|                         Taxonomia,
            características botânicas e morfológicas Aspectos
            morfológicos Composição
            nutricional e usos Geografia
            da produção Distribuição
                  geográfica da produção de melancia no
            Brasil A melancia Citrullus lanatus
			    (Thunb.) Matsum & Nakai] pertence à família Cucurbitaceae, é cultivada
			    em todo o mundo, sendo considerada cosmopolita. Tem uma expressiva
			    importância
			    no agronegócio brasileiro, sendo cultivada sob irrigação
			    e em condições de sequeiro. Diferentemente do cultivo irrigado,
			    que pode ocorrer durante o ano todo e se utiliza cultivares comercias,
			    a produção em regime de sequeiro, aonde se utiliza os tipos
			    locais apenas uma vez por ano, durante o período chuvoso, apresentam
			    grande variabilidade quanto às características de aparência
			    externa, cor da polpa, teor de açúcar, conservação
			    pós-colheita, entre outras. O valor bruto da produção de melancia no Brasil, em 2006,
			  foi em torno de R$ 533 milhões, considerando uma safra de 1.946.912
			  toneladas, em aproximadamente 93.000 hectares cultivados, bem como se subtraindo
			  em 30% com perdas que ocorrem por diversas causas em produtos hortifrutícolas,
			  e um preço médio nacional de R$ 0,27 por quilograma; sendo
			  R$ 15,67 milhões obtidos com as exportações.
 A atividade produtiva de melancia no Brasil apresenta um perfil predominante
pela produção familiar por sua rusticidade, pelo menor investimento
de capital e retorno em torno de 85 dias em relação às outras
oleráceas.
 
              
                | Taxonomia,
                características botânicas e morfológicas |  |  A cultura da melancia
                era conhecida dos egípcios há cerca de 2.000 anos
                a.C., e por causa da diversidade de formas silvestres, atualmente, é mais
                aceito que o gênero Citrullus tenha origem na África.
                Foi introduzida no continente americano pelos escravos e colonizadores
                europeus no século 16. A espécie se difundiu pelo
                mundo inteiro e é cultivada nas regiões tropicais
                e subtropicais do planeta. A variabilidade genética trazida
                do continente africano aliado ao processo de manejo da cultura
                na agricultura tradicional da região, tornou o Nordeste
                brasileiro um centro secundário de diversificação
                da melancia. O gênero Citrullus é classificado como parte da divisão
              Magnoliophyta, da classe Magnoliopsida, da subclasse Dilleniidae,
              da ordem Violales e da família Cucurbitaceae. No gênero
              Citrullus estão incluídas quatro espécies:
              Citrullus lanatus, C. colocynthis, C. ecirrhosus e C. rehmii.
 A espécie Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum e Nakai, inclui
              a melancia cultivada para consumo humano Citrullus lanatus, de
              ampla distribuição mundial, e Citrullus lanatus var.
              citroides, uma forma silvestre encontrada no sul da África
              e cultivada em outras partes do mundo, principalmente para a alimentação
            animal.
 A melancia é uma
                planta anual, herbácea, de hábito de crescimento
                rasteiro, com ramificações sarmentosas e pubescentes
                (Figura 1). O caule é constituído de ramos primários
                e secundários, que podem assumir disposição
                radial — ramos de tamanho similar, partindo da base da
                planta — ou axial — um ramo mais longo com derivações
                opostas e alternadas a cada nó. Os ramos primários
                são vigorosos e longos, podendo superar a 10 m nas raças
                crioulas. No entanto, em variedades comerciais, geralmente, o
                comprimento do ramo principal é menor que 4 m. As folhas
                têm disposição alternada e, geralmente, apresentam
                limbo com contorno triangular, recortado em três ou quatro
                pares de lóbulos, de 15-20 cm de comprimento e de margens
                arredondadas. Possuem gavinhas — folhas modificadas — que
                auxiliam na fixação da planta ao solo. A partir
                de cada nó se origina uma folha e uma gavinha, sendo que
                a partir do terceiro, cada nó também dá origem
                a flores. O sistema radicular é pivotante e mais desenvolvido
                no sentido horizontal, concentrando-se até 30 cm abaixo
                da superfície do solo. Sob condições de
                umidade excessiva do solo ou morte de parte do sistema radicular,
                os nós também podem originar raízes adventícias. 
              
                | Foto:
                Rita de C. S. Dias. |  
                |  |  
                | Figura
                      1.Ramificações sarmentosas e pubescentes
                    em uma variedade crioula de melancia. |   Quanto à biologia reprodutiva, a melancia é monoica — flores
    masculinas e femininas separadas —, mas também ocorrem plantas andromonoicas
    (flores masculinas e hermafroditas) ou ginandromonoicas — flores masculinas,
    femininas e hermafroditas (Figura 2). No ápice da floração,
    normalmente, na segunda semana após o início da abertura das flores,
    há cerca de três a cinco flores masculinas para cada flor feminina.
    Estas e as hermafroditas possuem ovário súpero em formato similar
    a forma final do fruto.  
              
                | Foto:
                Rita de C. S. Dias. |  
                |  |  
                | Figura
                      2. Flores de melancia masculinas (A), feminina
                      (B) e hermafrodita (C). Aspectos gerais de folhas e flores
                      de melancia: disposição alternada e limbo
                      com contorno triangular, recortado em três ou quatro
                      pares de lóbulos, com margens arredondadas: a) flores
                    masculinas; b) femininas; c) hermafroditas. |    Durante a floração, as flores abrem entre 1 e 2 horas após
  o aparecimento do sol e se fecham no mesmo dia à tarde, para não
  mais abrirem, tendo ou não ocorrido a polinização. O pólen
  da melancia é pegajoso e as abelhas são os principais polinizadores.
  Elas são atraídas pelo néctar e pólen, e, ao visitarem
  as flores realizam polinização. O vento não é suficiente
  para transportar o pólen entre as flores. Sem o estímulo propiciado
  pela polinização, o fruto não se desenvolve. É necessário
  que pelo menos 1.000 grãos de pólen sejam depositados sobre o
  estigma para que se desenvolva um fruto perfeito. O fruto é uma baga indeiscente que varia quanto ao formato, ao tamanho,
  cor, espessura da casca, cor da polpa, cor e tamanho de sementes. As variedades
  de melancia cultivadas possuem frutos de diversos tamanhos — 1 kg a mais
  de 30 kg —, formas — circular, elíptica - larga e alongada —,
  cores da superfície externa — verde cana, verde-claro, verde-escuro,
  amarelo, com ou sem listras — e interna —vermelho, rosa, amarelo
  e branco — e inúmeros sabores.
 A polpa é formada de tecido placental, que é a principal parte
  comestível do fruto. Este tecido tem a coloração vermelha
  por causa da presença de licopeno ou amarelada em consequência da
  presença de carotenos e xantofilas. Frutos de materiais silvestres possuem
  amargor acentuado da polpa — “flesh bitterness” — que é atribuído à presença
  de cucurbitacina, um triterpenoide tetracíclico oxigenado, que é raro
  nas atuais variedades cultivadas. A polpa da melancia quanto à textura é classificada
  em macia ou firme — ou crocante. As cultivares de polpa macia são
  muito apreciadas no mercado nacional. Entretanto, para o mercado de exportação,
  a preferência é por cultivares de polpa firme — muito observado
  nas cultivares triploides ou sem sementes.
 As sementes são variadas na cor do tegumento — branca, creme, verde,
  vermelha, marrom-avermelhada, marrom e preta —, com presença ou
  ausência de manchas — cor secundária do tegumento —,
  tamanho variando de muito pequeno a muito grande. As cultivares Charleston Gray
  e Fairfax apresentam sementes que medem cerca de 1,3 cm de comprimento, enquanto
  que cv. Kodama apresenta sementes com cerca de 0,4 cm. A melancia, de forma geral,
  apresenta cerca de 200 a 800 sementes por fruto, que ficam embebidas na polpa.
  As cultivares triploides não apresentam sementes perfeitas ou apresentam
  um número reduzido, variando de 1 a 10, mas apenas rudimentos de sementes — “sementes
  brancas” —, que são comestíveis.
 
              
                | Composição
                nutricional e usos |  |  Apesar de o uso
                      predominante da melancia é o consumo do fruto in
                      natura, na China e em outras regiões do Meio Oriente
                      também
                      se cultiva para consumir as sementes. A melancia, além
                      de conter quantidades abundantes de antioxidante licopeno, é uma
                      Foto excelente do aminoácido citrulina que estão
                      facilmente disponíveis. O corpo humano usa a citrulina
                      para produzir outro aminoácido importante, arginina,
                      que tem um papel importante na divisão das células,
                      para cicatrizar ferimentos e na eliminação
                      de amônia
                  do corpo.                A melancia é Foto de pró-vitamina A e das vitaminas
                      C e do complexo B, além de sais minerais como cálcio,
                      fósforo e ferro. Por ser muito hidratante — 90% de
                      seu volume é água — e diurética, elimina
                      resíduos do aparelho digestivo e funciona como laxante.
                      Nas melancias de polpa vermelha, assumem importância o potássio,
                      o magnésio, o fósforo e o cálcio, estando
                      os demais elementos como sódio, manganês, zinco, cobre
                      e ferro presentes em menor quantidade. Vale ressaltar que, por
                      ter baixo valor calórico, a melancia pode ser especialmente
                    recomendada para dietas de baixo valor energético.                As cucurbitáceas, principalmente a melancia, desempenham
                      um importante papel na alimentação humana, especialmente
                      nas regiões tropicais, onde o consumo é elevado.
                      Ela é consumida quase exclusivamente in natura, mas, também,
                      na forma de sucos, geleias, doces, molhos e em saladas. Em alguns
                      países, se preparam picles com a casca dos frutos e, na
                      China e em diversas regiões da Ásia e no Oriente
                      Médio, se consomem também as sementes. As sementes
                      das cucurbitáceas são consumidas em diversos países — C.
                      pepo, no México e melancia, na China — e são
                      ricas em gordura, proteína, tiamina, niacina, cálcio,
                      fósforo, ferro e magnésio. Na Índia, faz-se
                      pão de farinha de semente de melancia. Nas regiões áridas
                      da África, são utilizadas como Foto de água
                      desde tempos imemoriais. Na Rússia Meridional, uma cerveja
                      tem suco de melancia como ingrediente. Outro uso é fazer
                      doce com a parte branca, preparado da mesma forma que o doce de
                      mamão verde.                     Como uso medicinal, o consumo habitual ou periódico da melancia é muito
                      importante para a saúde, em vários aspectos: 
                      Seu
                              suco, feito da polpa, ajuda a eliminar o ácido úrico,
                                  substância química que se acumula no organismo e que
                                  causa a gota, mais conhecida como reumatismo gotoso, responsável
                                  pela formação de cálculos renais — calcificação
                                  em forma de pedras nos rins. Atua, também, na limpeza do
                                  estômago e dos intestinos; é benéfico no controle
                                  da pressão alta. O uso do chá das sementes da melancia,
                                  secas e trituradas, também auxilia no tratamento da pressão
                              alta.É 
                      eficaz nos tratamentos de acidez estomacal, mais conhecida como
                                    queima ou azia; da inflamação das vias urinárias;
                                dos gases e dores intestinais e da bronquite crônica.É 
                      recomendada no tratamento da erisipela — inflamação
                                      aguda da pele —, quando o suco da casca e da polpa
                                      da melancia for aplicado sobre a parte afetada, em forma
                                  de cataplasma.                        A melancia possui atividade antioxidante
                                        e anticancerígena — protege
                                        contra câncer de útero, próstata, seio, cólon,
                      reto e pulmão. A melancia, além de saciar a sede e hidratar, é pobre
                em calorias e pode auxiliar no emagrecimento. Segundo os naturopatas,
                deve ser consumida isoladamente. As suas fibras agem na regulação
                do trânsito intestinal, além de auxiliar o organismo
                a eliminar toxinas — desintoxicante —, colaborando
              para a redução do colesterol. A melancia é uma
                cucurbitácea cultivada em quase todas as regiões
                tropicais, subtropicais e temperadas do mundo. A produção
                e a área cultivada, em termos mundiais, desta olerácea
                têm seguido uma tendência crescente no período
                de 1997 a 2004, com um incremento de 38,5% na área plantada
                e em 61,6% na produção. Aproximadamente 80% da
                produção mundial de melancia está concentrada
                em dez países. A China ocupa a liderança, seguida
                pela Turquia, Rússia, Irã e Brasil.Os maiores rendimentos no cultivo de melancia foram obtidos pela
              Espanha, Coreia do Sul, Marrocos e Estados Unidos, variando de
              44 t/ha a 31 t/ha. A produtividade do Brasil, mesmo considerando
              os dados do IBGE (2006), aproximadamente 21 t/ha, corresponde ao
              menor rendimento do grupo de países que lideram a produção
              de melancia. No entanto, em 2006, já apresentou a quarta
              maior área colhida (Tabela 1), o que reflete no volume total
            de hortaliças produzidas no Brasil.
 
              
                | Tabela
                    1. Área colhida (ha), rendimento (kg/ha) e produção
                (t) nos principais países 
                produtores em 2006.
 |  
                | 
                  
                  
                  
                    
                      | Países | Área
                              colhida(ha)
 | Rendimentokg/ha
 | Produção(t)
 |  
                      | China | 2.314.000
 | 30.777,9
                         | 71.220.000 |  
                      | Turquia | 137.000
 | 27.776,0
 
 | 3.805.306
 |  
                      | Irã | 131.455
 | 24.794,9
 | 3.259.411 |  
                      | Estados
                            Unidos | 55.200
 | 31.139,9
 | 1.718.920 |  
                      | *Brasil | 180.641
 | 218.664,6
 | 31.505.133
   |  
                      | Egito | 62.000
 | 24.193,5
 | 1.500.000 |  
                      | México 
 | 42.867
 | 22.612,5
 | 969.332
 |  
                      | Coréia
                          do Sul 
 | 20.553
 | 37.871,5
 | 778.374 |  
                      | Espanha 
 | 16.200
 | 44.290,1
 | 717.500
 |  
                      | Marrocos 
 | 18.835
 | 37.811,8
 | 712.185 |  
                      | Outros | 906.724
 | -
 | 14.416.232
 |  
                      | Total | 3.785.475 | 26.575,9 | 100.602.393 |  |  
                | * 1 92.996
                      ha; 2 20.935 kg/ha; 3 1.946.912 t.                    Fonte:
                        FAOSTAT (2007) e IBGE (2006).
 |    
              
                | Distribuição
                        geográfica da produção de melancia
                no Brasil |  |  A melancia está entre as cinco mais importantes olerícolas
              cultivadas no Brasil. Sua área plantada em 2006 foi em torno
              de 93.000 ha e sua produção correspondeu a 1.946.912
              toneladas. Ela está entre as principais cucurbitáceas
              cultivadas no Brasil apresentando, no período de 1996 a
              2006, produtividades médias de 32 t/ha a 6 t/ha (Figura
              3). Em 2006, destacaram-se com as mais elevadas produções
              os seguintes estados: Rio Grande do Sul, Bahia, Goiás, São
              Paulo, Tocantins, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Pará,
              sendo as regiões Sul e Nordeste, responsáveis por
              34,8% e 28,8%, respectivamente, da produção nacional.
              O Nordeste brasileiro, historicamente, foi o maior produtor de
              melancia, mas a partir de 2001, a produção do Sul
              do Brasil obtém a dianteira (Figura 3). Um aspecto que contribuiu
              para isso, provavelmente foi o contínuo incremento na produtividade
            observado nesta região (Figura 4). 
              
              
                |  |  
                | Figura 
                      3. Produção (t) de melancia nas
                      cinco regiões do Brasil de acordo com dados do IBGE,
                      no período de 1996 a 2006. |   As regiões produtoras de melancia no Brasil
              guardam relação direta com a forma de cultivo: irrigado
              ou de sequeiro. Diferentemente do cultivo irrigado, a produção
              em regime de sequeiro, não utiliza insumos agrícolas,
              como adubos e defensivos químicos. O cultivo irrigado, apesar
              do diferencial positivo de ter disponibilidade de água todo
              o ano e ser possível a escolha da época do plantio
              e o controle da irrigação em função do
              ciclo da cultura, muitas vezes, apresentam áreas vizinhas
              cultivadas em diferentes fases — área plantadas recentemente
              a outra que já foi efetuada a colheita —, o que representa
              condições favoráveis para o desenvolvimento
              de pragas e doenças; isso também repercute no rendimento
              da melancia. Deve-se considerar, também, que as cultivares
              e os híbridos de melancia disponíveis no mercado brasileiro
              são, na sua maioria, de origem americana e suscetíveis às
              principais doenças e pragas. Entre as cultivares a mais plantada é a ‘Crimson
              Sweet’ e tipos parecidos, respondendo praticamente por todo
            o fornecimento ao mercado consumidor.  
              
                |  |  
                | Figura 
                      4 - Rendimento (kg/ha) da melancia obtido nas
                      cinco regiões brasileiras de acordo com dados do
                      IBGE, no período de 1996 a 2006. |  |