificar os principais carotenoides
da melancia ‘Crimson Sweet’, produzida nos estados de São
Paulo e Goiás, em amostras colhidas na Central de Abastecimento (CEASA)
de Campinas, demonstraram que a melancia contém quase exclusivamente
licopeno, com uma pequena quantidade de ß-caroteno. Os teores (mg/g)
de licopeno e de ß-caroteno foram, respectivamente, de 36 ± 5
e 4,7 ± 2,4 para as frutas produzidas em São Paulo, e de 35 ± 2,0
e 2,6 ± 1,7 para as produzidas em Goiás. As concentrações
destes dois carotenoides são semelhantes às encontradas em
tomate da cultivar Carmen (35 ± 10 mg/g para licopeno e 3,2 ± 0,6
mg/g para ß-caroteno), evidenciando a melancia como uma importante
Foto de licopeno.
Tabela.
4.Composição química (100
g ou ml de polpa) de melancia. |
Componente |
PUC
(2001) |
Mori
(1996)* |
FAO
(2010) |
Água
(%) |
92,00 |
91,14 |
91,51 |
Carboidratos
(g) |
7,20 |
- |
7,18 |
Proteína
(g) |
0,60 |
0,64 |
0,50 |
Lipídios
(g) |
0,40 |
0,04 |
0,43 |
Cálcio
(mg) |
8,10 |
6,46 |
8,00 |
Fósforo
(mg) |
8,90 |
7,77 |
9,00 |
Potássio
(mg) |
116,00 |
90,03 |
116,00 |
Magnésio
(mg) |
- |
10,81 |
11,00 |
Manganês
(mg) |
- |
0,062 |
- |
Zinco
(mg) |
- |
0,083 |
- |
Cobre |
- |
0,065 |
- |
Ferro
(mg) |
0,20 |
0,28 |
0,17 |
Sódio
(mg) |
2,00 |
1,40 |
- |
Vitamina
A (UI) |
365,10 |
- |
315,0 |
Tiamina
(mg) (B 1 ) |
0,08 |
- |
0,04 |
Riboflavina
(mg) (B 2 )
|
0,04 |
- |
0,05 |
Niacina
(mg) (B 5 ) |
0,20 |
- |
0,20 |
Ácido
ascórbico (mg) (C) |
9,50 |
- |
9,60 |
Valor
energético (cal) |
32,10 |
30,00 |
22,00 |
|
*Cultivar Crimson Sweet |
Fonte: Gebhardt e
Mattheus (1988) citado por Pontificia Universidad Católica
de Chile (2010); Mori (1996) e FAO (2010). |
Cultivares
de melancia sem sementes (triploides) |
|
Em trabalhos realizados pela Embrapa Semiárido, em Petrolina,
PE, foi avaliado o desempenho agronômico de 12 híbridos
triploides de melancia no qual se verificou que os híbridos
Tiffany, Nova, AF-179, AF-177, W-691, Ailet-01 e Ailet-02 foram
mais precoces em relação aos demais, emitindo as
primeiras flores femininas entre os 45 e 47 dias após o
plantio. Os híbridos Tiffany, Nova, AF-180, AF-178 (polpa
amarela), AF-176, W-691, Ailet-01 e Ailet-02 apresentaram menor
tamanho de fruto (3,54 kg a 5,36 kg). A venda de frutos grandes
e inteiros, no caso da melancia sem sementes, é limitada
pelo maior custo por quilo do produto, em relação às
melancias com sementes. Atualmente, no Rio Grande do Norte e Ceará,
a cv. Shadow tem sido muito cultivada.
Presença
de sementes verdadeiras e rudimentos de sementes em cultivares
triploides |
|
Geralmente, os frutos triploides apresentam apenas rudimentos
de sementes, os quais são tenros, insípidos e, portanto,
facilmente comestíveis. Porém, sementes normais também
podem ser encontradas em número bastante variável,
geralmente, não excedendo algumas unidades. Esse fenômeno
tem causa genética, sendo a sua manifestação
aleatória de modo que seu controle nos híbridos triploides
não é possível. Convém informar na
embalagem ou rótulo que acompanha o fruto ao supermercado
para explicitar ao consumidor que, ocasionalmente, sementes perfeitas
podem ocorrer.
|