Embrapa Hortaliças
Sistema de Produção, 1
ISSN ___ Versão Eletrônica
Jan/2003
Cultivo de tomate para industrialização
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Irrigação

Importância econômica
Composição nutricional
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Adubação
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Irrigação
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Colheita e pós-colheita
Processamento
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Expediente

Da semeadura à emergência das plântulas, as irrigações devem ser leves e freqüentes, de modo a manter os primeiros 10 cm do solo sempre umedecidos. Nesta fase, o turno de rega deve ser de 1 a 2 dias, dependendo do tipo de solo e das condições climáticas. Em solos arenosos e/ou em regiões de temperatura elevada e de baixa umidade relativa do ar, o turno de rega deve ser diário. Irrigações freqüentes também são recomendadas por ocasião do transplante. Neste caso, deve-se irrigar preferencialmente pela manhã, quando a temperatura é mais amena e as plantas estão geralmente túrgidas.

Dependendo do tipo de solo e do clima da região, as irrigações devem ser paralisadas 20 a 30 dias antes do inicio da colheita, quando as plantas apresentarem cerca de 20% de frutos maduros. Esta medida visa concentrar a maturação de frutos e aumentar a concentração de sólidos solúveis. Entretanto, em termos de produção de frutos, maiores produtividades podem ser obtidas irrigando-se até a ocasião em que cerca de 50% dos frutos estiverem maduros.

Dentre os vários critérios existentes para o manejo da irrigação, nenhum pode ser considerado como padrão e indicado para todas as situações. Métodos clássicos que permitem um controle bastante criterioso da irrigação, como o do balanço hídrico e da tensão de água no solo, baseiam-se no conhecimento das características fisico-hídricas do solo, das necessidades especificas da cultura e de fatores climáticos relacionados à evapotranspiração. Dependem ainda do uso de equipamentos para o monitoramento da umidade do sob (tensiômetros, blocos de resistência elétrica etc.) ou de equipamentos para estimativa da evapotranspiração (tanque Classe A, termômetros, higrômetros etc.). Estas informações e equipamentos, alem de não estarem, em geral, ao alcance do irrigante, exigem conhecimentos técnicos específicos para seu manuseio.

Um método aproximado e que dispensa o uso de equipamentos é o do turno de rega. A seguir é apresentada uma seqüência de passos que permitem a determinação da freqüência e da lâmina de água a ser aplicada por irrigação, em cada estádio de desenvolvimento do tomateiro. Simultaneamente, é apresentado um exemplo de sua utilização, considerando-se a seguinte situação:

° Solo: Latossolo Vermelho-Escuro, textura argilosa,
° Clima: temperatura de 20,5 °C; umidade relativa de 54% (média para o mês de julho no Planalto Central);
° Estádio: frutificação;
° Profundidade efetiva do sistema radicular: 40 cm;
° Eficiência de irrigação: 70 % (aspersão convencional).

 

Passo 1: Utilizando a tabela 1, determinar a evapotranspiração de referencia (ETo) em função de dados históricos de temperatura e média mensal da umidade relativa do ar, para os meses em que o tomateiro será cultivado. Estes dados podem ser obtidos no Serviço de Extensão Rural (EMATER).

Pela tabela 1, para a temperatura de 20,5 ºC e 54 % de umidade relativa, tem-se que a ETo é de 6,1 mm/dia.

Passo 2: Determinar a evapotranspiração do tomate (ETc), para cada estádio de desenvolvimento, pela seguinte equação:

ETc = Kc. Eto

Onde ETc é dado em mm/dia e Kc é obtido na tabela 2. Na fase de frutificação, Kc é igual a 0, 85.

Assim:

ETc = 0,85 x 6,1 = 5,2 mm/dia

Passo 3: Determinar a disponibilidade real de água no solo (DRA), em função de sua textura, através da tabela 3.

Para solo argiloso de cerrado, tem-se que DRA é de 0,8 mm/cm3.

Passo 4: Determinar o turno da rega (TR) para cada estádio da cultura, sendo:

onde TR é dado em dias e a profundidade efetiva do sistema radicular (Z), obtida na tabela 2, em cm. Para o presente exemplo e dados obtidos, tem-se que:

 

Passo 5: Determinar a lamina de água real necessária por irrigação (LRN), pela seguinte expressão:

LRN = TR . Etc

Onde LRN é dada em mm.

No exemplo em questão, tem-se que:

LRN = 6 x 5,2 = 31,2 mm

Passo 6: Corrigir o valor de LRN em função da eficiência do sistema de irrigação (Ei), de modo a obter a lamina de água total necessária (LTN), fazendo:

onde LRN é dada em mm e Ei em % (Ex.: pivô-central: 80-90 %; aspersão convencional: 60 - 70%).

A lamina de água a ser aplicada no estádio de frutificação será:

De modo geral, as irrigações na região do cerrado são feitas por aspersão, utilizando o pivô-central. No vale do São Francisco, usa-se a irrigação por sulco, que consiste na distribuição de água através de sulcos paralelos às fileiras de plantio. A água é geralmente conduzida por um canal principal, de onde é derivada para os sulcos, utilizando-se tubos plásticos denominados de sifões, com diâmetro de uma a duas polegadas. A distribuição da água pode ser feita também por tubos janelados, que possuem diversas aberturas reguláveis que permitem o controle da quantidade de água aplicada em, cada sulco de irrigação.

O comprimento dos sulcos e sua declividade são determinados em função da textura do solo (Tabela 4).

Os sulcos devem ter 15 a 20 cm de profundidade e 25 a 30 cm de largura. As maiores dimensões são utilizadas para solos de baixa velocidade de infiltração.

 

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Tabela 1. Evapotranspiração de referência (ETo), em mm/dia, em função da temperatura e umidade relativa média mensal do ar.

Temperatura
(°C)
 Umidade relativa (%)
 40 a 50
 50 a 60  60 a 70  70 a 80  80 a 90
10 a 15
4,6
3,8
3,0
2,1
1,3
15 a 20
5,9
4, 9
3,8
2,7
1,6
20 a 25
7,4
6,1
4,7
3,4
2,0
25 a 30
9,1
7,4
5,8
4,1
2,5
30 a 35
10,9
8,9
6,9
5,0
3,0

 

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Tabela 2. Coeficiente de cultura (Kc), profundidade efetiva média do sistema radicular (Z) e problemas associados à irrigação inadequada nos diferentes estádios de desenvolvimento da cultura do tomateiro.

Estádio de desenvolvimento(1)

Duração
(dias)

Kc

Z (2)
(cm)

Problemas associadas à irrigação

Inicial 10-20 0,55 10 Irrigações deficitárias ou em excesso reduzem o 'estande'
Vegetativo 30 0,65 20 a 30 Irrigações abundantes favorecem o crescimento excessivo e a maior incidência de doenças
Frutificação 40 0,85 40 A falta de água reduz o peso e número de frutos. O excesso favorece a maior incidência de doenças
Maturação 30 0,65 40 Irrigações neste estádio prejudicam a qualidade dos frutos e reduzem o brix
(1)Inicial: do plantio até dois pares de folhas ou pegamento de mudas. Vegetativo: até o inicio do florescimento. Frutificação: até o início da maturação de frutos. Maturação: até a colheita. (2) Avaliar de preferência no próprio local de cultivo.

 

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Tabela 3. Disponibilidade real média de água no solo para tomateiro, para diferentes tipos de solos.

Textura

Classe textural
(exemplos)

Disponibilidade real
(mm/cm3)

Grossa Areia, areia franca 0,5
Média
Franco-arenoso
Franco, franco-siltoso
Franco-argilo-arenoso
0,8
Fina
Muito argiloso
Argila, argila-siltosa
Franco-argilo-siltoso
1,0
 Obs.: Em geral, mesmo os solos de cerrado com textura fina apresentam disponibilidade real de cerca de 0,8 mm/cm3.

 

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Tabela 4. Sugestão de comprimento de sulco de irrigação, em função da textura e declividade do solo.

Declividade (%)
 Comprimento dos sulcos (m)
 Textura do solo
 Argilosa
 Média
 Arenosa
 0,05
 300 a 400

 120 a 270

 60 a 90
 0,1
 340 a 400
 180 a 340
 90 a 120
 0,2
 370 a 440
 220 a 370
 120 a 190
 0,3
 400 a 500
 280 a 400
 150 a 220
0,5
500 a 600
280 a 370
120 a 190
1,0
280 a 400
250 a 300
90 a 150
1,5
250 a 340
220 a 280
80 a 120
2,0
220 a 270
180 a 250
60 a 90
 Fonte: PRONI, 1987.

 

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