Embrapa Hortaliças
Sistemas de Produção, 2
ISSN 1678-880x Versão Eletrônica
Nov./2007
Pimenta (Capsicum spp.)
Autores

Sumário

Apresentação
Importância econômica
Botânica
Clima
Solos
Adubação
Cultivares
Produção de mudas
Plantio
Tratos culturais
Irrigação
Plantas daninhas
Doenças
Pragas
Colheita
Comercialização

Consumo
Processamento
Produção de sementes
Coeficientes técnicos
Referências
Glossário

Agrotóxicos



Expediente

Colheita

 

Colheita

Seleção e Classificação

Embalagens para Pimentas in natura

Conservação Pós-Colheita

 

Colheita

As pimentas apresentam diferentes pontos de colheita, de acordo com cada tipo, região de cultivo e época do ano. O ciclo da cultura e o período de colheita são afetados diretamente pelas condições climáticas e pelos tratos culturais, como adubação, irrigação, incidência de pragas e doenças, e a adoção de medidas de controle fitossanitário. De uma maneira geral, as primeiras colheitas são feitas a partir de 90 dias após a semeadura para as pimentas mais precoces, como a ‘Murupi’, e após 120 dias para as mais tardias. O ponto de colheita ideal das pimentas é determinado visualmente, quando os frutos atingem o tamanho máximo de crescimento e o formato típico de cada espécie, com a cor específica demandada pelo mercado: verde para a pimenta ‘Cambuci’; vermelho para a ‘Malagueta’; amarela ou vermelha para a pimenta ‘Bode’; verde-claro para a ‘De Cheiro’; amarela para a ‘Cumari do Pará’; e amarelo-claro para a ‘Murupi’.

As pimentas são mais difíceis de serem colhidas quando comparadas com pimentão devido ao menor tamanho dos frutos e a arquitetura da planta, principalmente aquelas de menor porte e com maior número de galhos. Para efetuar a colheita das pimentas com plantas de porte mais baixo, como a ‘Cumari do Pará’ e ‘Malagueta’, é necessário que os apanhadores fiquem agachados ou curvados, enquanto para aquelas pimentas com plantas mais altas, como a ‘Bode’, é possível fazer a colheita em pé, em uma posição mais confortável. A posição dos frutos das pimentas, seu tamanho e a resistência do pedúnculo também interferem na velocidade da colheita. As pimentas ‘Bode’ e ‘Dedo-de-Moça’ possuem frutos maiores e são mais fáceis de apanhar, sendo possível colher até 60kg/dia/operário, enquanto as pimentas ‘Malagueta’ e ‘Cumari do Pará’ possuem frutos menores, o que reduz a velocidade da colheita (aproximadamente 10kg/dia/operário).

As pimentas são colhidas manualmente, arrancando-se os frutos das plantas com ou sem os pedúnculos, dependendo do tipo de pimenta e o uso do produto. Cada colhedor utiliza um recipiente pequeno, como uma lata, prato ou bolsa para recolher os frutos das plantas. Um recipiente adequado para a colheita das pimentas pode ser feito a partir de garrafas plásticas de refrigerante de 2L do tipo ‘PET’, cortando-se o terço superior da garrafa e colocando-se um cordão em duas extremidades laterais para pendurar no pescoço. Além de ser um recipiente barato e fácil de ser feito, o operário fica com as duas mãos livres para executar a colheita, sendo possível segurar os ramos e destacar os frutos sem quebrar a planta. Depois de cheios, estes recipientes são vertidos em baldes ou latas maiores (5-10L) ou então em caixas localizadas estrategicamente próximas do local de colheita.

Quando as pimentas são destinadas especificamente para a indústria de conservas e molhos, podem ser apanhadas sem o pedúnculo diretamente no campo. Para aquelas pimentas com maior resistência do pedúnculo, como a ‘Bode’ e a ‘Dedo de Moça’, às vezes é necessária uma operação adicional no galpão de beneficiamento para retirar completamente o pedúnculo dos frutos destinados para conservas. As pimentas mais picantes (‘ardidas’), como a ‘Malagueta’, causam irritação e até queimaduras na pele das mãos dos colhedores devido aos teores mais elevados de capsaicina, o composto químico responsável pela ardência nas pimentas. Pessoas com pele muito sensível devem utilizar luvas ou outro material de proteção na colheita, embora causem desconforto pelo suor e dificultem a operação. Existem indicações de alguns produtos que podem aliviar as queimaduras e irritação causadas pela capsaicina, como álcool, água sanitária, água ou leite quentes. Aparentemente, a melhor indicação para reduzir os efeitos negativos das pimentas mais ardidas ou picantes é usar óleos vegetais (soja, canola, girassol), azeite de oliva, banha, manteiga ou margarina ou outros produtos a base de gordura, por que a capsaicina é uma substância lipossolúvel, ou seja, solúvel em óleo e outros tipos de gorduras. Este tratamento não elimina completamente o desconforto das queimaduras, mas pode reduzir parcialmente a concentração do composto das mãos. Os colhedores devem sempre se lembrar de não se coçarem ou tocar partes sensíveis do corpo, como olhos e boca, enquanto executam a colheita por conta das queimaduras e pela irritação causadas pelas pimentas, principalmente pela exposição contínua.

O horário ideal para a colheita das pimentas é nas horas menos quentes do dia, no início da manhã e no final da tarde. Quando não é possível colher tudo nestes dois períodos, deve-se armazenar os frutos colhidos sempre a sombra, em local arejado e fresco. A exposição direta ao sol aumenta a respiração e a perda de água, resultando em murcha e deterioração dos frutos. Deve-se também evitar a colheita de frutos molhados pela chuva ou orvalho porque tendem a apodrecer mais rapidamente durante o transporte e a comercialização. Restos de folhas e galhos também devem ser eliminados porque podem tendem a fermentar rapidamente, principalmente quando molhados ou úmidos, e assim aumentar a temperatura no interior das embalagens e reduzir a durabilidade pós-colheita dos frutos.

À medida que baldes, caixas e sacos com as pimentas no campo vão ficando cheios, devem ser transportados até pequenos galpões ou sob a sombra de árvores nas margens da plantação. Estes galpões podem ser construídos de modo simples, com uma cobertura de plástico preto recoberto com capim ou folhas de palmeira, servindo para proteger as pimentas do sol direto e da chuva. Posteriormente, os frutos são acondicionados em sacos plásticos grandes (30kg) ou caixas plásticas ou de madeira (15kg), ou outro tipo de embalagem demandado pelo mercado. Para as pimentas destinadas para a indústria de molhos e conservas, é possível retirar os pedúnculos dos frutos em galpões ao lado da lavoura e armazenar as pimentas diretamente em recipientes plásticos de 50L (‘bombas’ ou ‘bombonas’) com a calda apropriada, feita a base de vinagre ou outro tipo de álcool e sal. Este processo reduz problemas de conservação pós-colheita dos frutos de pimenta colhidos mantidos in natura.

Seleção e Classificação

Ainda não existe nenhuma norma oficial de classificação e padronização para as pimentas no Brasil. Praticamente todas as operações usuais de beneficiamento são feitas a campo e executadas simultaneamente pelos colhedores. As pimentas para comercialização in natura do tipo ‘Dedo-de-Moça’ devem ser colhidas sempre com o pedúnculo porque melhora a aparência e os frutos tendem a se conservar melhor, o que não se aplica àquelas pimentas que possuem frutos que se destacam facilmente da planta, como ‘Cumari do Pará’, ‘Malagueta’ e ‘Cumari Vermelha (= ‘Passarinho’). Na medida do possível, o colhedor deve eliminar os frutos doentes, brocados, murchos, passados, desuniformes e mal-formados e selecionar na planta somente aqueles bem desenvolvidos e de coloração típica de cada tipo de pimenta. Para aquelas pimentas com frutos pequenos, deve-se tomar cuidado para não colher ramos inteiros com as folhas, evitando-se o contato com o solo para não sujar e contaminar os frutos. Depois de colhidas, pimentas de frutos pequenos, como ‘Cumari’, ‘Bode’ e ‘Malagueta’, devem ser manipuladas com cuidado para evitar danos mecânicos aos frutos, como cortes, abrasões e outros tipos de ferimentos.

Embalagens para Pimentas in natura

São usadas diferentes embalagens para a comercialização de pimentas no Brasil, de acordo com o tamanho e tipo de fruto, região e demanda do mercado. Na CEASA de Goiânia-GO, as pimentas ‘Cumari do Pará’, ‘Malagueta’, ‘Bode Vermelha’, ‘Bode Amarela’ e ‘De Cheiro’ são acondicionadas em sacos plásticos grandes de 30kg. Na CEAGESP em São Paulo-SP, as pimentas com frutos maiores, como ‘Cambuci’, ‘Dedo-de-Moça’ e pimenta doce do tipo americana, são comercializadas em caixas plásticas ou de madeira do tipo ‘K’ (12-15kg); as pimentas com frutos menores, como ‘Malagueta’ e ‘Cumari do Pará’ também são acondicionadas em caixas de papelão (1-2kg) e sacos plásticos (1, 2, 5 ou 10kg). Em todos os mercados atacadistas, as pimentas também são comercializadas em quantidades menores, utilizando-se como unidade copos de vidro ou latas de 250 a 1000ml de capacidade, de acordo com a demanda do cliente.

No varejo, as pimentas são comercializadas de diferentes formas, sendo a mais comum a granel, e os consumidores selecionam manualmente a qualidade e a quantidade a ser comprada. Nas feiras-livres e mercados menores, a medida adotada é um copo de vidro ou lata (250-300ml), sendo possível mesclar diferentes tipos de pimentas por um mesmo preço. Em supermercados e sacolões, as pimentas também são comercializadas em sacos plásticos perfurados de 50g do produto ao preço aproximado de R$ 1,00 (em Brasília, nov/2003), bandejas de isopor recobertas com filmes de PVC com 50-100g e caixinhas do tipo PET de 250ml de capacidade. As embalagens com filmes ou sacos plásticos são as melhores opções de venda porque reduzem a perda de matéria fresca e mantêm a coloração do pedúnculo e dos frutos por um período de tempo maior, principalmente quando mantidas sob refrigeração.

Conservação Pós-Colheita

Não existem informações disponíveis sobre a temperatura ideal de armazenamento para cada um dos tipos de pimenta cultivados no Brasil. As pimentas são frutos tropicais e por esta razão as temperaturas entre 7oC e 12oC são as mais indicadas para reduzir a respiração e outros processos fisiológicos. Os maiores problemas das pimentas destinadas ao consumo in natura são a rápida perda de água dos frutos, que resulta em murchamento, e a descoloração do pedúnculo, que perde sua coloração verde característica. Estes dois problemas reduzem o valor de mercado do produto e podem ser motivos de descarte na comercialização. O armazenamento em temperaturas inferiores a 7oC pode causar injúria por frio (‘chilling’) nos frutos, formando lesões deprimidas. Para evitar a perda acentuada de água, é recomendável deixar os frutos com o pedúnculo e associar a refrigeração ao uso de embalagens plásticas, que mantêm a umidade elevada. No caso de usar embalagens plásticas (sacos de polietileno, filme de PVC ou caixinha tipo PET) e comercializar as pimentas em temperatura ambiente (23-26oC), deve-se fazer alguns furos nas embalagens para evitar a condensação de água no seu interior ou sobre os frutos de pimenta. Nesta condição pode ocorrer o desenvolvimento de fungos no pedúnculo e na superfície dos frutos após 2-3 dias, e comprometer a aparência dos frutos.

Os produtos embalados devem ter uma etiqueta ou rótulo identificador com algumas informações básicas, como tipo de pimenta, data da embalagem e prazo de validade, e nome e endereço do embalador. O prazo de validade varia de acordo com o tipo de pimenta, embalagem utilizada e principalmente temperatura, sendo 5 dias para pimenta De Cheiro e Bode em sacos plásticos perfurados mantidos a 23-25oC e até 10 dias para frutos embalados em filmes de PVC mantidos a 12-15oC.. Em experimentos conduzidos na Embrapa Hortaliças, as pimentas ‘Malagueta’, ‘De Cheiro’, ‘Cumari do Pará’, ‘Bode Vermelha’, ‘Bode Amarela’ e ‘Dedo de Moça’ foram conservadas durante 30 dias a 8oC acondicionadas em bandejas de isopor envoltas por filme de PVC (>90% UR). Na Universidade Federal de Viçosa, determinou-se que a pimenta ‘Malagueta’ pode ser mantida por até 30 dias a 12oC e 90% UR

As pimentas in natura possuem um mercado relativamente pequeno quando comparadas com outras hortaliças, principalmente porque são usadas como temperos, em pequenas quantidades. Ao mesmo tempo, a demanda é relativamente constante e o mercado cativo. Por estas razões, é importante oferecer um produto de alta qualidade ao consumidor, com frutos de tamanho e coloração padronizados e isento de resíduos de agrotóxicos.

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