Coeficientes técnicos
Melancia: aumentar a produtividade para ter maior rentabilidade
O cultivo da melancia do Brasil ocorre tanto nas grandes empresas agrícolas quanto na agricultura familiar. O primeiro engloba principalmente o polo Aracati/Mossoró/Açu, nos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte, que já têm estabelecida as exportações de melão e procuram consolidar as exportações de melancia sem sementes, bem como, produtores de Tocantins e Goiás. Os produtores familiares, que representam a maioria, cultivam a melancia sob o regime de chuva, nas pequenas áreas de perímetros irrigados, às margens de rios, bem como em pequenas propriedades utilizando água de poços. Os produtores familiares representam a maioria dos envolvidos no cultivo da melancia no Brasil.
Na produção familiar, em geral, os equipamentos agrícolas são rudimentares ou adaptados, a estrutura e as decisões são baseadas em experiências, sujeitas a alto grau de incertezas. Em consequência, os resultados obtidos são, geralmente, imprevisíveis. Não existe flexibilidade na escolha do tipo de cultura que, geralmente, é definida com base no histórico familiar ou regional. A produtividade é inferior à média em função da baixa ou pouca utilização da tecnologia disponível, seja por falta de capital ou de conhecimento. No entanto, os custos também são menores e estão sujeitos à grande variabilidade de preço, e a instabilidade da oferta resulta do fato de que a produção é dependente de variações que fogem do controle do produtor rural, como clima, problemas fitossanitários, entre outros.
A produtividade média no Brasil, em 2006 variou de 3,7 t/ha a 31,1 t/ha em função das características do sistema de produção, se em condições de sequeiro ou em área irrigada, utilização ou não de tecnologia. Portanto, a determinação dos custos, coeficientes técnicos, rendimentos e rentabilidade desses sistemas de produção é muito difícil em função da diversidade dos tipos de cultivos. Assim, será tratado, como exemplo, o que ocorre no Perímetro Irrigado de Curaçá, localizado no Município de Juazeiro, BA, representando a produção de melancia irrigada no Submédio do Vale do São Francisco com adoção de um bom grau tecnológico, relacionando-o ao praticado no Baixo Jaguaribe, CE.
Em 2007, Curaçá, dos perímetros irrigados no Submédio Vale do São Francisco, foi o que mais cultivou melancia, ocupando 466 hectares, representando 22,3% da sua área plantada.
Na Tabela 1, são apresentadas as quantidades
e valores de horas de trabalho de máquina e da mão-de-obra
necessários ao cultivo de 1 hectare de melancia. Os parâmetros
apresentados são baseados naqueles praticados por produtores
no Submédio Vale do São Francisco, que adotam um
bom grau de tecnologia e visam à comercialização
da produção no mercado interno. O sistema abrange
adubação, de acordo com análise de solo,
cultivo de melancia de frutos grandes, cv. Crimson Sweet, espaçamento
de 3 m x 0,60 m - densidade: 5.555 plantas/há -; uso
de fertirrigação e comercialização da
produção no mercado local, por meio de um atacadista.
Entretanto, existem fatores que podem variar de uma região
para outra, conforme o sistema de produção adotado
pelo produtor e até conforme as condições climáticas
e fitossanitárias de cada ano agrícola.
Nas Figuras 1 e 2, observa-se o percentual das
diferentes etapas da produção de 1 hectare de melancia
em dois sistemas de produção em área irrigada
no Nordeste brasileiro. Os custos de produção das
empresas situadas no Baixo Jaguaribe, CE, que operam com a utilização
de alto nível tecnológico
e alto custo administrativo - fertirrigação, híbridos,
assistência técnica, etc. - determinam um aumento
no custo de produção, mas que é parcialmente
compensado com o incremento da produtividade. Apesar de os custos
de produção serem obtidos em épocas diferentes,
observando-se as Figuras 1 e 2, constata-se que os custos com aquisição
de sementes, equipamentos de irrigação, fertilizantes
e custos administrativos são superiores na produção
de melancia no Baixo Jaguaribe, CE, comparativamente aos do Submédio
Vale do São Francisco. Observa-se que as principais diferenças
estão nos itens fertilizantes - 11% maior no CE -,
defensivos - 17% maior na BA -, sementes - 7%
maior no CE -, equipamentos de irrigação - 2%
maior no CE - e nos custos administrativos - 4% maior
no CE -, enquanto nas pequenas empresas da Bahia, os custos
de gerenciamento muitas vezes não são computados, pois
o mesmo é feito pelo próprio produtor e em outros
custos, como juros de crédito e impostos - 4% maior
no CE.
Tabela. 1. Coeficientes
técnicos para o plantio de 1 ha de melancia irrigada
- Perímetro Irrigado de Curaçá, Município
de Juazeiro, BA. |
Descrição |
Especificação |
Valor Unit. |
Quantidade |
Total |
% |
1-
Insumos (*) |
|
|
|
3.947,20 |
61,91 |
1.1. Fertilizantes |
|
|
|
1.490,50 |
23,39 |
Calcário dolomítico |
R$/tonelada |
200,00 |
1,00 |
200,00 |
3,14 |
MAP |
R$/kg |
1,12 |
300,00 |
336,00 |
5,27 |
Uréia |
R$/kg |
1,80 |
200,00 |
360,00 |
5,65 |
Cloreto
de potássio |
R$/kg |
1,93 |
250,00 |
482,50 |
7,57 |
Micronutrientes de solo |
R$/Kg |
2,80 |
40,00 |
112,00 |
1,76 |
1.2.
Fitossanitários |
|
|
|
1.990,70 |
31,22 |
Espalhante adesivo |
R$/litro |
6,30 |
1,00 |
6,30 |
0,10 |
1Fungicidas |
R$/kg ou R$/litro |
113,13 |
|
383,40 |
6,01 |
1inseticidas |
R$/kg ou R$/litro |
132,33 |
|
1.601,00 |
25,11 |
1.3. Outros |
|
|
|
466,00 |
7,33 |
Análise
de solo |
|
36,00 |
1,00 |
36,00 |
0,56 |
Sementes de variedade |
R$/Kg |
150,00 |
1,00 |
150,00 |
2,35 |
Água
(**) |
R$/1000 m3 |
4,00 |
70,00 |
280,00 |
4,39 |
2
- Operações |
|
|
|
2.039,00 |
31,98 |
2.1. Preparo do solo |
|
|
|
549,00 |
8,61 |
Aração,
gradagem, calagem, sulcamento |
HM |
68,00 |
8,00 |
544,00 |
8,53 |
Calagem |
Homem-dia |
20,00 |
0,25 |
5,00 |
0,08 |
2.2. Plantio |
|
|
|
240,00 |
3,77 |
Abertura das covas |
Homem-dia |
20,00 |
5,00 |
100,00 |
1,57 |
Plantio e replantio |
Homem-dia |
20,00 |
2,00 |
40,00 |
0,63 |
Adubação |
Homem-dia |
20,00 |
5,00 |
100,00 |
1,57 |
2.3. Tratos culturais |
|
|
|
890,00 |
13,96 |
Desbaste de plantas |
Homem-dia |
20,00 |
2,00 |
40,00 |
0,63 |
Capinas |
Homem-dia |
20,00 |
15,00 |
300,00 |
4,70 |
Adubação
em cobertura |
Homem-dia |
20,00 |
5,00 |
100,00 |
1,57 |
Desbaste dos frutos |
Homem-dia |
20,00 |
10,00 |
200,00 |
3,14 |
Pulverização |
Homem-dia |
25,00 |
10,00 |
250,00 |
3,92 |
2.4.
Irrigação |
|
|
|
120,00 |
1,88 |
Irrigação |
Homem-dia |
20,00 |
6,00 |
120,00 |
1,88 |
2.5.
Colheita/Classificação |
|
|
|
240,00 |
3,76 |
Colheita/Classificação |
Homem-dia |
20,00 |
12,00 |
240,00 |
3,76 |
Subtotal Conta de Cultivo |
|
|
|
5.986,20 |
93,89 |
3
- 2Custos de Administração |
|
|
|
179,59 |
2,82 |
Gerenciamento/Adm |
|
3,0% |
|
179,59 |
2,82 |
4 - Outros Custos |
|
|
|
210,00 |
3,29 |
4.1. Impostos/Taxas |
|
|
|
30,00 |
0,47 |
4.2. Custo da Terra |
R$/ha/mês |
40,00 |
3,00 |
120,00 |
1,88 |
4.3.
Depreciação do Sistema de Irrigação |
R$/ha/mês |
20,00 |
3,00 |
60,00 |
0,94 |
Custo Total (R$/ha) |
|
|
|
6.375,79 |
100,00 |
Produtividade
média/safra |
35.000 kg/ha |
|
|
|
|
5. Rentabilidade/SAFRA |
|
|
|
|
|
5.1.
Preços médios de dezembro/2009 |
CEASA/PE |
|
0,42 |
R$/kg |
|
|
CEASA/BA/EBAL S.A |
|
0,45 |
R$/kg |
|
|
Média
do atacado |
|
0,43 |
R$/kg |
|
3Preço
de mercado pago ao produtor |
52,87% do atacado |
|
0,23 |
R$/kg |
|
Valor
Bruto da Produção (R$/ha) |
8.050,00 |
|
0,23 |
R$/kg |
|
Despesa |
6.375,79 |
|
0,18 |
R$/kg |
|
Receita
líquida |
1.674,21 |
|
0,05 |
|
|
Rentabilidade |
20,79% |
|
|
|
|
Ponto
de equilíbrio |
0,18 R$/kg |
|
27.723,5 |
Kg/ha |
|
HM = Hora Máquina
Análise
de rentabilidade (cv. Crimson Sweet; espaçamento: 3
m x 0,60 m; densidade: 5.555 plantas/ha; tipo de irrigação:
gotejamento.
1Valores
médios dos fungicidas/inseticidas,
que variaram de R$ 22,00 a R$ 350,00
por
quilograma ou litro.
2Apesar
da maioria dos produtores do Submédio
Vale do São Francisco utilizarem uma
parte da mão-de-obra familiar e ter a
administração própria, esses valores
foram considerados na análise para facilitar
a extrapolação dos dados.
3Valores
médios praticados em 2009: atacado
(CEASAS BA e PE)= R$ 0,43/kg e no Mercado
do
Produtor de Juazeiro-BA = R$ 0,23/kg
.
(*)
Insumos: Valores Médios. É necessário
fazer análise de solo.
(**) Água:
os custos
com a água incluem as despesas com
manutenção e energia elétrica.
Atualizado
em Dezembro/2009 em Valores Nominais. Na
ocasião, o dólar médio norte-americano
estava cotado em R$ 1,74.
|
Fonte: Dados
Embrapa Semiárido |
|
|
Fonte: Adaptado
da Secretaria de Agricultura do Estado do Ceará (2009). |
|
Figura 1. Participação
(%) das diferentes etapas da produção
de um hectare de melancia no Baixo Jaguaribe,
CE, 2005. |
Fonte: Dados Embrapa
Semiárido.. |
|
Figura 2.
Participação (%) das diferentes etapas da produção de um hectare de melancia no Perímetro
Irrigado de Curaçá,
Juazeiro, BA, 2009. |
Melancia: aumentar a produtividade para ter maior rentabilidade |
|
Os custos de produção para os produtores de melancia no Submédio do Vale do São Francisco, que utilizam a irrigação localizada e se especializaram nesta olerácea, é de R$ 6.375,79/ha. Deste total, 94% correspondem às despesas de produção e cerca de 6% são com outros custos inerentes ao empreendimento agrícola irrigado — impostos, custo da terra, depreciação do sistema de irrigação e administração. No entanto, é muito comum que o próprio produtor seja também o administrador, não gaste com assistência técnica. Nesta região, é muito comum a melancia ser vendida a granel e acondicionada nos caminhões pelo comprador na propriedade.
Por exemplo, no sistema de produção especificado na Tabela 1, em 2009, o preço médio da comercialização no atacado praticado nas Ceasas da Bahia e Pernambuco foi de R$ 0,43/kg e no Mercado do Produtor de Juazeiro, BA, R$ 0,23/kg. Considerando uma produtividade média de 35 t/ha, a receita bruta média obtida com a comercialização da produção no Mercado do Produtor de Juazeiro, BA correspondeu a R$ 8.050,00. Nesse mesmo ano, o custo de produção no referido perímetro foi de R$ 6.375,79/há, a receita líquida de R$ 1.674,21/ha e uma rentabilidade de 20,79%. Considerando que a receita líquida é baixa, R$ 0,05/kg, faz-se necessário aperfeiçoar o Sistema de Produção de Melancia para se obter incremento na produtividade e conseguir a sustentabilidade do agronegócio. Produtividades inferiores a 27,7 t/ha, em condições irrigadas do Submédio do Vale do São Francisco, não cobrem os custos totais do cultivo de melancia. Assim, o aumento do rendimento deverá ser o alvo dos produtores, especialmente, os da produção familiar, pois o seu cultivo é relativamente mais simples que outras oleráceas, com custo de produção mais acessível quando comparado, por exemplo, à cebola, tomate e melão.
A rentabilidade no Baixo Jaguaribe e no Submédio do Vale do São Francisco foram, respectivamente, 11,5% e 20,79%. Provavelmente, a utilização da mão-de-obra familiar e os menores custos com equipamentos de irrigação determinam uma redução no custo total da produção. A maior utilização da fertirrigação e o incremento da densidade de plantio, 5.555 plantas/há, têm proporcionado um aumento no rendimento médio e rentabilidade da melancia no Submédio Vale do São Francisco.
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