Embrapa Semiárido
Sistemas de Produção, 6
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Ago/2010
Sistema de Produção de Melancia

Rita de Cássia Souza Dias, Geraldo Milanez de Resende
Rebert Coelho Correia, Nivaldo Duarte Costa
Graziela da Silva Barbosa, Fátima Alves Teixeira

Sumário

Apresentação
Socioeconomia
Clima
Solos
Adubação
Cultivares
Produção de mudas
Plantio
Irrigação
Tratos culturais
Plantas daninhas
Doenças
Pragas
Agrotóxicos
Colheita e pós-colheita
Mercado
Custos e rentabilidade
Referências
Literatura recomendada
Glossário

Expediente

Custos e rentabilidade

Coeficientes técnicos
Melancia: aumentar a produtividade para ter maior rentabilidade

O cultivo da melancia do Brasil ocorre tanto nas grandes empresas agrícolas quanto na agricultura familiar. O primeiro engloba principalmente o polo Aracati/Mossoró/Açu, nos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte, que já têm estabelecida as exportações de melão e procuram consolidar as exportações de melancia sem sementes, bem como, produtores de Tocantins e Goiás. Os produtores familiares, que representam a maioria, cultivam a melancia sob o regime de chuva, nas pequenas áreas de perímetros irrigados, às margens de rios, bem como em pequenas propriedades utilizando água de poços. Os produtores familiares representam a maioria dos envolvidos no cultivo da melancia no Brasil.

Na produção familiar, em geral, os equipamentos agrícolas são rudimentares ou adaptados, a estrutura e as decisões são baseadas em experiências, sujeitas a alto grau de incertezas. Em consequência, os resultados obtidos são, geralmente, imprevisíveis. Não existe flexibilidade na escolha do tipo de cultura que, geralmente, é definida com base no histórico familiar ou regional. A produtividade é inferior à média em função da baixa ou pouca utilização da tecnologia disponível, seja por falta de capital ou de conhecimento. No entanto, os custos também são menores e estão sujeitos à grande variabilidade de preço, e a instabilidade da oferta resulta do fato de que a produção é dependente de variações que fogem do controle do produtor rural, como clima, problemas fitossanitários, entre outros.

A produtividade média no Brasil, em 2006 variou de 3,7 t/ha a 31,1 t/ha em função das características do sistema de produção, se em condições de sequeiro ou em área irrigada, utilização ou não de tecnologia. Portanto, a determinação dos custos, coeficientes técnicos, rendimentos e rentabilidade desses sistemas de produção é muito difícil em função da diversidade dos tipos de cultivos. Assim, será tratado, como exemplo, o que ocorre no Perímetro Irrigado de Curaçá, localizado no Município de Juazeiro, BA, representando a produção de melancia irrigada no Submédio do Vale do São Francisco com adoção de um bom grau tecnológico, relacionando-o ao praticado no Baixo Jaguaribe, CE.

Em 2007, Curaçá, dos perímetros irrigados no Submédio Vale do São Francisco, foi o que mais cultivou melancia, ocupando 466 hectares, representando 22,3% da sua área plantada.

 

Coeficientes técnicos

Na Tabela 1, são apresentadas as quantidades e valores de horas de trabalho de máquina e da mão-de-obra necessários ao cultivo de 1 hectare de melancia. Os parâmetros apresentados são baseados naqueles praticados por produtores no Submédio Vale do São Francisco, que adotam um bom grau de tecnologia e visam à comercialização da produção no mercado interno. O sistema abrange adubação, de acordo com análise de solo, cultivo de melancia de frutos grandes, cv. Crimson Sweet, espaçamento de 3 m x 0,60 m - densidade: 5.555 plantas/há -; uso de fertirrigação e comercialização da produção no mercado local, por meio de um atacadista. Entretanto, existem fatores que podem variar de uma região para outra, conforme o sistema de produção adotado pelo produtor e até conforme as condições climáticas e fitossanitárias de cada ano agrícola.

Nas Figuras 1 e 2, observa-se o percentual das diferentes etapas da produção de 1 hectare de melancia em dois sistemas de produção em área irrigada no Nordeste brasileiro. Os custos de produção das empresas situadas no Baixo Jaguaribe, CE, que operam com a utilização de alto nível tecnológico e alto custo administrativo - fertirrigação, híbridos, assistência técnica, etc. - determinam um aumento no custo de produção, mas que é parcialmente compensado com o incremento da produtividade. Apesar de os custos de produção serem obtidos em épocas diferentes, observando-se as Figuras 1 e 2, constata-se que os custos com aquisição de sementes, equipamentos de irrigação, fertilizantes e custos administrativos são superiores na produção de melancia no Baixo Jaguaribe, CE, comparativamente aos do Submédio Vale do São Francisco. Observa-se que as principais diferenças estão nos itens fertilizantes - 11% maior no CE -, defensivos - 17% maior na BA -, sementes - 7% maior no CE -, equipamentos de irrigação - 2% maior no CE - e nos custos administrativos - 4% maior no CE -, enquanto nas pequenas empresas da Bahia, os custos de gerenciamento muitas vezes não são computados, pois o mesmo é feito pelo próprio produtor e em outros custos, como juros de crédito e impostos - 4% maior no CE.

Tabela. 1. Coeficientes técnicos para o plantio de 1 ha de melancia irrigada - Perímetro Irrigado de Curaçá, Município de Juazeiro, BA.

Descrição

Especificação

Valor Unit.

Quantidade

Total

%

1- Insumos (*)




3.947,20

61,91

1.1. Fertilizantes




1.490,50

23,39

Calcário dolomítico

R$/tonelada

200,00

1,00

200,00

3,14

MAP

R$/kg

1,12

300,00

336,00

5,27

Uréia

R$/kg

1,80

200,00

360,00

5,65

Cloreto de potássio

R$/kg

1,93

250,00

482,50

7,57

Micronutrientes de solo

R$/Kg

2,80

40,00

112,00

1,76

1.2. Fitossanitários




1.990,70

31,22

Espalhante adesivo

R$/litro

6,30

1,00

6,30

0,10

1Fungicidas

R$/kg ou R$/litro

113,13


383,40

6,01

1inseticidas

R$/kg ou R$/litro

132,33


1.601,00

25,11

1.3. Outros




466,00

7,33

Análise de solo


36,00

1,00

36,00

0,56

Sementes de variedade

R$/Kg

150,00

1,00

150,00

2,35

Água (**)

R$/1000 m3

4,00

70,00

280,00

4,39

2 - Operações




2.039,00

31,98

2.1. Preparo do solo




549,00

8,61

Aração, gradagem, calagem, sulcamento

HM

68,00

8,00

544,00


8,53

Calagem

Homem-dia

20,00

0,25

5,00

0,08

2.2. Plantio




240,00

3,77

Abertura das covas

Homem-dia

20,00

5,00

100,00

1,57

Plantio e replantio

Homem-dia

20,00

2,00

40,00

0,63

Adubação

Homem-dia

20,00

5,00

100,00

1,57

2.3. Tratos culturais




890,00

13,96

Desbaste de plantas

Homem-dia

20,00

2,00

40,00

0,63

Capinas

Homem-dia

20,00

15,00

300,00

4,70

Adubação em cobertura

Homem-dia

20,00

5,00

100,00

1,57

Desbaste dos frutos

Homem-dia

20,00

10,00

200,00

3,14

Pulverização

Homem-dia

25,00

10,00

250,00

3,92

2.4. Irrigação




120,00

1,88

Irrigação

Homem-dia

20,00

6,00

120,00

1,88

2.5. Colheita/Classificação




240,00

3,76

Colheita/Classificação

Homem-dia

20,00

12,00

240,00

3,76

Subtotal Conta de Cultivo




5.986,20

93,89

3 - 2Custos de Administração




179,59


2,82

Gerenciamento/Adm


3,0%


179,59

2,82

4 - Outros Custos




210,00

3,29

4.1. Impostos/Taxas


30,00

0,47

4.2. Custo da Terra

R$/ha/mês

40,00

3,00

120,00

1,88

4.3. Depreciação do Sistema de Irrigação

R$/ha/mês

20,00

3,00

60,00

0,94

Custo Total (R$/ha)




6.375,79

100,00

Produtividade média/safra

35.000 kg/ha





5. Rentabilidade/SAFRA






5.1. Preços médios de dezembro/2009

CEASA/PE


0,42

R$/kg



CEASA/BA/EBAL S.A


0,45

R$/kg



Média do atacado


0,43

R$/kg


3Preço de mercado pago ao produtor

52,87% do atacado


0,23

R$/kg


Valor Bruto da Produção (R$/ha)

8.050,00


0,23

R$/kg


Despesa

6.375,79


0,18

R$/kg


Receita líquida

1.674,21


0,05



Rentabilidade

20,79%





Ponto de equilíbrio

0,18 R$/kg


27.723,5

Kg/ha


HM = Hora Máquina
Análise de rentabilidade (cv. Crimson Sweet; espaçamento: 3 m x 0,60 m; densidade: 5.555 plantas/ha; tipo de irrigação: gotejamento.
1Valores médios dos fungicidas/inseticidas, que variaram de R$ 22,00 a R$ 350,00 por quilograma ou litro. 2Apesar da maioria dos produtores do Submédio Vale do São Francisco utilizarem uma parte da mão-de-obra familiar e ter a administração própria, esses valores foram considerados na análise para facilitar a extrapolação dos dados.
3Valores médios praticados em 2009: atacado (CEASAS BA e PE)= R$ 0,43/kg e no Mercado do Produtor de Juazeiro-BA = R$ 0,23/kg .
(*) Insumos: Valores Médios. É necessário fazer análise de solo.
(**) Água: os custos com a água incluem as despesas com manutenção e energia elétrica.
Atualizado em Dezembro/2009 em Valores Nominais. Na ocasião, o dólar médio norte-americano estava cotado em R$ 1,74.

Fonte: Dados Embrapa Semiárido

 

Fonte: Adaptado da Secretaria de Agricultura do Estado do Ceará (2009).

Figura 1. Participação (%) das diferentes etapas da produção de um hectare de melancia no Baixo Jaguaribe,
CE, 2005.

 

Fonte: Dados Embrapa Semiárido..
Figura 2. Participação (%) das diferentes etapas da produção de um hectare de melancia no Perímetro
Irrigado de Curaçá, Juazeiro, BA, 2009.

 

Melancia: aumentar a produtividade para ter maior rentabilidade

Os custos de produção para os produtores de melancia no Submédio do Vale do São Francisco, que utilizam a irrigação localizada e se especializaram nesta olerácea, é de R$ 6.375,79/ha. Deste total, 94% correspondem às despesas de produção e cerca de 6% são com outros custos inerentes ao empreendimento agrícola irrigado — impostos, custo da terra, depreciação do sistema de irrigação e administração. No entanto, é muito comum que o próprio produtor seja também o administrador, não gaste com assistência técnica. Nesta região, é muito comum a melancia ser vendida a granel e acondicionada nos caminhões pelo comprador na propriedade.

Por exemplo, no sistema de produção especificado na Tabela 1, em 2009, o preço médio da comercialização no atacado praticado nas Ceasas da Bahia e Pernambuco foi de R$ 0,43/kg e no Mercado do Produtor de Juazeiro, BA, R$ 0,23/kg. Considerando uma produtividade média de 35 t/ha, a receita bruta média obtida com a comercialização da produção no Mercado do Produtor de Juazeiro, BA correspondeu a R$ 8.050,00. Nesse mesmo ano, o custo de produção no referido perímetro foi de R$ 6.375,79/há, a receita líquida de R$ 1.674,21/ha e uma rentabilidade de 20,79%. Considerando que a receita líquida é baixa, R$ 0,05/kg, faz-se necessário aperfeiçoar o Sistema de Produção de Melancia para se obter incremento na produtividade e conseguir a sustentabilidade do agronegócio. Produtividades inferiores a 27,7 t/ha, em condições irrigadas do Submédio do Vale do São Francisco, não cobrem os custos totais do cultivo de melancia. Assim, o aumento do rendimento deverá ser o alvo dos produtores, especialmente, os da produção familiar, pois o seu cultivo é relativamente mais simples que outras oleráceas, com custo de produção mais acessível quando comparado, por exemplo, à cebola, tomate e melão.

A rentabilidade no Baixo Jaguaribe e no Submédio do Vale do São Francisco foram, respectivamente, 11,5% e 20,79%. Provavelmente, a utilização da mão-de-obra familiar e os menores custos com equipamentos de irrigação determinam uma redução no custo total da produção. A maior utilização da fertirrigação e o incremento da densidade de plantio, 5.555 plantas/há, têm proporcionado um aumento no rendimento médio e rentabilidade da melancia no Submédio Vale do São Francisco.

 
Embrapa. Todos os direitos reservados, conforme Lei n° 9.610.
Topo da página