Embrapa Semiárido
Sistemas de Produção, 6
ISSN 1807-0027 Versão Eletrônica
Ago/2010
Sistema de Produção de Melancia

José Adalberto de Alencar
Rita de Cássia Souza Dias

Sumário

Apresentação
Socioeconomia
Clima
Solos
Adubação
Cultivares
Produção de mudas
Plantio
Irrigação
Tratos culturais
Plantas daninhas
Doenças
Pragas
Agrotóxicos
Colheita e pós-colheita
Mercado
Custos e rentabilidade
Referências
Literatura recomendada
Glossário

Expediente

Pragas

Mosca-branca
Brocas-das-cucurbitáceas
Pulgão
Moscas minadoras
Tripes
Pragas secundárias

O cultivo de melancia no Nordeste brasileiro representa uma importante Foto de renda para os agricultores, principalmente para produtores de menor poder aquisitivo, seja em cultivo irrigado ou dependente de chuva. Todavia, são vários os fatores que limitam a produtividade dessa cucurbitácea, dentre os quais se destaca os danos ocasionados pelas pragas.

A seguir, serão apresentadas as principais pragas que ocorrem na cultura da melancia no Brasil e as sugestões de alternativas de controle.

Tratando-se de controle de pragas, em especial considerando-se este dentro do contexto de manejo integrado de pragas (MIP), tem-se como um dos primeiros passos a ser adotado o processo de amostragem das espécies de artrópodes em questão. No entanto, para o cultivo da melancia as informações não existem ou são muito escassas quanto a esse processo. Considerando-se que a planta de melancia pertence à mesma família do melão; apresenta grande similaridade na forma de cultivo e, principalmente, por apresentar praticamente as mesmas espécies de pragas que ocorrem na cultura do meloeiro, sugere-se um planejamento de amostragem tomando-se como referência essa última cultura, haja vista que já existe um programa de manejo integrado definido.

A frequência de amostragem na cultura deve ser planejada de forma sistemática, proporcionando ao agricultor detectar a presença da praga logo no início da sua ocorrência, facilitando assim o controle da mesma com a aplicação das táticas de controle recomendadas.

A amostragem deve ser efetuada com intervalo máximo de uma semana, tomando-se 20 pontos para uma área de até 2,5 hectare. O caminhamento deve ser em ziguezague, percorrendo-se uniformemente toda área a ser amostrada.

Mosca-branca Bemisia tabaci, biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae)

Este inseto apresenta alto potencial biótico, elevada capacidade de adaptar-se a novos hospedeiros e a diferentes condições climáticas, além de possuir grande capacidade para desenvolver resistência aos inseticidas. Estes fatores fazem com que seu controle se torne muito difícil.

Os fatores climáticos são condicionantes para o desenvolvimento da mosca-branca. Altas temperaturas e baixa umidade relativa do ar favorecem seu desenvolvimento. Estas condições são muito peculiares ao Semiárido do Nordeste brasileiro.

A disseminação da praga ocorre mais frequentemente pelo transporte de partes vegetais de plantas infestadas de um local para outro. Na fase jovem, a mosca-branca apresenta quatro estágios ninfais, sendo o primeiro com reduzida mobilidade e os demais estágios imóveis, permanecendo fixos na superfície da folha .

O adulto da mosca-branca apresenta elevada mobilidade, sendo capaz de dispersar-se para longas distâncias através do voo.

Danos

A mosca-branca pode ocasionar danos diretos e indiretos na cultura da melancia. Os danos diretos são causados pela sucção da seiva da planta e inoculação de toxinas pelo inseto, provocando alterações no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo da planta, comprometendo dessa forma a produtividade da cultura. Em ataques severos, pode ser observado o amarelecimento das folhas mais velhas enquanto em plantas jovens ocorre o secamento das folhas e, dependendo da intensidade da infestação, até mesmo morte da plantas. O dano indireto dar-se-á pela excreção de parte do alimento ingerido pelo inseto e excretado na forma de um líquido açucarado, que serve como meio de crescimento para o fungo saprófita de coloração escura — fumagina —, que recobre as partes vegetais interferindo no processo fotossintético da planta.

Controle

O manejo deve ser baseado em medidas preventivas e curativas. As medidas preventivas visam dificultar ou retardar a entrada do inseto na área, bem como eliminar as suas Fotos de abrigo, de alimento e de reprodução. Medidas que favoreçam o equilíbrio biológico no agrecossistema, também, devem ser consideradas antes e após a implantação da cultura.

As principais medidas preventivas para o controle ou convivência com a mosca-branca são: a) fazer plantios isolados; b) eliminar Fotos de inóculo como maxixe, abóbora ou ervas daninhas hospedeiras da praga que estejam ao redor da área a ser plantada; c) iniciar o preparo do solo, mantendo a área limpa, pelo menos 30 dias antes do plantio; d) rotação de culturas com plantas não hospedeiras; e) após o plantio, manter a área isenta de plantas hospedeiras da praga, no interior e ao redor da cultura; f) não permitir cultivos abandonados nas proximidades da área cultivada; g) eliminar os restos culturais imediatamente após a colheita.

Como medida curativa, pode-se adotar o controle químico, porém considerando-se o uso das substâncias químicas dentro de um programa de manejo integrado de pragas (MIP), pois, o uso exclusivo, não criterioso e contínuo de inseticidas não é a solução permanente para o controle da mosca-branca. Os produtos a serem utilizados no controle químico devem ser aqueles registrados no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a cultura do melancia (Tabela 1), respeitando-se as doses indicadas e o período de carência de cada produto.

Amostragem

O processo de amostragem deve ser realizado de preferência em horário com temperatura do dia mais amena, geralmente de 6h às 9h. A amostragem deve ser realizada tomando-se 20 pontos por talhão de até 2,5 hectares. Para o adulto, amostrar uma folha do quarto nó, a partir do ápice do ramo, observando-se, a parte inferior da folha.

Nível de controle

Sugere-se que seja de oito insetos adultos, em média.


Brocas-das-cucurbitáceas – Diaphania nitidalis e Diaphania hyalinata (Lepidoptera: Pyralidae)

As lagartas podem atingir até 20 mm de comprimento. Contudo, essas duas espécies diferem quanto à coloração dos adultos. D. nitidalis tem coloração marrom-violácea, com as asas apresentando uma área central amarelada semitransparente e as bordas marrons-violáceos (Figura 1), enquanto D. hyalinata tem asas com áreas semitransparentes, brancas e a faixa escura das bordas retilínea (Figura 2).

Foto: Diniz da C. Alves.
Figura 1. Diaphania nitidalis.

 

Foto: Diniz da C. Alves.
Figura 2. Diaphania hyalinata.

A postura é feita nas folhas, ramos, flores e frutos. O período larval é de aproximadamente 10 dias. O ciclo evolutivo completo é de 25 a 30 dias.

Danos

As lagartas atacam folhas, brotos, ramos, flores e frutos. Quando o ataque é severo observa-se, na polpa dos frutos, abertura de galerias tornando-os inviáveis à comercialização. A espécie D. nitidalis ataca os frutos em qualquer idade, enquanto D. hyalinata ataca preferencialmente as folhas, causando desfolha total da planta, quando em altas populações.

Controle

O controle das brocas-das-cucurbitáceas é efetuado, basicamente, com uso de inseticidas. A ação desses agroquímicos no controle de D. nitidalis é dificultada, pela preferência das lagartas pelas flores e frutos, onde penetram rapidamente. As lagartas de D. hyalinata são controladas mais facilmente, pelo fato de terem preferência pelas folhas. Vários princípios ativos são registrados pelo MAPA (Tabela 1).

Na presença de lagartas nos primeiros estágios de desenvolvimento, a pulverização com Bacillus thuringiensis pode apresentar elevada eficiência sem acarretar impacto negativo sobre os inimigos naturais sem deixar resíduos nos frutos.

Amostragem

Avaliar 20 pontos em ziguezague, em uma área de até 2,5 hectares, com cada ponto correspondendo a uma planta.

Nível de controle

Sugere-se que seja de 3 lagartas por planta, em média.

Pulgão – Aphis gossypii (Hemiptera: Aphididae)

Este inseto apresenta um potencial biótico muito elevado, formando colônias em brotações e folhas novas da planta (Figura 3). Porém, na escassez de alimento, há o aparecimento de formas aladas que migram para outras plantas em busca de alimento e formação de novas colônias.

Foto: Rita de Cássia S. Dias.
Figura 3. Colônia de adultos e ninfas de
pulgão.

Danos

O pulgão ataca a planta de melancia durante todo o ciclo de desenvolvimento sugando uma grande quantidade de seiva das brotações e folhas novas da planta, causando o encarquilhamento e enrolamento das folhas e gemas apicais, e ainda reduzindo a capacidade fotossintética da planta. Em elevadas infestações, os danos diretos dessa praga podem levar a planta a morte (Figura 4). Como dano indireto, relata-se como de muita importância a transmissão, pelo pulgão, do vírus do mosaico-das-cucurbitáceas, pois para contaminação da planta é relatado que apenas a picada de um inseto contaminado pelo vírus é o suficiente para que a planta seja infectada e passe a apresentar os sintomas de virose .

Foto: Rita de Cássia S. Dias.
Figura 4. Encarquilhamento de folhas da
melancia pelo ataque severo de pulgão.

Amostragem

Avaliar em cada ponto, no total de 20, em uma área de até 2,5 hectares uma folha do terceiro nó a partir do ápice do ramo.

Nível de controle

Sugere-se que seja de 10 insetos, em média. Todavia, quando são encontradas plantas com sintomas de virose ou presença da praga na área, deve-se fazer o controle.

Controle

A aplicação de inseticidas para o controle do pulgão requer alguns cuidados e precauções, pois, esse inseto é presa, ou hospedeiro preferencial para alguns inimigos naturais. Além disso, deve-se tomar cuidado com o horário de aplicação, que não deve coincidir com o horário de visita dos insetos polinizadores. Dentro do controle químico, recomenda-se efetuar o tratamento preventivo das sementes com princípio ativo específico. Os produtos registrados pelo MAPA para o controle de pulgão encontram-se na Tabela 1.

A eliminação de ervas daninhas hospedeiras do pulgão é uma importante medida de controle cultural. No polo Petrolina, PE/Juazeiro, BA, constatou-se como ervas daninhas hospedeiras de A. gossypii: beldroega (Portulaca oleracea L.), bredo (Amaranthus spinosus L.), pega pinto (Boerhaavia diffusa L.) e malva branca (Sida cordifolia L.).

Outras medidas alternativas de controle são citadas como auxiliares na redução populacional da praga, tais como: a) culturas atrativas aos inimigos naturais, como o sorgo, que é uma das Fotos de desenvolvimento para a fauna benéfica; b) manutenção da vegetação nativa entre os talhões para preservar a fauna e a flora benéfica e, c) eliminação de plantas atacadas pelo vírus-do-mosaico a fim de reduzir as Fotos de inóculo dentro do cultivo.

Moscas minadoras – Liriomyza sativae e Liriomyza huidobrensis (Diptera: Agromyzidae)

Os adultos da mosca-minadora são insetos pequenos, com aproximadamente 2 mm de comprimento, coloração preta, com manchas amarelo-claras na cabeça e na região entre as asas. A larva da espécie L. sativae tem coloração amarelo-intensa, ao passo que a de L. huidobrensis tem coloração branco-creme e é mais robusta.

O período chuvoso é o mais favorável a essa praga. Todavia, tem-se verificado nos últimos anos, elevados surtos populacionais da mosca minadora, L. sativae, em cucurbitáceas em períodos secos e de temperaturas elevadas em regiões semiáridas do Nordeste brasileiro.

Danos

A fase larval é a que causa prejuízos, pois, o inseto abre galerias em formato de ziguezague nas folhas, formando lesões esbranquiçadas. As galerias aumentam de tamanho à medida que as larvas crescem. Um número elevado de minas nas folhas pode causar a seca das mesmas e resultar na queima dos frutos pela exposição aos raios solares.

Controle cultural

Recomenda-se a destruição dos restos culturais e a não implantação do cultivo de melancia próximo de espécies hospedeiras da mosca-minadora, tais como, feijão, ervilha, fava, batatinha, tomateiro, berinjela, pimentão, entre outras.

Amostragem

Avaliar a folha mais desenvolvida do ramo em 20 pontos amostrados em uma área de até 2,5 hectares.

Nível de controle

Sugere-se que seja de cinco larvas vivas, em média.

Tripes Thrips tabaci (Thysanoptera: Thripidae)

Os tripes são insetos com 0,5 mm a 5,0 mm de comprimento, podendo apresentar formas aladas ou ápteras. Os adultos são de coloração escura e as ninfas — formas jovens — são inicialmente de cor branca e, posteriormente, amareladas.

Este inseto tem o hábito de se localizar nas partes mais tenras da planta, sendo comumente encontrado na face inferior das folhas, em flores, nas hastes e gemas apicais. Alta temperatura e baixa umidade do ar são condições climáticas muito favoráveis à ocorrência de altas infestações da praga.

Danos

Com a sucção contínua de seiva, a planta de melancia sob alta infestação de tripes apresenta áreas totalmente necrosadas e prateadas, tendo a sua capacidade fotossintética reduzida e a presença de brotos retorcidos e folhas encarquilhadas, as quais tornam-se coriácias e quebradiças, caindo logo em seguida.

Controle

Como medida preventiva recomenda-se o tratamento de sementes através de inseticidas sistêmicos, recomendados para a cultura da melancia (Tabela 1). Pesquisas demonstraram que o tratamento de sementes conferiu proteção à planta de melancia contra insetos sugadores como tripes e pulgão por um período de 20 a 30 dias, sem haver necessidade de aplicação de outro inseticida.

Como controle cultural, recomenda-se a eliminação de plantas hospedeiras da praga dentro e nas proximidades do plantio, tais como bredo, maxixe, entre outras. A destruição dos restos culturais após a colheita é uma tática de controle que evita a presença de focos do tripes em novos plantios.

Pragas secundárias

Além das pragas anteriormente citadas, outras espécies de artrópodes são encontradas associadas à cultura da melancia, porém, proporcionando danos em menor escala, isto é, espécies que podem ser consideradas como de importância secundária. Dentre estas, destaca-se a ocorrência da lagarta-rosca, Agrotis ipsilon (Lepidoptera: Noctuidae), que efetua o corte das plantas jovens na altura do colo, tendo como consequência a redução do estande; a vaquinha, Diabrotica speciosa (Coleoptera: Chrysomelidae), cujas larvas se alimentam das raízes e os adultos das folhas e flores, principalmente de folhas novas, reduzindo a capacidade fotossintética e o desenvolvimento das plantas, e o ácaro-rajado, Tetranychus urticae (Acari:Tetranychidae), cujos sintomas do ataque são observados pela torção nas folhas novas e pontuações cloróticas nas folhas desenvolvidas, que posteriormente caem.

O tratamento de sementes antes do plantio é uma tática de controle que apresenta boa resposta contra o ataque de lagarta-rosca e vaquinha na cultura da melancia.

Tabela1. Lista de inseticidas e acaricidas registrados pelo MAPA para pragas da melancia.

Praga alvo

Grupos químico /

Princípio ativo

Dose

Carência

(dias)

Mosca-branca

Neonicotinoide / Imidacloprido

200-300g/ha

40


Neonicotinoide / Tiametoxan

60-120g/ha

14


Neonicotinoide / Triacloprido

200ml/ha

21


Neonicotinoide / Acetamiprido

250-300g/ha

3


Éter piridiloxipropílico / Piriproxifem

75-100ml/100 L água

3


Feniltioureia / Diafentiurom

800g/ha

7

Mosca-minadora

Biológico / Bacillus thurigiensis

100g/100 L água

1


Avermectina / Abamectina

50 -100ml/100 L água

7


Triazinamina / Ciromazina

120g/ha

7


Espinosinas / Espinosade

150-200ml/ha

1


Piretróide / Deltametrina

30ml/100 L água

2


Bis (tiocarbamato) /

Cloridrato de cartap

1-1,5kg/ha

3


Organofosforado / Triclorfom

300ml/100 L água

7


Organofosforado / Malationa

200-400ml/100 L água

3


Organofosforado / Fentiona

100ml/100 L água

21

Broca-das-cucurbitáceas

Biológico / Bacillus thurigiensis

100g/100 L água

1

Tripes

Metil carbanato de fenila / Cloridrato de formetanato

125g/100 L água

7


Neonicotinoide / Imidacloprido

200-300g/ha

40

Pulgão

Neonicotinoide / Acetamiprido

250-300g/ha

3


Neonicotinoide / Imidacloprido

200-300g/ha

40


Neonicotinoide / Tiametoxan

60-120g/ha

14


Bis (tiocarbamato) /

Cloridrato de cartap

1-1,5kg/ha

3


Piretróide e organofosforado / Cipermetrina e profenofós

100ml/100 L água

4


Organofosforado / Fentiona

100ml/100 L água

21


Organofosforado / Malationa

200-400ml/100 L água

3


Feniltioureia / Diafentiurom

800g/ha

7

Vaquinhas

Organofosforado / Malationa

200-400ml/100 L água

3


Organofosforado / Fentiona

100ml/100 L água

21

Ácaro

Avermectina / Abamectina

50 -100ml/100 L água

7


Feniltioureia / Diafentiurom

800g/ha

7

Fonte: AGROFIT (2009).


 

 

 
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